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Saldanha
(João
Carlos Gregório Domingos Vicente Francisco de Saldanha Oliveira e
Daun, 1.° conde, 1.° marquês e 1.° duque de).
n. 17
de novembro de 1790.
f. 20 de novembro de 1876.
Marechal
general do exército, par do Reino, conselheiro de Estado efectivo,
presidente do Conselho de Ministros, ministro da Guerra e ministro
plenipotenciário em Londres, mordomo-mor da Casa Real, vogal do
Supremo Conselho de Justiça Militar, etc. Nasceu em Lisboa a 17 de
novembro de 1790, faleceu em Londres a 20 de novembro de 1876. Era
nono filho do 1.º conde do Rio Maior, João Vicente de Saldanha
Oliveira e Sousa Juzarte Figueira, e da condessa sua mulher, D.
Maria Amália de Carvalho Daun, 3.ª filha dos 1.os
marqueses de Pombal.
Matriculou-se
na Academia Real de Marinha em 1805, fez um curso brilhante, tendo
recebido distinção no 1.º ano lectivo, e sendo premiado no 2.° e
3.° A 28 de setembro de 1805 assentou praça no Regimento de
Infantaria n.º 1, comandado então pelo marquês de Alvito, foi
reconhecido cadete, e a 24 de junho de 1806 promovido a capitão, em
virtude do decreto de 8 de janeiro desse mesmo ano, pelo qual se
determinava que os filhos militares dos conselheiros de Estado
recebessem como primeiro posto o de capitão. Não
tinha o agraciado ainda dezasseis anos completos. A 17 de agosto de
1807 era promovido de capitão adido a capitão efectivo. Quando a
família real se retirou para o Brasil em novembro desse ano e o
general Junot entrou em Portugal à frente das suas tropas, o jovem
capitão Saldanha pediu a sua demissão, que a Regência do Reino
lhe concedeu por decreto de 25 de janeiro de 1808. Em 5 do mês de
fevereiro seguinte alistou-se intrepidamente num grupo de
conspiradores que premeditavam arrancar a pátria ao domínio
estrangeiro. Foi na 13.ª sessão dos conjurados que o capitão
Saldanha se apresentou para colaborar na restauração da pátria,
mas apenas se soltou o brado da independência, e um punhado de
tropas portuguesas se foi juntar ao pequeno exército inglês que
desembarcara na baía de Lavos, Saldanha correu logo a juntar-se aos
soldados que se agrupavam em torno do general Bernardim Freire de
Andrade, e reintegrado no seu posto por decreto de 13 de setembro de
1808, voltou a comandar a 8.ª companhia do Regimento de Infantaria
n.º 1. Começou então a brilhante carreira militar de Saldanha.
Contava somente dezoito anos, e já conquistara o prestígio que
sempre depois exerceu entre os soldados, tanto que foi escolhido
pelo coronel para fazer entrar na ordem uma companhia insubordinada.
Nomeado ajudante de campo do general Miranda Henriques, que estava
em Tomar, estudou com afinco a táctica inglesa mandada adoptar por
Beresford, e mostrando-se apto para comandar por essa táctica um
regimento na presença do general, este promoveu-o a major por
distinção a 9 de dezembro de 1809, continuando a servir em
infantaria n.º 1. Em 1810 distinguiu se notavelmente na batalha do
Buçaco, improvisando uma coluna com duas companhias de infantaria
n.º 1 e n.º 16, e repelindo intrepidamente os franceses. Na
batalha de Salamanca em 22 de julho de 1812, tornou-se tão saliente
que foi promovido a tenente-coronel em setembro desse ano, sendo por
ele preteridos vinte e três majores, alguns deles ingleses, o que
prova a consideração em que era tido por Beresford e Wellington.
Com o seu regimento, que fazia parte da brigada Pack, entrou
Saldanha no combate de Carrion a 25 de setembro de 1812, na defesa
da passagem de Tormes de 8 a 14 de novembro, no combate de Muñoz a
27, na batalha de Vitoria a 21 de junho de 1813, na tomada da aldeia
de Viasayn a 24, na tomada de Tolosa, em Espanha, a 25, e nos
assaltos à praça de S. Sebastião nos dias 25 de julho e 31 de
agosto. Depois das batalhas dos Pirenéus, em que Saldanha tomou
parte, o exército anglo-português entrou em França, e na batalha
de Nive, a 13 de dezembro de 1813, estreou-se Saldanha no comando do
seu regimento. De tal forma se conduziu que Beresford o achou digno
de lhe dar interinamente o comando duma brigada, composta dos
regimentos n.ºs 12 e 21 e do Batalhão de Caçadores n.º
5. Tendo, porém, adoecido o general Hill, comandante doutra
brigada, foi ela também entregue ao jovem tenente-coronel Saldanha,
que assim, aos vinte e três anos de idade, era comandante duma
divisão que formou a esquerda do corpo do exército que cercou
Baiona. Foi esta a admirável estreia de Saldanha, e os seus
talentos e a sua bravura foram tão apreciados em Inglaterra, que,
tendo recebido os comandantes dos regimentos que entraram na batalha
de Nive, uma medalha comemorativa da vitória, a medalha que veio
para Saldanha era especial.
Voltando
com pouco mais de vinte e três anos ao país, João Carlos de
Saldanha entrava na casa paterna com o posto de tenente-coronel, com
as medalhas de ouro das seis campanhas, as medalhas inglesas do Buçaco,
de S. Sebastião e de Nive, as medalhas espanholas de Vitoria, S.
Sebastião, Nive e Tolosa. Em boa conta o tinha o marechal Beresford,
que foi o regimento que ele comandou, o primeiro escolhido para
embarcar para a Bélgica, quando lorde Wellington. pediu vinte mil
homens a Portugal para tomarem parte na campanha terminada em
Waterloo. O governo português não quis mandar os vinte mil homens
reclamados, e a campanha foi rápida, e por isso o 13 de infantaria
não chegou a embarcar. Entretanto Saldanha casava a 5 de outubro de
1814 com
uma senhora irlandesa, Maria Teresa Horan Fitzggerald, filha do
general Thomaz Horan e de sua mulher Isabel Fitzgerald, a qual,
ficando órfã de seus pais, fora educada desde os sete anos pela
condessa de Rio Maior. Organizando-se a divisão que devia partir
para o Brasil para tomar parte na expedição de Montevideu, foi
logo Saldanha escolhido para ser um dos oficiais da divisão.
Promovido a coronel e colocado como adido ao estado-maior, saiu de
Lisboa a bordo do navio Despique a 27 de julho de 1815.
