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Rainha
D. Luísa de Gusmão |
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Luísa
Francisca de Gusmão
(D).
n. 13
de outubro de 1613.
f. 27 de fevereiro de 1666.
Rainha
de Portugal, mulher do rei D. João IV.
Nasceu
em S. Lucar de Barrameda, na Andaluzia, Espanha, a 13 de outubro de
1613, faleceu em Lisboa a 27 de fevereiro de 1666. Era filha do 8.º
duque de Medina Sidónia D. Manuel Peres de Gusmão, e de D. Joana
de Sandoval, filha do 1.º duque de Lerma, D. Francisco Sandoval,
famílias de grande nobreza, sendo descendente pelo lado paterno dos
duques de Bejar e de Pastrana, e por sua mãe dos duques de Gandia e
de Medina Coeli.
Casou
por procuração no princípio de janeiro de 1633, com D. João, 8.º
duque de Bragança, que em 1630 herdara aquela opulentíssima casa
por morte de seu pai, o 7.º duque, D. Teodósio, sucedida em 29 de
novembro do referido ano. A ratificação do casamento realizou-se
com grande pompa em Elvas no dia 12 do citado mês de janeiro de
1633, sendo celebrante o bispo D. Sebastião de Matos Noronha, mais
tarde arcebispo de Braga. Efectuaram-se então em Vila Viçosa
brilhantes festas. Este consórcio fora muito do desejo do ministro
castelhano conde-duque de Olivares, tanto que, em atenção a ele,
restituiu à casa de Bragança ducado de Guimarães e outras
prerrogativas que lhe haviam sido tiradas. Não realizou, contudo as
suas esperanças aquele ministro, porque a nova duquesa, longe de
aconselhar seu marido à submissão à Espanha, sempre o aconselhou
a cumprir o seu dever de Príncipe português. Na última hora,
na hora das hesitações, quando o duque D. João, intimado por
Filipe IV para se apresentar em Madrid, intimado pelos conjurados
para aceitar a coroa que a revolução lhe ia oferecer, se mostrava
como sempre hesitante quis consultar sua mulher, e encontrou nela os
varonis espíritos que sempre lhe notaram.
A
duquesa era ambiciosa; e atribui-se-lhe a seguinte resposta: que
tinha por mais acertado morrer reinando, que acabar servindo,
palavras que os manuais da historia nacional parafrasearam deste
modo: antes ser rainha uma hora, do que duquesa toda a vida. Esta
resposta conceituosa cuja veracidade tem sido contestada, se acaso
é verdadeira, exprime bem, contudo, a sua resolução intrépida, e
o seu desejo de subir ao primeiro lugar da hierarquia do reino.
Realizada a revolução do primeiro de dezembro, D. João IV
dirigiu-se a Lisboa, onde chegou no dia 6, celebrando-se a cerimónia
da aclamação em 15. A rainha D. Luísa de Gusmão entrou em Lisboa
a 21 de dezembro, acompanhada por seu filho, o príncipe D. Teodósio,
e por suas filhas D. Joana e D. Catarina. Apesar de ser espanhola, o
povo, que bem sabia quanto ela concorrera para decidir seu marido a
aceitar a coroa de Portugal, prestou-lhe as maiores manifestações
de simpatia e entusiasmo D. João IV logo lhe estabeleceu casa,
nomeando mordomo-mor D. Sancho de Noronha, conde de Odemira;
estribeiro-mor D. Luís de Noronha, e camareira-mor a marquesa de
Ferreira D. Joana Pimentel. Para damas foram escolhidas senhoras das
mais ilustres famílias. D. Luísa de Gusmão sofreu grande desgosto
com a perda de seu filho primogénito, o Príncipe D. Teodósio, que
faleceu apenas com dezanove anos, em 15 de maio de 1643.
D.
