Fidalgo
da Casa Real; vice-almirante, par do Reino; vogal do Supremo
Conselho de Justiça Militar; grã-cruz e comendador da Ordem de S.
Bento de Avis, da de Leopoldo da Bélgica; cavaleiro da Legião de
Honra, de França.
Nasceu
em Castro Daire em 1782, faleceu em 25 de agosto de 1856. Era filho
do conselheiro João Ferreira de Lemos.
Assentou
praça aos catorze anos de idade, em 1 de outubro de 1796, como
aspirante de marinha; tendo concluído na Academia de Marinha o
curso de matemática, sempre premiado nos exames, sendo provada a
sua antiga nobreza, como era da lei, para os que entravam na armada
pelo quadro dos aspirantes, foi promovido a guarda-marinha em 1797,
a 2.º tenente em 1800, a primeiro tenente em 1807, a capitão-tenente
em 1808, a capitão de fragata em 1812, e a capitão de mar e guerra
graduado em 1818. Desde 1797 até 1801 serviu na guarnição dos
seguintes navios: nau D. Vasco, por duas vezes, a nau Afonso;
fragatas Activa, Tritão, Cisne, Benjamim
e Real Voador; brigue Voador, sob as ordens dos
comandantes Filipe Patroni, Paula Leite, Soto Maior, marquês
d'Ulbrage, Saldanha da Gama, D. João Manuel, Jaime Scarnichia e D.
Manuel de Menezes. Estes navios, em que andou embarcado, prestaram
grandes serviços.
Esteve
nas esquadras do Mediterrâneo com o almirante Januário do Vale, e
os chefes de esquadra D. José de Paiva e Monteiro Torres; cruzou no
Estreito contra os argelinos, bateu-se no cabo Finisterra com os
piratas franceses, e cruzou na costa do Brasil. Em 1 de setembro de
1804, sendo ainda 2.º tenente, pediu a obteve um ano de licença
com vencimento, para embarcar na esquadra inglesa. Parece que uma
questão particular com um comandante o desgostara, e desejava
afastar-se da marinha portuguesa, alegando ir procurar melhor instrução
numa marinha estranha. Em 1805, foi-lhe renovada a licença, mas em
1807, sabendo da partida da nossa esquadra com a família real para
o Brasil, desistiu do resto da licença, a apresentou-se no Rio de
Janeiro para o serviço. Supondo a guerra iminente, o seu ânimo
patriótico não lhe deixava servir estranhos, quando os seus
camaradas iam arrostar novos perigos. No Brasil foi-lhe dado o
comando do brigue Balão em 18 de maio de 1808, no qual fez várias
viagens entre o Brasil a Inglaterra; comandou o brigue Lebre
em diversos cruzeiros, comboios a mercantes, comissões de resgate
de cativos em Argel. Com este navio, e comboiando dois mercantes
ingleses, bateu-se audazmente com um navio dos Estados Unidos, facto
que se deu entre as datas de 31 de julho a 25 de outubro de 1813, ao
tempo que andava acesa a guerra entre a Inglaterra e a sua antiga
colónia, motivo por que o americano quisera registrar os mercantes
ingleses que vinham sob a protecção da nossa bandeira. O
comandante português não consentiu e bateu-se, apesar de não
estarmos em guerra declarada com os Estados Unidos.
Acerca
do resgate dos cativos, lê-se na Gazeta de 16 de dezembro de
1811:
«No
dia 8 do corrente entrou o brigue comboiando uma polaca argelina,
a qual transporta 182 portugueses resgatados do cativeiro em
Argel. Os cativos resgatados têm estado de quarentena no
lazareto, donde devem sair amanhã 17, aniversário de sua
majestade a rainha. Deverão desembarcar no cais do Sodré, e daí
em procissão com os religiosos da Santíssima Trindade e da ordem
Terceira irão à igreja de S. Paulo e seguirão pelo Rossio ao
convento da Trindade para o Te-Deum.»
