Sousa
de Macedo (D.
António da Costa de).
n. 21 de novembro de 1824.
f. 17 de janeiro de 1892.
Moço
fidalgo com exercício no Paço, comendador da Ordem de Nossa
Senhora da Conceição de Vila Viçosa; bacharel formado em direito
pela Universidade de Coimbra, secretário geral do governo civil de
Leiria, deputado, 1.º oficial da direcção geral de Instrução Pública
do ministério do reino, escritor muito distinto, etc. Nasceu em
Lisboa a 21 de novembro de 1824, onde também faleceu a 17 de janeiro
de 1892. Era filho do 1.° conde de Mesquitela, D. Luís da Costa de
Sousa de Macedo e Albuquerque, e da condessa, sua mulher, D. Maria
Inácia de Saldanha Oliveira e Daun.
Fez
os seus estudos de instrução secundaria no colégio do Dr. Cicouro,
ao tempo o mais conceituado colégio de Lisboa. Passou depois a
Coimbra e fez os exames preparatórios na universidade,
matriculando-se em outubro de 1842, aos dezoito anos de idade, na
faculdade de direito. Fora estudante distinto no colégio do Dr.
Cicouro, e na universidade também, muito se evidenciou pelo seu
talento e aplicação. Em 1849, declarando-se a guerra civil que fez
transformar os académicos em guerreiros, e guerreiros que deram que
falar de si pela sua bravura e heroicidade, D. António da Costa
também se alistou no batalhão académico, que se organizou. Feita
a convenção de Gramido em 30 de junho de 1847, e reaberta a universidade
em agosto seguinte, D. António da Costa voltou a continuar os seus
estudos, tomando o grau de bacharel no ano seguinte.
Em
1851 encetou a sua carreira administrativa sendo nomeado secretário-geral
do distrito de Leiria, e foi aí que ele começou a sua grandiosa
obra da instrução popular, fundando o Centro promotor de instrução
popular, que tantos serviços podia prestar; que se inaugurou
com tão grande entusiasmo, e que infelizmente enfraqueceu e morreu
depois do seu ilustre fundador e presidente D. António de Costa
sair de Leiria. Além desse centro promotor, D. António da Costa
assinalou a sua passagem pelo governo civil daquele distrito,
fundando o jornal O Leiriense, cujo primeiro número saiu no
dia 1 de junho de 1854. Em 1856 foi exonerado a seu pedido do lugar
de secretário geral do distrito de Leiria, tendo deixado da sua
administração um trabalho muito notável, que ofereceu a D. Pedro
V, a Estatística administrativa de Leiria, que é uma obra
prima no seu género. Aquele distrito não se esqueceu dos serviços
e da gratidão que devia a quem tanto trabalhara pelo seu
engrandecimento, e nesse mesmo ano o elegeu deputado às cortes, na
legislatura de 1857-1858, onde D. António tomou assento no grupo
chamado independente. No ano de 1852 havia sido chamado para
acompanhar a rainha D. Maria II, na sua visita ao norte, na
qualidade de secretário administrativo do presidente do Conselho de
Ministros, que era então o marechal duque de Saldanha. Criada em
1859 no Ministério do Reino a direcção geral de Instrução
Publica, foi D. António da Costa um dos candidatos ao concurso para
1.º oficial da nova direcção e despachado para esse lugar por
decreto do 12 de janeiro de 1860. No mesmo ano foi nomeado comissário
régio do Teatro de D. Maria II, lugar que exerceu desde agosto de
1860 até junho de 1861.
Em
1870, quando em 15 de maio se deu o movimento revolucionário
promovido pelo marechal Saldanha, e se formou o ministério,
presidido por ele, o qual ficou conhecido pelo nome de ministério
dos cem dias, D. António da Costa foi chamado para gerir a
pasta da marinha, e decretada em 22 de junho desse ano a criação
do ministério da Instrução Pública, foi D. António da Costa
feito titular dessa pasta, com aplauso de todo o país, que
reconhecia a especial e excepcional competência do novo ministro,
que fora sempre um denodado propagador da instrução popular. E de
facto, D. António da Costa no espaço de sessenta e nove dias, que
tantos foram os que durou o novo ministério, fez profundas
reformas, prestou relevantes serviços à instrução pública,
promulgando o decreto da liberdade do ensino superior, da reforma da
instrução primária, das bibliotecas populares, das escolas
normais, da reorganização do teatro nacional, etc. Em 29 de dezembro
de 1881 foi encarregado por el-rei D. Luís de estudar e coligir
elementos para a reforma da imprensa da universidade. Em 1886, D.
António da Costa, já muito adoentado, viu-se obrigado a pedir a
aposentação do cargo de chefe da repartição de instrução
superior que ocupava no Ministério do Reino. Mais tarde foi-se-lhe
agravando a doença, até que o vitimou.
São
numerosos os livros que deixou publicados, dos quais mencionaremos
os seguintes: As minhas saudades, Coimbra, 1844; é uma
pequena colecção de poesias oferecidas ás senhoras lisbonenses; Moliére,
drama histórico original português em 5 actos, Lisboa, 1857;
acerca desta composição deve ler se
o juízo crítico, que vem na Revista Universal Lisbonense,
vol. III da 2.ª série, pág. 272; Estatística do Distrito
Administrativo de Leiria, Leiria, 1855; dividida nas seguintes
partes: 1.ª População; 2.ª Industria; 3.ª Administração
financeira; 4.ª Beneficência; 5.ª Instrução
publica; 6.ª Justiça criminal; com 53 mapas
ilustrativos; Adolfo e Virgínia, ou a Festa Pastoril, poema
campestre, inserto no Ramalhete, tomo V, 1812, pág. 159 e
seguintes, assinado só com as iniciais D. A. da C; Três
mundos; No Minho; Memória sobre a instrução primária
em Portugal; foi publicada anónima, na Revista Académica
de Coimbra, 1845, de pág. 311 a 358; O Casamento civil: resposta
ao sr. Alexandre Herculano, Lisboa, 1865; 2.ª edição, 1866; O
Casamento civil perante a Carta Constitucional, segunda resposta ao
sr. Alexandre Herculano, Lisboa, 1865; O Casamento civil
perante os princípios, terceira resposta idem; no mesmo ano; Auroras
da instrução popular; Necessidade dum ministério de instrução
publica; Instituição de ouro; O Cristianismo e o
Progresso; Historia do Marechal Saldanha; Historia da Instrução
popular em Portugal, Porto, 2.ª edição, 1900; Ao meu pais,
um folheto documentado, tendo por fim justificar-se duma arguição
da comissão de inquérito ás secretarias, que o acusava de faltar
um largo período nos trabalhos burocráticos, Lisboa, 1880; etc.
Tem uma extensa nota histórica e biográfica de Júlio César,
na versão dos Fastos, de Ovídio, por António Feliciano de
Castilho, no tomo II, de pág. 621 a 650. Colaborou também nalguns
jornais políticos e literários de Lisboa e Coimbra, etc. Entre
manuscritos que deixou, encontrou-se uma obra completa, pronta para
entrar no prelo, o seu último trabalho, A mulher em Portugal.