João IV morreu em 1656, deixando em testamento a rainha sua mulher
como tutora e curadora de seus filhos, e regente do Reino durante a
menoridade de D. Afonso. D. Luísa de Gusmão, porém, já não
tinha a energia da sua primeira mocidade; como política, foi
joguete de dois partidos que então dividiam a corte, a deixou-se
dominar especialmente pelo frade holandês Frei Domingos do Rosário;
como mãe, não teve força para coibir as desgraçadas tendências
de seu filho D. Afonso VI, as suas devassidões e a sua prejudicial
turbulência. Tanto se afligia com a deplorável educação de seu
filho, que em 1661 quis largar a regência, tendo D. Afonso
completado dezoito anos de idade, mas o Conselho de Estado instou
muito com ela para que se conserva-se no poder, receando que o novo
rei, ao assumir o governo, entregasse os primeiros lugares do Estado
aos irmãos Conti, dois genoveses que eram seus validos, e que desde
a infância se lhe haviam agregado, com o maior escândalo. D. Luísa
de Gusmão cedeu, e o primeiro acto que praticou
depois desta resolução, foi desterrar violentamente para o Brasil
os dois Conti. Preparou assim, porém, o golpe que a devia derrubar,
porque da influência que os Conti exerciam no ânimo do rei, se
apoderou habilmente o conde de Castelo Melhor, que no ano imediato,
1662, auxiliado pelo conde de Atouguia e Sebastião César de
Meneses, levou el-rei para o palácio de Alcântara, a aí fez com
que ele participasse à rainha ter resolvido assumir as rédeas do
governo, visto ter chegado, havia muito, à maioridade legal.
A
rainha ressentiu-se profundamente com aquele procedimento, mas não
hesitou em entregar a regência, continuando a viver no paço, até
que em 1663 o conde de Castelo Melhor conseguiu que ela se retirasse
para o convento do Grilo, em Xabregas, onde faleceu. No entretanto,
nos seis anos que foi regente, teve de suportar a maior força da
guerra com a Espanha; foi nesse período que o marquês de Marialva
ganhou as batalhas das linhas de
Elvas
e de Montes
Claros. No seu governo também se fez a paz dos Pirenéus,
que nos deixou completamente desamparados diante da Espanha, mas as
hábeis negociações do conde de Soure conseguiram que a França
nos mandasse socorros secretos, que foram de muita utilidade. Também
no seu governo se realizou o casamento da infanta D. Catarina com o
rei Carlos II de Inglaterra. D. Luísa de Gusmão fundou em Lisboa o
colégio dos irlandeses ao Corpo Santo; o convento de Corpus Christi,
de carmelitas descalços; e no sítio do Grilo o mosteiro de
religiosas da mesma ordem. Foi neste convento, conforme dissemos, se
recolheu, depois de deixar o governo do reino, em 17 de março de
1663. A rainha foi conduzida num coche forrado de veludo preto,
acompanhada com duas damas de honor; seguindo-se o coche de el-rei
com o estribeiro-mor e o camareiro-mor, e mais quatro coches com as
damas. Na clausura ficaram D. Isabel de Castro, duas damas da câmara
e algumas criadas particulares. A rainha em seu testamento ordenara
que fosse sepultada no convento de Corpus Christi, enquanto se não
concluísse a igreja do Grilo. Assim se cumpriu, sendo conduzida
solenemente no dia 2 de março, em seguida ao falecimento, para o
convento de Corpus Christi, onde ficou depositada junto do
altar-mor, do lado do Evangelho, sobre uma eça de quatro degraus
cobertos de veludo preto e passamanes de ouro.
Em
1691, D. Pedro II a mandou trasladar para debaixo do sacrário,
lugar que lhe tinha preparado desde o princípio. Mas apenas se
concluiu a igreja do convento do GriIo, D. João V, para cumprir o
que ela ordenara no testamento, trasladou para ali o cadáver da
rainha sua avó, o que se realizou em 17 de
junho de 1713,
ficando sepultado no jazigo por detrás do altar-mor. No princípio
de janeiro de 1889 foram os restos mortais da rainha D. Luísa de
Gusmão para o panteão real da igreja de S. Vicente de Fora. O féretro
foi conduzido num dos coches mais ricos da Casa Real, sendo o préstito
formado por mais três coches ricos, algumas carruagens com oficiais
da Casa Real e sacerdotes, e fechado por um esquadrão de cavalaria
n.º 4. Em S. Vicente de Fora onde a guarda de honra o esperava, foi
o féretro recebido pelo patriarca, cabido, etc., e depositado na
cripta real.
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Portugal - Dicionário Histórico, Corográfico, Heráldico, Biográfico, Bibliográfico, Numismático e Artístico,
Volume IV, págs.
577-578.
Edição em papel © 1904-1915 João Romano Torres - Editor
Edição electrónica © 2000-2015 Manuel Amaral
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