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Nova
(João da).
n.
f. 1509.
Fidalgo
da Galiza que veio servir para Portugal, onde o rei D. Manuel o fez
alcaide de Lisboa.
Pouco
depois do descobrimento da Índia, e depois de ter partido para o
Oriente a esquadra de Pedro Alvares Cabral, o rei D. Manuel entendeu
que devia contratar com alguns mercadores o armarem e carregarem
também navios para a Índia, proposta que logo vários negociantes
estrangeiros residentes em Lisboa aceitaram com alegria, sendo o
primeiro que fez esse contrato um florentino chamado Bartolomeu
Manhione. Armou ele um navio, o rei armou três, e a esquadra
composta destas quatro embarcações, foi confiada ao comando de João
da Nova, saindo de Lisboa a 5 de março de 1501. Era a terceira
esquadra que partia para a Índia, considerando-se como primeira a
da descoberta. No caminho seguiu rumo muito ao ocidente como fizera
Alvares Cabral, e assim descobriu a ilha da Ascensão. João da Nova
primeiro deu-lhe o nome de ilha da Conceição, e foi Afonso de
Albuquerque quem depois o mudou para o de ilha da Ascensão.
Chegando à Índia fundou uma nova feitoria, em Cananor, alegrou
muito os portugueses que Álvares Cabral deixara na Índia e que não
esperavam tão cedo navios da Europa, porque não supunham que
partisse de Lisboa uma nova esquadra antes do ter regressado a de
Alvares Cabral, e derrotou a esquadra de Calecute que se quisera
opor à sua passagem, e que João da Nova levou adiante de si
varejando-a com a sua artilharia, afundando-lhe um ou dois navios a
cada descarga, e maravilhando e aterrando esses pobres orientais,
que não supunham que uma pequena esquadra de quatro navios pudesse
praticar semelhantes façanhas. Voltando a Portugal com uma boa
carregação de pimenta e de outras especiarias, João da Nova
descobriu um caminho nos mares da África Ocidental, uma nova ilha,
a de Santa Helena, que depois se tornou tão afamada, por estar ali
cativo o grande Napoleão.
Em
1505 partiu do novo para a Índia com o vice-rei D. Francisco de
Almeida. Apenas chegou a Cochim, porém, teve sérias desavenças
com D. Francisco, porque este lhe não quis reconhecer a nomeação
que levava para capitão-mor da primeira esquadra que tivesse do se
fazer ao mar. Pediu então licença para voltar ao reino, e chegou a
Lisboa ainda a tempo de tornar à Índia como capitão de um dos
navios da esquadra do Afonso de Albuquerque, esquadra que foi de
conserva com a de Tristão da Cunha até Socotorá. O navio
comandado por João da Nova era um dos melhores desse tempo, e
chamava-se Flor de la mar. Em Socotorá separaram-se as duas
esquadras, seguindo Tristão da Cunha para a Índia, e Afonso de
Albuquerque para o Mar Vermelho, afim de cruzar no estreito do
Bal-el-Mandeb e assaltar as naus de Meca. Era essa uma nova empresa
lucrativa que sorria muito aos seus capitães, mas Afonso de
Albuquerque tinha outra empresa em mente, mil vezes mais gloriosa, a
da conquista de Ormuz. Tristão da Cunha, ao separar-se, devia
deixar-lhe mantimentos suficientes, mas não deixou, e Afonso de
Albuquerque aproveitou esse facto de menos lealdade do capitão-mor,
para começar a pôr em execução os seus projectos. Declarou que
precisava de ir procurar mantimentos à Arábia, e, como os não
podia obter senão à viva força, assaltou vitoriosamente com esse
pretexto Calayate, Curiate e Mascate. Os capitães não estranharam
isso muito, e acompanharam-no sem murmurar, mas quando viram que ele
prosseguia nessa empresa de assaltar as cidades da Arábia (porque o
seu plano era o de chegar a Ormuz precedido duma reputação terrível)
começaram a recalcitrar, e João da Nova, o mais orgulhoso e o mais
insubordinado de todos, pediu-lhe licença para partir para a Índia.
Afonso de Albuquerque declarou-lhe que não podia prescindir do seu
navio. João da Nova mostrou-se descontente, soltando palavras
descomedidas, e Afonso de Albuquerque prendeu-o, dando-lhe por
menagem a sua nau. Em seguida foi tomar Orcafate, e nesse ataque
resgatou João da Nova com a sua bravura a sua insubordinação.
Apareceu enfim diante de Ormuz, e ali estabeleceu o nosso domínio.
(V. Albuquerque, Afonso de, Portugal, vol. I, pag. 130
e seguintes). Os capitães mostravam-se descontentes, e esperavam
ansiosos que Afonso de Albuquerque se resolvesse a ir em busca das
naus de Meca, que em tal não pensava, tratando placidamente de
construir a sua fortaleza. O descontentamento foi aumentando até
que se transformou quase em revolta aberta. Os capitães
mostravam-se insolentes e eram os primeiros a incitar as tripulações
a sublevar-se. João da Nova era um dos chefes deste movimento
revolucionário. Um dia Afonso de Albuquerque ordenou-lhe que fosse
a uma expedição à terra firme, e João da Nova respondeu que não
ia. Intimado para dizer a razão daquela recusa, replicou que a
tripulação não queria ir, e ele não havia de ir sozinho. Então
Afonso de Albuquerque, num ímpeto de cólera, foi à nau de João
da Nova, onde a tripulação estava efectivamente revoltada, e
pegando na espada dum grumete obrigou os tripulantes a embarcarem
nos escaleres, e como João da Nova hesitava, puxou-lhe pelas barbas
e também o obrigou a embarcar. João da Nova chorava de raiva e de
vergonha ao lembrar-se de semelhante insulto, mas naquele momento não
fez senão obedecer, e corno ele obedeceram os marinheiros, tal era
o prestigio da energia de Afonso de Albuquerque, tal foi a
influencia quase sobre-humana que Afonso de Albuquerque soube
exercer naquele momento verdadeiramente terrível, em que jogava a
sua vida e a sua autoridade. Os capitães não pensaram mais em se
revoltarem, mas pensaram em desertar; contudo, João da Nova ficara
por tal maneira subjugado pela energia do seu comandante, que não
foi o primeiro que desertou, apesar de ser o mais queixoso.
Desertaram os seus três colegas mesmo de Ormuz, e ficaram sós ele
e Afonso de Albuquerque. Vendo o grande capitão a impossibilidade
de continuar com dois navios em Ormuz, foi então cruzar para o cabo
Guardafui. Dali lhe fugiu João da Nova, que foi levar as suas
queixas ao vice-rei D. Francisco de Almeida. A intriga foi formidável;
conseguiu semear no espírito daqueles dois importantes vultos a
discórdia e a desconfiança. D. Francisco de Almeida chegou a
prender Afonso de Albuquerque, apesar dele estar nomeado governador
da Índia. Foi preciso que D. Fernando Coutinho, indo do reino,
fizesse reconhecer a autoridade de Afonso de Albuquerque para D.
Francisco de Almeida ceder. João da Nova já então não tomava
parte na luta que se travara entre o vice-rei e o governador;
adoecera gravemente, vindo a falecer em Cochim em 1509. Afonso de
Albuquerque, apesar dos muitos agravos que dele tinha, acompanhou o
seu enterro com sinais de grande sentimento.
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