Portugal - Dicionário

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Nova Goa, ou Pangim

 

 

 

Cidade, capital do Estado da índia. Na ilha de Goa, do lado norte à distancia de cinco milhas da foz do rio Mandovi e na sua margem esquerda, estende-se ao longo dela sobre uma faixa de terra o bairro principal da capital da Índia portuguesa, que se denominava antigamente Pangim, e ainda hoje é conhecida por este nome. Do lado E, correndo de N para S, fica o pitoresco bairro das Fontaínhas. Pangim era um bairro da aldeia de Taleigão, primitivamente habitação das famílias dos pilotos da barra de Goa e de pescadores, tendo apenas de notável a fortaleza do Idalcão, que foi mandada transformar em palácio pelo vice-rei conde da Ega, que nela começou a residir em 1 de Dezembro de 1759, como recorda a seguinte inscrição que se lê sobre a porta do lado do Mandovi:

REGE FIDILISSIMO JOSEFO
PRIMO PRO REGE COMITE AB EGA
SENATUS EX INFORMI
FORMAVIT – 1760

Era na fortaleza do Idalcão que os vice-reis se alojavam na sua chegada à índia, desembarcando em Pangim, depois do que mandavam avisar o vice-rei que vinham substituir. A primitiva capital do Estado da Índia foi a velha cidade de Goa, na ilha de Tissuary, a que comummente chamam Goa, do nome da cidade, antiga capital da província. (V.Goa Velha). No meado do século 17 viu-se a cidade de Goa a braços com uma terrível epidemia, e recrudescendo esta nos princípios do século 18 o próprio vice-rei tentou transferir a capital para Mormugão, onde começaram os trabalhos de construção de nova cidade. Os proprietários que tinham casas na capital mudaram as suas residências para as ilhas mais próximas, cuidando, todavia, dos seus prédios que tinham na capital, mas apenas se deu começo à edificação da nova cidade, abandonaram-nos completamente. Despenderam-se mais de 150 contos com as construções em Mormugão, onde, além do palácio do governo e do hospital, não se fizeram obras que habilitassem o governo a mudar para lá a capital. Entretanto as casas e os edifícios abandonados da velha cidade foram caindo sucessivamente, até o belo e rico hospital, o melhor do mundo, foi abandonado, sendo transferido para Panchim e em 1841 para Pangim. A despovoação da cidade principiou pela insalubridade do local, procedente de causas desconhecidas. Progrediu pela saída ou mudança de residência dos governadores. O conde da Ega mudou-se para Panchim, e D. José Pedro da Câmara para o Passo e forte de Pangim. Antes da monção de 1774, o brigadeiro Henriques Carlos Henriques veio a Portugal, em consequencia de ordens da corte, e queixou-se do governador D. João José de Melo, e parece que inculpou os governadores de terem saído da cidade e de concorrerem com o seu exemplo para a despovoação. E já, a esse tempo as principais famílias tinham saído também, edificando em diferentes aldeias excelentes casas e abandonando as que tinham na cidade. Ordenou-se ao governador a residência na cidade; que curasse da sua reedificação e convidasse as famílias dispersas a que voltassem à cidade antes que suas casas se arruinassem de todo; e o brigadeiro foi especialmente encarregado de inspeccionar a reedificação. O governador ficou em Pangim, e ordenou ás câmaras agrárias, que edificassem casas na cidade para as darem de arrendamento. Gastaram-se 800 mil pardáos. Estes edifícios em 1798 já estavam em princípio de ruína, e em 1803 estavam completamente arruinados, e os interessados das províncias perderam os 800 mil pardáos. 

Pangim tinha de notável apenas a fortaleza do Idalcão. Em 1591 tinha mais a igreja sob o título de ermida e invocação de N. Sr.ª da Conceição e o colégio de S. Tomás, fundado em 1584. Durante o governo do conde de Linhares (1629 a 1635) foi construída a grande ponte que liga Pangim a Ribandar. Esta ponte tem 44 arcos e mede aproximadamente três mil metros de comprimento. Pangim não passou de solitária habitação. dos governadores, de alguns fidalgos e tropa, sendo o resto composto de pescadores e alfaiates. Só em 1811 é que começou a mudar de face este lugarejo, cheio de palhotas e palmares, com a transferência para o seu seio da alfândega principal. Este facto chamou os habitantes estranhos, que então mudaram de hábitos e costumes. À alfândega seguiu-se a contadoria, comprando-se o edifício para esse fim por 19.400 xerafins. Foi o bastante para Pangim ser elevada à categoria de vila. Os seus principais melhoramentos se devem ao vice-rei D. Manuel de Portugal e Castro, que governou desde 1827 a 1835, o qual mandou alargar as ruas, aterrar os pântanos, construir o edifício da alfândega, o grande quartel militar e o campo para passeio público, denominado D. Manuel, por portaria de 4 de abril de 1840, em honra daquele vice-rei. Os seus sucessores Ferreira Pestana, conde de Torres Novas, visconde de Ourém, conde de S. Januário e Caetano de Albuquerque, seguindo-lhe o exemplo, fizeram também grandes melhoramentos, tornando Pangim uma formosa cidade. 