Recebido pelo príncipe regente D. João com as máximas distinções,
nomeado cavaleiro da Ordem de Cristo e comendador da Torre e Espada,
Saldanha recebeu a 7 de junho de 1816 o comando do 1.º regimento de
infantaria. Foi rápida e fácil a campanha de Montevideu para esses
veteranos da Guerra Peninsular, e de pouco valeram as vitórias de
Chafalote e da Índia Morta para os soldados que tinham batido em
Vitoria as magnificas tropas do grande Napoleão. Contudo, se essas
primeiras vitorias em campina rasa, pouca importância tiveram,
entrando os nossos facilmente na cidade de Montevideu, a campanha da
guerrilhas que depois se abriu, e que durou cinco anos, campanha em
que tinham vantagens enormes esses destemidos gaúchos, que
formavam a força principal do exercito de Artigas, teve séria
importância, e nela conquistaram louros não menos apreciáveis do
que os que tinham ganho na Guerra Peninsular os soldados
portugueses. Esteve até 1818 a primeira brigada de que fazia parte
o regimento de que Saldanha era coronel, encarregado do serviço
exterior da praça de Montevideu e teve por isso de repelir em
numerosas sortidas os ataques do inimigo. Em 1818 foi Saldanha
encarregado de ir comandar na divisão do general Curado a coluna
ligeira com o posto de brigadeiro. Saldanha já era general aos
vinte e sete anos. Foi essa uma das mais brilhantes campanhas da sua
carreira militar, debaixo do ponto de vista do valor pessoal. Na sua
frente tinha a mais terrível cavalaria irregular, esses formidáveis
gaúchos que vivem a cavalo, que realizam nas planícies
americanas a fábula dos centauros. A sua coluna compunha-se
principalmente de cavalaria, costumada a bater-se com os dragões e
os hussardos de Napoleão, mas pouco habituada à luta contra
esses guerrilheiros fantásticos que apareciam e desapareciam num
momento, depois de terem vibrado os seus golpes mortais. Nos
combates de cavalaria repetidos que travou com o inimigo, teve
sempre Saldanha a espada em punho, lavado em sangue, acutilado e
ferido. Uma manhã deu cinco cargas à frente dos seus esquadrões.
Uma noite, surpreendido por um destacamento de cavalaria de
Lavalleja, tendo-lhe morrido o cavalo, defendeu-se a pé com toda a
energia, mas deveu a sua salvação a um intrépido sargento que lhe
cedeu o cavalo, e que perdeu um braço decepado por uma cutilada que
ia com destino ao jovem brigadeiro. Saldanha adquiriu desde logo com
o seu porte nessa campanha uma reputação gloriosíssima.
Escolhido, apesar de ser o brigadeiro mais moderno, para comandar a
divisão do general Curado, foi, quando terminou a guerra com a fuga
de Artigas, nomeado capitão-general da província do Rio Grande do
Sul, em 1821, em substituição do conde da Figueira. Saldanha
partiu para o seu governo, onde começava já a agitar-se, assim
como em todo o Brasil, o espírito da independência; porém,
chegando com a sua brigada, a tudo pôs cobro rapidamente, e não só
impediu a revolta de rebentar, mas de tal modo conciliou as
simpatias de todos, que o próprio imperador D. Pedro lhe contou,
muitos anos depois, que, ao visitar as províncias de Rio Grande do
Sul, não ouvira senão o seu nome repetido sempre com louvor.
Saldanha entregou-se dedicadamente ao seu governo, provando que era
tão hábil administrador como se mostrara já valente e hábil
oficial.
Quando
D. Pedro foi proclamado imperador, vendo Saldanha, os portugueses
coagidos ou a aderir à proclamação dessa nacionalidade ou a
deixar o Brasil, não hesitou um momento e pediu a sua demissão.
Empregaram todos os esforços para que ele desistisse do seu propósito,
mas Saldanha conservou-se firme na sua insistência e foi então
para o Rio de Janeiro acompanhado por uma escolta de cavalaria, que
lhe tinham dado a pretexto de o guardar e honrar, mas que
verdadeiramente o levava preso, porque os rio grandenses, perdendo a
esperança de o ver abraçar a independência do Brasil, também não
queriam largar de mão tão perigoso adversário. Publicou por essa
ocasião no Rio de Janeiro uma Carta do brigadeiro João Carlos
de Saldanha dirigida aos membros do governo provisório da província
do Rio Grande do Sul, pedindo a demissão dos seus empregos e
passaporte para se retirar para Lisboa; no mesmo ano de 1822
publicou 2.ª edição com o título de Representação que faz
João Carlos de Saldanha, etc. No Rio de Janeiro, D. Pedro
mandou-o soltar, mas tentou retê-lo no Brasil, com as mais,
brilhantes promessas; por fim, reconhecendo que tudo era inútil,
deixou-o partir para a Europa a bordo do brigue Três Corações,
a 4
de dezembro de 1822. O que o novo imperador lho oferecia era o título
de marquês, o posto de major general do exército brasileiro, de
que era comandante o próprio imperador, e a propriedade de vastíssimos
terrenos. Tudo rejeitou, e entrou em Lisboa apenas com 25$000 reis,
e nem isso traria, se não tivesse deixado no Rio Grande a mulher
que fora ter com ele à América, e os filhos que tinham ali
nascido, e que pouco depois vieram para Portugal.
Entretanto
acontecia a Saldanha um caso muito estranho. Bem recebido em Lisboa,
era imediatamente nomeado para o comando duma expedição que ia
embarcar para a Baía, a fim de reduzir o Brasil à obediência da
metrópole. Ordenava-se lhe, porém, que embarcasse imediatamente na
fragata Pérola, onde receberia as instruções necessárias.
Saldanha correu a declarar ao ministro da guerra, então Manuel Gonçalves
de Miranda, ser-lhe impossível partir assim, sem saber as forças
que lhe confiavam e a missão de que o encarregavam, mostrando o
estado em que se achava o Brasil, e a necessidade, se queriam operar
seriamente contra ele, de empregar nessa empresa forças
importantes. Debalde se amiudaram as conferencias, e persistindo
Saldanha na sua recusa, por que via que forçosamente ia macular a
sua justa reputação com desastres inevitáveis, foi enviado preso
para o castelo de S. Jorge, e mandado responder a conselho de
guerra. Revoltado com tão flagrante injustiça, Saldanha recorreu
pela primeira vez à imprensa, e escreveu e publicou: Exposição
ingénua dos motivos que decidiram o brigadeiro João Carlos de
Saldanha a não aceitar o comando da expedição à Baía, Lisboa,
1823. A prisão realizara-se em fevereiro, mas chegou o mês de Maio
sem o conselho de guerra se ter reunido, nem havia já vontade que
ele se reunisse. O ministério quisera apenas dar uma prova de força,
quisera salvar a sua existência, posta em risco pela desgraçada
questão do Brasil, mas não queria de modo algum que Saldanha
repetisse no conselho o que dissera nas conferências com o
ministro. Nesse mês de Maio, com o movimento da Vilafrancada, Saldanha
recuperou a liberdade. Reclamava o conselho de guerra, mas o rei D.
João VI declarou-lhe que o dispensava de dar provas da sua inocência,
que era bem conhecida, e em seguida o nomeou comandante do exército
de observações que se formara no Alentejo em virtude dos
acontecimentos de Espanha. Esse exército ficou dissolvido, quando
Espanha sossegou, e Saldanha foi nomeado a 8 de Abril de 1825
governador das armas do Porto.
