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Valdez (António de Campos).
n. 5
de agosto de 1837-
f. 8 de maio de 1889.
Antigo empresário do teatro de S. Carlos. Nasceu em Alcácer do Sal
a 5 de agosto de 1837, faleceu em Paris a 8 de maio de 1889. Era
filho do desembargador da Relação Francisco Manuel de Campos e de
D. Henriqueta Gomes Travassos Valdez. Aparentado por sua mãe e por
seu pai com as distintas famílias dos Bonfins, Penalva de Alva e
outras,
Campos Valdez foi destinado desde muito novo à carreira militar, e
cursou as aulas da Escola Politécnica. Mas não era para o
exército que o chamava a sua vocação, era para o teatro. Estudava
com muito mais entusiasmo a musica do que as matemáticas, fazia
grandes progressos no piano, e aos 20 anos era já um pianista
distinto e um músico erudito. Campos Valdez era assíduo
frequentador do teatro de S. Carlos, e dos frequentadores mais
ardentes e entusiastas Tinha o seu lugar de assinatura no fundo da
plateia, no ultimo banco da geral, e daí se tornava notável ou
pelo entusiasmo com que aplaudia um artista, ou pelo desespero com
que pateava outro. E dava sempre nas vistas, e era já conhecido
como um dos cabeças de motim da plateia de S. Carlos, e era temido
e respeitado pelos artistas, porque Campos Valdez não aplaudia ou
pateava por desfastio, por mau humor, ou por capricho, era um
entendedor a serio e a sua pateada e as suas palavras representavam
uma opinião autorizada, uma crítica a valer, com critério, com
razão. Campos Valdez foi empresário de S. Carlos ainda muito novo;
tinha vinte e quatro anos.
Foi em 1861 quando à empresa Corradini sucedeu a empresa Frescata
& C.ª A companhia era ele. Desde o primeiro dia em que entrou
no palco do teatro como empresário, logo a sua individualidade se
desenhou, a salutar influencia das suas raras aptidões sentiu-se
imediatamente. E desde 1861 até 1873, Valdez foi sempre empresário
do teatro de S. Carlos. Durante esses doze anos apresentou ao
publico de Lisboa os mais notáveis cantores de então, o Mongini, o
Naudim, a Lotti, a Galletti, o Fancelli, o Junga, a Borghi Mamo, a
Volpini, a Rei Bala, as irmãs Marchisios, o Petit, o Squartia, o
Pandolphini, a Frici, o Cotogni, a Benza, a Harris, o Massini, a
Ferruci, etc., fez-lhe operas importantes, entre outras, o Fausto,
a Africana, a Hebreia, a Linda de Chamounix, A Ione,
o Ruy Blas, o Calígula, o Arco de Santa Ana, o
Eurico, a Semiramis, a Vestal, etc. Apresentou
também o mais formoso grupo de bailarinas que Lisboa tem
contemplado, o corpo de baile Vienense, que era dirigido por Katti
Laner, uma celebridade corográfica, e de que fazia parte a Bertha
Linda, uma austríaca não menos celebre.
Em 1873, já fatigado de ser empresário, deixou o teatro, para
descansar algum tempo. Este descanso durou 10 anos, durante os quais
houve pelo teatro uma serie de empresas de transição que duravam
pouco Em 1833, rescindido o contrato à empresa Freitas Brito, que
foi a que mais tempo se aguentou, que mais provas deu de aptidão, e
que então prestou mais serviços ao público. Valdez foi chamado
para administrar por conta do governo o teatro durante um ano, e em
1884 posto o teatro a concurso, era-lhe adjudicado por 5 anos,
adjudicação que terminou em abril de 1889, e sendo então
renovado, em concurso, tornou a ser-lhe dado o teatro, dias antes da
sua morte. Nestes últimos cinco anos da sua última gerência do
teatro de S. Carlos, Campos Valdez, como pressentindo próximo o seu
fim, quis assinalar a sua administração por uma serie de novidades
artísticas importantíssimas, e começou a encher o teatro de
notabilidades; trouxe a Lisboa a celebre contralto Patti, em duas
épocas, a Devriés, a Nevada, a Van Zaudt, a Theodorini, a
Tetrazini, o Massini, o Devoyod, o Batistini, etc. Abriu as portas
do teatro a artistas e a óperas portuguesas, aos irmãos António e
Francisco Andrade, a Regina Paccini, à Derelita, do visconde de
Arneiro, à Lauriana e aos Dórias, de Augusto Machado; à D.
Branca, de Alfredo Keil, sem contar com as obras-primas da música
moderna que pôs em cena, como a Carmen, o Rei de Lahore,
o Romeu e Julieta, de Gounod; os Pescadores de Pérolas,
a Lakmé, a Gioconda, e por ultimo o Otelo, de
Verdi.
Campos Valdez faleceu no Grand Hotel, em Paris, quase
repentinamente. A sua morte causou profunda sensação em todos os
portugueses residentes naquela cidade, assistindo quase todos aos
ofícios fúnebres, em que tomaram parte espontaneamente, como
cantores, o tenor Talazac e o baixo Lorrain. Valdez era casado com
D. Maria Guerra de Campos Valdez. A sua casa de Alcácer do Sal era
uma das mais importantes e ricas daquele concelho. Campos Valdez era
ali muito estimado, e exerceu alguns cargos administrativos; várias
vezes aquele concelho o elegeu deputado, e o de Santiago do Cacem
também o elegeu numa legislatura. Estava filiado no partido
progressista, mas pouca atenção dava à política, porque a sua
grande paixão eram a música e o teatro.
António de Campos Valdez Ocidente nº 375 de 21 de maio de 1899
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