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Luís
(Nicolau).
n.
f.
Autor
cómico, que viveu no século 18. São muito escassas as notícias a
seu respeito. Costa e Silva, no Ensaio
biográfico crítico sobre os melhores poetas portugueses, tomo
X, pág. 294 e seguintes, diz que este célebre fabricante de comédias
era natural de Lisboa, e mestre de meninos morador na rua da Rosa,
próximo ao pátio do conde de Soure; homem excêntrico que vivia só
com uma criada velha, e frequentava assiduamente o teatro do Bairro
Alto. Vestia com o maior desalinho, usava de cabeleira de grande
rabicho, um capote de baetão de
toda a roda, e acompanhava-o sempre um grande cão de
água.
Possuía
uma livraria de autores dramáticos e cómicos espanhóis; compunha
comédias sobre as daqueles autores, e vendia os manuscritos aos
cegos que os mandavam imprimir, vendendo-os por conta
própria. Nicolau Luís era gastador, e consumiu todo o seu dinheiro
em brodios e divertimentos com os atores e outros amigos, em que
também se viam mulheres. Costa e Silva conta da seguinte forma,
como Nicolau Luís começou a dar as suas comédias para o teatro do
Bairro Alto. Tendo estreitas relações com o actor José Procópio,
que antes de se entregar a esta vida fora professor de retórica,
conversava com ele no café do teatro, e José Procópio lhe expôs
a dificuldade de encontrar uma peça para o seu benefício, e então
Nicolau Luís o levou a sua casa, e lhe mostrou os manuscritos de várias
comédias, dizendo-lhe que os levasse e escolhesse a
comédia que mais lhe conviesse, acrescentando que eram todas
trabalho seu, feito nas horas que os rapazes o deixavam livre. José
Procópio leu os manuscritos, conheceu o talento prático
e dramático do seu amigo, e escolhera a tragédia Inês de Castro,
que alcançou grande sucesso na representação. Era traduzida da
tragédia espanhola Reynar
despues de morir.
Inocêncio
da Silva, no vol. VI do Dicionário
Bibliográfico a pág. 274, diz parecer-lhe que
Nicolau Luís tivera também o apelido da Silva, mas a notícia de
suas circunstâncias e acções individuais ficou em plena
obscuridade. Acaso será ele, como tenho para mim, diz Inocêncio, o
mesmo Nicolau Luís da Silva, de quem fala Joaquim José Moreira de
Mendonça, na sua História
Universal dos Terramotos, pág. 143, que era em 1755 escrivão
do povo, e que por ocasião da memorável catástrofe de primeiro de
Novembro, foi mandado levantar vara para servir cumulativamente com
o juiz do povo, António Rodrigues de Leão, e ao qual se deveu
grande zelo e trabalho nas diligências com que andava descobrindo
mantimentos para socorro dos habitantes da capital? O que dele nos
conta Costa e Silva, falava não de ciência própria, mas por tradições
havidas mais de quarenta anos daquele em que escrevia, e fabricou um
capítulo que na maior parte, dá ares de verdadeiro romance,
incluindo aí circunstâncias a meu ver contraditórias e anacrónicas,
que mal podem conciliar-se entre si, e com outros
factos sabidos.
O
que não padece dúvida é que Nicolau Luís foi um escritor fecundíssimo,
e durante muitos anos sustentou os teatros de Lisboa com as peças
que traduzia dos teatros espanhol e italiano, das quais grande parte
se imprimiu, e constituem pelo menos um terço das comédias
chamadas de cordel, porque os cegos, vendedores privilegiados desta
espécie de escritos, as expunham ao publico pendentes dum barbante,
pregado nas paredes ou nas portas dos seus lugares ou tendas
volantes. No vol. VI e no XVII (suplemento) do referido Dicionário
Bibliográfico, vem uma minuciosa e curiosa descrição de todas
essas peças, divididas em secções da. comédias e tragédias.
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