Um
ano depois morreu D. João VI, sucedendo-lhe seu filho D. Pedro, com
o nome de D. Pedro IV, e o novo soberano enviou do Brasil, por lorde
Stuart, a Carta Constitucional, que foi recebida com entusiasmo
pelos liberais. Era regente do reino a infanta D. Isabel Maria, que
se havia rodeado dum ministério perfeitamente reaccionário, o qual
procurava todos os pretextos para impedir a publicação e o
juramento da carta. Os liberais começaram a impacientar-se, e o
Porto agitou-se e reclamou energicamente protestando contra a
demora. Saldanha, como governador militar, escreveu à regente e ao
governo, e como as respostas tardassem, mandou a Lisboa o coronel
Rodrigo Pinto Pizarro, que não só repetiu as instâncias do
brigadeiro Saldanha para que fosse jurada a Carta, mas que da parte
do mesmo general convidou os comandantes dos corpos a dirigirem à
regente um manifesto no mesmo sentido. Era uma intimação, e tão
formal que a infanta cedeu, e a 12 de julho a carta foi publicada na
Gazeta de Lisboa, designando-se o dia 31 para o juramento.
Apenas a notícia chegou ao Porto, Saldanha foi aclamado como um herói.
Houve grandes festas para celebrar o juramento da Carta,
levantaram-se arcos triunfais em diversas ruas, realizando-se entusiásticas
manifestações. O ministério adverso à Carta pediu a demissão
logo que viu, que a regente seguia um caminho diverso do que ele lhe
indicara. Por decreto de 1 de agosto formou-se novo ministério, e a
infanta mandou chamar Saldanha para lhe confiar a pasta da guerra.
No Porto repetiram-se as manifestações ao governador das armas,
quando no dia 3 ele partiu para Lisboa a tomar posse do seu novo
cargo. Em 20 de outubro rebentou no Algarve uma revolta militar
miguelista, e Saldanha correu pessoalmente a subjugá-la, o que
pouco tempo bastou, porque os revoltosos, sendo avisados,
atravessaram o rio Guadiana para a fronteira cidade de Ayamonte, na
Andaluzia. Saldanha regressou logo a Lisboa; deixando ao conde de
Vila Flor o comando das tropas liberais, mas apenas chegou uma doença
grave, que o teve às portas da morte, o obrigou a afastar-se por
algum tempo do serviço público. Graves questões se iam entretanto
levantando no país. A regente não estava perfeitamente afecta à
causa liberal, ou pelo menos deixava se dominar pelos seus adversários.
O partido vencido em 31 de julho ia recuperando pouco a pouco o seu
ascendente, e no ministério composto primeiro de homens liberais
iam entrando elementos profundamente adversos à liberdade. Todas as
medidas, todas as resoluções que se tomavam, tendiam a destruir a
liberdade, a, Carta não se cumpria senão dum modo perfeitamente
irrisório. Quando Saldanha, depois de cinco meses de trabalhosa
doença, entrou restabelecido no conselho de ministros, encontrou
tudo completamente diferente do que tinha deixado. Imediatamente, não
só na sua repartição seguiu um caminho diverso, mas imprimiu no
caminhar de todo o ministério uma direcção contrária à que se
estava seguindo. Promulgou uma série de medidas, entre as quais se
contavam a substituição do redactor da Gazeta de Lisboa, a
demissão do regedor das justiças do Porto, do intendente da
policia e do presidente da Relação de Lisboa, inimigos declarados
das ideias novas. Aconselhada pelos elementos absolutistas, a
infanta D. Isabel Maria recusou-se a assinar estes decretos, e
Saldanha pediu imediatamente a sua demissão, que lhe foi concedida
a 23 de agosto de 1827. Era exactamente o que os partidários do
governo absoluto queriam. Esta demissão significava simplesmente
que o ultimo sustentáculo da causa liberal no ministério era
sacrificado pela regente às tendências absolutistas do resto do
gabinete, e o povo tanto o compreendeu, que nessa mesma noite, em
sinal de protesto, fez uma imponente manifestação, conhecida pelo
nome de Archotadas, por ter sido feita à luz dos archotes, e
que é a maior prova da imensa popularidade que Saldanha alcançara.
A multidão aclamava-o, por ver nele o heróico paladino da
liberdade, que o
poder absoluto pretendia destruir. Esta grande manifestação
popular ainda mais exacerbou o ministério contra o seu ex-colega, e
excitou as suas perseguições contra todos os amigos do futuro
marechal. Este, entretanto, vendo como as coisas corriam
desfavoravelmente para a causa liberal, percebendo que a regência
do infante D. Miguel seria o último golpe vibrado nas instituições,
enviou ao Rio de Janeiro um seu ajudante, o capitão Praça, a
informar D. Pedro da situação de Portugal e dos inconvenientes que
arrastaria consigo a nomeação do infante para regente do reino.
Quando o ajudante de Saldanha chegou ao Rio de Janeiro, já a nomeação
estava feita, e já partira com ela para Lisboa um navio. Saldanha,
conhecendo que as coisas mais se complica vem, e sabendo também que
o governo inglês chamara para Inglaterra a divisão do general
Clinton, deixando assim a causa liberal, não só sem a protecção
das armas britânicas, mas também sem o prestígio do nome inglês,
entendeu que nada faria em Portugal, e embarcou para Inglaterra com
as tropas inglesas.
Estava-se
então nos fins do ano de 1827, e no princípio de 1828 entrava D.
Miguel em Portugal, dava o golpe de estado, e fazia-se proclamar rei
absoluto. Uma parte do exército não aceitou, porém, a nova ordem
de coisas, a guarnição do Porto insurgiu-se, aderiu ao movimento
uma boa parte das tropas do norte, e organizou-se assim um pequeno
exército, cujo comando uma junta provisória que logo se organizou,
confiou ao general Saraiva Refoios. Saldanha e Palmela, sabendo em
Londres da sublevação, supuseram que haveria já em Portugal sérios
elementos de resistência às tentativas absolutistas, e fretando o
vapor Belfast, partiram para o Porto juntamente com os
generais Stubbs, Azevedo, etc. Como a cidade estava bloqueada pela
esquadra de D. Miguel, foram desembarcar a alguma distância do
Porto, e entraram depois na cidade, vendo aí que as circunstâncias
eram muito piores do que supunham. O país permanecia inerte, ou
mostrava entusiasmo pela causa de D. Miguel. Saraiva Refoios, depois
de ocupar Coimbra, fora batido nuns poucos de recontros, e retirava
sobre o Porto. Saldanha ainda tomou o comando das mãos inábeis do
general Saraiva, e postou o exercito em Grijó numa posição
vantajosa, ao passo que Stubbs se fortificava em Valongo, mas de
repente, quando. menos se esperava, Saldanha abandonou o exército,
que recuperara a confiança vendo-se comandado pelo prestigioso
general, e embarcava precipitadamente no Belfast com os
outros com quem viera. Este caso, decerto o único censurável da
vida militar de Saldanha, não foi nunca bem explicado. Qual foi o
motivo desta súbita partida? Como é que Saldanha, o herói de
Montevideu, homem duma bravura nunca desmentida, assim fugia diante
do inimigo, deixando os soldados, cujo comando tomara, fazerem, sem
o seu general, essa triste retirada da Galiza, onde tanta e tão
justa glória adquiriu Sá da Bandeira, a quem tinham oferecido um
lugar a bordo do Belfast, e que este general recusara,
permanecendo no seu posto de honra (V. Sá
da Bandeira). Este caso do vapor Belfast ficou
sempre misterioso, mas apesar da má impressão que produziu nos
emigrados, não diminuiu o prestigio de Saldanha, e no fim desse ano
de 1828 já uma expedição de voluntários se preparava em Plymouth,
para sob as ordens de Saldanha ir socorrer a ilha Terceira, onde
tremulava a bandeira liberal arvorada pelo intrépido batalhão de
caçadores n.º 5, que compunha a guarnição da ilha. Saldanha já
então era conde, título com que fora agraciado em 1827, mas que só
foi confirmado por decreto de 14 de janeiro de 1833. Foram 650 os
portugueses emigrados que se aprontaram para seguir na expedição,
os navios fretados eram os brigues Susana e Lyra, e as
galeras Minerva e Delfins. Custou imenso ao marquês
de Palmela conseguir que o governo inglês deixasse sair a expedição
portuguesa apesar de todas as liberdades britânicas, e ainda assim
foi preciso que a expedição fosse completamente desarmada, porque
o governo de lorde Wellington, secretamente favorável à causa de
D. Miguel, não queria senão encontrar um pretexto que lhe
permitisse impedir a saída dos navios. A 16 de janeiro de 1829
chegou Saldanha às águas da Terceira, e preparava-se para
desembarcar, quando foi de súbito metralhado por duas fragatas
inglesas. Esta rude e brutal intimação provocou da parte do conde
de Saldanha e do comodoro Walpole uma troca de correspondência, em
que Walpole declarou que tinha ordem de não consentir que ele e os
seus homens desembarcassem na ilha Terceira. Saldanha respondeu que
nesse caso se, considerava seu prisioneiro de guerra. Debalde o
comodoro procurou de todos os meios conseguir que a expedição
obedecesse ás suas intimações, sem a Inglaterra parecer que
praticava um acto hostil. Saldanha persistiu que ou se considerava
prisioneiro de guerra do oficial inglês ou que desembarcava.
