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Loulé (Nuno José Severo de Mendonça
Rolim de Moura Barreto, 9.º conde de Vale de Reis, 2.º marquês e
1.º duque de
n. 6
de novembro de 1804.
f. 22 de maio de 1875.
Gentil-homem
da Câmara de D. João VI e seu estribeiro-mor, 24.º senhor de
Azambuja, 12.º de Póvoa de Meadas, e 14.º do morgado da Quarteira;
general de divisão reformado, par do reino, ministro de Estado,
deputado, conselheiro de Estado, etc. Nasceu a 6 de novembro de
1804, faleceu em 22 de maio de 1875. Era filho do marquês de Loulé
(V. o artigo antecedente).
Fez o curso
do colégio militar, e assentou praça aos dezasseis anos de idade,
em 18 de julho de 1820, sendo promovido a alferes de cavalaria em 24
de junho de 1821, e neste posto serviu de ajudante de ordens do
infante D. Miguel, comandante em chefe do exercito, partindo de
Lisboa com o mesmo infante para Santarém em 27 de maio de 1823. Por
decreto de 24 de junho do mesmo ano foi condecorado com a venera
chamada dos Inauferíveis direitos da Realeza, ou como
vulgarmente o alcunharam, da poeira, como está publicado no Suplemento
ao n.º 148 da Gazela de Lisboa, de 25 de junho de 1823 .
Pela mesma ocasião e motivos, foi encartado no título de conde de
Vale de Reis. No dia imediato à trágica morte de seu pai, D. João
VI o investiu em todas as honras, títulos e dignidades, começando
nesse mesmo dia, 1.° de março, o seu serviço ao paço. Na Gazeta
de Lisboa, de 2 de março de 1824, a pág.
224, lê-se o seguinte:
"Sua
Majestade, querendo dar um testemunho da sua Real Saudade pelo
Marquês de Loulé, Gentil-Homem da sua Câmara, e cujos serviços
lhe foram sempre gratos: Houve por bem, fazer mercê a seu filho,
o conde de Vale de Reis, do titulo de Marquês de Loulé, e de
todos os bens da coroa e ordens, que possuía o Marquês seu pai,
tendo-lhe o mesmo Senhor, outro sim feito a graça de o chamar
para o serviço junto à sua Real Pessoa na qualidade de
Gentil-homem da sua Câmara, etc."
Por carta régia
de D. Pedro IV, datada do Rio de Janeiro, em 30 de abril de
1826, foi eleito par do reino. O marquês de Loulé era um dos mais
belos e elegantes fidalgos do seu tempo, duma educação esmeradíssima,
duma afabilidade, que lhe atraía a estima e a simpatia de todas as
pessoas com quem tratava. Simão da Luz Soriano, na História do
Cerco do Porto, já citada, diz que o marquês de Loulé era de
rara gentileza, a ponto de ser nomeado como tal pelos jornais de
Paris de 1830, onde esteve durante parte do tempo da emigração.
Outro tanto dizem dele as memórias do príncipe de Lichnowsky,
impressas em 1840, e que o apresentam como o homem mais bonito do
seu tempo. A 5 de dezembro de 1828 casou com a infanta D. Ana de
Jesus Maria, filha de D. João VI e de D. Carlota Joaquina. O
casamento realizou-se particularmente na capela do palácio de
Queluz, celebrando a cerimónia no impedimento do patriarca D. Patrício,
o padre Francisco André Afonso Parra, beneficiado e capelão da
imperatriz-rainha D. Carlota Joaquina. (V. Bragança, D. Ana de
Jesus Maria de). Este enlace, que era um verdadeiro escândalo
para o partido representante do velho absolutismo, esta ligação da
infanta, que quebrando a sua coroa quase real descera até a um
simples vassalo, embora de nobre ascendência, não era de natureza
a deixar tranquilos os noivos no país, e o triste exemplo do fim
que tivera seu pai, devia por o marquês de Loulé de sobreaviso
acerca dos perigos que corria no reino. Quis-se dizer que não podia
este consórcio ser do desagrado de D. Miguel, visto que ele fora
autorizado pela rainha, a quem o infante obedecia cegamente, e que
este estava, havia três anos, ausente em Viena de Áustria;
afirma-se mesmo que o infante consentiu, mas é indubitável que
devia guardar rancor contra o marquês, e que este, a titulo de
viagem de recreio, partiu em janeiro de 1828, com sua mulher em
excursão pelas principais capitais da Europa.
