Nasceu
na Alemanha em 1618, sendo filho de Hans Meynard (ou Armando), conde
de Schomberg, marechal do Alto e Baixo Palatinado, etc..
Estreou-se
na carreira das armas , militando nas fileiras do exército sueco,
então ao serviço de Richelieu, e assistiu a diversas batalhas e a
quase todas as acções e recontros do período, chamado francês,
da guerra dos Trinta Anos. Em 1636 passou ao serviço da França
como capitão de uma companhia de cavalos ligeiros, tomou parte na
campanha do Franco Condado, acompanhou o marechal de Qantzan à
Alemanha, e foi chamado para junto de Henrique de Nassau, que o
nomeou seu lugar-tenente. Voltando depois à França, em 1650,
comprou o lugar de capitão da companhia dos guardas escoceses, e daí
a dois anos foi feito marechal de campo. Entrou em diversos combates
na guerra da Fronda; serviu às ordens de Turenne com o posto de
tenente general, foi governador da praça de Saint-Julien, que
defendeu em 1657; assistiu à batalha das Dunas e ao cerco de
Dunquerque, e em 1660 veio para Portugal com uns 600 companheiros, a
maior parte oficiais de cavalaria, artilharia e engenharia, para
tomar parte na guerra da Restauração.
Como
é sabido, o cardeal Mazarin, ajustando a paz dos Pirinéus,
abandonou vergonhosamente a causa da nossa independência, e por
isso o conde de Soure, embaixador português na corte de França,
recebeu ordem de voltar apressadamente à pátria, afim de evitar a
afronta de o mandarem sair. Segundo as instruções que recebeu do
governo, devia tratar apenas de aliciar particularmente o maior número
de bons oficiais e um general hábil, embarcando para Lisboa logo
que tivesse cumprido esta missão. Para o conseguir foi o nosso
diplomata muito auxiliado pelo marechal de Turenne, que lhe indicou
oficiais que tinham servido debaixo das suas ordens, entre outros o
coronel Jeremias, Jovet, e o general conde de Schomberg, que mais
facilmente podia tomar o serviço de Portugal, porque apesar de ter
militado nos exércitos franceses era alemão de nascimento. Esta
negociação foi conduzida secretamente em casa do duque de Albrect,
rapaz de dezanove anos e sobrinho de Turenne, em cuja casa este escondido
o conde de Soure. A 29 de outubro de 1660 embarcou finalmente no
Havre o nosso diplomata acompanhado do conde de Schomberg e dos
oficiais que vinham servir nos exércitos portugueses, e a 11 de novembro seguinte chegavam
ao porto de Lisboa. Não foi isto muito bem visto pelos generais
portugueses, e principalmente pelo marquês de Marialva, que se
ufanava da sua vitória das Linhas de Elvas.
A
17 de dezembro foi o conde de Schomberg nomeado para o posto de
mestre de campo general da província do Alentejo, com o soldo de
mil cruzados por mês, na forma que tinha sido contratado em França
pelo conde de Soure, partiu pouco depois para essa província, cujo
governo supremo havia sido dado ao conde de Atouguia. No ano
imediato as operações militares nessa fronteira foram de pouca
importância, mas o conde de Schomberg deixou ali assinalada a sua
presença pelos esforços que fez para o nosso exército adoptar o hábito
de marchas de costado, que já se usava na Europa, mas era cá
desconhecido, para acabar com os privilégios que certos terços
gozavam de formarem na vanguarda ou em determinados postos e para
introduzir na formatura e disciplina das nossas tropas melhoramentos
e princípios que lhe facilitassem a vitória. Essas novidades foram
mal aceites, custaram muito a ser seguidas, e os chefes superiores
levados de ciúme eram os primeiros a fazerem oposição às ideias
do conde de Schomberg. Daí resultaram ao oficial estrangeiro vários
desgostos que ele suportou sem quebra de zelo, e continuou a servir
sempre com igual valor e actividade, ainda depois de ver o marquês
de Marialva substituir o conde de Atouguia, faltando assim o
governo à promessa que fizera de lhe dar o mando superior do
Alentejo.
Na
campanha de 1662 também o conde de Schomberg teve ocasião de se
assinalar, porque foram de pouca monta as operações realizadas
pelo nosso exército no Alentejo, e alguns sucessos infelizes, que
ali sofremos, podem até certo ponto atribuir-se à turbação
produzida no ânimo do marquês de Marialva pela ideia de que um
general estrangeiro podia murchar-lhe os louros da sua vitória das
Linhas Elvas. Durante todo esse ano, apesar da má vontade do chefe,
prosseguiu o conde de Schomberg no intento de melhorar a disciplina
do exército e na marcha de Elvas para Estremoz, em que o marquês
de Marialva desprezou as indicações do conde, se não estivesse
cego pelo ciúme, poderia reconhecer a vantagem de seguir à risca o
que propunha para as marchas do homem que militara largos anos nas
fileiras dos exércitos bem organizados e adestrados.