Walpole teve de escoltar os navios do conde de Saldanha até ao cabo
Finisterra. Só aí os deixou furioso pela pertinácia do conde, que
pôde formular num magnífico protesto as suas queixas contra o
procedimento inglês. A opinião pública europeia revoltou-se com
esse procedimento. Saldanha, que desejara seguir para o Brasil, mas
que o não pudera fazer por falta de abastecimentos, e não querendo
voltar a Inglaterra, foi desembarcar em Brest, e atravessando toda a
França, seguiu para Paris, encontrando por toda a parte as
manifestações da mais viva simpatia. Este procedimento de Saldanha
foi talvez o que facilitou um pouco a ida do conde Vila Flor para a
Terceira, obrigando o governo inglês a tomar uma atitude mais
hesitante e o cruzeiro inglês nos Açores a ser por conseguinte
menos severo e menos escrupuloso. O facto efectivamente provocara a
indignação de todos os liberais. Nas câmaras francesas Benjamin
Constant, Lafayette, Sebastiani haviam-no estigmatizado com energia;
na própria câmara inglesa os celebres Malkintosh e Palmerston
haviam censurado o procedimento do governo. Também Saldanha
adquirira as mais vivas simpatias. Só com ele quisera o governo
francês tratar as questões relativas aos subsídios a conceder aos
emigrados portugueses. Saldanha fora também incansável em acudir
aos seus compatriotas. Não só obtivera subsídio para todos, até
para os académicos e paisanos, não só conseguira que as senhoras
francesas presididas pelo conde de Flahaut, promovessem um baile por
subscrição em favor dos emigrados portugueses, baile que rendeu
30.000 francos,
mas ainda se empenhou com o governo belga por intermédio do major
Lopes de Andrade, para que valesse aos emigrados portugueses que
para a Bélgica haviam partido, e logrou ainda que o governo francês
subsidiasse os emigrados portugueses que estavam em Plymouth, e que
não podiam ali viver com o mesquinho tratamento que recebiam do
governo inglês. Saldanha também vivia em tristíssimas circunstâncias.
As jóias tinham-se vendido, os 90 francos (16$200 réis) mensais
que recebia do governo francês como emigrado, não chegavam para o
seu sustento, de sua mulher e de seus filhos. Foi então que
recorreu ao trabalho literário, escrevendo no Nacional, periódico
democrático redigido por Armand Carrel, e onde colaboravam alguns
dos vultos mais notáveis do partido liberal de França. Foi decerto
a sua colaboração naquele jornal e a convivência com os
democratas franceses, que nele escreviam, que o converteram no
liberal avançado que por essa época foi, enfileirando entre os
revolucionários de 1820, bem diferentes nas suas aspirações políticas
dos cartistas de 1826. Entre esses homens estabeleceu-se uma espécie
de antagonismo doutrinário, que as intrigas da emigração mais
agravaram. Em conciliábulos misteriosos os dois grupos procuravam
dilacerar-se. E D. Pedro, cujas simpatias iam, naturalmente, para os
partidários dedicados à Carta, principiou a olhar com tanta
desconfiança para Saldanha, que, tendo chegado do Brasil, influído
pelo que ouvira contar dos projectos audaciosos do valoroso general,
quando se tratou de organizar com os emigrados dispersos pela Europa
a expedição de Belle-Isle para os Açores, não o nomeou, como
estava projectado, chefe do estado maior, declarando o próprio D.
Pedro a Saldanha, que lhe fora comunicada da parte de Fernando VII
de Espanha, a ameaça de intervir na contenda com um exército de
40.000 homens, se Saldanha fizesse parte da expedição. Saldanha,
com a mais profunda mágoa, viu partir a expedição, tendo de
explicar no Nacional, de 13 de janeiro de 1831, e numa
circular impressa dirigida aos seus amigos; os motivos da sua forçada
inacção. Já três anos antes havia publicado umas Observações
sobre a Carta que os membros da Junta do Porto dirigiram a S. M. o
Imperador do Brasil em 5 de agosto de 1828, Paris, 1829; este
folheto saiu em 1830, mais acrescentado, com o título: A
Perfídia
desmascarada, ou carta
da Junta do Porto a S. M. o Imperador do Brasil,
e observações à
mesma
carta pelo conde
de Saldanha, e por outro emigrado, com
notas do editor.
