Governador
de Tanger e vice-rei da índia. Faleceu em Madrid a 20 de fevereiro
de 1649. Era filho de D. Afonso de Noronha, vice-rei da Índia,
parente do 3.º conde de Linhares, D. Fernando de Noronha, e casado
com uma sobrinha deste fidalgo, D. Inácia de Menezes e Vasconcelos,
de quem herdou o titulo de conde de Linhares, e o senhorio de
Fornos, Algodres e Pena Verde, a alcaidaria-mor de Viseu, e as
alcaidarias-mores de Noudar e Barrancos na Ordem de Avis.
Em
1624 foi nomeado governador de Tanger, e exerceu esse governo até
1628, sendo nomeado a 17 de fevereiro de 1629 vice-rei da índia,
para onde partiu a 3 de abril, chegando a Goa a 21 de outubro do
mesmo ano. Tomando posse no dia imediato, tratou logo de enviar
socorros ao seu antecessor interino, Nuno Alvares Botelho, que
estava guerreando em Malaca, e morreu num combate em que os
portugueses ficaram vencedores. O conde de Linhares acrescentou às
nossas conquistas a cidade de Kambolim, mas perdeu a fortaleza de
Mombaça, de que os cafres se apoderaram. O vice-rei mandou da Índia
Francisco de Moura para retomar Mombaça, mas a indisciplina lavrava
de tal forma no Oriente que nada conseguiram os seus esforços, e
Francisco de Moura levantou o cerco, e regressou a Goa. O conde de
Linhares procurou restabelecer o prestígio das armas, e
efectivamente alguma coisa pôde obter. Foi severo com os actos de
indisciplina e de pirataria, mostrando-se pouco afeiçoado a padres,
frades e jesuítas, que pretenderam difamá-lo, chegando a
chamar-lhe judeu, ladrão, e outros insultos. Um dia apareceu um
pasquim injurioso, acompanhando um boneco enforcado; era escrito em
forma de sentença, e em que se lhe faziam as mais violentas acusações.
O pasquim era tão calunioso que o povo indignado juntou-se às
autoridades para descobrir o autor, o que nunca conseguiu. Como
protesto destas calúnias quiseram levantar-lhe uma estátua, mas o
austero vice-rei não consentiu. Tinha a consciência de que todos
lhe reconheciam os serviços que prestara, porque na verdade o seu
governo foi no período da nossa decadência colonial um dos mais
felizes e dos mais acertados. No seu tempo fundou se o hospital da
Piedade, e construiu-se a ponte de Pangim a Ribandar.
Em
8 de dezembro de 1635 entregou o governo ao seu sucessor Pedro da
Silva, e veio para a Europa. Foi muito bem recebido em Madrid,
excitando grandes invejas, e apenas chegou, ofereceu ao rei um
cintilho, e à rainha umas arrecadas, avaliadas em mais de 100.000
cruzados. Teve a nomeação de membro do Conselho de Portugal em
Madrid, manifestando-se logo adverso ao secretário do mesmo
conselho, Diogo Soares, dividindo-se os portugueses que residiam em
Madrid, em dois partidos. Os portugueses que, apesar de aceitarem o
domínio espanhol considerando-o útil, defendiam em todas as ocasiões
os interesses de Portugal, tomaram por chefe o conde de Linhares; os
outros, os que pareciam ter criado ódio a Portugal, tinham
por chefe Diogo Soares. Rebentando em 1637 as alterações de Évora,
rebentou também no conselho de Portugal em Madrid essa discórdia
por muito tempo latente. Os partidários de Diogo Soares
aconselhavam
a repressão violenta, alegando que
era preciso que os portugueses soubessem que Filipe era rei e
senhor, os seguidores do conde de Linhares sustentavam que as causas
dessas alterações, tinham sido as violências dos dois ministros
Diogo Soares e Miguel de Vasconcelos, e que valia mais sacrificar
esses dois ministros do que arrancar o sangue do povo. O conde-duque
de
Olivares, o poderoso ministro de Espanha, parecia aceitar em
parte as opiniões do conde de Linhares, e como em Évora se
organizara uma
espécie de junta para servir de intermediário entre o povo
revoltado e o governo, Olivares, como que
aceitou a mediação, e fez propostas pacificas, que o conde
de Linhares e os seus partidários aplaudiram; no entretanto,
Olivares concentrava tropas. Diogo Soares aconselhou que fosse
nomeado o conde de Linhares para vir a Évora como pacificador.
