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José Lourenço da Luz Gomes
José Lourenço da Luz Gomes

Luz Gomes (José Lourenço da).

 

n.      8 de setembro de 1800.
f.       
13 de julho de 1882.

 

Lente jubilado e director da Escola Médico Cirúrgica de Lisboa; médico cirurgião honorário da Real Câmara, enfermeiro mor do Hospital de S. José, par do Reino, deputado, do conselho da rainha D. Maria II e dos monarcas D. Pedro V e D. Luís I; presidente da direcção do Banco de Portugal, vereador e presidente da Câmara Municipal de Lisboa, abastado proprietário e capitalista, etc. 

Nasceu em Lisboa em 8 de setembro de 1800, dia de Nossa Senhora da Luz, e por isso tomou esse apelido; faleceu em Paço de Arcos em 13 de julho de 1882. Era filho de Vicente Luciano Gomes e de sua mulher, D. Florentina Gomes.

Seguiu o antigo curso interno no Hospital de S. José, e o de física e química nas aulas da Casa da Moeda, sendo tal o seu aproveitamento que pouco tempo depois, em 1821, era nomeado cirurgião ajudante do banco e porteiro das aulas no mesmo hospital; o que equivalia a demonstrador de anatomia. Em 4 de agosto de 1821 foi nomeado lente substituto da cadeira de medicina operatória, e em 1826 cirurgião efectivo do hospital e lente proprietário da cadeira de clínica, que regeu por muitos anos, dedicando-se a operações muito difíceis e delicadas. José Lourenço da Luz foi o mais brilhante operador português, verdadeiramente notável pelo seu arrojo e perícia. Foi o primeiro cirurgião que em Portugal fez as laqueações da artéria carótida primitiva, o que realizou em 27 de fevereiro de 1825 obtendo assim a cura de um doente do hospital em iminente perigo de vida, em consequência dum ferimento da carótida. Foi também o primeiro médico português que executou, com o melhor êxito, a ligadura da ilíaca externa (9 de dezembro de 1824), facto tão importante, que dele se fez menção especial nos Annales de medicine physiologique de Broussais. Também em 1833 extraiu pela talha o maior calculo vertical que entre nós se tem visto, pois que pesava cerca de 700 gramas, sendo para notar que todos estes operados se curaram. 

Congregando-se com os seus colegas, lentes da antiga escola, logo depois de estabelecido definitivamente em 1834 o regime liberal, conseguiu fundar um jornal científico, intitulado Jornal das Ciências Medicas de Lisboa, que principiou a publicar-se em janeiro de 1835. Fundando-se em 18 de maio do mesmo ano a actual Sociedade das Ciências Médicas, de que José Lourenço da Luz foi um dos fundadores, o jornal ficou sendo órgão da sociedade, continuando a publicação com o título seguinte: Jornal da Sociedade das Ciências Medicas de Lisboa, no mês de janeiro de 1836 Dedicou-se à política, começando por ser eleito vereador da câmara municipal, da qual foi pouco depois presidente. Amigo e partidário do governo do conde de Tomar, se lhe prestava todo o concurso da sua actividade e inteligência, não deixava de procurar introduzir ordem, regularidade e melhoramentos na repartição a seu cargo. Assim conseguiu, a custo, melhorar a escrituração e fazenda municipal. A reforma dos cemitérios foi um dos seus mais instantes cuidados. José Lourenço da Luz era director e lente jubilado da Escola Médica, e pôde obter que nessa escola se organizasse um gabinete de frenologia, para o que fez ali depositar os crânios de Diogo Alves e Matos Lobo. No fim de alguns anos de luta alcançou o estabelecimento de um hospital de alienados no antigo convento de Rilhafoles, donde o duque de Saldanha fez, para esse efeito, remover o Real Colégio Militar, que estava então ali instalado. Foi director presidente por alguns anos do Banco de Portugal, sendo repetidas vezes reeleito, o qual pelos seus esforços pôde levantar da decadência em que se encontrava, por meio duma comissão de inquérito parlamentar, uma das primeiras que se nomearam em Portugal, e que muito proveitosa foi para o credito daquele estabelecimento. Era então deputado, sendo eleito nas legislaturas de 1845 a 1851, e conhecido por um dos mais valiosos defensores do governo dessa época, e por um dos membros mais importantes do partido cabralista. Por carta régia de 17 de maio de 1861 teve a nomeação de par do Reino, de que prestou juramento e tomou posse na respectiva câmara na sessão de 20 de maio do mesmo ano, competindo-lhe  nessa qualidade as honras da grandeza do Reino, de que se encartou por carta de 24 de julho também de 1861. O seu estado de saúde, porém, não lhe permitiu prestar na câmara alta os serviços que prestara anteriormente na dos deputados. Também exerceu o cargo de enfermeiro mor do Hospital de S. José. 

Era membro efectivo da Sociedade das Ciências Médicas, sendo em 1842 eleito, por unanimidade, sócio honorário de primeira classe. José Lourenço da Luz colaborou na Revista Medica de Lisboa, de 1844 a 1846. Quando era director do Banco de Portugal, deu-se uma pendência entre a direcção e Tomás Maria Bessone, mais tarde visconde de Bessone, negociante e capitalista, de que resultou a sua falência. Sustentou outro litígio intentado contra ele, como tutor dos filhos de Pereira da Costa, em que também figuravam contas do Banco de Portugal e a firma Bessone. acerca destes litígios publicaram-se de 1863 a 1872, além de numerosos artigos e correspondências nos jornais, especialmente na Gazeta de Portugal, Revolução de Setembro, Português, Comércio de Lisboa, vários folhetos e livros. 

José Lourenço da Luz possuía as seguintes honras, além das já citadas: a comenda da ordem de Cristo e a de Nossa Senhora da Conceição. Casou em 1828 com D. Carlota Joaquina da Silva, filha de António Francisco da Silva, proprietário e capitalista, e de sua mulher, D. Ana Rita de Melo. Deste matrimónio, entre outros filhos, houve Caetano da Silva Luz, visconde de Coruche, falecido em dezembro de 1904. Por alvará de 5 de abril de 1877 foi-lhe concedido o brasão de armas, que já descrevemos no artigo do visconde de Coruche, vol. II do Portugal, pág. 1164. Em 1825 publicou um opúsculo de 14 págs. com uma estampa, intitulado: Observação de um caso de laqueação da arteria ilíaca externa para curar o aneurisma inguinal, praticado por José Lourenço da Luz.

 

 

 

José Lourenço da Luz Gomes
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Portugal - Dicionário Histórico, Corográfico, Heráldico, Biográfico, Bibliográfico, Numismático e Artístico,
Volume IV, págs. 599-
600.

Edição em papel © 1904-1915 João Romano Torres - Editor
Edição electrónica © 2000-2015 Manuel Amaral