Portugal - Dicionário

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Ernesto Pires

Ernesto Pires

 

Pires (Ernesto Silvino Dias Gomes de Castro).

 

n.       31 de julho de 1857.
f.        2 de dezembro de 1884.

 

Escritor e poeta. 

Nasceu no Porto a 31 de julho de 1857, onde também faleceu a 26 de dezembro de 1884. Era descendente duma família nobre da casa de Fundo de Vila, na província de Trás-os-Montes 

Ali passou os primeiros anos da sua mocidade. Faltando-lhe o pai em 1871, contando apenas catorze anos, ficou entregue aos cuidados de sua mãe, D. Maria Ernestina Gomes Pires, que o mandou estudar no Colégio da Boa Vista, onde aprendeu francês e princípios de matemática. Espírito um pouco irrequieto, não podia suportar a disciplina colegial. Durante a sua permanência no colégio tomou intimidade com alguns rapazes amigos da literatura, e pouco depois já se, encontrava à frente de duas publicações: uma de crítica, Carapuças, e outra literária. o Sonhador, em 1876 e 1877. Fez depois uma viagem ao Brasil, e ao regressar tomou grande interesse pela causa democrática, e a despeito dos seus pergaminhos, declarou-se manifestamente republicano, escrevendo poesias e artigos violentos. A Voz do Povo, jornal publicado em 1878, foi verdadeiramente o seu primeiro grito a favor da causa que se propunha defender. Ernesto Pires, nome porque era mais conhecido e como sempre se assinava, redigiu de 1879 a 1880 o Cancioneiro portuguez, juntamente com o sr. dr. Leite de Vasconcelos. Saudades da primeira mocidade fizeram dele um poeta Iírico: Beatriz, Helena e Leonor, três símbolos vagos duma mesma ideia, pairavam constantemente diante dele, e sobressaindo em muitas das suas composições. Na colecção citada, o Cancioneiro português, publicou a poesia O Pranto de Camões, que depois foi traduzida em francês por B. Orfoeuvre, e em catalão por Conrat Roure. Em 1881 publicou O Evangelho da Revolução, que teve 2.ª edição em 1883. É uma poesia declamatória, em que transpiram os sentimentos liberais do poeta. Em 1882 apareceu o Poeta moribundo, tradução de Lamartine. Em 1883 publicou em Lisboa o Legado de um rei e as Canções da Canalha, que lhe mereceram uma carta muito afectuosa de Victor Hugo. Na ocasião em que quase todo o país se levantou aplaudindo Quillinan, publicou Ernesto Pires a Resposta ao insulto Brihgt, o que aquele denodado major agradeceu numa carta particular. O seu folheto Abaixo o jesuíta, era muito animado de espírito revolucionário. 

A sua principal obra é, sem dúvida, a que tem por título Cintilações e sombras, publicada no Porto em 1883. Ernesto Pires ora se mostrava um crente fervoroso, ora um livre-pensador, como se nota em muitas das suas composições. Em 1881 imprimiu no Porto a poesia A voz da Consciência: contém poesias camonianas. Em 1882 a Alma de Camões, folheto. A última homenagem ao grande poeta foi o opúsculo Camões e o Amor. Ernesto Pires colaborou em muitas revistas e jornais, como a Enciclopédia Republicana, O Panteão, A Galeria Republicana, A Aurora do Cávado, O Tirocínio, O Independente regoense, etc. Redigiu por algum tempo a Justiça Portuguesa e a Discussão, folhas republicanas, e teve a direcção da revista literária A Semana. Faleceu com vinte e sete anos de idade, vítima duma lesão pulmonar.

 

 

 

 

 

Ernesto Pires
Galeria Republicana de 1883

 

 

 

 

 

 

Portugal - Dicionário Histórico, Corográfico, Heráldico, Biográfico, Bibliográfico, Numismático e Artístico,
Volume V, pág
. 818.

Edição em papel © 1904-1915 João Romano Torres - Editor
Edição electrónica © 2000-2015 Manuel Amaral