Comandando
as fragatas Amazona, Pérola e Princesa Real,
fez conduções de tropas, cruzeiros repetidos contra os barbarescos,
contra os franceses e contra os corsários das novas repúblicas do
sul da América; com a fragata Pérola tomou também parte da
esquadra do chefe João Félix, contra a esquadra do Brasil, já
independente, comandada pelo almirante Cokrane. João Félix o
escolheu para major-general da esquadra, pelo que por algum tempo
deixou o seu comando da fragata, e mesmo saiu num pequeno cruzeiro
comandando interinamente a mesma esquadra. Mais tarde, ainda no
comando da fragata Pérola, foi comandante de divisões navais,
composta a primeira do seu navio, da fragata D. Pedro e do brigue Providência;
e a segunda da mesma fragata, da fragata Princesa Real, e da
corveta Infante D. Miguel; ambas as divisões num cruzeiro na
costa de Portugal contra os navios brasileiros. Manuel de
Vasconcelos Pereira e Melo, segundo a voz constante, foi um dos mais
distintos e mais hábeis marinheiros, um valente guerreiro, reunindo
à sua bravura militar e ciência naval o ser também um fino
diplomata e homem da corte. Comandando a fragata Pérola foi
encarregado de transportar a Brest o infante D. Miguel em 1824,
depois da revolta da Abrilada, sendo nesta comissão
acompanhado por uma fragata inglesa e uma corveta francesa. Manuel
de Vasconcelos não tomou nunca parte nas lutas partidárias, que
assolaram o país. Foi eleito deputado nas cortes de 1821; o seu espírito
liberal foi reconhecido, sem que, contudo, a sua palavra se fizesse
distinguir entre as de tantos outros liberais distintos que tiveram
lugar no congresso.
Depois
da morte de D. João VI foi mandado ao Brasil comandando a nau do
nome do monarca, com os três representantes da nação, que eram
ali enviados para prestar preito e homenagem ao imperador D. Pedro
como rei de Portugal, e dali foi mandado a Brest esperar o infante
D. Miguel, que devia transportar ao Brasil, quando D. Pedro previa
com tanta razão, que era absolutamente preciso afastar da Europa
aquele príncipe. Esta comissão, como é bem sabido, não teve o
resultado que se desejava, pois que as coisas correram doutra forma.
Naquele porto onde a nau D. João VI se demorou bastantes meses,
quando esta fazia os seus continuados exercícios, quer fundeada,
quer levantando ferro e navegando na vastíssima baía, via-se
sempre içado no tope mais alto da nau almirante francesa o sinal:
«Muita atenção aos exercícios e movimentos da nau portuguesa.»
O comandante do porto da esquadra francesa era então o notável
almirante Duperré, o herói dos mares da Índia no tempo do
primeiro império, do qual era notório que dizia aos seus
subalternos: «Há sempre que aprender com este comandante português.»
Quando regressou a Lisboa, já o infante D. Miguel se declarara rei
absoluto, e não querendo servir aquela causa, homisiou-se no seu
palácio a Santa Marta, onde passou esquecido todo o tempo das lutas
fratricidas. Depois da convenção de Évora Monte comandou o vapor Monarch
e a fragata Duque de Bragança, sendo primeiramente
encarregado de trazer de Falmouth a Lisboa o primeiro marido da
rainha D. Maria II, o príncipe D. Augusto de Leuchtemberg, e depois
mandado cruzar nos mares da Itália, tendo debaixo das suas ordens a
corveta D. João I, comandada por Ferreira do Amaral, por se
supor que pudesse daqueles lados partir qualquer expedição ainda a
favor de D. Miguel.
Em
21 de setembro de 1836 foi nomeado major-general interino, mas pouco
depois, em consequência dos acontecimentos políticos de então,
foi exonerado desse cargo e nomeado vogal do Supremo Conselho de
Justiça Militar. Em 1838 teve definitivamente a nomeação de major-general
da armada, lugar que exerceu até falecer. Fora promovido a capitão-de-mar-e-guerra
efectivo em 7 de novembro de 1835, e a chefe de divisão graduado em
1838, sendo efectivo em 1840; em 1847 teve a patente de chefe de
esquadra, a em 1855 a de vice-almirante.
Em
19 de julho de 1845 foi agraciado com o título de barão de Lazarim,
recebendo também a carta de conselho. Nas cortes de 1836 saiu
eleito deputado pela Beira Alta, sendo novamente eleito em 1838, então
pela Beira Baixa. Em 3 de março de 1853 foi eleito par do reino.
Depois do seu falecimento, o seu nome, por imposição do rei D.
Pedro V, foi posto a um dos navios da nossa armada, como um galardão
à marinha e honra à nação.