Portugal - Dicionário

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O Portal da História Dicionário > Manuel de Vasconcelos Pereira de Melo, barão de Lazarim

Lazarim (Manuel de Vasconcelos Pereira de Melo, barão de). 

 

n.      1782.
f.       
25 de agosto de 1856.

 

Fidalgo da Casa Real; vice-almirante, par do Reino; vogal do Supremo Conselho de Justiça Militar; grã-cruz e comendador da Ordem de S. Bento de Avis, da de Leopoldo da Bélgica; cavaleiro da Legião de Honra, de França. 

Nasceu em Castro Daire em 1782, faleceu em 25 de agosto de 1856. Era filho do conselheiro João Ferreira de Lemos. 

Assentou praça aos catorze anos de idade, em 1 de outubro de 1796, como aspirante de marinha; tendo concluído na Academia de Marinha o curso de matemática, sempre premiado nos exames, sendo provada a sua antiga nobreza, como era da lei, para os que entravam na armada pelo quadro dos aspirantes, foi promovido a guarda-marinha em 1797, a 2.º tenente em 1800, a primeiro tenente em 1807, a capitão-tenente em 1808, a capitão de fragata em 1812, e a capitão de mar e guerra graduado em 1818. Desde 1797 até 1801 serviu na guarnição dos seguintes navios: nau D. Vasco, por duas vezes, a nau Afonso; fragatas Activa, Tritão, Cisne, Benjamim e Real Voador; brigue Voador, sob as ordens dos comandantes Filipe Patroni, Paula Leite, Soto Maior, marquês d'Ulbrage, Saldanha da Gama, D. João Manuel, Jaime Scarnichia e D. Manuel de Menezes. Estes navios, em que andou embarcado, prestaram grandes serviços. 

Esteve nas esquadras do Mediterrâneo com o almirante Januário do Vale, e os chefes de esquadra D. José de Paiva e Monteiro Torres; cruzou no Estreito contra os argelinos, bateu-se no cabo Finisterra com os piratas franceses, e cruzou na costa do Brasil. Em 1 de setembro de 1804, sendo ainda 2.º tenente, pediu a obteve um ano de licença com vencimento, para embarcar na esquadra inglesa. Parece que uma questão particular com um comandante o desgostara, e desejava afastar-se da marinha portuguesa, alegando ir procurar melhor instrução numa marinha estranha. Em 1805, foi-lhe renovada a licença, mas em 1807, sabendo da partida da nossa esquadra com a família real para o Brasil, desistiu do resto da licença, a apresentou-se no Rio de Janeiro para o serviço. Supondo a guerra iminente, o seu ânimo patriótico não lhe deixava servir estranhos, quando os seus camaradas iam arrostar novos perigos. No Brasil foi-lhe dado o comando do brigue Balão em 18 de maio de 1808, no qual fez várias viagens entre o Brasil a Inglaterra; comandou o brigue Lebre em diversos cruzeiros, comboios a mercantes, comissões de resgate de cativos em Argel. Com este navio, e comboiando dois mercantes ingleses, bateu-se audazmente com um navio dos Estados Unidos, facto que se deu entre as datas de 31 de julho a 25 de outubro de 1813, ao tempo que andava acesa a guerra entre a Inglaterra e a sua antiga colónia, motivo por que o americano quisera registrar os mercantes ingleses que vinham sob a protecção da nossa bandeira. O comandante português não consentiu e bateu-se, apesar de não estarmos em guerra declarada com os Estados Unidos. 

Acerca do resgate dos cativos, lê-se na Gazeta de 16 de dezembro de 1811: 

«No dia 8 do corrente entrou o brigue comboiando uma polaca argelina, a qual transporta 182 portugueses resgatados do cativeiro em Argel. Os cativos resgatados têm estado de quarentena no lazareto, donde devem sair amanhã 17, aniversário de sua majestade a rainha. Deverão desembarcar no cais do Sodré, e daí em procissão com os religiosos da Santíssima Trindade e da ordem Terceira irão à igreja de S. Paulo e seguirão pelo Rossio ao convento da Trindade para o Te-Deum.» 

