|
|
|
Vasconcelos (Ernesto Júlio de
Carvalho).
n. 17
de setembro de 1852.
f. [ 15 de novembro de 1930
].
Capitão-de-mar-e-guerra, engenheiro hidrográfico,
professor da Escola Naval, sócio da Sociedade de Geografia, de que
foi secretário, jornalista, etc.
Nasceu a 17 de setembro de 1852;
assentou praça em 5 de fevereiro de 1864, sendo promovido a
guarda-marinha em 20 de outubro de 1871; a segundo-tenente em 11 de
abril de 187t; a primeiro-tenente em 11 de dezembro de 1881, a
capitão tenente em 2 de julho de 1891, a capitão-de-fragata em 28
de março de 1910, sendo atualmente capitão-de-mar-e-guerra. Foi
secretário da comissão de Cartografia. Como oficial da armada
obteve Ernesto de Vasconcelos permissão para estudar o curso de
engenheiro hidrográfico, que completou tendo depois praticado nos
observatórios astronómico e meteorológico, e tomado parte no
levantamento da Carta da Barra de Lisboa e do rio Guadiana. Pelos
seus trabalhos geográficos foi chamado a fazer parte da comissão
de Cartografia, onde deu notável impulso à publicação e
elaboração dos mapas das nossas províncias de África,
nomeadamente as de Cabo Verde e S. Tomé e Príncipe, podendo
dizer-se que, para estas duas colonias, representou o mesmo papel
que o marquês de Sá da Bandeira, ao elaborar o único mapa de
Angola de que por muitos anos se serviu a nossa
administração.
Concluídas estas cartas, voltou para
Angola, elaborando, com mais dois outros funcionários da comissão,
a carta de Angola contendo indicações de produção e salubridade
o que lhe valeu, estando em Londres, uma polémica interessante com
John Cole, o map curator da Sociedade de Geografia de
Londres. Pouco depois, na sua qualidade de hidrógrafo, a sua
paixão pelos estudos da eletricidade e o facto de ser um dos
fundadores da Sociedade internacional dos eletricistas de Paris,
levou-o a aceitar o espinhoso cargo de engenheiro representante do
governo português para a construção e lançamento dos cabos
submarinos desde Cádis até ao Cabo da Boa Esperança tocando em
todas as colónias portuguesas. Foi o primeiro oficial da nossa
armada que tomou parte em operações de oceanografia, sobretudo no
estudo do perfil hidrográfico entre a foz do Gâmbia e a Praia do
Cabo Verde em que se realizaram sondagens com 4.000 metros de
profundidade. Pelo serviço que prestou nesta comissão que durou
ano e meio, foi excecionalmente elogiado pela empresa concessionária
e pelo governo português, e o seu relatório foi devidamente
apreciada. Desde essa época tem desempenhado importantíssimas
comissões em Portugal e no estrangeiro, onde representou
oficialmente o país nos congressos geográficos de Berna, Londres e
Berlim, tomando parte nos trabalhos de diversas secções, em que
sempre procurou e conseguiu levantar o nome português. Tratando-se
de regular a fronteira das águas jurisdicionais, na foz do
Guadiana, foi nomeado comissário do governo português para tratar
com os delegados espanhóis.
A questão das fronteiras de Timor
dera origem a vários diferendos com a Holanda, e foi também
Ernesto de Vasconcelos que, com o almirante Hermenegildo Capelo,
conseguiu alcançar as maiores vantagens para a nossa causa, e fazer
uma convenção que em 1907 ia ser presente ao parlamento Tendo a
Inglaterra e Portugal concordado em submeter à arbitragem do rei de
Itália a questão da fronteira de Baroce, havia já Ernesto de
Vasconcelos, como chefe da secção do Ministério do Ultramar, que
trata dos negócios consulares e diplomáticos, elaborado uma
notável memória em defesa dos nossos direitos, e que foi mandada
imprimir pelo sr. conselheiro Teixeira de Sousa, sendo ministro da
Marinha. Esse mesmo ministro mandou então a Londres uma missão
presidida pelo almirante Capelo, e de que fazia parto Ernesto de
Vasconcelos, para tratar com os delegados do governo britânico da
elaboração do compromisso arbitral. O papel, que aí representou,
foi proeminente e dum fino tato diplomático, conseguindo que a
redação do compromisso fosse o mais favorável aos interesses
portugueses. A orientação que depois disso deu ao processo adotado
para a nossa defesa perante o árbitro, denuncia uma rara habilidade
diplomática e em tão pouco tempo, o seu plano, posto em pratica,
quer em Lisboa quer em Angola, deu um ótimo resultado, porque em
face das memórias que, com outro colaborador, teve de escrever,
para sustentar os nossos direitos, o árbitro deu razão completa
às nossas reclamações, conquistando-se para a província de
Angola uma área territorial de ¼ da área total da
província.
Os serviços que tem prestado à
Sociedade de Geografia são também de grande valor. Além dos
muitos e notáveis melhoramentos que tem ali introduzido pela sua
perseverante ação, a ele se deve a exposição da Cartografia e a
exposição Colonial, realizada em janeiro do ano de 1907, de que a
primeira foi uma verdadeira revelação pelos documentes históricos
que foi desencantar nos arquivos. Os seus trabalhos sobre colónias
e sobre geografia tornaram-no conhecido no estrangeiro, e o dr. Mill
convidou-o para colaborar na grande obra a Nova Geografia
Internacional, e a Enciclopédia Britânica pediu-lho
também a sua colaboração por parte de Portugal e colónias. O
mesmo fez a casa Larousse de Paris. O sr. Ernesto de Vasconcelos
pugnou muito pela fundação da Escola Colonial, que foi uma das
medidas de maior alcance, decretadas pelos últimos governos
monárquicos, onde o distinto oficial de marinha, ainda hoje é
professor, regendo a 1.ª cadeira Geografia Colonial. O sr. Ernesto
de Vasconcelos foi secretário-geral do Congresso da Sociedade de
Geografia, em 1901. Tem a carta de conselheiro do regime deposto, a
comenda e oficialato das hoje extintas ordens de Santiago e de S.
Bento de Avis; é cavaleiro de 2.ª classe da Ordem Real da Coroa da
Prússia, e possui a medalha de prata de comportamento exemplar.
|
|
|
|
|