O infante
D. Miguel regressou à pátria em Fevereiro desse ano. A saída,
pois, do marquês de Loulé e de sua mulher, se não foi ditada pela
prudência, bem o pareceu, e os acontecimentos posteriores o
justificaram plenamente. Em 16 de março de 1832, foi nomeado
ajudante de ordens de D. Pedro IV, e nesta qualidade veio
desembarcar nas praias do Mindelo em 8 de julho do mesmo ano. A 6 de
agosto de 1832 foi promovido a tenente de cavalaria. Era tremenda a
luta, em que os partidos beligerantes andavam envolvidos,
praticando-se em ambos os campos façanhas de valentia e bravura.
Mas nem só no campo de batalha a causa liberal reclamava serviços,
no gabinete também havia a resolver problemas não menos difíceis,
do que os que se resolviam com as armas na mão. Foi nestas
circunstancias embaraçosas que o marquês de Loulé fez a sua
iniciação como estadista, entrando para o ministério a 12 de
janeiro de 1833, quando o duque de Palmela e Mousinho da Silveira
solicitaram a sua demissão, e ficando encarregado da pasta dos negócios
estrangeiros, como mais tarde geriu também a da marinha
interinamente, quando do gabinete saiu Joaquim António de Magalhães.
Destes cargos foi exonerado do 2.º em 21 de abril, e do 1.° em 26
de julho do referido ano. Os acontecimentos precipitaram-se, e a vitória
sorriu às armas liberais, depois do combate naval de S. Vicente, do
feliz êxito da arrojada expedição do Algarve, coroada pelo
desembarque das tropas do duque da Terceira em Lisboa. Era preciso,
portanto, participar tão jubilosas notícias à rainha D. Maria II,
que estava em Paris desejosa de saber o resultado da luta. Foi o
marquês de Loulé encarregado desta honrosa missão. Partiu para.
Paris, já no posto de capitão, a que fora promovido em 25 de julho
de 1833, e regressou ao reino, acompanhando a rainha e sua madrasta,
a imperatriz D. Amélia, a bordo do vapor inglês Sonho, que
entrou a barra de Lisboa a 22 de setembro, efectuando-se o
desembarque no dia seguinte, no meio do maior entusiasmo e regozijos
públicos. O marquês de Loulé reassumiu logo os seus cargos de
ministro das duas pastas referidas, mas havendo criado certo vigor o
partido denominado oposição, de que eram chefes Saldanha e Rodrigo
Pinto Pizarro, acusando fortemente o ministério pela sua demasiada
clemência com os miguelistas e por muitos outros actos da sua
administração, o marquês, em vista da veemência das queixas
contra os seus colegas, e não querendo partilhar a responsabilidade
dos seus actos, pediu e obteve a demissão de ministro dos negócios
estrangeiros em 3 de outubro.
Nas lutas
parlamentares que se seguiram, Loulé inscreveu-se entre os membros
do partido progressista, e, ou por este motivo ou pelos boatos que
se espalharam de querer avocar para sua mulher, restituída ás
honras de infanta que havia perdido pelo título de marquesa, o
cargo de regente da rainha menor, caiu no desagrado de D. Pedro, que
pelo decreto de 28 de agosto de 1834 o demitiu do cargo de seu
ajudante de campo. Os acontecimentos precipitaram-se. As câmaras
legislativas proclamaram em 20 de setembro a maioridade da rainha,
resolvendo-se assim a questão complicada da regência. O marquês
de Loulé, fiel ao seu partido, tornou com ele a ocupar a pasta dos
negócios estrangeiros em 18 de setembro de 1835, caindo com todo o
ministério em 19 de abril de 1836. Em conformidade das ideias que
adoptara, apoiou a revolução de 9 de setembro desse ano, sendo por
ela eleito deputado às cortes constituintes, que promulgaram a
constituição de 1838; e mais tarde o elegeram senador. Em 1840, na
questão com a Espanha, a pretexto da navegação do rio Douro, foi
nomeado ajudante do duque da Terceira. Em 1843 entrou na coligação
do partido setembrista e miguelista contra o governo de Costa
Cabral. Em 1844 foi promovido ao posto de major. O marquês de Loulé,
casado com a tia da rainha, gozando grande prestígio na corte e no
estrangeiro, fidalgo de raça, e escravo severo da etiqueta.
