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Vieira
(Francisco).
n. 13
de maio de 1765.
f. 2 de maio de 1805.
Pintor
histórico e de paisagem, lente de desenho na Academia do Porto. Era
cognominado Vieira Portuense, por ter nascido nessa cidade, e
para se diferençar doutro seu afamado contemporâneo, conhecido
pelo nome de Vieira Lusitano, por ter nascido em Lisboa.
Nasceu
portanto, no Porto a 13 de maio de 1765, faleceu na ilha da
Madeira a 2 de maio de 1805. Era filho de Domingos Francisco Vieira
e de Maria Joaquina.
Seu pai reunia à profissão da arte
da pintura, em que dizem não era dos de menos conta, segundo
a frase tradicional. Começando desde criança a dar mostras da
grande vocação para o desenho e para a pintura, o pai logo que o
viu instruído nas primeiras letras e tendo-o provavelmente iniciado
nos rudimentos da arte, entregou-o à direcção de João Grama,
celebre pintor, que se supõe de origem alemã, mas nascido em
Portugal. Este artista foi quem primeiro guiou o jovem Vieira no
estudo da pintura. Mais tarde, achando-se no Porto com outro notável
pintor que primava no género das paisagens, João Pilenan ou
Pillement, de nação francesa, recebeu também algumas lições o
moço Vieira. Este, porém, não se contentando com a instrução já
adquirida e desejando aprofundá-la, resolveu em vez da frequentar a
aula publica de desenho, que por essa tempo existia no Porto, vir
para Lisboa em 1784 matricular-se na outra aula da mesma espécie,
que pouco antes fora estabelecida pala rainha D. Maria I, e da que
era director e professor Joaquim Manuel da Rocha.
Esta escola de desenho de figura e história funcionava com outra de
arquitectura civil, num pavimento baixo do convento dos Caetanos,
onde está há muitos anos instalado o Conservatório. Provavelmente
a ideia do moço estudante era obter lugar entre os alunos que por
concessão do governo e como pensionistas do Estado deviam partir
para Roma, mas ou porque lhe faltassem padrinhos ou porque já
estivesse preenchida o numero dos escolhidos, Vieira não realizou
como desejava aquele seu projecto. O que não pôde alcançar em
Lisboa, conseguiu-o porém, no Porto, e a junta da direcção da
Companhia Geral das Vinhas do Alto Douro, tomando-o sob a sua protecção,
mandou-lhe abonar, do seu cofre, a pensão anual de 300$000 reis
para lhe ser paga durante o tempo que precisasse demorar-se em Roma
até à conclusão dos seus estudos.
Em 1789 partiu para a Itália, e ao
chegar àquela cidade, tratou de escolher mestre capaz de o guiar na
carreira a que se destinava, e preferindo Domingos Corvi, desenhador
de grande correcção mas de feio colorido, de cujas lições tirou
grande proveito, e logo em 1791 obteve na academia romana um
primeiro
prémio em roupas. Para
aumentar mais os seus conhecimentos artísticos, percorreu as
principais cidades da Itália, visitando os seus mais notáveis edifícios
e galerias, copiando para exercício as obras que mais entusiasmo
lhe causavam, e deste modo formou uma grande quantidade de livros
que trouxe consigo quando recolheu a Portugal, e que eram evidentes
provas do seu estudo e da sua aplicação. Tinha ele adoptado de
preferência, por mais conforme ao seu gosto, a maneira e estilo
mimoso e delicado de Albano e de Guido Reni, mas querendo estudar
também o colorido de Corregio, dirigiu-se a Parma para copiar o
magnifico quadro de S. Jerónimo que existe na galeria
publica da referida cidade, e que é considerado uma das melhores
produções do exímio chefe da escola lombarda. A cópia feita por
Vieira é qualificada de excelente, mereceu os melhores elogios de
Taborda e do conde de Raczynski. Depois de ter estado em casa do
visconde de Balsemão, passou para a galeria dos duques de Palmela,
de que faz parte há muitos anos. Durante a sua permanência em
Parma, recebeu dos membros da academia grandes provas de consideração
pelo seu talento. Foi ali recebido pelas famílias da alta
aristocracia, chegando a dar lições de desenho à filha do grão-duque,
para quem naturalmente o jovem pintor português não foi
indiferente, e tanto mais que chegou a retratá-la, e tão
perfeito ficou o
retrato, que lhe deu fama entre a primeira sociedade de Parma. Fez
mais retratos, pelos quais auferiu bons proventos. Voltando a Roma
em 1791, demorou-se ali três anos ocupado sempre no estudo dos
grandes mestres.
