Ministro
de Estado, par do Reino, veador da infanta D. Isabel Maria,
comendador da Ordem de N. Sr.ª da Conceição, grã-cruz da de
Cristo, da Torre e Espada, e das seguintes estrangeiras: Leopoldo da
Bélgica, Ernesto Pio de Saxónia, Guelfos de Hanover e Danebrog da
Dinamarca; condecorado com a ordem da Casa de Hohenzolern de 1.ª
classe, enviado em missão extraordinária à corte Coburgo,
ministro plenipotenciário em Londres, conselheiro de embaixada em
outras cortes, sócio da Academia Real das Ciências de Lisboa, etc.
Nasceu
em 12 de julho de 1797, faleceu em Roma a 1 de fevereiro de 1870.
Era o 8.º filho do 3.º marquês do Lavradio, D. António Máximo
de Almeida Portugal, e de sua mulher, a marquesa D. Ana Teles.
O
conde do Lavradio teve a reputação dum dos nossos mais hábeis
e distintos diplomatas. Começou essa carreira em 1818, ano em que
foi nomeado conselheiro de embaixada em Madrid, e no ano seguinte,
1819, foi transferido para o mesmo cargo em Paris, lugar que exerceu
até acabarem os conselheiros de embaixada em 1821. Nesse ano foi
nomeado pelo governo liberal, que se estabelecera no país,
encarregado de negócios em Viena de Áustria, mas como o príncipe
de Metternich não quis reconhecer os governos saídos da revolução,
D. Francisco de Almeida não pode partir para o seu destino, e
recebeu ordem de ficar em Paris. em comissão, encarregado de
negociar com o ministro da Áustria naquela corte o reconhecimento
do nosso governo. Era trabalho perdido, porque Metternich jurara
acabar com os governos liberais, e, a um aceno do grande diplomata
absolutista, ia um exército francês destruir em Espanha o sistema
liberal, como ia na Itália um exército austríaco para o mesmo
fim. Mais tarde, o gabinete reaccionário saído da Vilafrancada,
o nomeou encarregado de negócios em Paris, mas o ilustre
diplomata, firme nos seus princípios liberais, recusou aquele
encargo, e só em 1824 é que aceitou a nomeação de encarregado de
negócios nos Estados Unidos. Outorgada a Carta Constitucional e
organizado o governo segundo os novos princípios, foi D. Francisco
de Almeida chamado ao ministério pela infanta regente D. Isabel
Maria em 1 de agosto de 1826, sendo nomeado conselheiro de Estado no
dia 28 deste mês. No dia 6 de dezembro seguinte pediu a demissão,
mas quatro dias depois tornou a ser chamado pela regente, formando
governo com o general Saldanha, Trigoso, barão de Sobral, Costa
Quintela e Pedro de Melo Breyner. Como ministro dos negócios
estrangeiros, teve logo de protestar contra o procedimento do
governo espanhol, que protegia abertamente os revolucionários
absolutistas, e como a protecção continuasse, viu-se obrigada a
pedir socorro à Inglaterra, que prontamente nos enviou uma divisão
comandada pelo general Clinton. Mas a situação era insustentável,
a rainha D. Carlota Joaquina e as cortes intrigavam, havia dissidências
entre os ministros, e D. Francisco de Almeida viu-se obrigado a
pedir definitivamente a sua demissão em 6 de junho de 1827.
O
infante D. Miguel veio pouco depois tomar posse da regência, e um
dos seus primeiros actos foi nomeá-lo ministro em Paris, porém D.
Francisco de Almeida, como era deputado, não quis partir sem obter
licença das cortes. No entretanto D. Miguel dava o golpe de Estado,
e o nobre liberal protestando contra esse acto, resolveu emigrar
imediatamente, indo para França, onde o partido da regência o
nomeou ministro, e naquela qualidade apresentou as suas credenciais
a Carlos X no dia 25 de abril de 1830. Veio a revolução de Julho,
que promoveu a queda daquele monarca, e a 19 de setembro do mesmo
ano apresentava D. Francisco de Almeida as suas credenciais ao novo
rei dos franceses Luís Filipe. Então teve encargos importantíssimos:
o de velar pela rainha D. Maria II, durante a sua residência em
Paris, onde esteve completando a educação; o de auxiliar o duque
de Bragança D. Pedro IV na organização da expedição
libertadora, e foi ainda D. Francisco de Almeida Portugal quem
tratou com o maior zelo de favorecer no estrangeiro a causa da
liberdade, que então se via em extremos apuros, achando-se o exército
de D. Pedro bloqueado no Porto, e sem esperanças de ver terminada
aquela dolorosa situação.
