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Vieira
(Francisco de Matos).
n. 4
de outubro de 1699.
f. 13 de agosto de 1783.
Cavaleiro
professo na Ordem de Santiago da Espada, pintor histórico da Casa
Real, académico de mérito da Academia de S. Lucas em Roma, etc.
Era mais conhecido pelo [nome de] Vieira
Lusitano, por ser natural de Lisboa, onde nasceu a 4 de
outubro de 1699, e faleceu no sitio do Beato António a 13 de agosto
de 1783.
Era
destinado pela sua família à carreira eclesiástica, mas desde
criança revelou tal vocação para o desenho, tanto parecia que as
belas artes o atraíam, e que nelas poderia alcançar de futuro um
grande nome, que essa resolução foi posta de parte. Uns fidalgos
da quinta da Boavista, situada próximo do convento da Luz, quiseram
conhecê-lo, e o pai lá foi apresentá-lo. Nessa quinta é que
Francisco de Matos Vieira se encontrou com uma menina, que foi a sua
primeira e única paixão, e por causa da qual muito havia de sofrer
toda a vida. Esse amor que foi desabrochando por entre os brinquedos
infantis, havia de atormentá-lo, depois, até ao fim da vida.
Vieira ia fazendo progressos no desenho, e o marquês de Abrantes,
que viu alguns desses trabalhos, e estava nomeado embaixador em
Roma, propôs-lhe levá-lo consigo e protege-lo, para que ele
pudesse aperfeiçoar-se na arte, para que mostrava tão evidente
vocação. A família de Vieira aceitou a proposta, e a criança foi
estudando regularmente com um professor, cujo nome se ignora, até
que a 16 de Janeiro de 1712 saiu de Lisboa na companhia do diplomata
português com destino à capital italiana. O
navio que o conduzia sofreu um violento temporal defronte de
Cartagena, mas felizmente chegou a porto de salvamento.
Em
Roma foi discípulo de Lutti, e seguindo as indicações deste
professor, estudou os quadros dos Caraches da galeria dos Farnésios,
frequentou as academias nocturnas, e procurou com grande ardor
aproveitar utilmente e tempo, mas o marquês de Abrantes lembrou-se
de o distrair desses trabalhos encarregando-o de lhe fazer desenhos
de todos os festejos e funções religiosas que se efectuavam em
Roma, de todos os ornamentos e peças que serviam de adorno aos
altares da basílica de S. Pedro, do museu do cardeal de Alpedrinha,
e satisfeitas todas estas vontades, ainda o marquês de Abrantes o
mandou copiar os panos de Arrás, os candelabros, os móveis e tudo
quanto guarnecia a sala principal do palácio da embaixada, bem como
tirar um desenho da sua carruagem. Nesta altura estava o diplomata
português quase em vésperas de regressar a Portugal, e queria
trazer consigo e seu protegido, ao qual comunicou a sua intenção.
Vieira recebeu grande desgosto ao saber de tal ideia, porque na
verdade, pouco aproveitara com a sua estada em Roma, e pediu-lhe
para se demorar mais algum tempo, por ser o seu ardente desejo
aperfeiçoar-se na pintura. O marquês de Abrantes não gostou do
pedido, e parece mesmo que tratou desabridamente o seu protegido;
afinal, reconhecendo que o pedido era razoável, deixou-o ficar em
Roma, e Vieira ali se demorou mais dois anos, entregando-se então
com todo o ardor ao estudo, e tendo Trevisani por mestre. Tomando
parte num concurso da Academia de S. Lucas, ganhou o prémio com um
trabalho em que representou a conhecida cena de Noé embriagado
diante de seus filhos, sendo ele o primeiro português que em
Roma alcançou tão sabida honra.
Regressando
à pátria depois de 7 anos de ausência, foi logo encarregado por
D. João V de fazer um grande quadro do Santíssimo Sacramento
para servir na procissão do Corpo de Deus, e depois de lhe pintar o
retrato para servir de modelo aos cunhos da moeda. Posteriormente
pintou também na sacristia da igreja patriarcal alguns quadros,
representando Os Apóstolos, um Ecce Homo, Cristo
crucificado, O Senhor preso à coluna, Cristo
caminhando para o Calvário; e igualmente fez os esboços de três
quadros do Salvador, S. João Evangelista e S.
Lucas, os quais não chegou a concluir. Entretanto Vieira
Lusitano e a menina de quem já se falou, D. Inês Helena de Lima e
Melo, estavam cada vez mais apaixonados um pelo outro, e como a família
de D. Inês se opunha ao casamento por julgarem o noivo de condição
inferior, os dois namorados procuraram obter do patriarcado as licenças
necessárias para o consorcio se realizar por procuração e apesar
daquela resistência. O casamento realizou se, mas os pais da noiva,
logo que souberam
das diligências em que andava Vieira, levaram a filha para o
convento de Santana, e a obrigaram a professar, embora ela
protestasse era casada. Francisco de Matos Vieira tentou por todos
os modos legais tirar a esposa da clausura, mas como nem o próprio
soberano o atendeu, decidiu voltar a Roma afim de pedir ao papa os
breves precisos para a realização do seu desejo.