Em
1797 saiu de Roma, e na companhia de Bartolomeu António Calixto,
pensionista na Casa Pia, que também ali fora aperfeiçoar-se,
percorreram juntos parte da Alemanha, até que Calixto veio para
Lisboa, e Vieira ficou em Dresden, fazendo estudos na notável
galeria de pintura daquela cidade, da qual copiou os objectos que
mais lhe prenderam a atenção. Passou a Hamburgo e depois a
Londres, onde se demorou até ao ano de 1801. Travou conhecimento
nesta grande cidade com o insigne gravador Bartholozzi, tomando dele
algumas lições de gravura; essas relações tornaram-se de íntima
amizade, casando mais tarde com uma viúva italiana, moça e rica,
que dizem pertencer à família de Bartholozzi. Fez o retrato deste
artista, e começou então a gravar a água-forte um grande
trabalho, que por embaraços posteriores não chegou a concluir. Em
Londres pintou o Viriato, quadro de notável execução, que
ofereceu ao príncipe regente D. João, mais tarde rei D. João VI,
e foi colocado na galeria do palácio da Ajuda. Desse quadro abriu
Bartholozzi uma bela estampa, assim como outras de diversas composições
do artista português. Para obsequiar o ministro de Portugal naquela
corte, D. João de Almeida MeIo e Castro, depois conde das Galveias,
a quem já conhecera em Roma, e lhe devera muitos favores, compôs
também um primoroso quadro Nossa Senhora da Piedade ou do Descimento
da Cruz, o qual era destinado à capela da embaixada portuguesa
em Londres, mas depois foi colocado no oratório do paço das
Necessidades. Ou nos últimos tempos da sua estada em Londres ou
logo que regressou à pátria, foi Francisco Vieira, por proposta da
Companhia das Vinhas do Alto Douro, provido no lugar de lente na
aula de desenho no Porto, vago por ter sido dispensado desse exercício
o professor António Fernandes Jácome. tendo a nomeação a data de
20 de setembro de 1800, mas parece, que se chegou a tomar posse da
cadeira, pouco tempo se demorou na sua regência, porque vem para
Lisboa no princípio de 1801.
Nessa
época D. Rodrigo de Sonsa Coutinho, depois conde de Linhares, sendo
transferido da pasta da marinha para a da fazenda e nomeado
inspector da regia oficina tipográfica, ampliou este
estabelecimento, que recebeu então o nome de Imprensa Regia, e
por decreto de 7 de dezembro do mesmo ano e pensou em fazer nela uma
edição magnifica e luxuosa dos Lusíadas, ilustrada com
estampas representativas dos passes mais notáveis do poema. Esse
pensamento não chegou a realizar-se por circunstâncias
imprevistas; entretanto, Francisco Vieira foi encarregado de fazer
as composições, motivo porque veio a Lisboa onde se encontrou com
Bartholozzi, que devia de executar as gravuras. Francisco Vieira
chegou a fazer onze quadros ou esboços a óleo, de passes dos Lusíadas,
que não chegaram a ser gravados, mas que foram adquiridos pelo
duque de Palmela, passando a fazer parte da soberba galeria de
pintura desta nobre casa. Estando o insigne artista em Lisboa em
1802, na ocasião em que tudo se preparava para solenizar com
grandes festas a paz geral de Amiens, que fora assinada em 27 de março
daquele ano, o senado da câmara lhe encomendou um quadro alegórico
para a sumptuosa festividade que devia realizar-se na igreja de S.
Domingos. Nesse quadro que Vieira executou com grande rapidez e que
foi muito aplaudido, estava no centro a monarquia lusitana
representada na figura duma gentil matrona com atributos adequados,
tendo pendente sobre o peito o retrato do príncipe regente e
servindo-lhe de cortejo outras figuras que representavam as virtudes
e as artes igualmente caracterizados. Os ministros D. João de
Almeida e visconde de Anadia, apreciando igualmente o mérito de
Vieira, falaram a seu respeite ao príncipe regente, que a 28 de
junho de 1802 assinou um decreto nomeando o artista primeiro pintor
da real câmara com a pensão anual de 2.000$000 reis, permitindo-se
lhe a acumulação deste com o emprego de lente da aula do Porto, e
sendo-lhe cometida a obrigação de dirigir e executar juntamente
com o seu colega Domingos António de Sequeira, a quem ficava em
tudo e para tudo equiparado, as obras de pintura que se haviam de
fazer no paço da Ajuda. Para se mostrar digno do alto conceito em
que era tido e das mercês que lhe conferiam, compôs e em breve
concluiu para a galeria real dois formosos quadros que por si sós
bastariam para dar ao autor a reputação de abalizado pintor, e que
representam, um o Desembarque de Vasco da Gama na índia, e
outro D. Inês de Castro ajoelhada com os filhos perante o rei D.