Saldanha,
depois da partida da expedição para os Açores, conservou-se
durante um ano assistindo de longe ás peripécias desse terrível
drama das lutas civis. Finalmente, nos últimos meses de 1832, a
causa liberal esteve por tal forma arriscada que, depois de se ter
convidado o general Solignac a tornar o comando em chefe do exército,
vendo que essa nomeação não dava o mínimo resultado, por ser o
general francês uma mediocridade, apesar da fama que o precedia, e
D. Pedro, completamente desanimado, consentiu que fossem para o
Porto todos os militares que se conservavam ainda longe da pátria,
com excepção do coronel Pizarro. Denunciavam-se assim claramente
as intrigas facciosíssimas que tinham desviado Saldanha do campo da
batalha, onde se agitavam os destinos da pátria. Saldanha nem um
instante hesitou, apesar de saber que a causa liberal parecia tão
perdida, que D. Pedro dizia para Londres a Palmela, que se não
alcançasse a intervenção inglesa dentro de 30 dias, nenhum
recurso lhe restaria. O cerco do Porto, que principiou pouco depois
do desembarque de D. Pedro, apertava-se cada vez mais, e a cidade
estava realmente prestes a ceder, quando Saldanha, Stubbs e Cabreira
desembarcaram na Foz a 28 de janeiro de 1833. Solignac tivera a
inabilidade de abandonar o monte do Crasto e principalmente o
montinho do Pinhal que dominava a Foz, e cuja ocupação pelo
inimigo trazia inevitavelmente consigo a perda do Porto, porque
seria impossível entrarem mais víveres ou munições na cidade
sitiada. Saldanha, logo ao chegar, recebera o comando da esquerda da
linha, e logo viu o erro gravíssimo que se cometera. Fê-lo sentir
a Solignac, e disse-lhe que era indispensável recuperar o Pinhal.
Solignac opôs-se, respondendo que seria uma verdadeira loucura, e
proibiu-lhe até expressamente que o fizesse; mas Saldanha estava tão
convencido da sua opinião que tomou a responsabilidade da desobediência.
Atacou rapidamente o Pinhal ainda mal guarnecido pelo inimigo, e
assenhoreou-se dele quase sem perdas. Solignac, em presença do
resultado obtido, não ousou censurar a desobediência de Saldanha,
já marechal de campo, e não teve contudo a coragem de pedir a sua
demissão. Saldanha, sem mais pensar no comandante em chefe, tratou
de fortificar com toda a rapidez as suas fortificações. A 4 de março
foi o reduto do Pinhal atacado vivamente, porém D. Pedro que
conseguira armá-lo o melhor possível, repeliu o inimigo com
energia. Então é que se conheceu pela força do ataque dos
miguelistas, a importância das fortificações que Saldanha
improvisara, e que eram o assombro de todos. Solignac ainda desta
vez assistiu ao triunfo do conde de Saldanha, sem tomar parte nele,
conservando-se imóvel com o resto do exército. Que rancor ardia no
peito de Solignac pode imaginar-se, sabendo que o queria mandar
fuzilar, quando soube que ele tivera conferências secretas com o
general miguelista Lemos a bordo dum navio inglês. Chamado
Saldanha, explicou ele facilmente que tivera essas conferências
para pôr termo à guerra, conseguindo que pacificamente triunfasse
a causa liberal sem se derramar mais sangue português. Solignac deu
um jantar a Saldanha no mesmo dia em que o condenara a ser fuzilado,
e ainda desta vez se não demitiu. Só percebeu enfim que devia
pedir a demissão, quando no conselho de guerra que se reuniu para
se tratar duma diversão que se deveria fazer, viu adoptada a opinião
de Saldanha, que era uma expedição ao Algarve, contra a sua que
era de se romperem as linhas miguelistas no sul do Douro.
Apenas
Solignac foi demitido, logo D. Pedro nomeou Saldanha chefe do
estado-maior, que equivalia a confiar lhe o comando em chefe do exército.
Essa nomeação foi acolhida com verdadeiro entusiasmo. Logo na acção
de 5 de Julho se mostrou a energia e o talento do novo comandante. O
exército miguelista, sabendo que a guarnição do Porto estava
enfraquecida pela partida da expedição do duque da Terceira para o
Algarve, atacou vigorosamente as linhas procurando cortar as
comunicações entre a Foz e o Porto. Foi completamente repelido, e
D. Pedro entusiasmado com a perícia do seu novo chefe do
estado-maior, promoveu-o por distinção no campo da batalha ao
posto de tenente-general. Apesar da derrota, os miguelistas não
desanimaram, pela chegada do marechal francês Bourmont que
acompanhado por uns cem oficiais legitimistas franceses, vinha tomar
o comando do exército que sitiava o Porto. Não tardaram a medir-se
os dois generais. Em 25 de julho Bourmont deu um ataque geral ás
linhas do Porto, pôs em grave perigo a esquerda da linha que
Saldanha defendeu brilhantemente repelindo o ataque, e pressentindo
que Bourmont, repelido da esquerda havia de pretender atacar a
direita, provavelmente enfraquecida pela concentração de forças
no outro flanco, partiu a galope para Bonfim, e ali encontrou
efectivamente o regimento belga repelido e os miguelistas já dentro
do Porto. O momento era crítico. Os reforços não podiam chegar
ainda. Saldanha, entretanto desembainha a espada, e carrega o
inimigo à frente do seu estado-maior e da sua escolta de lanceiros.
Cai morto seu sobrinho D. Fernando de Almeida, são feridos quase
todos os oficiais, mas o inimigo recua, e o Porto está salvo na
direita como já o estava na esquerda. O imperador, em recompensa de
tão assinalada vitória, confere-lhe a grã-cruz da Torre e Espada.
Chegam no dia 26 ao Porto as notícias da ocupação de Lisboa pelas
tropas do duque da Terceira; D. .Pedro parte para Lisboa, deixando
Saldanha comandante em chefe da guarnição do Porto. Não tardou
que Bourmont, com uma parte do exército miguelista, marchasse a
cercar Lisboa, ficando em frente do Porto o general Almer. Não quis
Saldanha consentir que forças relativamente diminutas o
paralisassem dentro da cidade. A 18 de agosto fez uma sortida,
surpreende o inimigo, desaloja-o das suas fortes posições,
repele-o em seguida nas alturas de Valongo, e completa assim o
levantamento do cerco do Porto. A cidade aclamou com ovações
frementes de entusiasmo o seu heróico salvador. Saldanha organiza
então uma pequena divisão, e em 24 de agosto parte para Lisboa,
deixando o governo do Porto entregue ao tenente general Stubbs.
Chegando a Lisboa assume o comando do exercito, repele no dia 5 e no
dia 14 de setembro os ataques de Bourmont, obriga Macdonell, que
substituía no comando o general francês, a levantar o cerco da
capital nos dias 10 e 11 de outubro. D. Pedro nomeou-o marechal do
exército e para lhe ser agradável, mandou colocar de novo no
pedestal da estátua de D. José, no Terreiro do Paço, o medalhão
do seu glorioso avô, o marquês de Pombal. Mas a luta continuava
agora ainda mais terrível do que nunca. Póvoas sucedera a
Macdonell, continuando a manter-se na expugnável Santarém. Então
Saldanha, deixando o duque da Terceira à frente das tropas liberais
que ocupavam Cartaxo, marcha sobre Leiria com uma pequena força
e toma a cidade, derrota em Torres Novas os célebres dragões
da Chaves, e finalmente desbarata completamente em Pernes uma força
importante, que Póvoas para ali destacara na esperança de cortar
as comunicações dos dois marechais. Então os miguelistas
resolveram tentar um supremo esforço, o que proporcionou a Saldanha
o ensejo de ganhar a mais brilhante vitória da sua carreira
militar, a batalha de Almoster, que deu um golpe mortal na causa
miguelista. Projectou Saldanha, em seguida a este brilhante feito de
armas uma expedição ao norte para se assenhorear de todo o país e
impedir que o inimigo recebesse reforços ou auxílios das províncias
afectas ao absolutismo. O plano não foi aceite, e o marechal
recebeu ordem de retirar para o Cartaxo com a sua divisão.
