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Vasconcelos (Cipriano de Figueiredo
e).
n.
f. [ 1606 ].
Celebre patriota, a cuja energia se
deve a heroica resistência que a ilha Terceira opôs às armas de
Filipe II de Espanha, mantendo intemerata a bandeira de D. António,
prior do Crato. Nasceu em Alcochete, sendo filho de Sebastião Gomes
de Figueiredo e de D. Antónia de Vasconcelos.
Era da casa dos condes de Vimioso,
muito dedicado partidário do prior do Crato, e este, por
conseguinte, logo que assumiu o título e a autoridade de rei de
Portugal, mandou-o como regedor para a ilha Terceira. Foi uma feliz
nomeação, tanto mais que D. Filipe II descuidou-se, e não deu
atenção à opinião de D. António de Castro e de outros fidalgos
portugueses, que tinham seguido o seu partido e aconselhavam o
marquês de Santa Cruz e o duque de Medina Sidónia que enviassem
algum navio à ilha Terceira, e a segurassem, porque podia ser um
baluarte para a resistência patriótica. Quando Filipe II foi
proclamado na ilha de S. Miguel, já não era tempo. Cipriano de
Figueiredo mantinha a ilha Terceira com energia no domínio de D.
António, auxiliavam-no os frades franciscanos, e tão entusiasmados
estavam os habitantes da ilha pela causa do prior do Crato, que saiu
caro aos padres jesuítas o quererem opor-se à corrente. D. Filipe
II nomeou Ambrósio da Aguiar para governador da ilha Terceira e
Jorge Correia para corregedor. Tentaram eles desembarcar na ilha,
mas foram logo presos, e Cipriano de Figueiredo teve imenso trabalho
para os livrar da fúria dos habitantes. D. Pedro Valdez tentou
tomar a ilha com uma pequena esquadra, e desembarcou forças
relativamente importantes. Marchou contra elas Cipriano de
Figueiredo, o qual usando do estratagema que ficou celebre de
arrojar contra elas manadas de vacas bravas, que lançaram a
perturbação nas suas fileiras, as quais foram depois postas em
debandada pelos valentes açorianos, conseguiu destroçar os
inimigos, e obrigar os espanhóis a uma precipitada fuga. D.
António teve porém a má inspiração de mandar governar a ilha
Manuel da Silva, que fez conde de Torres Vedras. Diz Camilo Castelo
Branco que D. António não foi ingrato com Cipriano de Figueiredo,
pois que o conservou como corregedor, dando a Manuel da Silva o
cargo de governador; mas, como governador e corregedor é que
Cipriano de Figueiredo fizera a maravilha de sustentar a Terceira
contra os espanhóis. Tirar-lhe a direção suprema da defesa era um
erro capital. Quando D. António, que estivera algum tempo naquela
ilha, partiu para França depois da perda da esquadra de Strozzi,
levou consigo Cipriano de Figueiredo e Vasconcelos, a quem fez conde
de S. Sebastião, em memória do destroço de Pedro Valdez, que fora
efetivamente batido junto da pequena vila de S. Sebastião. Cipriano
de Vasconcelos viu morrer D. António, e entrou ao serviço da
França Foi a Itália em 1601 para levar ao grão duque da Toscania
uma carta de Maria de Medicis, e voltando para França, foi residir
ao pé de Lagnay, num sítio chamado Fontanies, onde morreu depois
de ter entrado numa campanha, em que recebeu umas poucas de
feridas.
A Cipriano de Figueiredo se atribui
um livro intitulado Resposta que os Três Estados do reino de
Portugal, a saber: Nobreza, Clerezia e Povo mandaram a D. João de
Castro sobre um discurso que lhes dirigiu sobre a vinda e
aparecimento del rei D. Sebastião. Este livro, publicado em
1603, é com toda a probabilidade de Cipriano de Figueiredo, não
só porque o ex corregedor da Terceira esteve frequentes vezes em
conflito com D. João de Castro, como se sabe pela apologia que lhe
escreveu a favor de D. António contra D. João de Castro, quando
este tomou o partido da duquesa de Bragança, mas também porque
até nesse livro veio transcrita a carta que o mesmo Cipriano de
Figueiredo escreveu a D. Filipe II para lhe explicar os motivos que
o fizeram seguir a causa de D. António e ainda por muitas outras
suspeitas, que dão a este facto o caracter de evidencia.
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