Portugal - Dicionário

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Távora (Lourenço Pires de).

 

n.       1510.
f.        15 de fevereiro de 1573.

 

Um dos mais célebres diplomatas portugueses do século 16.

Nasceu em Almada no ano de 1510, faleceu em Caparica a 15 de fevereiro de 1573. Era filho de Cristóvão de Távora e de D. Francisca de Sousa. 

Estreou-se na carreira das armas, militando em Arzila no tempo em que esta praça era comandada por António da Silveira. Em 1535 acompanhou, por ordem de D. João III, o infante D. Luís à expedição de Tunes, e pouco tempo depois entrou na carreira diplomática, sendo enviado a Londres, como embaixador para obter a mão da rainha Maria Tudor para o infante D. Luís, negócio que se malogrou, porque Carlos V, sendo seu filho D. Filipe viúvo, pediu para ele a mão da rainha de Inglaterra, que lhe foi concedida. Partindo para a Índia como capitão-mor das naus do reino no tempo em que governava a Índia D. João de Castro, chegou na ocasião em que estava mais acesa a luta em torno das muralhas de Diu, segunda vez sitiada pelos turcos e defendida intrepidamente por D. João de Mascarenhas. Meteu-se numa galeota com uns quarenta homens, e foi partilhar os perigos dos sitiados, portando-se com tanto valor que na batalha em que D. João de Castro fez levantar o cerco da fortaleza, foi ele o primeiro que subiu à trincheira.

Voltando a Portugal teve de continuar a série das suas embaixadas, e foi a Viena de Áustria para conseguir que a rainha desistisse de reclamar a saída de Portugal da infanta D. Maria, filha da rainha D. Leonor e do rei D. Manuel, conseguindo efectivamente evitar que essas reclamações fossem por diante. Em 1552 foi a Madrid pedir em casamento para o príncipe D. João, filho de D. João III, a mão da princesa D. Joana, filha de Carlos V, que depois acompanhou a Portugal, quando ela veio desposar o herdeiro do trono. Depois da morte de D. João III foi Lourenço Pires de Távora nomeado pela rainha regente D. Catarina, embaixador a Roma, e encarregado de trabalhar para que o cardeal D. Henrique fosse eleito papa, manobrou com tal habilidade que, por morte de Paulo IV obteve para o príncipe português 15 votos no conclave que afinal elegeu Pio IV, Já trabalhava nesse mesmo sentido quando estava embaixador em Madrid, mas não encontrando apoio nas grandes potências, teve de desistir. O que obteve em compensação para o cardeal D. Henrique foram as honras da legacia em Portugal. Nessa embaixada em Roma, que durou largos anos, não só Lourenço Pires de Távora conseguiu vantagens importantes para a coroa portuguesa, muitas vezes negociadas espontaneamente por ele, sem instruções do seu governo, mas também adquiriu tanta fama de hábil negociador, que Filipe lI lhe pediu que se encarregasse oficialmente de alguns negócios que ele trazia pendentes, e o papa Pio IV pelas suas indicações se guiava na questão da reunião do Concilio de Trento, de forma que tão necessário se lhe tornou o embaixador português que a regente, a seu pedido, o reconduziu no cargo, e quando ele afinal partiu, mandou-o Pio IV acompanhar por uma guarda de honra até á fronteira, deu-lhe imensas provas de distinção, a recomendou-o eficazmente ao duque de Urbino e à senhoria de Veneza, cujas terras tinha de atravessar. 

Lourenço Pires de Távora chegou a Lisboa, quando estava acesa a luta entre a rainha regente D. Catarina e o cardeal D. Henrique, que pretendia alcançar a regência. O cardeal era protegido vivamente pelos jesuítas e pela corte de Roma, e Lourenço Pires de Távora apoiou-o também com todo o seu talento, o seu prestígio e o seu grande conhecimento dos negócios. Lourenço Pires de Távora, efectivamente, não só era afeiçoado ao papa, que apesar de ter sido guerreado por ele no conclave, o enchia de distinções, mas também era grande amigo dos jesuítas, como sucedia a muitos espíritos superiores do seu tempo, que se deixaram deslumbrar pela concepção verdadeiramente grandiosa do fundador da ordem. Lourenço Pires de Távora conseguiu fazer subir ao poder o seu inepto protegido, mas não tardou a arrepender-se. Os jesuítas não tinham trabalhado a favor de D. Henrique, para depois o largarem e deixarem nas mãos de homem de tal valor e de tal energia como Lourenço Pires de Távora. Este apresentou ao cardeal uma Memória sobre os interesses da monarquia, obra excelente que D. Manuel de Meneses publica na sua Crónica de el-rei D. Sebastião, e que era um verdadeiro programa de ministério. A apresentação deste documento foi o sinal da sua queda. Com os jesuítas então nem Lourenço Pires de Távora podia lutar, e o facto de ele os ter protegido nada valia, porque a ingratidão era, pode dizer-se, a primeira das máximas jesuíticas 

Em 1564 foi Lourenço Pires de Távora, o grande diplomata, nomeado capitão de Tânger, lugar muito honroso decerto, mas que podia ser facilmente exercido por outro qualquer. Para ali partiu, e ali sustentou um cerco apertado, mostrando nessas procelas de guerra o valor, de que já dera provas quinze anos antes, quando se batera cavalheirescamente em Diu contra os inimigos do nosso domínio. Nessa terra de África fizera as suas primeiras armas, nessa terra de África pode dizer-se que se estreara na carreira diplomática, porque antes ainda de ser enviado a Inglaterra, já estivera como embaixador na corte do soberano de Fez. Em 1566 voltou à corte, mas desiludido e desenganado, retirou-se para Caparica, solar da sua casa, e onde em 1558 fundara um convento de frades capuchos da Arrábida, de que era padroeiro e ali faleceu, sendo enterrado no mesmo convento. 

Além da Memória já citada, saíram impressos em vários livros muitos dos seus numerosos ofícios, as instruções que deu, quando era embaixador em Roma, a António Pinto que foi como embaixador ao Preste João, e hoje estão publicados também nas várias colecções diplomáticas muitos dos ofícios que ele escreveu de Roma, de Madrid, de Bruxelas, de Londres, onde esteve como embaixador, e de Tânger, de Arzila, etc. onde esteve como capitão.

 

 

 

 

Lourenço Pires de Távora
Infopédia

 

 

 

 

 

Portugal - Dicionário Histórico, Corográfico, Heráldico, Biográfico, Bibliográfico, Numismático e Artístico,
Volume VII, pág. 
54.

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