Nasceu
na casa de Marapicu, freguesia de Santo António de Jacotinga, termo
da cidade do Rio de Janeiro, a 5 de abril de 1735, faleceu em
Coimbra a 16 de abril de 1822. Era filho de Manuel Pereira Ramos de
Lemos e Faria.
Depois
de estudar os preparatórios nas escolas dos jesuítas no Rio de
Janeiro veio para Portugal, onde frequentou o curso de direito canónico
da Universidade de Coimbra, sob a direcção de seu irmão mais
velho João Pereira Ramos de Azeredo Coutinho, professor na mesma universidade.
Recebeu o grau de doutor em 24 de outubro de 1754. Em 1761 foi
nomeado reitor do Colégio das Ordens Militares, e em concurso
obteve uma cadeira de oposição, e depois de lente na universidade.
Em 1767 foi despachado juiz geral das ordens militares, e em 1768
desembargador dos agravos da Casa da Suplicação. No ano de 1765
também foi provido num lugar extraordinário do tribunal do Santo
Oficio e deputado da Mesa Censória.
Em
8 de maio de 1770 foi nomeado reitor da universidade, tomando posse
no dia 29 do mesmo mês. Foi depois chamado pelo governo para fazer
parte da junta criada sob o nome de Providencia Literária,
encarregado da reforma da universidade sob a inspecção do cardeal
da Cunha e do marquês de Pombal. Por carta régia de 11 de setembro
de 1772, foi nomeado reformador da Universidade, para servir este
cargo juntamente com o de reitor. A carta régia foi apresentada ao
claustro pelo próprio marquês de Pombal a 22 do mês de outubro
seguinte, com a ordem de se cumprir e registar escrita pela sua própria
letra e firmada com a assinatura de Marquês
visitador, sendo o mesmo marquês quem lhe conferiu a posse no
dia seguinte. Desempenhava estes cargos quando se deu a memorável
reforma dos estudos académicos, e dirigiu os novos estabelecimentos
literários até ao mês de outubro de 1779, em que foi substituído
nos ditos cargos pelo principal Mendonça, depois patriarca de
Lisboa. Por essa ocasião teve a mercê ela carta de conselheiro. Em
setembro de 1773 foi nomeado vigário capitular e bispo coadjutor e
futuro sucessor do bispo de Coimbra, e confirmado com o titulo de
bispo de Zenopoli por bula de 13 de abril de 1774, entrando na
efectiva sucessão em 1779, pela morte de seu antecessor o
bispo-conde D. Miguel da Anunciação, deixando então a reitoria da
universidade. A 13 de maio de 1799 foi pela segunda vez nomeado
reformador reitor da universidade, de que tomou posse logo do dia
16, cargo que ocupou até 27 de agosto de 1821, em que foi exonerado
a seu pedido. Este segundo período da reitoria do venerando bispo
compreendeu os tempos calamitosos da invasão francesa, em que se
suspenderam os trabalhos escolares, e durante os quais o reitor
esteve ausente em França, porque D. Francisco de Lemos foi um dos
membros escolhidos pelo general Junot, em 1808, para fazer parte da
deputação encarregada de ir a Baiona cumprimentar Napoleão, e
pedir-lhe um rei da sua dinastia para Portugal, regressando ao reino
com os seus companheiros em 1814. Foi eleito deputado ás cortes
gerais e constituintes em 1821 pelo Rio de Janeiro, mas não chegou
a tomar posse, e faleceu no ano seguinte.
Fizeram-se-lhe
em Coimbra sumptuosas exéquias, recitando nessa ocasião orações
fúnebres os doutores
frei Fortunato de S. Boaventura e o padre António José da Rocha.
Para a biografia deste ilustre prelado pode ver-se a noticia que
escreveu Varnhagen, publicada no tomo II, pág. 377, da Revista
trimensal do Instituto, e o Suplemento
do Diário do Governo, n.º 30, de 1822. O dr. Rodrigues de Gusmão
publicou, a pág. 276 do tomo VII da Revista
Litteraria do Porto, a Resposta
que o bispo D. Francisco de Lemos deu ao secretário da Regência,
João António Salter de Mendonça, que é uma espécie de apologia
do procedimento da supradita deputação mandada a França, de que
ele fizera parte. D. Francisco de Lemos escreveu muitas pastorais,
mas parece que se perderam bastantes, por se terem procurado
inutilmente no cartório da Câmara Eclesiástica do bispado, e nos
de algumas igrejas paroquiais, encontrando-se apenas na colecção
pertencente à freguesia de S. Pedro noticia de duas, publicadas
pelo bispo, e impressas quando ainda era vigário capitular no
impedimento do bispo D. Miguel da Anunciação. Em 1762 publicou em
Coimbra a Oração gratulatoria
recitada na Academia litúrgica
a 4 de novembro de 1760.