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Magalhães Coutinho (José Eduardo
de).
n.
24 de outubro de 1815.
f. 13
de janeiro
de 1895.
Director
e lente jubilado da Escola Médico-cirúrgica de Lisboa; comendador
da ordem de Cristo, primeiro medico da real câmara, conselheiro, director
da Biblioteca Real da Ajuda, membro do Conselho Superior de Instrução
Publica, deputado, sócio da Sociedade das Ciências Médicas, de
que foi presidente; sócio da Academia Real das Ciências, e de
muitas outras sociedades científicas, etc. N. em Évora a 24 de
Outubro de 1815, fal. em Lisboa a 13 de Janeiro de 1895, sendo filho
de José Bernardo Magalhães Coutinho, oficial de infantaria.
Começou
a estudar as primeiras letras, aos 8 anos de idade, numa escola de
Évora, indo depois para Torres Novas, onde se dedicou ao estudo do
latim. Deram-se então os acontecimentos políticos de 1828 para
1829, e Magalhães Coutinho veio para Lisboa em companhia de seu
pai, que poucos dias de liberdade gozou nesta cidade, porque o
intendente da policia logo o prendeu, julgando ver ameaçados os
absolutistas com a presença dum oficial, já desligado por não ser
afecto àquele regime. Magalhães Coutinho ficou abandonado, e não
pensou em aulas, não deixando contudo de ler os compêndios, e mais
dois ou três livros, que o pai trouxera na sua mala. António Maria
do Couto, professor régio de grego, recebeu-o em sua casa,
perguntando-lhe o que já tinha estudado, e vendo a sua boa vontade
de aprender admitiu-o nas aulas; ali estudou então latim, francês,
grego, lógica e retórica. Chegou o ano de 1831, em que as perseguições
políticas se tinham tornado deveras ameaçadoras, e o governo, por
causa da guerra civil iminente, procedeu a um rigoroso recrutamento.
Magalhães
Coutinho, apenas contava 18 anos, mas receava que o obrigassem a
assentar praça, vida para que não se sentia com vocação, e muito
mais porque iria contrariar as crenças liberais de seu pai, que ele
também professava. António Maria do Couto, vendo-o assim receoso,
aconselhou-o a que se matriculasse na escola régia de cirurgia que
livrava do recrutamento, e fez-lhe o elogio daquela profissão, o
que muito entusiasmou o jovem estudante, que pensara sempre em
frequentar na Universidade de Coimbra o curso de Direito. Couto
observou-lhe ainda que fosse para o hospital, e se não gostasse da
vida de médico, a todo o tempo poderia dedicar-se a outra; o que se
tornava preciso, era evitar que o fizessem soldado, com que o seu
pai muito se desgostaria. Magalhães Coutinho matriculou-se poucos
dias depois na escola de cirurgia, frequentando a aula de anatomia
em 1831, e a de matéria médica em 1832. A inquietação em que
andava pelas desgraças de sua família, e a necessidade em que se
via de continuar com os seus exercícios de latim e do grego, o
fizeram descuidar-se do estudo, para que lhe faltava o tempo,
chegando até a ser considerado mau estudante, entre os condiscípulos.
Havia pouco tempo que se matriculara no terceiro ano do curso da
escola, quando raiou o dia 24 de Julho de 1833, em que se proclamou
em Lisboa o restabelecimento do regime constitucional e a
legitimidade da rainha D. Maria II. Magalhães Coutinho teve a
fortuna de ver logo reunida a sua família, que tanto sofrera com os
rigores do partido miguelista, e o jovem estudante prosseguiu na
escola de cirurgia. Contudo, os estudos ficaram interrompidos por
algum tempo, porque a mocidade de Lisboa correu toda a alistar-se
nos batalhões que se organizaram, e Magalhães Coutinho também
assentou praça, mas pouco tempo serviu na vida militar, porque logo
depois da acção de 5 de Setembro foi requisitado pelo cirurgião-mor
Lourenço Félix Sardinha, director do hospital da Estrela, para o
ajudar no tratamento dos feridos. As funções, que então exerceu,
foram as de enfermeiro, mostrando sempre a maior dedicação tanto
por amigos como por inimigos.
Em
1836 acabou o curso da escola, e tirou a respectiva carta. Em 1837
acompanhou o marechal Saldanha ao Chão da Feira. Para esta digressão
militar houve motivo contrário ás suas opiniões politicas, que não
eram então as mesmas porque combatia o marechal. O conflito de 28
de Agosto desse anuo, entre as forças que Saldanha comandava e as
do conde de Bonfim, deu ocasião ás primeiras operações cirúrgicas
que praticou. Nos fins do referido ano de 1837 chegou a Lisboa, e
resolveu habilitar-se para concorrer aos lugares do magistério da
escola. Foi explicador de anatomia, e começou vida nova de estudo,
frequentando os cursos de Química, Física, Botânica e Zoologia.