Afonso. Estes quadros foram depois levados com outras pinturas
para e Rio de Janeiro, e dizem que ultimamente existiam numa sala do
palácio de S. Cristóvão no chamado torreão de prata. Pelo
mesmo tempo pintou ainda para o conde de Anadia um magnífico
quadro, D. Filipa de Vilhena, que juntamente com outras produções
de Vieira se admiraram naquela ilustre casa.
Demorando-se
em Lisboa para atender a estes e outros trabalhos, não podia
exercer o magistério no Porto, e por isso a regência da cadeira
foi dada a seu pai Domingos Vieira, que desempenhou essas funções
desde 1 de novembro de 1802 até 30 de junho de 1803, em que se
reformaram os estudos na cidade do Porto, ceando-se a Academia de
Marinha e Comercio e incorporando-se nela a antiga aula de desenho,
que passou a denominar-se Academia de Desenho e Pintura. A aula foi
solenemente inaugurada por Vieira, em cujo acto pronunciou o
seguinte discurso, que em 1803 se publicou em Lisboa: Discurso
feito na abertura da Academia de desenho e pintura na cidade do
Porto, por Francisco Vieira Júnior, lente da mesma academia. No
resto desse ano e por todo o seguinte de 1804, foi, segundo parece,
efectivo na regência da cadeira, dividindo porém o tempo entre os
cuidados do ensino e a execução das obras de arte, a que por
obrigação do serviço ou por encomendas particulares tinha de
satisfazer, e ocupava-se na composição dum quadro em que
representava Duarte Pacheco, Achilles Lusitano, defendendo contra
o Comorim o Passo de Cambaldo destinado a ornar a casa das Descobertas
no palácio de Mafra, quando foi acometido da grave enfermidade,
que em breve o prostrou no tumulo. Esgotados todos os recursos da ciência
para debelar aquele mal, os médicos lhe aconselharam o clima da
Madeira, e obtendo para isso a necessária licença por aviso do 1º
de
abril de 1805, empreendeu a viagem, mas em lugar das melhoras que
esperava, piorou repentinamente, vindo a falecer pouco tempo depois.
Além
dos quadros já citados, mencionaremos os seguintes: S. Sebastião,
que se conservava na galeria do marquês de Borba; uma Saloia,
de capa e lenço na cabeça, que pertencia à casa dos condes de
Anadia; o esboceto a óleo do quadro Viriato que pertenceu a
Silva Oeirense, e O Amor, que estava na casa dos condes de
Anadia, e que Bartholozzi reproduziu pela gravura, e mais duas
paisagens que pertenceram a António Ribeiro Neves e Joaquim Pedro
Celestino Soares. Na capela da ordem terceira de S. Francisco do
Porto há quatro quadros representando: Santa Margarida; Nossa
Senhora da Conceição, Santa Isabel e S. Luís, rei
de França. No museu do Porto também de Vieira um Cristo
crucificado, um S. João, a Adoração do Santíssimo,
e duas belas paisagens, das quais uma representa Uma mulher
com um menino, que parece defender do ataque dalguns
malfeitores.
Francisco
Vieira falava com facilidade as principais línguas da Europa, e
conhecia perfeitamente a historia das belas artes. Em 1906
comemorou-se no Porto o centenário de Francisco Vieira, fazendo-se
uma exposição das suas obras no salão nobre do teatro de S. João,
a qual se inaugurou no dia 17 de junho. Foi a Sociedade das Belas
Artes que tomou a iniciativa desta comemoração, e conseguiu reunir
para o seu intento uma boa porção de quadros, desenhos, esboços e
gravuras de Vieira Portuense. Nesta exposição figuraram também
algumas gravuras notáveis de Bartholozzi de desenhos de Vieira.
Dona
Filipa de Vilhena, quadro de Vieira Portuense de 1801
O Portal da História
Genealogia
de Francisco Vieira
Geneall.net
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