Prosseguindo a campanha, os miguelistas ainda tiveram um efémero
triunfo em Alcácer, onde os constitucionais foram repelidos. Como
aproveitassem esta insignificante vitória para novos ataques, o
plano de Saldanha foi afinal adoptado, sendo a sua execução
confiada ao duque da Terceira. Pouco tempo depois com a batalha de
Asseiceira, D. Miguel era derrotado por completo. Em 26 de maio de
1834, assinou-se a convenção do Évora Monte. Saldanha, a quem
indubitavelmente se devia o êxito da campanha, foi elevado a marquês,
por decreto passado logo no dia seguinte, e uma dotação de cem
contos de reis em bens nacionais.
Terminada
a luta, começou o agitado noviciado constitucional do país. D.
Pedro abriu as cortes em 15 de agosto de 1834, e Saldanha, sendo
eleito deputado, foi o chefe da oposição no primeiro ministério
de D. Maria II. Os inimigos, que antes e durante o cerco do Porto,
tanto o combateram, voltaram à sua tarefa, agora mais fácil,
porque na paz as intrigas podem mais facilmente urdir-se. A 27 de
maio do ano de 1835, a rainha chamou-o ao poder, confiando-lhe a
presidência do conselho e a pasta da guerra, e dando-lhe como
colegas o duque de Palmela, o marquês de Loulé, Chanceleiros, João
de Sousa Pinto de Magalhães, etc. Pouco depois entrou Rodrigo da
Fonseca Magalhães para o governo, como ministro do reino. Este
gabinete teve curta duração. A iniciativa de Saldanha em mandar a
Espanha uma divisão auxiliar, que se portou ali brilhantemente,
contra os carlistas, as reformas projectadas na instrução pública
pelo ministro Rodrigo da Fonseca, e depois uma resolução do duque
da Terceira, comandante em chefe do exército, relativamente ao
papel dos oficiais nas eleições, originaram a queda do ministério,
que foi substituído por outro da presidência de José Jorge
Loureiro. Foi durante este último ministério, que rebentou a
revolução de Setembro. Saldanha conservou-se um pouco afastado da
política militante, descansando em Sintra, mas quando julgou que a
revolução fora mais longe do que, no seu entender, devia ir,
quando lhe pareceu que estavam em perigo as prerrogativas e a
dignidade da rainha, que ele sustentara sempre com tanta dedicação,
pronunciou-se, de acordo com o duque da Terceira, contra a marcha
das coisas, marchando para o norte a 27 de julho de 1837, entrou na
Beira, onde se lhe juntaram algumas tropas, muito menos do que ele
imaginava, porque a revolução popular setembrista ainda tinha um
grande prestigio. O barão de Bonfim foi enviado com tropas
importantes contra o marechal Saldanha, mas este, com a habilidade
que o distinguia, zombou do seu feliz adversário, escapando-se por
uma série de marchas estratégicas, indo unir-se ao duque da
terceira e a Mousinho de Albuquerque em Torres Vedras, onde formaram
uma regência provisória, e marchando sobre Lisboa, acamparam em
Loures, ao passo que Bonfim se encontrava no Pombal. Esperavam os
marechais que Lisboa se pronunciasse a seu favor, mas não sucedeu
assim, tiveram por conseguinte de retirar, porque dispunham apenas
de três batalhões de voluntários mal armados e um regimento
provisório de infantaria de linha. Tendo boa cavalaria, mas não
tendo um só canhão, não podiam os marechais atacar Lisboa.
Retiraram, pois, para o norte em procura da divisão auxiliar de
Espanha, que recolhia a Portugal, por ordem do governo, e que
esperavam que aderisse à sua causa. No dia 28 de agosto de 1837
encontraram se no Chão da Feira com o barão de Bonfim, e aí se
travou batalha, que terminou por um acordo entre Saldanha e Bonfim,
que no meio da batalha se encontraram e deliberaram suspender a luta
para verem se chegavam a um acordo sobre a questão constitucional.
Os marechais retiraram para Alcobaça, Bonfim para Leiria, e em
Aljubarrota se reuniram comissários para tratarem dum convénio. Não
se podendo chegar a um acordo, romperam-se de novo as hostilidades.
Aqui se mostrou mais uma vez a habilidade do marechal. A derrota em
Chão da Feira era quase inevitável, nem Saldanha decerto aceitaria
o combate, se não esperasse que as forças setembristas passassem
para ele, graças ao seu antigo prestigio. Só isso aconteceu com
uma parte da cavalaria, mas a infantaria formada em quadrado
resistiu intrepidamente, e a falta de artilharia colocava os
marechais na mais desastrosa inferioridade. A interrupção do
combate foi a salvação para eles. No dia seguinte unia-se o barão
do Casal a Bonfim e Saldanha por conseguinte não podia seguir para
o norte pela estrada de Leiria. Mais uma vez, porém, iludiu os
adversários, e torneando-os por uma marcha audaciosa e feliz, foi
sair a Rio Maior, passou a Santarém, depois a Tomar, e ainda Bonfim
andava à procura dele, e já ele estava em Trás-os-Montes. Ao
chegarem, porém, a Chaves, souberam os marechais que o barão de
Leiria, contra as ordens expressas que recebera, tendo-se-lhe
reunido uma das brigadas da divisão expedicionária de Espanha,
dera batalha em Ruivães à outra brigada comandada pelo visconde
das Antas, e fora batido. Vendo então que não podiam prolongar a
luta, assinaram uma convenção, e partiram para o estrangeiro,
terminando assim a revolta, que ficou conhecida pela revolta dos
marechais.
Saldanha
foi residir para Paris até que, voltando ao reino, o governo
cartista o encarregou de varias embaixadas, passando quase todo o
seu tempo até 1846, empregado na carreira diplomática. Esteve em
Londres, em Madrid e em Viena, onde a rainha e os seus confidentes o
conservaram de reserva para o momento em que fosse preciso. Em 1846,
portanto, prosseguiu na vida política, de certo um campo muito
menos brilhante para ele do que a carreira militar. Já não é
muito explicável, apesar de tudo, a sua insurreição de 1837
contra a revolução liberal que devia agradar, segundo parecia ao
redactor do Nacional, ainda se percebe menos que depois de ter sido
uns dias ministro da guerra e dos negócios estrangeiros no gabinete
de Palmela de 20 de maio, não recusasse cobrir com a sua
responsabilidade o odioso golpe de estado de 6 de outubro de 1846,
pelo qual a rainha faltava à sua palavra, e opunha o seu veto ao
movimento democrático do país. Saldanha, o homem mais popular do
país, ia agora afrontar o movimento mais verdadeiramente popular
que couve entre nós, indo servir os interesses do conde de Tomar
contra os interesses legítimos do povo. Mas chegava o momento de
desembainhar a espada, e o marechal recuperava o seu antigo
esplendor. A revolução do Minho, promovida pela emboscada de 6 de
outubro, rebentara com energia, organizara no Porto a Junta que
dirigiu a revolução e o conde das Antas, à frente das tropas
liberais, marchou sobre Lisboa parando sobre Santarém, onde
destacou para Alcobaça e Caldas uma divisão comandada pelo conde
de Bonfim. Saldanha, deixando o ministério para assumir o comando
das tropas cartistas, ocupou o Cartaxo, e vendo a imprudência do
conde das Antas, marchou sobre Bonfim que seguia para Torres Vedras,
onde foi obrigado a capitular depois da batalha de Torres Vedras, em
22 de dezembro de 1846, e que é uma das mais brilhantes da carreira
militar de Saldanha. Bonfim teve de se entregar com toda a divisão,
Antas viu-se obrigado a retirar sobre o Porto, seguindo-o Saldanha
que ocupou a posição de Oliveira de Azeméis, isolando assim o
Porto do sul do País, sem que a junta ousasse mandá-lo atacar até
que a intervenção estrangeira pôs termo à luta civil, pela
convenção de Gramido assinada em 80 de junho de 1847. Saldanha
havia sido agraciado com o título de duque, por decreto de 4 de
Novembro de 1846 fora elevado ao pariato e nomeado mordomo-mor da
rainha.