Pangim foi elevada a cidade e a capital da Índia portuguesa, com o nome de Nova Goa, pelo conde das Antas, por alvará de 22 de março de 1843. Conforme este alvará, a cidade de Nova Goa compreende em seus limites todo o litoral da margem esquerda do rio Mandovi, desde a foz do mesmo rio até à ponte de Daugim, dividido em três bairros que são: 1.º bairro de Pangim, desde a ponte de Santa Inês até à cruz da ponte que vai de Pangim a Ribandar, tendo do lado da terra por limites os portais das Fontainhas; 2.º bairro de Ribandar, desde a cruz da mesma ponte até à igreja de S. Pedro, limitado do lado da terra pelos portais de Chimbel; 3.º bairro de Goa, desde a referida igreja de S. Pedro até à da Madre de Deus de Daugim, tendo por limites do lado da terra os muros e porta restante da antiga cidade. Desta adoptou Nova Goa o brasão de armas, que é em escudo de sangue um castelo branco, sobre as ameias uma roda de navalhas e na parte superior de tudo uma mitra. Os edifícios mais notáveis de Nova Goa são o palácio do governo, edifício do correio e obras públicas, repartição de fazenda e tesouraria geral, relação, alfândega, e o grande quartel militar, no qual se acha alojado o batalhão de infantaria. No mesmo edifício se acha instalado também o Liceu Nacional, a escola normal para ambos os sexos, a imprensa nacional, biblioteca pública e o depósito do material de guerra. Há ainda o hospital militar, a escola médica, os paços do concelho e o novo quartel da companhia de polícia. O quartel da bateria de artilhara é propriedade particular, tendo sido pouco a pouco adaptado ao fim a que é destinado. Sobre a porta principal do grande quartel militar, denominado quartel de artilharia por ter estado nele aquartelado o extinto batalhão de artilharia, acha-se a seguinte legenda:

 

NÃO VOS HÃO DE FALTAR GENTE FAMOSA
HONRA, VALOR E FAMA GLORIOSA

NO BOM E FELIZ GOVERNO DO ILL.mo E EX.mo SR.
D. MANUEL. DE PORTUGAL E CASTRO,
VICE-REI DA INDIA
ANNO DE 1832
ARTILHERIA DE GÔA

Defronte deste quartel, ao centro do largo Afonso de Albuquerque, está o monumento levantado ao conquistador da Índia. A estatua deste herói, que do Arco dos Vice Reis, tinha sido transferida para o frontispício do recolhimento da Serra, com o abatimento deste edifício, foi recolhida e mandou-se construir o monumento para a colocar, por pedidos de Lagrange Monteiro de Barbuda, secretário-geral do governo. A solenidade e o acto da abertura do alicerce do monumento teve lagar em 17 de fevereiro de 1843, a que assistiu o conde das Antas, então governador geral, e a inauguração da estátua realizou-se a 29 de outubro de 1847, estando presente o governador geral Ferreira Pestana. Além dos edifícios mencionados, existe à distância de sete quilómetros da capital o pitoresco palácio do Cabo, destinado para fruição dos governadores-gerais, por decreto de 19 de junho de 1866. Este palácio era o antigo convento dos Capuchos, conhecido pelo nome de Nossa Senhora do Cabo, onde os antigos vice-reis e arcebispos de Goa iam passar alguns dias nas estações calmosas. Foi neste convento que esteve preso o vice-rei conde do Rio Pardo, deposto pela primeira junta provisional, por se negar a proclamar a constituição decretada por D. Pedro IV em vista de não estar a isso autorizado pelo governo da metrópole e não ter conhecimento oficial da mesma proclamação. 

A um quilómetro da capital está situado, no planalto da Conceição, o excelente paço arquiepiscopal, sem duvida o melhor edifício de Nova Goa, inaugurado em dezembro de 1894. A sua construção foi autorizada por portaria de 17 de janeiro de 1889, pela quantia de 90 mil rupias. Próximo deste edifício e à distância de cem passos está o observatório meteorológico de Nova Goa, estabelecido por portarias provinciais de 17 de agosto de 1857 e 30 de junho de 1859. Os paços do concelho foram mandados construir em 1858, pela quantia de 38.764 xerafins, 4 tangas e 43 réis. A sua construção foi iniciada em 1859 e concluída em 1859, data em que o respectivo edifício da velha cidade já estava em ruínas. A quinta parte do edifício pertence à câmara agrária das Ilhas, à qual a câmara municipal pediu o seu auxílio para os poder concluir, pois que não tinha capital para a sua conclusão. Nova Goa é sede do arcebispado, cujo prelado tem o título de patriarca das índias Orientais; da relação, que abrange as comarcas do Estado da Índia e da província de Macau e Timor; da comarca das Ilhas e do concelho. É residência do governador-geral e do patriarca. Há em Nova Goa uma escola médico-cirúrgica, um hospital, vasto quartel, alfândega, liceu, paço arquiepiscopal, repartição de obras públicas, palácio do governo, escolas portuguesas, muçulmanas e hindus, biblioteca e imprensa do governo, observatório e farolim; e estação postal permutando vales do correio com a metrópole. 

Bibliografia: A Índia Portuguesa por A. Lopes Mendes, Lisboa, 1886; vol. 1, pag. 96 e seguintes.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Portugal - Dicionário Histórico, Corográfico, Heráldico, Biográfico, Bibliográfico, Numismático e Artístico,
Volume V, págs.
133-137.

Edição em papel © 1904-1915 João Romano Torres - Editor
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