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Maria
Francisca Benedita
(D.).
Princesa
do Brasil
n.
25 de julho de 1746.
f. 18 de agosto de 1829.
Princesa
da Beira e do Brasil, quarta e última filha do rei D. José I e da
rainha D. Mariana Vitória, sua mulher. N. em Lisboa a 25 de Julho
de 1746, sendo baptizada com grande pompa na igreja patriarcal, a 10
do mês de Agosto seguinte, pelo cardeal matriarca D. Tomás de
Almeida, tendo por padrinho o papa Benedito XIV, representado pelo
infante D. Pedro, tio da infanta, a qual recebeu os nomes de Maria
Francisca Benedita Ana Isabel Josefa Antónia Lourença Inácia
Teresa Gertrudes Rita Joana Rosa Fal. no paço da Ajuda em 18 de
Agosto de 1829.
D.
Maria Benedita era muito formosa e inteligente; aprendia com muita
facilidade, tanto as línguas como as ciências e as artes liberais.
Falava com toda a correcção o inglês, espanhol. francês e
italiano. O rei D. José apreciava muito a música, e foi ele quem
organizou o teatro real no paço da Ribeira, para. o qual mandou vir
os melhores cantores de Itália. O célebre maestro napolitano David
Peres foi contratado para vir ensinar as infantas, tornando-se D.
Maria Francisca Benedita a sua discípula mais dedicada. Tinha
grande amor e vocação para a música, amor que sempre conservou,
porque já na avançada idade de 80 anos ainda gostava de tocar
piano, cantar e recitar poesias. Também se dedicou muito ao desenho
e à pintura, em que teve por mestre o afamado professor Joaquim
Carneiro da Silva. David Peres escreveu uma ópera, Alessandro
nela Indie, expressamente para se cantar no dia 31 de Março de
1755, para solenizar o aniversário da rainha D. Mariana Vitória.
Poucos meses depois deu-se a lamentável catástrofe do primeiro de
Novembro, que reduziu a ruínas o teatro e o paço da Ribeira.
Deram-se então algumas récitas no teatro de Salvaterra, e no do
palácio da Ajuda, que se construíra de madeira a toda a pressa
para alojamento da família real. Além das óperas líricas, que se
cantavam, também se deram no paço oratórias e serenatas, tanto no
tempo do rei D. José, como no reinado de D. Maria I, tomando parte
nessas festas as infantas, em que sempre sobressaía
D. Maria Benedita, pela sua voz melodiosa e sentido canto.
Tinha
já completado 30 anos de idade, quando se desposou com seu
sobrinho, o príncipe da Beira D. José, filho primogénito de D.
Maria I, então ainda princesa do Brasil, e de seu marido e tio, o
infante D. Pedro. O príncipe, herdeiro presuntivo da coroa, tinha
apenas 16 anos; era um moço de talento, muito instruído, muito
versado e entusiasta pelas coisas militares. O povo estimava-o pelo
seu carácter nobre e suas boas qualidades. Desde a mais tenra infância
que o príncipe D. José sentia decidida e terna simpatia por sua
tia, simpatia que mais tarde se transformou em intenso amor. D.
Maria Benedita também estimava muito seu sobrinho, e a política não
contrariou estas afeições; até o rei D. José julgou de muita
vantagem este enlace, e três dias antes de falecer, em 21 de
Fevereiro de 1777, realizou-se o casamento do herdeiro presuntivo da
coroa com sua tia materna, D. Maria Francisca Benedita, que por este
facto. ficou sendo princesa da Beira. Por morte de D. José, e
subindo ao trono D. Maria I, receberam os recém-casados o titulo de
príncipes do Brasil. Infelizmente, 11 anos depois duma vida
pacifica e muito afectuosa, o principie adoeceu gravemente com um
ataque de bexigas, que o vitimou em 11 de Setembro de 1788, deixando
inconsolável sua mulher e tia, e causando geral consternação,
porque todos os portugueses depositavam as esperanças naquele seu
futuro e estimado rei. Não havendo sucessão, passou a ser herdeiro
presuntivo da coroa o príncipe D. João, mais novo 6 anos que seu
irmão. Com este fatal acontecimento perdeu a princesa D. Maria
Benedita ao mesmo tempo o trono e um marido tão digno do profundo
amor que lhe consagrava.
A
vida solitária, a que depois se dedicou, sugeriu-lhe o caridoso
pensamento de estabelecer um hospício em que os inválidos
militares encontrassem agasalho, conforto e toda a caritativa protecção.