Considerava que tendo sido a primeira reforma da escola em 1836,
depois dele ter concluído o curso, ver-se-ia muito inferior aos
alunos que viessem depois, e por isso se tornava preciso, aspirando
ao professorado, preencher as faltas que tinha nos seus estudos, a
que se aplicou, mas com bastante irregularidade. Em 1830 desempenhou
o lugar de cirurgião-mor do segundo batalhão de voluntários do
comércio; em 1842 fez algumas conferências públicas sobre
frenologia. Em 1847 entrou para o corpo docente da Escola Médico
Cirúrgica. Em 2 de Junho de 1856 foi nomeado cirurgião extraordinário
do hospital de S. José, e em 1857 ajudante do cirurgião do banco.
Serviu nos hospitais da cholera-morbus e da febre-amarela, em
1856 e 1857; exerceu clínica no hospital do Desterro, pedindo a sua
exoneração em 1 de Março de 1862. Foi depois director da Escola Médica,
regendo com brilhantismo a cadeira de obstetrícia.
Magalhães Coutinho foi o primeiro cirurgião, em Portugal, que fez
a aplicação do clorofórmio nos partos (1857), e o segundo que
praticou a litotrícia (1857), operação esta que tinha sido feita
apenas uma vez entre nós, 20 anos antes, pelo cirurgião João José
Pereira. Também foi o primeiro cirurgião que em Portugal operou um
doente anestesiado pela amylena (3 de Junho de 1857). Sendo
eleito deputado em 1853, entrou nas seguintes legislaturas até
1856. Na, sessão de 12 de Março de 1853 apresentou uma proposta
para reforma das escolas médico-cirúrgicas, ficando os alunos com
privilégios e títulos iguais aos da Universidade de Coimbra.
Depois duma vida muito trabalhosa, consagrando muitos anos à clínica
e ao magistério, Magalhães Coutinho deixou quase completamente o
exercício da sua profissão em que tanto se assinalara, e pedindo a
jubilação, ficou sendo primeiro médico da real câmara e
bibliotecário da biblioteca real da Ajuda. Exerceu também por
algum tempo as funções de director geral da instrução pública,
no ministério do reino. Em 26 de ,Janeiro de 1861 era vogal
suplente do Conselho Geral de Instrução Publica, sendo nessa data,
juntamente com João de Andrade Corvo, também vogal suplente,
encarregado de propor, ouvindo o director da Escola Normal Primária
do distrito de Lisboa, o plano das obras indispensáveis para o
melhor aproveitamento do edifício e quinta anexa, em que esta
escola ia funcionar, tanto em relação à instrução dos alunos,
como ao aproveitamento e regularidade do ensino. Quando se criou o
Conselho Superior de Instrução Publica, por decreto de 23 de Maio
de 1884, foi Magalhães Coutinho nomeado um dos seus membros.
Bibliografia:
Algumas considerações
sobre a demencia e o idiotismo (Tese),
Lisboa, 1847; Projecto
de lei para a reforma das Escolas Medico Cirurgicas de Lisboa e
Porto, apresentado na Camara Legislativa na sessão de 12 de março
de 1853; além de ser inserto no respectivo Diario,
vem também no Jornal da
Sociedade das Sciencias Medicas,
tomo XIII, a pag. 63;
Discurso recitado na abertura da Escola Medico-Cirurgica de Lisboa
em 9 de janeiro de 1858, Lisboa, 1858; Discurso
do Presidente da Sociedade das Sciencias Medicas, recitado ira sessão
de 17 de fevereiro de 1859;
saiu no Archivo
Universal, torno I, 1859, n.º 15; Zacuto
Lusitano, jornal semanal de medicina e sciencias acessorias, 1849‑1850,
de que foi redactor principal; Mezes
de gestação; nota na versão dos Fastos,
de Ovidio, por Castilho, tomo II, pag. 237. Publicou muitos
artigos e memórias sobre medicina, no Jornal
da Sociedade das Sciencias Medicas, sobressaindo entre estes, os
seguintes: Conducta dos
medicos, em 1839:
Ensaios sobre phrenologia em 1844;
Dissertação sobre tumores brancos,
1844, etc. Na Revista
Contemporanea de Portugal e Brazil, tomo I, de 1859, a pág. 249
a 260, vem publicada a biografia do Dr. Magalhães Coutinho,
escrita por João de Andrade Corvo.
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