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Valente do Couto (Mateus).
n. 19
de novembro de 1770.
f. 3 de dezembro de 1818.
Fidalgo cavaleiro da Casa Real,
comendador da Ordem de S Bento de Avis, conselheiro de Estado,
coronel de engenheiros, bacharel formado em matemática pela
Universidade de Coimbra, etc. Nasceu na praça de Macapá sita na
embocadura do rio Amazonas, na capitania, hoje província do Pará,
a 19 de novembro de 1770; faleceu a 3 de dezembro de 1818. Era filho
de António Dinis do Couto Valente e de D. Margarida Josefa da
Fonseca, naturais de Mazagão, que foram obrigados a sair dali
quando em 1769 abandonámos essa praça.
Estudando os primeiros rudimentos com
seu tio Luís da Fonseca Zuzarte, passou, quando tinha onze anos de
idade, para a capital do Grão Pará, onde cursou as aulas de
línguas, partindo depois para Portugal em resultado das ordens do
governo ao capitão general, mandando-lhe escolher dois rapazes que
mostrassem talento, para irem estudar medicina na Universidade do
Coimbra. Chegando a Lisboa, aos dezanove anos, matriculou-se na
universidade como pensionista da Casa Pia, e demonstrando logo no
1.º ano de matemática (obrigatório para os alunos da faculdade de
medicina), extraordinário engenho e talento para essa
especialidade, o intendente da polícia Pina Manique lhe propôs
graduar-se em matemática sem abandonar o estudo das ciências médicas,
oferecendo-lhe ao mesmo tempo os subsídios pecuniários de que para
isso carecesse. Aceita de bom grado a proposta pelo jovem estudante.
Valente do Couto concluiu com muita distinção a sua formatura em
matemática no ano de 1795, e continuou depois a estudar o curso
médico, até que vindo passar umas férias a Lisboa, lhe foi
oferecido pelo ministro da marinha D. Rodrigo de Sousa Coutinho, o
posto de 2.º tenente da armada.
Valente de Couto que nenhuma
inclinação tinha para a carreira de medicina, aceitou gostoso o
oferecimento que lhe faziam, e em 1797 era despachado oficial da
marinha. Depois de algumas viagens de curta duração foi em 1798
nomeado partidista do Observatório Real de Marinha, que então se
criara, e por esse tempo escreveu: Instruções e regras
práticas derivadas da teoria da construção naval, relativas à
construção, carregação e manobra do navio, que mais tarde
foram publicadas na História e Memórias da Academia Real das
Ciências de Lisboa, no tomo III, parte 2.ª. De partidista
passou no fim de um ano a ajudante do oficial encarregado das
efemérides náuticas, e em 13 de outubro de 1800 foi nomeado lente
substituto das duas academias reais de marinha e dos guardas
marinhas, recebendo ao mesmo tempo o posto de 1.º tenente. Dentro
em pouco passou a substituto ordinário, e em 25 de agosto de 1803
foi transferido com o posto de capitão para o corpo de engenheiros
do exército. Promovido a lente proprietário da Academia Real de
Marinha, foi depois nomeado diretor do Observatório, lugar que
conservou quando no ano de 1821 se jubilou como lente. Além destes
cargos, Valente do Couto fez parte de várias comissões
importantes, entre as quais citaremos a que foi encarregada de
uniformizar o sistema metrológico, a de propor a melhor fórmula da
arqueação dos navios, a de escrever o plano de estudos militares,
etc. Foi sócio efetivo durante muitos anos e diretor de classe da
Academia Real das Ciências, sócio agregado da Sociedade de
Ciências Médicas da mesma cidade, e censor régio da Mesa do
Desembargo do Paço para a censura dos livros.
Bibliografia: Tratado de
trigonometria retilínea e esférica, Lisboa, 1808; 2.ª
edição, publicada por ordem da Academia, 1819; 3.ª edição, em
1825, com uma estampa; Princípios de Ótica, aplicados à
construção dos instrumentos astronómicos, pura uso dos alunos que
frequentam o Observatório de Marinha, publicado de ordem da
Academia, Lisboa, 1836, com seis estampas; Astronomia esférica e
náutica, publicada por ordem da Academia, 1839, com sete
estampas; Breve exposição do sistema métrico decimal,
1820; saiu anónimo; Segunda parte do calculo das notações
(a 1.ª é de Francisco Simões Margiochi), no tomo II, parte 2.ª
da História e Memórias da Academia; Memória em que se
pretende dar a solução de um programa de análise para 1812,
idem; Breve ensaio sobre a dedução filosófica das operações
algébricas, idem; Memória em que se pretende dar a
solução do programa de astronomia proposto em 1820; no tomo
VIII, parte 1.ª; Resposta do parecer sobre a arqueação dos
navios, no tomo I, parte 2.ª da 2.ª serie das Memórias,
1848, pág. 1 a 13; Memória sobre os princípios em que se deve
fundar qualquer método de calcular a longitude geográfica de um
lugar; no tomo II, parte 1.ª da 2.ª serie, 1818, pág. 301 a
316. Deixou manuscritas várias obras científicas, mais ou menos
importantes, versando principalmente sobre diversos ramos das
matemáticas; muitas consultas e pareceres acerca de assumptos em
que foi mandado ouvir pelo governo ou pela Academia, varias poesias
fugitivas, etc. Fez o seu Elogio histórico o padre Francisco
Recreio, recitado na sessão literária de 9 de maio do ano de 1819,
na Academia Real das Ciências.
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