Diogo Soares tinha a vantagem, de o meter numa negociação de que
dificilmente se poderia sair bem, de o afastar de Madrid, e de
merecer ao mesmo tempo louvores pelo zelo com que se interessava por
um inimigo. O conde de Linhares, percebendo a estratégia, quis
esquivar-se, mas, como fora nomeado ao mesmo tempo pacificador e
governador de Pernambuco, então quase todo no poder dos holandeses,
optou pelo mal menor, e aceitou a missão de Évora. Sucedeu tudo
que ele receava, e que o seu inimigo esperava. Em Évora foi
recebido com desconfiança; quando os eborenses viram que era
portador de propostas pacificas mas ao mesmo tempo intoleráveis
pelas exigências que formulavam, irritaram-se, apuparam-no,
cercaram-lhe de noite a casa, e o conde de Linhares viu-se obrigado
a fugir para Lisboa, donde mandou ao conde-duque de Olivares o
escritor D. Francisco Manuel de Melo, que sempre o acompanhava, a
dar conta verbal do
que presenciara. Diogo Soares ficou radiante, porque a
derrota do adversário mais aumentava o seu prestígio na corte. Na
verdade, o conde de Linhares ao regressar a Madrid, viu
que perdera em parte o valimento, porque o mandaram recolher a
Tordesilhas.
Tratando-se
da sua ida para Pernambuco, fora nomeado capitão-general da armada
do Mar Oceano, o que junto aos seus cargos de conselheiro de Estado
e de gentil-homem da câmara, lhe dava urna alta situação, mas
neste meio tempo deu se a revolução de 1 de dezembro de 1640, e a
queda repentina do domínio espanhol mostrou a inanidade da política
de Diogo Soares e de Miguel de Vasconcelos, e que se as negociações
do conde de Linhares haviam sido
felizes, fora exactamente por se não ter seguido à risca a
sua opinião, fazendo-se as concessões que
ele julgava precisas. Como ao mesmo tempo entendeu que era do
seu dever continuar a servir o rei castelhano, obteve todos os benefícios
que Filipe IV prodigalizou a todos os portugueses que se lhe
conservaram fiéis. Foi nomeado general das galés da Sicília e das
de Espanha, agraciado com o título marquês de Gijon, duque de
Linhares, e grande de Espanha de 1.ª classe. Dizem que o conde de
Linhares foi um famigerado matador de leões Quando esteve
governador em Tanger, como não havia guerras importantes, dava caça
aos leões, e matou grande numero deles, tornando-se a providencia
dos pastores das cercanias de Tanger.
Mais
tarde este título ficou completamente extinto. D. João VI, em
1808, é que renovou na pessoa de D. Rodrigo de Sousa Coutinho, do
seu conselho, e diplomata, o qual ficou sendo o 1.º conde de
Linhares.
O
conde D. Miguel de Noronha casou a 19 de abril de 1674 com D. Lucrécia
da Silva Vilanova Ferrer, dama da rainha de Espanha, D. Maria Ana de
Áustria, mulher de Filipe IV, filha de D. Gaspar Ladron de Vilanova
Ferrer, 3.º conde de Chelvas, senhor das baronias de Sot e Quartel
no reino de Valência, e de sua mulher, D. Maria da Silva, filha de
D. Diogo Pedro, 1.º marquês de Orani, e da condessa D. Lucrécia
Corelha.