Terminada
a campanha, o governo constitucional, querendo recompensar os seus
muitos serviços, o elevou à dignidade de conde do Lavradio em 1 de
dezembro de 1834; em 1835 elegeu-o par do reino, e a 4 de abril
desse ano o nomeou encarregado de negócios em Madrid, mas logo no
dia 23 de maio partiu para Londres a tratar de negociações que
reclamavam a sua elevada competência e muita prática dos assuntos
diplomáticos. A 11 de dezembro ainda de 1835, teve o encargo de
tratar do casamento de D. Maria II, que tinha enviuvado, pela morte
do príncipe D. Augusto do Leuchtenberg: O novo príncipe, destinado
para segundo marido da soberana, era D. Fernando, e o contrato
nupcial assinou-se em 1 de Dezembro de 1835, representando a rainha
o conde do Lavradio (V. Fernando II).
Em seguida à cerimónia do casamento, realizada por procuração
em Coburgo, e de ter acompanhado el-rei D. Fernando a Lisboa, o
conde do Lavradio voltou a ocupar o seu posto de ministro de
Portugal em Madrid.
A
sua fama de homem de ideias liberais resolveu a rainha D. Maria II a
chamá-lo ao poder, quando se viu obrigada a transigir com a opinião,
levada a isso principalmente pela agitação do Minho. Tomou então
parte no ministério que se organizou em 26 de maio de 1846,
encarregando-se da pasta dos negócios estrangeiros. Este ministério
durou apenas até ao golpe de Estado de 6 de outubro do mesmo ano, e
o conde do Lavradio foi para a câmara dos pares, fazendo enérgica
oposição ao governo. Mas a sua vocação era verdadeiramente
servir o seu país no estrangeiro, e apenas subiu ao poder o ministério
regenerador em 1851, foi nomeado ministro plenipotenciário em
Londres, e para ali partiu em 21 de Junho desse ano. Conservou-se
dezoito anos neste elevado posto diplomático, dando provas do seu
muito valor e da grande influencia que tinha nas cortes
estrangeiras. O conde do Lavradio era um dos diplomatas estrangeiros
que lorde Palmerston mais atendia. No dia 7 de março de 1869 foi
transferido para Roma, mas demorou-se pouco tempo naquela legação,
porque a morte o surpreendeu, contando 73 anos de idade e mais de
cinquenta de vida diplomática.
O
conde do Lavradio casou em 10 de julho de 1840 com D. Joaquina José
de Melo Silva César e Menezes, dama da Ordem de Santa Isabel, e
filha dos 9.os condes de S. Lourenço António José de
Melo Silva pesar e Meneses e D. Teresa Maria do Resgate Correia de Sá.
Falecendo em Londres a 22 de dezembro de 1858, passou o conde a
segundas núpcias em 10 de fevereiro de 1866 com D. Maria Rita Tenório
y Moscoso, filha de D. Pedro Carlos Tenório y Moscoso, e de sua
mulher, D. Maria da Luz Miranda e Silva. Da nobre família dos
marqueses do Lavradio, foi D. Francisco de Almeida Portugal o único
que seguiu o partido constitucional. Para a sua biografia veja-se o Anuário
Português histórico e diplomático, de A. Valdez, a pág. 43.
Escreveu:
Notice sur la vie et les travaux de Mr. Correia da Serra (lue á
la Societé Philematique de Paris le 7 avril 1824), sem
lugar nem ano de impressão; Breves considerações sobre a
necessidade e meios de melhorar as prisões de Portugal, Paris,
1834; Carta a Sua Majestade Imperial o sr. D. Pedro, duque de
Bragança, Regente em nome da Rainha, datada de 1 de novembro de
1833; Apontamentos para o elogio histórico do ill.mo
e ex.mo sr. Francisco Manuel Trigoso de Aragão Morato,
do Conselho de Estado, Ministro e secretario de Estado honorário, etc.,
Lisboa, 1840; Discurso do sr. Conde do Lavradio, proferido na Câmara
dos Pares, na sessão de 3 de fevereiro de 1848, Porto, 1848. Além
deste discurso impresso em separado, encontram-se muitos nas Sessões
das Câmaras dos Pares, publicadas no Diário do Governo; nas
Gazetas de 1826 e 1827 também se vêem vários relatórios e
outras peças oficiais por ele apresentadas às câmaras, quando era
ministro dos negócios estrangeiros.