General
de divisão reformado.
Nasceu
em Lagoa a 23 de julho de 1801, faleceu no Porto a 27 de outubro de
1887. Era filho do coronel Joaquim Anastácio Lobo de Ávila e de
sua mulher D. Mariana Vitória de Mendonça Pessanha, pertencente a
uma das mais distintas famílias do Algarve.
Matriculou-se
na Academia de Marinha, fazendo com distinção o curso, sendo
premiado em todos os três anos. Assentou praça, como voluntário,
a 10 de fevereiro de 1823, em infantaria n.º 10, e com este
regimento entrou, em 1826 e 1827, nas primeiras campanhas contra os
revolucionários absolutistas, assistindo ás acções de Ponte da
Cabra e de Coruche. Em junho de 1827 foi reconhecido como cadete; e
a 9 de julho seguinte promovido a alferes para o mesmo regimento.
Pouco tempo depois, em 1828, dava o infante D. Miguel o golpe de
Estado, contra o qual se sublevou uma parte do exército. Francisco
de Paula Lobo de Ávila militou nas fileiras dos insurgentes
liberais, e entrou no combate da Cruz dos Morouços, tendo em
seguida, de emigrar para a Galiza com o resto da divisão liberal. A
ele se deve o terem-se salvo as duas bandeiras do seu regimento,
porque uma cingiu-a ao corpo, e assim a ocultou das autoridades
espanholas, profundamente hostis à emigração liberal, salvando a
outra da mesma forma o porta-bandeira Girão, a convite de Lobo de
Ávila. Estas duas bandeiras conservam-se no museu militar do
Arsenal do Exército. Da Galiza passou a Inglaterra com os seus
companheiros, e dali para a ilha Terceira. Colocado na companhia de
sapadores, e depois adido ao batalhão de artilharia de Angra do
Heroísmo, foi promovido a tenente em outubro de 1831 para o
primeiro batalhão da referida arma. Assistiu à tomada das ilhas de
S. Jorge, Faial e S. Miguel, exercendo nesta última as funções de
inspector do arsenal. Na expedição do exército libertador, que D.
Pedro IV organizou a qual veio desembarcar nas praias do Mindelo em
1832, também Lobo de Ávila tomou parte, sendo logo em fins de
Julho nomeado ajudante de campo do comandante geral de artilharia.
Distinguiu-se na sortida de 14 de novembro ao sul do Douro,
comandando a força que inutilizou a bateria inimiga, ganhando por
isso o hábito da Torre e Espada; depois de elevado a capitão do
estado-maior em 4 de abril de 1833, assinalou-se ainda nas linhas de
Lisboa em 5 de setembro, merecendo ser agraciado; com o grau de
oficial da referida ordem, e posteriormente em Amarante, Castro
Daire e na batalha de Asseiceira, em que recebeu a mercê do hábito
da Conceição.
Terminada
a campanha, foi no meado chefe do estado-maior da 6.ª divisão
militar. Sendo promovido a major para o 1.º Regimento de Artilharia,
passou à terceira secção em 1844, voltou à primeira em 1846;
promovido a tenente-coronel, foi nomeado chefe do estado-maior da 3.ª
divisão. Entrou também na política, eleito deputado pelo círculo
de Ovar. Mostrando-se hostil ao partido de Costa Cabral, quando,
depois do golpe de Estado de 6 de outubro de 1846, rebentou no Porto
a revolução, logo se reuniu aos insurgentes; foi um dos membros da
Junta do Porto, que então se constituiu, sendo encarregado dos negócios
da guerra. Tornou-se notável a actividade verdadeiramente
extraordinária com que organizou e disciplinou as forças que
seguiram o partido da Junta. Conservou-se no seu posto até à
convenção de Gramido, assinada em 30 de junho de 1847,
retirando-se então para a sua casa de Chavães, onde viveu
completamente afastado da política até 1854, ano em que foi
nomeado comandante do material das 3.ª e 4.ª divisões. Em 1864
teve a promoção de general de brigada, ficando a seu cargo a
brigada de instrução do Porto; logo em seguida foi nomeado
comandante geral interino da arma de artilharia, passando pouco
depois a efectivo. Era então ministro da fazenda seu irmão Joaquim
Tomás Lobo de Ávila, mais tarde conde de Valbom, e o gabinete
estava sendo alvo duma vivíssima oposição.
Quando
em dezembro de 1864 o ministro da guerra conferiu ao general Lobo de
Ávila a medalha de ouro do valor militar, e a de prata de
comportamento exemplar e de bons serviços militares, como prémio
duma carreira sem nódoa, esse acto foi vivamente discutido e
incriminado, levantando-se fortes debates na câmara dos pares. A
imprensa da oposição ocupou-se largamente desta campanha política,
que ficou conhecida pelo nome Cruz
de Soutulho, e em
que se fizeram as mais acerbas acusações ao valente militar, que o
obrigou a pedir a sua reforma, que lhe foi concedida no posto de
general de divisão a 25 de julho de 1865, indo viver para Santarém.
A questão, nascida do ardor da política versava sobre vários
factos imputados ao general, sucedidos no tempo da Junta do Porto,
acusando-o de se ter valido da sua posição para obter uma herança,
e de haver contribuído para a morte do advogado Agostinho Júlio,
que fora assassinado na noite de 21 de julho de 1850. Rodrigo Lobo
de Ávila, filho do valente militar, querendo justificar seu pai e
esclarecer esta questão, que deu lugar à publicação de vários
panfletos, escreveu uma memória, que se imprimiu em 1865, com o título:
O general Francisco de Paula
Lobo de Ávila e os seus detractores. Apareceu também em defesa
do general um folheto, que se julgou ser escrito por ele próprio,
com o título de A questão
da concessão das medalhas militares ao general Lobo de Ávila. A
campanha tornara-se veemente e abalara o ministério; Joaquim Tomás
Lobo de Ávila saiu do gabinete, e como outros ministros o
acompanharam, teve o duque de Loulé, para manter a situação, de
refundir completamente o ministério. O general Lobo de Ávila ainda
viveu muitos anos, retirado no Porto, até que faleceu. Era casado
com D. Teresa Teles Lobo de Ávila.