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Vilhena
(D. António Manuel de).
n. 28
de maio de 1663.
f. 12 de dezembro de 1736.
Grão-mestre da Ordem de Malta, e
mais conhecido pelo nome de grão-mestre Manuel.
Nasceu em Lisboa a 28 de maio de 1663,
faleceu a 12 de dezembro de 1736. Era terceiro filho do conde de Vila Flor,
D. Sancho Manuel, o herói das batalhas das Linhas de Elvas e do
Ameixial.
Entrando na Ordem de S. João de
Jerusalém, partiu muito novo para Malta, e sendo patrão da galé
capitania duma armada maltesa, foi ferido num combate contra dois
navios de Tripoli, que o general António Correia de Sousa tomou em
1680. Contando apenas vinte e quatro anos de idade, foi como capitão dum dos
navios mandados pela ordem à conquista da Moreia, e depois
sucessivamente foi nomeado major, coronel da milícia de campanha,
grã-cruz, comissário dos armamentos e comissário das guerras.
Elevado em 1703 ao cargo de grão-chanceler da ordem e chefe da língua
de Castela e Portugal, e depois a bailio de S. João de Acre e
governador do Tesouro, foi eleito em 1722 grão-mestre por voto unânime
dos eleitores, sendo um dos mais notáveis da ordem pelo seu valor
nas batalhas, e pela sua integridade na administração pública.
Apenas sentado no sólio, tornou-se o
seu nome conhecido em toda a Europa, pela habilidade, prudência e
valor com que defendeu a ilha de um ataque dos turcos. Acometido por
Abdi-Capitan que contava com uma revolução dos cativos que havia
em Malta na ocasião do ataque, não só o repeliu, mas também
sufocou os movimentos da revolta. Desassombrado desse perigo, com
tal política e valor se houve, que o grão-vizir de Constantinopla
lhe mandou propor a troca dos cativos e ao mesmo tempo um tratado
que chegou a ajustar-se e que continha as seguintes condições: que
os escravos aprisionados debaixo da bandeira maltesa ou turca seriam
trocados reciprocamente, e que os demais que houvesse se resgatariam
por 100 piastras cada um; que as tréguas durariam por vinte anos,
sendo excluídas do beneficio deste tratado as potências
barbarescas, às quais o grão-senhor se obrigava a não dar socorro
directo ou indirecto contra Malta; que os malteses gozariam nos
estados turcos dos mesmos privilégios que os franceses; e
finalmente que este tratado ficaria de nenhum efeito logo que entre
a Turquia e algum príncipe cristão se declarasse a guerra Este
tratado recebido em Constantinopla com grande aplauso, não teve
efeito por circunstâncias que posteriormente ocorreram. Entretanto
as esquadras de Malta. que por ordem do grão-mestre cruzavam no
Mediterrâneo, voltaram sempre vitoriosas dos infiéis, carregadas
de despojos e com grande numero de cristãos resgatados, sendo entre
outros combates o célebre recontro com a armada turca, no qual
ficou prisioneiro o vice-almirante inimigo e a sultana Kali-Michnet.
Em 1728 mandou D. António Manuel bombardear Tripoli pelos
cavaleiros Frans e Anbepointe, o que não foi um dos menores feitos
do seu glorioso mestrado. Ainda que Malta estava bastante
fortificada, o grão-mestre querendo que a ilha ficasse de todo o
ponto defendida contra qualquer tentativa dos turcos, resolveu
fortificá-la mais, e para isso construiu um forte, que ainda hoje
do seu nome se chama Forte Manuel, que é umas melhores
fortificações de Malta, o que guardando a entrada do porto de
Marra Musset, tem entre outras coisas notáveis uma soberba ponte de
um só arco lançada sobre um precipício para por ali transitar a
artilharia. Esta obra, como se vê duma inscrição latina que há
sobre a porta da fortaleza, foi toda feita à custa do grão-mestre.
Ao mesmo tempo que aumentava as forças marítimas da sua ordem,
dava o ilustre grão-mestre maior extensão a Valeta, edificando um
bairro novo que se ficou chamando Burgo Vilhena, e onde também
à sua custa edificou um hospital de inválidos e outro para velhos
e incuráveis de ambos os sexos. Tal era a fama do grão-mestre, que
o papa Benedito XIII, em reconhecimento dos seus feitos militares,
lhe mandou o estoque e o casco bentos, distinção que a Santa Sé não
concedia senão a príncipes e personagens que se distinguiam por
feitos memoráveis contra os infiéis, e que consistia em uma espada
de prata de cinco pés de comprido e num barrete de veludo carmesim com
a imagem do Espírito Santo, em pérolas, benzido solenemente pelo
papa. Esta distinção fora conferida até essa época unicamente a
quarenta e duas pessoas, sendo D. António Manoel o 1.º grão-mestre de Malta
que recebeu essa honra. Foi este ilustre português respeitado de
todos os soberanos da Europa, e Luís XIV, de França, o honrou com
a sua amizade.
Malta deve-lhe grande número de
monumentos. No meio da praça do forte lhe erigiu o comendador Suzo
uma estátua, com honrosa inscrição gravada no pedestal; na sala
de armas do palácio dos grão-mestres, entre as armaduras dos mais
celebres desses príncipes se erigiu a sua estátua em bronze, e o
seu túmulo na igreja de S. João é um mausoléu tão magnifico,
que tem sido comparado ao dos Medicis em Florença. Além dos seus
dotes morais, políticos e militares, D. António Manuel de Vilhena
foi homem de natural engenho e de estudos não vulgares, e foi ele
quem mandou compilar um novo código das constituições da ordem de
Malta, vindo esse trabalho a ser concluído em 1782, no tempo do grão
mestre Rohan.
D. António Manuel de Vilhena, o mais notado Grão-Mestre Ordem de Malta
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