palaciana, seguia de coração a causa popular, a causa
progressista, e aceitara do ministério de maio de 1846, sob a
presidência do duque de Palmela, depois da revolução do Minho, o
cargo de governador civil de Coimbra; e quando o golpe de estado de
Outubro promoveu a enorme reacção do dia 9 no Porto, e a formação
da Junta do Porto, o devotado setembrista aderiu a esta revolução,
aceitando da Junta revolucionária o cargo de supremo governador
civil de Coimbra, pelo que foi exautorado de todos os seus títulos,
postos, honras e condecorações. Aquele cargo, nessa época, era
uma espécie de arcebispo metropolitano civil com seus distritos
sufragâneos. Sempre leal ao seu partido, sobre que tinha grande
influência, acompanhou a luta até ao final, cabendo-lhe a dolorosa
missão de ser o signatário da convenção de Gramido, de 30 de junho
de 1847, por parte da Junta do Porto, quando o auxilio reunido de três
nações poderosas veio por um momento sufocar a vontade popular. O
partido progressista não desanimara, retraíra-se, esperando
melhores dias.
O
marquês de Loulé presidiu ao primeiro meeting
que houve no país, celebrado nos fins do ano de 1847, para
tratar de trabalhos preparatórios para as eleições, sendo o
principal orador José Estevão Coelho de Magalhães. Não correu
por esses anos até 1851 muito próspera fortuna ao partido popular,
e em muitos ânimos lavrava já o desalento de ver vingar a sua
causa. José Estevão e Rodrigues Sampaio lutavam sempre com fé
inabalável, e a vitória da causa, tão valorosamente defendida em
1846, alcançou-se enfim nesse ano de 1851, devido mais ao acaso,
que ás combinações políticas, sendo o seu maior adversário, o
duque de Saldanha, quem a devia fazer triunfar. A revolta iniciada
pelo marechal, com os Batalhões de Caçadores n.os 1 e
5, estava prestes a perder-se, quando os progressistas do Porto
perfilharam o movimento insurreccional, e os estudantes de Coimbra
revoltaram a divisão que se encontrava ali, aderiu Saldanha a esta
nova feição da revolta militar, que serviu para implantar de vez
no país os princípios do progresso, da tolerância política, da
ordem e pleníssima liberdade. Tendo triunfado este movimento a que
se deu o nome de Regeneração,
o marquês de Loulé foi nomeado ministro da marinha, cargo que
só pôde exercer alguns dias. Mas votado com acordo de todas as
opiniões políticas, o Acto Adicional, que assegurou ao país
trinta anos de paz, encetado o largo caminho dos melhoramentos
materiais, onde o estadista Fontes Pereira de Melo devia iniciar-se
para o prestígio do seu nome, começou a sentir-se a necessidade de
um partido forte e bem organizado, que na oposição contrabalançasse
o novo partido regenerador, e que se alternasse com ele no poder.
Foi desta necessidade da vida constitucional que nasceu o partido
histórico, de que se tornou chefe, sem eleição o marquês de Loulé.
Em 3 de junho de 1856 foi encarregado de organizar o ministério,
reservando para si a pasta dos estrangeiros, a do reino por alguns
dias, e também interinamente a das obras publicas, até à queda do
gabinete em 16 de março de 1859. Este ministério teve existência
bem atribulada; foi ele que sofreu a afronta da Charles
et George, e foi ele que introduziu em Portugal as irmãs da
caridade francesa, que tinham de ser origem de muitos conflitos. Em
1859 subiu ao poder o ministério regenerador presidido pelo duque
da Terceira, e depois por Joaquim António de Aguiar. Este governo
teve curta duração, voltando em 5 de julho de 1860 ao poder o
marquês de Loulé, em que foi presidente do conselho e ministro do
reino.