Para realizar o seu benéfico intento D. Maria I lhe ofereceu a
quinta real da Luz, onde está hoje o Colégio Militar, mas a
princesa, julgou o sitio acanhado, e sabendo que junto de Runa os
frades bernardos do convento de Alcobaça possuíam uma propriedade
denominada quinta de Alcobaça,
que era muito vasta, obteve que eles lha vendessem, em 11 de
Agosto de 1790, comprando também pouco depois, várias propriedades
próximas, e a quinta de S. Miguel, na freguesia de Enxára do
Bispo, comarca e concelho de Mafra, o que tudo custou
aproximadamente 40.000$000 réis. O lugar de Runa fica no concelho
de Torres Vedras; é um sitio pitoresco e de encantadoras paisagens.
Em 18 de Junho de 1792 deu-se começo às obras do grandioso edifício,
sob a direcção do arquitecto José Maria da Costa e Silva,
procedendo-se nesse dia à cerimónia da colocação da pedra
fundamental. Corriam os tempos maus, no entretanto a construção
iniciou-se com mais de 300 operários, entre pedreiros e serventes.
Quando a família Real emigrou para o Brasil, em Novembro de 1807, já
as obras estavam muito adiantadas. Seguiu-se a guerra com os
franceses, que terminou em 1814, e ainda mais 7 anos se conservou a
família real no Rio de Janeiro, pois só em 1821, depois de ter ali
chegado a noticia da revolução do Porto de 21 de Agosto de 1820,
é que D.
João VI se resolveu a voltar para a Europa. Durante este largo
prazo os rendimentos da princesa, assim como os de toda a família
real, haviam diminuído consideravelmente por causa dos franceses.
D. Maria I havia consignado a sua irmã uma pensão anual de 100.000
cruzados, que não fora paga desde a partida para o Brasil. As
cortes, porém, de 1822 lha restituíram. Além disso os desperdícios
e as despesas excessivas nas obras do asilo de Runa, obrigaram a
princesa a suspender as obras e satisfazer todas as dividas que,
segundo as contas que lhe apresentavam, pesavam sobre ela.
Os
trabalhos prosseguiram afinal com toda a actividade, e o asilo
inaugurou-se a 25 de Julho de 1827, dia em que a bondosa princesa
completava 81 anos. Foram 16 os militares inválidos que se
albergaram: 1 primeiro-tenente de artilharia, 3 sargentos e 12
cabos, anspeçadas e soldados. A fundadora presidiu a todas as cerimónias
da inauguração, a que assistiram muitas pessoas da corte e das
vizinhanças. Ela própria, com a maior benevolência, serviu os
primeiros pratos aos asilados, sendo o resto servido pelo seu
mordomo-mor, o marquês de Lavradio, e pelos criados da Casa Real. O
edifício, e a majestosa capela, com os seus ornamentos e alfaias,
importaram em 600.000$000 réis. A princesa reservou uma parte do
edifício para sua habitação. D. Maria Francisca Benedita
sobreviveu apenas dois anos à inauguração do asilo, não chegando
a ver completo o zimbório da igreja. (V. Runa). Enquanto
duraram as obras a princesa ia frequentes vezes a Runa, dirigindo e
activando os trabalhos, recebendo ali a visita de D. João VI, numa
ocasião em que o monarca regressava das Caldas da Rainha. Convivia
com as pessoas que moravam nas vizinhanças do asilo, dando largas
esmolas aos pobres que a ela recorriam. A princesa conservou-se
sempre estranha a às intrigas e conspirações que agitavam o paço
e a corte, durante a regência e reinado de D. João VI. Em 1829
preparava-se a viver alguns meses em Runa, quando adoeceu
gravemente, falecendo pouco tempo depois. Fez testamento deixando ao
hospital dos inválidos de Runa quase todos os bens de raiz e acções
que possua, bem como tudo quanto estava dentro do edifício e
capela, incluindo a bela e riquíssima custódia, um primor artístico,
que ela mandara fazer por um desenho seu. O resto da herança foi
distribuído em legados pios e por todas as pessoas da família
real, sendo a mais contemplada a infanta D. Isabel Maria, como
regente que era na época em que fora feito o testamento. Em virtude
dos legados recebidos da princesa ficou o asilo de Runa com um
rendimento de perto de 9.000$000 réis, provenientes dos seguintes
valores: comenda de S. Tiago de Beduído; apólice de 26.000$000 réis
com juro de 5% ao ano; título da dívida pública de 14.999$960 réis;
duas acções da Companhia das Vinhas do Alto Douro no valor de
800$000 réis; as quintas de Runa, Enxara do Bispo e da Amora com
seus anexos. A legislação liberal que suprimiu os rendimentos das
comendas, e o não pagamento dos juros da chamada divida mansa,
afectaram consideravelmente a receita do asilo. O infante D. Miguel
havia confirmado o testamento, fazendo passar a administração das
rendas para um conselho administrativo, ficando todo o
estabelecimento sob a intendência do ministério da guerra, em
cumprimento da vontade da doadora.
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