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Quintela
(Inácio da Costa).
n. 1763.
f. 6 de dezembro de 1838.
Grã-cruz
da Ordem da Torre e Espada, do conselho do rei, vice-almirante da
Armada nacional, ministro de Estado, sócio honorário da Academia
das Ciências de Lisboa, membro do conservatório desta cidade, etc.
Nasceu
em Lisboa em 1763, onde também faleceu em 6 de dezembro de 1838.
Matriculando-se
na Academia de Marinha, concluiu o curso em 1791, e entrando logo
como voluntário no serviço naval, pelo seu reconhecido merecimento
e incontestável bravura, subiu rapidamente os postos, não chegando
a estar doze meses completos num deles, e sendo por isso escolhido,
quando tinha apenas seis anos de praça, para comandar uma fragata
na esquadra que às ordens do marquês de Nisa andou nas águas do
Mediterrâneo. Quintela não se limitava apenas a estudar a arte
naval; no tempo em que o serviço o deixava livre, cultivava a
poesia, e quando estava em Lisboa vivia intimamente com alguns dos
escritores mais notáveis. Aos serviços anteriormente prestados. e
pelos quais havia conquistado grandes créditos entre os seus
camaradas da marinha, juntou em 1801 mais outro que produziu grande
sensação, não só entre amigos, como também entre os adversários.
Sendo comandante duma corveta portuguesa, encontrou-se com uma
fragata francesa, e apesar da superioridade deste vaso de guerra, o
nosso intrépido oficial travou com o inimigo um encarniçado
combate, e só quando o seu navio estava completamente empachado com
o pano, cabos e vergas de modo que a artilharia não podia jogar nem
fazer-se a bordo trabalho algum, é que Quintela mandou arriar a
bandeira. Este brilhante feito está minuciosamente descrito num dos
Folhetins marítimos, de Celestino Soares. Depois de
terminada a luta, e sendo Quintela conduzido para bordo da fragata
inimiga, travou se entre os dois comandantes um diálogo, em que o
da fragata lhe observou que ninguém esperava semelhante arrojo, ao
que respondeu Quintela, ser a sua obrigação, porque os nossos
artigos de guerra mandavam que se não arriasse a bandeira senão na
última extremidade, e o caso extremo só chegara uma hora depois.
Observando-lhe o comandante francês, que o podia ter metido a
pique, Quintela respondeu, que lá estava a posteridade para o julgar.
Dos Folhetins citados, extraímos os seguintes trechos, em
que se descreve o que se passou a bordo da fragata:
«Recolheu-se
à câmara com o estado maior, fez conselho acerca da sorte da
corveta, havendo opiniões de a meter no fundo ou queimá-la, sendo
impossível dar-lhe um destino conveniente, porém ocorreu a ideia
de que indo a fragata de cabos a dentro, tamanho acréscimo de gente
causaria embaraço na longa viagem, por falta de mantimentos.
Portanto concluíram por tirar-lhe as armas e apetrechos entregando-o
à guarnição se quisesse capitular prometendo não pegar em armas
contra a França até ser trocada ou à conclusão da paz. Isto
proposto e aceite, passaram os franceses a bordo da corveta, lançaram-lhe
a artilharia ao mar, recolhendo na fragata bandeiras, pólvora,
armas, munições, cartas, instrumentos bélicos e náuticos,
deixando apenas uma só bandeira, uma agulha e um octante de pau
para procurarem a terra. Duas semanas depois entrava na Baía um
pequeno navio de três mastros em guindolas cheio de rombos, sem
artilharia, mas de flâmula, surgindo no ancoradouro dos navios de
guerra com geral espanto dos marítimos daquela cidade. Era a
corveta Andorinha de vinte e quatro coronadas de 18,e cento e
vinte praças de guarnição, cujo comandante, o intrépido Inácio
da Costa Quintela, tinha tido a audácia de a expor por espaço de
cinco quartos de hora ao fogo da fragata francesa Chifone de
44, e que batendo-se denodadamente com forças tão disparatadas
soube conservar a honra da sua bandeira, posto que arriando-a, na
presença do inimigo no dia 15 de maio de 1801.»
Mais
tarde, Quintela comandou a nau Afonso na esquadra que levou
ao Brasil a família real em novembro de 1807, e continuando a subir
postos com a rapidez que não desdizia dos merecimentos do
agraciado, chegou a vice-almirante vinte anos depois de ter entrado
no serviço militar. Veio à Europa comandando uma nau, serviu de
almirante-general às ordens do infante D Carlos, foi major-general,
entrou para o ministério formado em 24 de fevereiro de 1821, como
ministro do Reino, e regressando a Lisboa com D. João VI, trocou
pouco depois a pasta do reino pela da marinha, que conservou até ao
movimento de Vilafrancada. Logo em seguida ao juramento da
Carta Constitucional, sucedido em 31 de julho de 1826, tornou a ser
nomeado ministro da Marinha, mas em dezembro desse mesmo ano,
formando-se um gabinete mais reaccionário, Costa Quintela deixou o
cargo de ministro, e retirou-se inteiramente da vida pública.
Os
últimos anos da vida, passou-os todo entregue ao estudo e à
composição da obra, que saiu póstuma, com o título de Anais
da marinha portuguesa, publicados por ordem da Academia Real das Ciências,
em 1839 e 1840, dois tomos, que formam unicamente a primeira parte
da obra, que deveria constar de três, segundo o autor declara na
sua prefação. Os dois volumes publicados abrangem a narração
concisa das guerras marítimas, conquistas e viagens dos portugueses
desde o começo do governo do conde D. Henrique até ao ano de 1610.
Diz-se, que deixou algumas obras inéditas, e entre elas uma tradução
em verso da Eneida. Parece, que também são do
vice-almirante Inácio da Costa Quintela as versões de várias Odes
de Horário, que apareceram sem nome do tradutor, nos Anais
da Ciência das Artes e das Letras. Estas Odes saíram
sucessivamente em todos os tomos, do VIII até ao XVI, uma em cada
um deles.
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Portugal - Dicionário Histórico, Corográfico, Heráldico, Biográfico, Bibliográfico, Numismático e Artístico,
Volume VI, págs. 60-61.
105Edição em papel © 1904-1915 João Romano Torres - Editor
Edição electrónica © 2000-2012 Manuel Amaral
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