Esteve
mais de cinco anos em Roma, trabalhando activamente, por um lado
para entrar na posse de sua mulher, e por outro estudando
constantemente para mais se aperfeiçoar na pintura, e se é certo
que os seus esforços se malogravam quanto ao seu casamento não é
menos certo, no que respeita ás artes. tiveram eles o melhor êxito,
porque, consolidando de dia para dia a sua reputação, foi feito
académico de mérito na Academia de S. Lucas. Já antes da sua
segunda viagem, em 22 de outubro de 1719, havia entrado na confraria
de S. Lucas, onde estava designado com o nome de Francisco Vieira de
Matos. No ano seguinte foi feito membro do conselho administrativo
deste instituto. Dos trabalhos que então executou, especializa-se o
quadro que pintou para a Academia representando Moisés na presença
do rei do Egipto. Voltando à pátria desanimado por não ter
conseguido do pontífice aquilo que tanto ambicionava, entendeu-se
com sua mulher e com ela deliberou levar a efeito o projecto,
saltando embora por cima de todas as leis civis e eclesiásticas.
Arranjou meio de lhe chegar ás mãos um fato completo de homem, e
um dia, ao anoitecer, D. Inês saiu da sua cela, passou em frente da
abadessa, que não a reconheceu com aquele disfarce, e saiu do
mosteiro para se encontrar com seu marido, e assim no fim de tantos
anos de trabalhos e de amarguras puderam unir-se os dois
estremecidos esposos. Não tardou que a fuga de Inês fosse
conhecida no convento, e os parentes, ao saberem do facto, logo
juraram que Vieira Lusitano não ficaria impune.
Um
irmão da ex-reclusa constituiu-se em vingador da honra da família
supostamente ultrajada, e esperando o pintor próximo, da rua das
Pretas, desfechou sobre ele um tiro de pistola, que o feriu
gravemente. Algum tempo depois, Vieira Lusitano achando-se
restabelecido, foi pedir a D. João V justiça contra o seu traiçoeiro
agressor, mas o monarca não o atendeu, porque influencias poderosas
evitaram que a justiça procedesse; o criminoso saiu do reino
livremente, e passados anos, caindo em miséria, viu-se na dura
necessidade de ir mendigar o pão àquele mesmo que tentara
assassinar. No entretanto, Matos Vieira, temendo algum novo insulto,
retirou-se por algum tempo para o convento dos Paulistas, onde em
1730 e 1731 pintou uns famosos eremitas para o cruzeiro da igreja, e
depois resolveu, para viver sossegado, uma nova viagem a Roma, mas
chegando a Sevilha em 1733, foi dali chamado a Lisboa, e voltando a
esta cidade, foi nomeado pintor do rei com o ordenado mensal de
60$000 reis e as obras pagas. Esteve em Mafra, onde enviuvou em
1775, e cheio de desgosto pela perda da sua estremecida companheira,
abandonou a pintura, e foi viver para o Beato António, passando ali
os últimos anos da sua existência.
Muitos
dos trabalhos de Vieira Lusitano se perderam na terrível catástrofe
do terramoto de 1755, sendo mais notável de todos eles o tecto da
igreja dos Mártires, pintado em 1750, e em que se via representada
a tomada de Lisboa por D. Afonso Henriques. Das suas outras obras,
que escaparam ao terramoto, citaremos dois painéis na igreja de S.
Roque: Santo António pregando aos peixes e Santo António
prostrado diante de Nossa Senhora, os quais eram muito louvados
por Pedro Alexandrino; Santo Agostinho, na portaria do
convento da Graça. em 1736; uns quadros de Santo António, S.
Pedro, S. Paulo, a Família Sagrada, e Santa Bárbara,
pertencentes à casa de Povolide e executados de 1736 a 1740; outra Sagrada
Família, pertencente ao conde de Assumar; um grande painel
representando S. Francisco, do convento do Menino de Deus; um
quadro da capela-mor da Cartuxa; os quadros de S. Francisco de
Paula, na capela-mor da sua igreja, e nas capelas laterais, os
de Nossa Senhora da Conceição, da Sagrada Família e
Santo António, todos executados em 1765. A capela dos sete
altares da igreja de Mafra tem um grande quadro da Sacra Família;
na capela de S. Joaquim ao Calvário. Há outro quadro da Família
Sagrada, colocado por cima do altar, que passa por ser um dos
seus mais belos trabalhos; uma Senhora da Conceição, que
estava na Junta do Comércio. O conde de Lippe visitou Vieira em
1762, e obteve dele um Santo António que, levou para
Alemanha; Guilherme Hudson também adquiriu um belo quadro da Adoração
dos Reis magos, que levou para Inglaterra. Fez um número
prodigioso de óptimos desenhos, dos quais a maior parte deles
possui a Inglaterra, onde os amadores das belas artes os pagaram por
bom preço, e muitos deles foram reproduzidos em gravura. Vieira
Lusitano também gravou a agua forte, evidenciando se entre os seus
trabalhos desse género: Neptuno e Coronis, e as Parcas
cortando o fio vital de seu irmão. A sua vida tão amargurada
por causa dos seus primeiros e últimos amores, contou-a ele num
longo poema impresso em 1780, intitulado: O insigne pintor e leal
esposo, historia verdadeira que ele escreve em cantos líricos.
Entre
os discípulos do notável pintor conta se sua irmã Catarina
Vieira, de quem eram, em parte alguns quadros da ermida de S.
Joaquim e que pintou um S. Lucas e um S. João Evangelista,
que pertenciam a um particular chamado Moreira Dias, que morava na
rua da Fé. Também foi seu discípulo o morgado de Setúbal. Consta
que na Biblioteca de Évora existe uma grande colecção de desenhos
de Vieira Lusitano.
Genealogia
de Vieira Lusitano
Geneall.pt
Biografia
e pintura de Vieira Lusitano
A Arte em Portugal
Obras
digitalizadas de Vieira Lusitano
Biblioteca Nacional de Portugal
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