Este
ministério conservou-se cinco anos, tendo sucessivas modificações
ministeriais, até 17 de abril de 1865, em que foi substituído por
um ministério de transição sob a presidência do marquês de Sá
da Bandeira. Durante a gerência daquele gabinete deu-se o lamentável
acontecimento da morte de D. Pedro V e do infante D. Fernando em
novembro de 1861, e a do infante D. João em Dezembro seguinte,
correndo também grande perigo a vida do infante D. Augusto, que pôde
salvar-se. Este facto sobressaltou sobremaneira a opinião pública,
e deram-se os chamados tumultos do Natal, que José Estevão, na sua
palavra calorosa, chamou a
anarquia da dor, respondendo ao despotismo da morte. Levantaram-se
então boatos absurdos e caluniosos, atribuindo ao veneno aquelas
mortes, sendo o duque de Loulé injustamente acusado de tomar parte
neste suposto crime de regicídio, levado pela ambição de colocar
no trono de Portugal seu filho primogénito, neto legítimo de D. João
VI. O povo que adorava o jovem monarca D. Pedro V, revoltou-se
querendo matar o marquês, o qual com todo o ministério, passara
para o arsenal da marinha, por uma escada, que ficou célebre, indo
depois desembarcar em Alcântara no quartel dos marinheiros
militares. Era preciso que o marquês de Loulé tivesse grande e
verdadeira popularidade para resistir a estas calúnias, que a paixão
popular lhe atirava, e para que pudesse de novo readquirir. todo o
seu prestigio, quando em 1862 resolveu a questão das irmãs
francesas, dum modo simpático à opinião publica, fazendo-as sair
do reino, sacrificando tudo, até as afeições mais intimas dos
seus parentes. Neste mesmo ano rebentaram no Minho uns tumultos, que
foram reprimidos, sendo deportadas para África, sem processo, as
praças do exército neles implicadas, mas o marquês de Loulé, então
ausente do reino, quando regressou, não aprovou o procedimento dos
seus colegas, e os deportados foram restituídos à pátria. Esta
ausência fora motivada pelo honroso encargo de ir a Turim assinar o
auto de recepção de sua alteza real a princesa D. Maria Pia de Sabóia,
a futura rainha de Portugal, encargo que lhe foi dado pela carta
patente de 29 de agosto de 1862, pelo que largou as funções de
presidente do conselho em 12 de setembro para as reassumir no seu
regresso em 6 de outubro, sendo por esta ocasião elevado ás honras
de duque de juro e herdade, pelo decreto de 3 do referido mês de
outubro. Foi ainda durante o seu ministério que rebentou o cisma do
partido histórico, dividindo-se em dois grupos, a que a linguagem
popular deu os nomes de unha
preta e unha branca, sendo
este o fiel ao chefe, que tinha de se ligar com o partido
regenerador, dando origem ao ministério de fusão de 4 de setembro
de 1865. Em 6 de setembro de 1868 foi reformado na patente de
general de divisão. No dia 11 de agosto de 1869 foi novamente
chamado ao poder, substituindo o ministério do bispo de Viseu,
sendo presidente do conselho e gerindo a pasta do reino; este ministério
caiu em 19 de maio de 1870, quando se deu a revolta militar movida
pelo marechal Saldanha, a que se seguiu o ministério por ele
organizado e presidido. Em 1871 foi nomeado presidente da câmara
dos pares, lugar de que pediu a exoneração em 1873, por motivo de
intrigas políticas.
O
duque de Loulé possuía as seguintes honras: grã-cruz das ordens
da Torre e Espada e de Nossa Senhora da Conceição, comendador da
de Cristo; grã-cruz das ordens de S. Maurício e S. Lazaro, da
Sardenha; de Ernesto Pio, de Saxe-Coburgo-Gotha, de Carlos III, de
Espanha; de Leopoldo, da Bélgica; de Leão, dos Países Baixos; da
Águia Vermelha, da Prússia; da Coroa Verde, de Saxónia; da Águia
Negra, da Prússia; de Pio IX; de Danebrog, da Dinamarca; cavaleiro
de S. João de Jerusalém, e da Anunciada, de Itália. Também possuía
a medalha de D. Pedro e. D. Maria com o algarismo n.º 9.
Genealogia do duque de Loulé
Geneall
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