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Sá
(Mem de).
n. [ca.
1500].
f. 1572.
Um
dos primeiros e mais famosos governadores do Brasil. Pertencia a uma
nobre e ilustre família portuguesa, porque era irmão do poeta
Francisco Sá de Miranda.
Tratando
D. João III, que dividira o Brasil em capitanias por diferentes
donatários, de organizar regularmente a colonização do Brasil e a
autoridade da coroa sobre essa vasta região, nomeou primeiro
governador do Brasil Tomé de Sousa, que teve como sucessor Duarte
da Costa, seguindo-se a este Mem de Sá, que já foi nomeado pela
rainha viúva e regente de Portugal, D. Catarina, chegando à cidade
de S. Salvador da Baía, centro dos estabelecimentos portugueses na
América, em 1558. Teve Mem de Sá que vencer grandes dificuldades
logo no princípio do seu governo; lutava com falta de recursos de
todo o género, porque o Brasil pouco interessava o governo da metrópole,
todo empenhado na sustentação das conquistas do Oriente. Duarte da
Costa deixara o Estado em lamentáveis circunstâncias, os índios
revoltados, e Mem de Sá teve que sustentar a guerra contra eles nas
capitanias de Ilhéus e de Porto Seguro, e teve sobretudo na
capitania de S. Vicente de debelar a terrível conjuração dos Tamoios,
que ameaçava sacudir para sempre os portugueses das praias
americanas. Valeu-Ihe de muito nesta última circunstância o auxílio
dos jesuítas, principalmente dos dois missionários Nóbrega e
Anchieta, sem cujo concurso nada poderia fazer, por melhor vontade e
maior energia que tivesse, o grande governador do Brasil. Além das
hostilidades dos indígenas, teve ainda Mem de Sá mais terríveis
dificuldades a vencer, a peste e a fome. A varíola assaltou a
cidade da Baía, e os aldeamentos dos índios amigos, devastou-os, e
afugentou os aterrados selvagens. As terras ficaram sem serem
semeadas, e no meio daquela pródiga e maravilhosa natureza da América
do Sul, a fome assaltou os colonos portugueses. Mem de Sá conseguiu
vencer todas as dificuldades agravadas pela qualidade dos colonos
que de Portugal lhe remetiam, e que eram quase todos degredados e
gente dissoluta. Mem de Sá conteve-os em boa ordem, e favoreceu dum
modo notável o aldeamento dos índios, que os jesuítas dirigiam
com incontestável zelo.
O
acontecimento mais glorioso, contudo, do governo de Mem de Sá, foi
a expulsão dos protestantes franceses, que se haviam estabelecido
no sítio onde se erigiu depois a formosa cidade do Rio de Janeiro.
Em 158..., um cavaleiro de Malta francês, chamado Nicolau Duarte de
Villegagnon, que abraçara as ideias religiosas de Calvino,
resolvera procurar fortuna em terras novas, e auxiliado pelo seu
amigo e correligionário, o almirante Coligny, partiu para o Brasil,
e estabeleceu-se numa das ilhas da baía do Rio de Janeiro, a que
deu o nome de Goligny, e onde edificou um forte que devia ser
inexpugnável pela natureza do terreno, e que se chamou forte de
Villegagnon. O rei de França, apesar de andar envolvido com os
huguenotes em acesas guerras religiosas, aplaudiu esta sua tentativa
de colonização, e socorreu-os e reforçou-os com tropas comandadas
por um tal Bois-le-Comte, que chegou ao Brasil em 1557. Afinal as
discórdias que dividiam a França europeia, dividiram também a
França antárctica, como os colonos franceses chamavam já às suas
possessões americanas, assim como premeditavam chamar Henriville
à cidade que tencionavam fundar como capital da colónia.
Villegagnon abandonou os seus companheiros em 1558, e partiu para a
Europa, mas os franceses, que tinham estabelecido com os indígenas
relações de boa amizade, ficaram senhores da terra de que se
tinham apoderado. Foi em 1560 que Mem de Sá recebeu ordem para
expulsar os franceses do Rio de Janeiro, ordem absurda por não vir
acompanhada de quaisquer reforços. Mem de Sá, porém, não hesitou
em cumpri-la, e no ofício que enviou à rainha regente dizia-lhe:
«Eu me pus logo prestes o melhor que pude, que foi o pior que um
governador podia.» Efectivamente, o exército que Mem de Sá pudera
reunir, compunha-se de cento e vinte portugueses e de cento e
quarenta índios auxiliares, e com este corpo expedicionário,
verdadeiramente irrisório, ia atacar uma ilha solidamente
edificada, defendida por cento e cinquenta bons soldados franceses,
que tinham por auxiliares não menos de um milhar de índios Tamoios.
Ainda assim, a energia de Mem de Sá obrou maravilhas, e um assalto
dado por esse pequeno corpo de tropas pôs nas mãos dos portugueses
a fortaleza, que Mem de Sá logo destruiu, não tendo gente para a
guarnecer, ao passo que os franceses e os índios fugiam para o
interior das florestas. Logo que Mem de Sá se retirou para a Baía,
voltaram os franceses fugitivos, tornaram a fortificar a ilha, e
estabeleceram no continente o campo entrincheirado de Uruçu Mirim.
Em 1564 é que chegou à Baía seu sobrinho Estácio de Sá, que
vinha em seu auxílio (V. Sá, Estácio de). Mem de Sá,
depois de ter conseguido expulsar definitivamente das margens da
enseada do Rio de Janeiro os franceses e os seus aliados, tratou de
mudar a sede da cidade que Estácio de Sá escolhera demasiadamente
próximo da entrada da baía, e transportou-a para o sítio onde
depois se desenvolveu, cresceu e prosperou, que é o monte de S.
Januário, hoje Monte do Castelo. Depois de ter organizado a
administração da cidade, cujo governo confiou a seu sobrinho
Salvador Correia de Sá, partiu para a Baía, e ali residiu ainda
por cinco anos, continuando a governar o Brasil.
Em
1572 chegou de Lisboa o substituto, e Mem de Sá, depois de ter
governado o Brasil durante catorze anos, dispunha-se a partir para a
Europa, quando a morte o surpreendeu. O seu cadáver foi sepultado
no cruzeiro da igreja dos jesuítas da Baía, e o seu túmulo
tornou-se por muito tempo objecto de veneração para os colonos e
até para os indígenas, como o seu nome é ainda pronunciado com
respeito pelos brasileiros, que lhe devem a fundação da sua
capital.
Mem de Sá, Governador Geral do Brasil e-biografias
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