A
18 de dezembro de 1848 formou se um ministério, presidido por
Saldanha, presidência que conservou até 29 de junho de 1849, em
que a rainha, julgando ser tempo de acabar com aquele ministério
que considerava de transição, chamou de novo Costa Cabral, já então
conde de Tomar, aos conselhos da coroa. Saldanha feriu-se
profundamente com esta resolução da rainha, e começou a fazer uma
oposição furiosa ao novo governo. O conde de Tomar, procedendo com
a sua habitual energia, aconselhou a rainha a que o demitisse do
cargo de mordomo-mor da Casa Real. Ferido também no seu amor próprio,
o marechal pediu a demissão de todos os seus cargos de comissões,
e saiu a campo, publicando em 1850 o Requerimento e correspondência
do duque de Saldanha com o ministro da guerra, por ocasião de ser
demitido do ofício de Mordomo mor da Casa Real. A publicação
deste folheto deu em resultado levantar-se uma viva discussão na
imprensa, e imprimiram-se avulsos vários opúsculos e panfletos,
nos quais a questão foi diversamente avaliada, saindo anónimos a
maior parte deles. Sentia-se bem que o conde de Tomar jogara uma
carta arriscada, e que Saldanha não deixaria de tirar a desforra.
Esta desforra não demorou muito. O marechal resolveu, portanto,
vingar-se, e a corresponder aos votos do país, fatigado da
administração enérgica mas áspera do conde de Tomar. A 7 de
abril de 1851 saiu de Sintra com uns oficiais do seu estado-maior,
partiu para Mafra, na intenção de revoltar o Regimento de
Infantaria n.º 7, mas apenas alguns soldados tomaram o seu partido.
Reuniram-se-lhe apenas alguns batalhões de caçadores n.º 1, que
estava em Setúbal o n.º 5, que estava em Leiria. O marechal julgou
perdida a insurreição, porque todos, ou quase todos os coronéis
eram cabralistas, e haviam fugido com os regimentos ao marechal,
como fizeram os comandantes do n.º 9 e do n.º 14 de infantaria e o
n.º 4 de cavalaria. Entrara Saldanha já em Espanha, e achava-se em
Lobios na Galiza, quando cartas de José Estêvão e de outros
homens notáveis do partido progressista o chamaram a Portugal, onde
triunfava o seu movimento, exactamente quando ele o supunha perdido.
A guarnição do Porto insurgira se a seu favor, e um dos coronéis
que tinham tentado opor-se à revolta, foi morto. Saldanha entrava
triunfante no Porto, onde ia reunir-se-lhe dentro em pouco tempo
quase toda a divisão que, debaixo do comando do rei D. Fernando, saíra
de Lisboa para se lhe opor. Em Lisboa entrava pouco depois, a 13 de
maio, o marechal, e a sua entrada foi festejada com delirantes ovações,
iluminações, vendo-se pelas ruas filarmónicas tocando um hino
composto em sua honra. Pouco fora preciso para Saldanha recuperara
popularidade, que por um instante lhe resfriara um pouco. O marechal
com as suas tropas passou em continência em frente do palácio das
Necessidades, mais como afronta à rainha, do que como um acto de
submissão. O conde de Tomar fugiu para o estrangeiro, el-rei D.
Fernando entregou-lhe o bastão do comando em chefe do exército, e
a rainha teve também de o aclamar, quando o povo o saudava como a
um triunfador. Saldanha, tomando posse do governo em ditadura,
promulgou grande número de leis. Este movimento ficou conhecido na
história pela Regeneração. Saldanha tinha a seu lado no
ministério Rodrigo da Fonseca Magalhães, e chamou ao poder um
jovem deputado de um imenso futuro, e que veio a ser mais tarde uma
sumidade política, Fontes Pereira de Melo. Durante cinco anos
dirigiu esta administração regeneradora que pôs termo definitivo
ás lutas políticas, fez passar o Acto Adicional à Carta
Constitucional, fez entrar o país no caminho do desenvolvimento
material; assegurando o pagamento pontualíssimo dos funcionários,
e tratando seriamente da viação publica.
Em
1856 cedia Saldanha o poder ao ministério progressista histórico,
voltando a ocupar-se principalmente na carreira diplomática. Pouco
tempo depois entregava-se também a uma especialidade muito
inesperada, à especialidade médica. Fazia-se em Portugal o
advogado da homeopatia, publicando em 1858 o seguinte folheto: Estado
da medicina em 1858; opúsculo, dividido em cinco partes, dedicado a
el-rei o Sr.. D. Pedro V, e oferecido aos homens de consciência e
superiores, que entre nós ensinam ou praticam a nobre e liberal
profissão da medicina. Este folheto promoveu resposta do Dr.
Bernardino António Gomes, travando-se entre o ilustre marechal e o
bem conhecido médico uma discussão veemente. Já em 1845, estando
embaixador em Viena de Áustria, publicara um livro intitulado: Concordância
das ciências naturais, e principalmente da geologia com o Génesis
fundada sobre as opiniões dos santos padres e dos mais distintos teólogos;
extraída de um trabalho do marechal marquês de Saldanha sobre a
filosofia de Schelling. Atribui-se-lhe também um outro folheto:
Curtíssima exposição de alguns factos, Lisboa, 1847; este
opúsculo, concernente à explicação do movimento político do 6
de Outubro de 1846, saiu sem o nome do autor. Publicou depois um Aditamento
à «Curtíssima exposição de alguns factos», tendo a data de
3 de setembro de 1847, e por assinatura Um português. Nos
catorze anos que decorreram de 1856 a 1870 conservou-se Saldanha
constantemente afastado do poder. Ministro em Roma, em Paris, ou em
Londres, representava com grande esplendor o seu país e era em toda
a parte um dos vultos mais notáveis do corpo diplomático. Por mais
duma vez o nome do duque de Saldanha foi indigitado para a presidência
do conselho, mas, ou porque ele se recusasse, ou porque as
circunstancias políticas mudassem e não tornassem necessário o
seu chamamento, é certo que sempre continuou a exercer as suas missões
diplomáticas, até que em 1869, tendo vindo a Lisboa, e julgando-se
desconsiderado pelo ministério progressista presidido pelo duque de
Loulé, resolveu fazer sentir ao governo que, apesar dos seus
oitenta anos, ainda conservava o antigo prestigio no exército e a
verdura da mocidade. Deu ouvidos ás incitações do conde de
Peniche e do grupo de revolucionários que acompanhava este fidalgo,
e à frente do Batalhão de Caçadores n.º 5 e do Regimento de
Infantaria n.º 7, proclamou a queda do ministério. Só a guarda
municipal, alguma artilharia e um esquadrão de lanceiros deixou de
unir-se aos revoltosos. Saldanha dirigiu-se com a força que
angariara, ao palácio da Ajuda na noite de 19 de maio de 1870, onde
uma bateria do 3 de artilharia lhe faz fogo, que é correspondido
pelos caçadores revoltados, mas a resistência durou poucos minutos
e os artilheiros rendem-se, ficando apenas mortos uns cinco e igual.
