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Juromenha
(João
António de Lemos Pereira de Lacerda, 2.º visconde de).
n. 25
de maio de 1807.
f. 29 de maio de 1887.
Fidalgo
da Casa Real; 2.º alcaide-mor de Juromenha, 15.º senhor do morgado
de Vale Formoso; senhor do morgado que instituiu o comendador de
Fonte Arcada e da Granja do Ulmeiro, Diogo Delgado de Oliveira,
em 1518; por mercê de D. João VI tinha a sobrevivência da comenda
de Juromenha, da Ordem de Avis, professando nesta ordem no mosteiro
das comendadeiras da Encarnação; sócio da Academia Real das Ciências,
etc. Nasceu em Lisboa a 25 de maio de 1807; faleceu a 29 do referido
mês de 1887, com 80 anos de idade.
Era
filho dos 1.os viscondes de Juromenha, o tenente-general
António de Lemos Pereira de Lacerda e D. Maria da Luz Willougby da
Silveira. Começou a sua educação no seminário irlandês de S.
Pedro e S. Paulo; vulgarmente conhecido pelo Colégio
dos Inglesinhos, passando depois ao Real Colégio dos Nobres, de
que era então director Ricardo Raimundo Nogueira, um dos
governadores do Reino enquanto as pessoas reais e a corte estiveram
no Rio de Janeiro. Foi mais tarde para a Universidade de Coimbra,
onde fez exame de francês, inglês, latim
e grego. Matriculou-se em seguida nas faculdades de Matemática
e Filosofia, cursos que teve de interromper por ter rebentado a
guerra civil em 1828. Seu pai tornara-se partidário da causa
Miguelista e o visconde de Juromenha acompanhou-o nas mesmas ideias.
Recebendo procuração de seu pai, representou-o na reunião doe Três
Estados do Reino, convocados em julho de 1828, e nessa qualidade
aclamou a nova realeza. Não foi, porém, um político militante nem
exaltado, e durante os anos agitadíssimos de 1828 a 1838, não
consta que junto dos seus amigos particulares e políticos e das
pessoas de sua família que o acompanhavam como correligionários,
se evidenciasse pelas ideias exageradas ou por feitos, que atraíssem
antipatias e ódios. Quando terminou a campanha, contudo, o nobre
fidalgo achava-se em falsa, posição, por causa da influência da
sua família; e teve de emigrar, assim como outros seus correligionários,
a quem o novo governo constitucional sequestrou todos os bens. O
visconde fugira, portanto, mas pobre pela força dos acontecimentos
políticos e pela consequência inevitável das vinganças e
compensações, que só terminariam quando os ânimos se acalmassem.
Esteve
quatro anos emigrado, e estimulado pelo amor ao estudo percorreu várias
terras da Europa, relacionou-se com alguns, estrangeiros distintos
em ciências e letras, e conseguiu que lhe fossem franqueados
numerosos arquivos e bibliotecas. Regressando à pátria casou em 16
de janeiro de 1837 com D. Carlota Emília Ferreira Sarmento, filha
do conselheiro Manuel José Sarmento, fidalgo da Casa Real,
alcaide-mor de Alcácer do Sal, comendador das ordens de Cristo e de
Carlos III, de Espanha; conselheiro do Ultramar, oficial-mor da Secretaria
do Reino, casado com D. Mariana Raimunda Pereira da Silva Leitão. A
sua estreia na carreira. das letras foi a publicação da obra
intitulada: Cintra
pinturesca,
ou Memória
descritiva
das vilas
de Sintra,
Colares
e seus arredores, Lisboa, 1838; saiu sem o nome do autor, e é
acompanhada dum atlas e de estampas ilustrativas de diversos pontos
da Memória.
Esta obra foi revista por Alexandre Herculano, com quem o
visconde de Juromenha travara relações por intermédio do seu
antigo amigo e condiscípulo Inácio Pizarro de Morais Sarmento,
realizando-se entre os três contínuas conferências literárias.
As relações com o grande historiador foram sempre as mais amigáveis,
apesar da profunda. divergência das suas opiniões políticas.
Pertenceu ao antigo Conservatório dramático por instâncias de
Almeida Garrett, mas conservando sempre fidelidade à causa do príncipe
proscrito, que por mais duma vez visitou, assim como, depois da
morte de D. Miguel, visitou seu filho, não deixando, contudo, de se
interessar vivamente pelas cousas do seu país.