Comandando as fragatas Amazona, Pérola e Princesa Real, fez conduções de tropas, cruzeiros repetidos contra os barbarescos, contra os franceses e contra os corsários das novas repúblicas do sul da América; com a fragata Pérola tomou também parte da esquadra do chefe João Félix, contra a esquadra do Brasil, já independente, comandada pelo almirante Cokrane. João Félix o escolheu para major-general da esquadra, pelo que por algum tempo deixou o seu comando da fragata, e mesmo saiu num pequeno cruzeiro comandando interinamente a mesma esquadra. Mais tarde, ainda no comando da fragata Pérola, foi comandante de divisões navais, composta a primeira do seu navio, da fragata D. Pedro e do brigue Providência; e a segunda da mesma fragata, da fragata Princesa Real, e da corveta Infante D. Miguel; ambas as divisões num cruzeiro na costa de Portugal contra os navios brasileiros. Manuel de Vasconcelos Pereira e Melo, segundo a voz constante, foi um dos mais distintos e mais hábeis marinheiros, um valente guerreiro, reunindo à sua bravura militar e ciência naval o ser também um fino diplomata e homem da corte. Comandando a fragata Pérola foi encarregado de transportar a Brest o infante D. Miguel em 1824, depois da revolta da Abrilada, sendo nesta comissão acompanhado por uma fragata inglesa e uma corveta francesa. Manuel de Vasconcelos não tomou nunca parte nas lutas partidárias, que assolaram o país. Foi eleito deputado nas cortes de 1821; o seu espírito liberal foi reconhecido, sem que, contudo, a sua palavra se fizesse distinguir entre as de tantos outros liberais distintos que tiveram lugar no congresso. 

Depois da morte de D. João VI foi mandado ao Brasil comandando a nau do nome do monarca, com os três representantes da nação, que eram ali enviados para prestar preito e homenagem ao imperador D. Pedro como rei de Portugal, e dali foi mandado a Brest esperar o infante D. Miguel, que devia transportar ao Brasil, quando D. Pedro previa com tanta razão, que era absolutamente preciso afastar da Europa aquele príncipe. Esta comissão, como é bem sabido, não teve o resultado que se desejava, pois que as coisas correram doutra forma. Naquele porto onde a nau D. João VI se demorou bastantes meses, quando esta fazia os seus continuados exercícios, quer fundeada, quer levantando ferro e navegando na vastíssima baía, via-se sempre içado no tope mais alto da nau almirante francesa o sinal: «Muita atenção aos exercícios e movimentos da nau portuguesa.» O comandante do porto da esquadra francesa era então o notável almirante Duperré, o herói dos mares da Índia no tempo do primeiro império, do qual era notório que dizia aos seus subalternos: «Há sempre que aprender com este comandante português.» Quando regressou a Lisboa, já o infante D. Miguel se declarara rei absoluto, e não querendo servir aquela causa, homisiou-se no seu palácio a Santa Marta, onde passou esquecido todo o tempo das lutas fratricidas. Depois da convenção de Évora Monte comandou o vapor Monarch e a fragata Duque de Bragança, sendo primeiramente encarregado de trazer de Falmouth a Lisboa o primeiro marido da rainha D. Maria II, o príncipe D. Augusto de Leuchtemberg, e depois mandado cruzar nos mares da Itália, tendo debaixo das suas ordens a corveta D. João I, comandada por Ferreira do Amaral, por se supor que pudesse daqueles lados partir qualquer expedição ainda a favor de D. Miguel. 

Em 21 de setembro de 1836 foi nomeado major-general interino, mas pouco depois, em consequência dos acontecimentos políticos de então, foi exonerado desse cargo e nomeado vogal do Supremo Conselho de Justiça Militar. Em 1838 teve definitivamente a nomeação de major-general da armada, lugar que exerceu até falecer. Fora promovido a capitão-de-mar-e-guerra efectivo em 7 de novembro de 1835, e a chefe de divisão graduado em 1838, sendo efectivo em 1840; em 1847 teve a patente de chefe de esquadra, a em 1855 a de vice-almirante. 

Em 19 de julho de 1845 foi agraciado com o título de barão de Lazarim, recebendo também a carta de conselho. Nas cortes de 1836 saiu eleito deputado pela Beira Alta, sendo novamente eleito em 1838, então pela Beira Baixa. Em 3 de março de 1853 foi eleito par do reino. Depois do seu falecimento, o seu nome, por imposição do rei D. Pedro V, foi posto a um dos navios da nossa armada, como um galardão à marinha e honra à nação.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Portugal - Dicionário Histórico, Corográfico, Heráldico, Biográfico, Bibliográfico, Numismático e Artístico,
Volume IV, págs. 93-94.

Edição em papel © 1904-1915 João Romano Torres - Editor
Edição electrónica © 2000-2015 Manuel Amaral