número de feridos. Várias balas de caçadores esmigalharam as
vidraças do paço, e lhe furaram os estuques. O ministério quer
conservar-se a todo o transe, não lhe importando que para isso
corra jorros de sangue. O rei D. Luís estava aterrado; não queria
guerra, não queria derramar sangue, e estava por tudo quanto
Saldanha quisesse. Mandou chamar o duque de Loulé para lavrar o
decreto da demissão dos ministros, mas o duque recusa-se
terminantemente a referendar tal decreto, mas vendo por fim que o
rei se obstinava em não querer guerra, cedeu, e foi reunir-se aos
seus colegas para envidarem todos os meios de sufocarem a revolta.
Finalmente o rei assinou o decreto da demissão do ministério, e
Saldanha ficou senhor da situação, e como ditador formou em 25 de
maio um ministério, em que entravam D. António da Costa, marquês
de Angeja (conde de Peniche), D. Luís da Câmara Leme, José Dias
Ferreira e conde de Magalhães, ficando Saldanha com a presidência
e as pastas da guerra e dos estrangeiros. Promulgou uma série de
reformas mas, em 29 de agosto do mesmo ano de 1870, um outro golpe
de estado promoveu a queda do ministério, retirando-se de novo
Saldanha como ministro para Londres, onde veio a falecer com oitenta
e seis anos de idade.
O
duque de Saldanha havia enviuvado em 13 de agosto de 1855, e passou
a segundas núpcias, em Londres, sendo já octogenário, com D.
Carlota Isabel Maria Smith, irmã do conde da Carnota, John Smith
Athelstane, já viúva do Dr. Edward Binns. Possuía as seguintes
honras: grã-cruz das ordens de Cristo, da Torre e Espada, de Nossa
Senhora da Conceição de Vila Viçosa, de S. Tiago, e de
S. João de Jerusalém; das seguintes ordens estrangeiras: S.
Fernando, Isabel a Católica e Carlos lII de Espanha; da Legião de
Honra, de França; de S. Gregório Magno e da Pio IX, de Roma, de
Ernesto Pio, de Saxe-Coburgo; de Leopoldo, da Áustria; do Leão,
dos Países Baixos; de S. Maurício e S. Lazaro, de Itália; de
Leopoldo, da Bélgica; de Alberto, o Valoroso, de Saxónia; do
Salvador, da Grécia; da Águia Branca, da Rússia; cavaleiro da
Ordem do Tosão de Ouro, de Espanha, da Santíssima Anunciada, de Itália;
condecorado com as medalhas do Buçaco, de S. Sebastião e de Nive;
de seis batalhas da Guerra Peninsular, da Estrela de Montevideu,
etc.; sócio emérito e vice-presidente da Academia Real das Ciências,
membro da Sociedade Geológica de França, da Academia das Ciências
e Belas Letras de Anvers, da Sociedade Estatística de França, e de
muitas outras associações cientificas e literárias da Europa. Por
decreto de 30 de outubro de 1862, foi agraciado com as honras de
parente. O seu brasão é o mesmo, que já se publicou e se
descreveu, no 1.º vol. do Portugal, pág. 56, no artigo
dedicado a seu filho, o conde de Almoster. O brasão é igual
sob coronel de duque.
Saldanha
foi também um escritor muito considerado. Entre as obras que
deixou, citaremos as seguintes: um folheto Algumas ideias sobre a
Fé; sem designação do lugar da impressão, mas tem no fim a
data de Lisboa, 17 de maio de 1857; Discursos do presidente de
ministros, duque de Saldanha, proferidos nas sessões de 14 e 15 de
fevereiro na Câmara dos dignos Pares, por ocasião das acusações
feitas pela oposição, Porto, 1848. Achando se em 1864
embaixador em Roma, assistiu a uma sessão da Academia dos Quirites,
celebrada no palácio do príncipe de Alfieri, em 21 de abril, e
recitou na presença de vários cardeais, prelados e outras
personagens distintas, a dissertação que para esse fim escrevera: Il
natale di Roma. Em 1865, voltando aos seus estudos médicos,
publicou: Duas palavras sobre a homeopatia como preservativo e
curativo da Cólera morbos. Escreveu mais: Carta sobre o
casamento civil, dirigida ao ex.mo presidente do
Conselho de Ministros, Lisboa, 1865; A Verdade, Lisboa,
1863 constava de quatro capítulos: 1.º Expectação universal; 2.º
A antiguidade não realizou o ideal da perfeição humana; 3.º
Jesus Cristo, Deus e homem verdadeiro; 4.º Algumas ideias
sobre a Fé; teve 2.ª edição em 1869; Carta ao sr. Latino
Coelho acerca da razão que o impediu de assistir à inauguração
da estátua de D. Pedro IV no Porto, com a exposição dos serviços
que na mesma cidade prestou durante o cerco e depois, até ao fim da
luta civil de 1839; saiu no Jornal do Comércio, de 26 de
outubro de 1866; Necessidade de associação católica, Londres,
1871; A Voz da Natureza, etc., publicou o 1.º vol. em
Londres, 1879; o 2.º vol. saiu em 1876, no mesmo ano da morte do
marechal; segundo o autor, a obra devia ter três volumes, mas
parece que o 3.º se não chegou a publicar. Em 1869 publicou em vários
jornais de Lisboa (Diário Popular, Jornal do Comércio, e Diário
de Noticias), cartas para explicar o seu procedimento político,
e que são documentos preciosos para a historia dos preliminares da
revolta de 19 de maio de 1870. O duque de Saldanha tem artigos biográficos
no Dictionnaire des contemporains, de Vapereau; no Dictionnaire
générale de biographie et d'histoire, de Dézobry et Bachelet;
na Nouvelle biographie générale, tomo XLIII; Historia do
marechal Saldanha, por D. António da Costa de Sousa de Macedo;
O Marechal Saldanha, romance histórico, de César da Silva,
publicado pela casa editora João Romano Torres & C.ª. O
escultor Alberto Nunes executou em 1880 o busto em mármore do
marechal Saldanha, trabalho de muito valor artístico, que foi
destinado para a Câmara dos Pares.
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João
Oliveira e Daun, I. duque de Saldanha
Genealogy (Geni.com)
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