O
visconde de Juromenha era tido geralmente como um dos mais
.profundos investigadores das nossas antiguidades. O que ambicionava
sobretudo era entregar-se ao estudo das obras de Camões, dos seus
críticos e comentadores. De 1838 a 1859 foi esse o alvo constante
das suar vigílias e dos seus sonhos. Às suas lucubrações se deve
o averiguar-se a data verdadeira da morte do grande poeta, que foi
um ano depois daquela em que fora designada pelos antigos biógrafos
e até pelos contemporâneos de Camões; o lugar da sua sepultura no
convento de Sant'Ana, descobrindo-se os ossos, afim de se prestar
homenagem que se devia ao imortal poeta. Em 1859 mandava imprimir na
Imprensa Nacional o 1.º volume. Esta obra completou-se no espaço
de dez anos; de 1860 a 1869, formando seis grossos volumes. O 7.º
volume, que ele prometera, não chegou a publicar-se; parece que
nele tencionava incluir numerosos aditamentos e correcções às
notas publicadas nos volumes anteriores, indicações biográficas
dos personagens históricas citados nos Lusíadas,
e que entram na acção do notável poema, e duas interessantes
monografias, uma relativa ao episódio de D. Inês de Castro, e
outra acerca da origem dos torneios e do episódio dos doze pares de
Inglaterra. Além deste trabalho, o visconde de Juromenha
preocupava-se também com outros estudos igualmente
importantes.
O
conde de Raczynski, ministro da Prússia em Portugal, interessava-se
muito pela arte portuguesa, e desejava travar relações com o
visconde de Juromenha, quando andava trabalhando nos dois livros que
escreveu: Les arte en
Portugal e Dictionnaire
historiço-artistique
du Portugal. Foi o visconde de Balsemão quem o apresentou ao
diplomata prussiano. O visconde de Juromenha foi um grande auxiliar
para aqueles trabalhos, como o próprio conde Raezynski confessa no Dictionnaire
a pág. 169, dizendo que um grande número dos mais importantes
esclarecimentos sobre artes em Portugal, que se encontram, reunidos
nas suas Cartas
e
no Dicionário, os deve
ao visconde de Juromenha, a quem tece os maiores elogios, dizendo
que se não fosse o seu auxílio, não teria concluído nunca
aqueles trabalhos. O visconde de Juromenha colaborou no Jornal
de Belas
Artes, onde escreveu um artigo acompanhando o catálogo de uns
setenta quadros de primeiros artistas estrangeiros, enviados pelo célebre
Mariette a D. João V. Na Revista
critica de Belas
Artes, redigida por Loesevitz, escreveu dois artigos, um acerca
de Grão Vasco, e o outro intitulado Túmulos de
Santa Teresa
e Santa Sancha de Lorvão, em que minuciosamente descreve os
riquíssimos túmulos de prata daquelas princesas. Colaborou nos
jornais : Nação, o
Católico,
e em outros. Escreveu também um artigo folhetim sobre o punhal
de prata (faca de mato) que naufragou, onde se encontram algumas
informações curiosas relativas à arte de ourivesaria em Portugal.
Quando o exército italiano entrou em Roma, escreveu o visconde de
Juromenha um opúsculo dirigido a Pio lX, em que faz a sua profissão
de fé católica, sob o título de: Submisso protesto
de um português católico, ao santíssimo padre Pio IX,
Lisboa; 1869. Escreveu também e publicou em 1870 outro opúsculo: O
istmo
de Suez e os portugueses;
saíra primeiro em folhetins na Nação. Em 1873, por
circunstâncias políticas e a instâncias dos seus correligionários,
saiu do reino, e foi à Baviera por ter sido convidado, a assistir
em Heubach ao consórcio da princesa D. Maria Teresa de Bragança
com o arquiduque Carlos Luís,
irmão do imperador de Áustria-Húngria, Francisco José I.
Regressou a Lisboa quatro meses depois.
O
título de visconde foi renovado no de seu pai, por decreto de 4 de
junho de 1818. Falecendo sem herdeiros, o título passou a uma
sobrinha, filha dos duques de Belune. Nas festas do tricentenário
de Camões, em 1880, foi convidado para presidente da comissão que
se organizou, cargo que não aceitou, alegando a sua avançada
idade, a doença que sofria e o seu afastamento ao mundo; no
entretanto a comissão sempre o considerou seu presidente honorário.
Por proposta de Silva Túlio, elegeu-o a Academia Real das Ciências
seu sócio correspondente. No Ocidente,
vol. x, de 1887, pág. 147, 159, 174, 190 e 198, vem a sua
biografia e uma apreciação das suas obras, escrita pelo sr. Brito
Aranha. O visconde de Juromenha deixou muitos manuscritos, entre os
quais figuram os seguintes: Lucrécia
Borgia; estudo biográfico com as suas cartas, documentos, um fac-símile
e um retrato contemporâneo desconhecido; Resposta
á obra do sr. Latino Coelho «Camões» no tomo I da Galeria
dos varões ilustres;
Angelberg, fragmento de viagem; opúsculo em que descreve a
visita que o autor fez, acompanhando as
filhas de D. Miguel de Bragança junto da sepultura de seu pai,
quando foi assistir ao casamento da princesa D. Maria Teresa; O
leão e o burro, conto
chinês; refutação ao livro do general Francisco
Leoni «Camões e os
Lusíadas»; neste opúsculo, aludindo ao apelido do general e
ao epíteto com que são classificados os membros do partido
legitimista, o autor rebatia, pelo lado jocoso, as asserções pouco
verídicas com que ele era criticado e a memória de Camões
caluniada; Onde estava a
liberdade, opúsculo político.
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