Em
1663 foi o conde de Vila Flor, D. Sancho Manuel, encarregado do
governo das armas do Alentejo, e com esse parece terem subido de
ponto as desinteligências com Schomberg, porque, segundo consta,
mais de uma vez esteve este último para se retirar para França,
sendo preciso todo o zelo do general D. Luís de Menezes para que os
dois generais se reconciliassem, e quando o exército saiu de
Estremoz para Évora, o plano de campanha foi estabelecido com
perfeito acordo dos dois. Ao chegarem a Évora Monte e serem
informados da queda de Évora, tiveram os nossos de modificar o
projecto traçado, e o exército português marchou rapidamente
contra D. João de Áustria para ver se conseguia surpreendê-lo.
Quando as nossas tropas chegaram quase perto dos castelhanos, ainda
uma pequena pendência se levantou entre Vila Flor e Schomberg,
porque estando já próxima a noite, queria este último que o exército
a passasse a noite em ordem de batalha e aquele que a passasse à
vontade cobrindo-se com os carros. Schomberg, que conhecia por
experiência os inconvenientes de ter de formar as tropas na presença
do inimigo, insistiu e como todos os oficiais o apoiassem, Vila Flor
cedeu, e desde então foi o mestre de campo general sempre o
encarregado de escolher as posições que o exército devia ocupar
desempenhando-se admiravelmente dessa incumbência. Não tardou a
dar-se a batalha do Ameixial, em que as nossas
tropas ficaram vencedoras (V. Ameixial). Ainda durante
a campanha, o mestre de campo general conde de Schomberg, no cerco
de Évora, teve ensejo de revelar os seus conhecimentos militares
nos entrincheiramentos militares que levantou para cobrir o exército
sitiador, e depois quando o marquês de Marialva e o conde de Vila
Flor regressaram a Lisboa, ficou à testa do governo militar do
Alentejo até ser no ano seguinte nomeado para esse importante posto
o marquês de Marialva. Todos os generais portugueses se mostravam
ciosos do conde, mas principalmente o marquês de Marialva. Além
disso, Schomberg irritou-se deveras por lhe não darem o comando
dizendo que no contrato que fizera, vindo para Portugal, se lhe
assegurara que servia unicamente debaixo das ordens do conde de
Atouguia para se não demitir o general que estava comandando quando
ele veio, e que tendo
cedido já duas vezes do seu direito para não suscitar embaraços
ao governo, considerava ofensiva a persistência em não lhe darem o
comando. Ninguém se atrevia a dizer-lhe a verdade, que era não
haver general português que se prestasse a servir debaixo das suas
ordens. Aceitavam-no como mestre de campo general, exercendo muitas
vezes na sombra o verdadeiro comando, mas queriam que pertencesse a
um compatriota o título de general em chefe.
Em
1664 o marquês de Marialva foi o mais exigente, o que ainda mais
desesperou Schomberg, não o aceitando nem para mestre de campo
general, sendo preciso que se criasse para ele um novo posto,
comandante das tropas estrangeiras ao serviço da coroa portuguesa,
mas felizmente aplanaram-se no princípio do ano imediato, e em
Junho de 1665 o marquês de Marialva e o conde de Schomberg podiam
repartir equitativamente a glória da batalha de Montes Claros,
porque se o primeiro sustentou inabalável à frente da segunda linha o
ímpeto do inimigo, e se reconhecendo com segurança e rapidez o
enfraquecimento da esquerda correu a suportá-la, ao conde de
Schomberg se deve a boa formatura com que as nossas tropas marchavam
e a presteza com que fazendo passar a cavalaria quase toda da
esquerda à direita, pôde oferecer uma importante massa às cargas
dos esquadrões castelhanos ( V. Montes Claros). Em 1666
obteve afinal o conde de Schomberg o governo das armas do Alentejo.
A Guerra da Restauração ainda se alongou até 1668, mas sem grande
calor nem feitos dignos de menção, e concluída a paz voltou o
conde de Schomberg para a França, onde recebeu em 1674 o comando do
exército da Catalunha, sendo elevado a marechal de França no ano
seguinte.