Ofício
nº 43
(...)
“
2. Devo anunciar a V. Ex.ª, que a 20 do passado por meio de um
Expresso, que de Londres aqui mandou o Ministro do Imperador, e a 26
pela Posta Ordinária, recebi carta de D. João de Almeida,
datadas de 7, e de 8 do mesmo Mês de Setembro; em que me comunicava,
que ele tinha recebido Ordens de V. Ex.ª para Lançar as suas vistas
sobre alguns Marechais de campo Alemães de boa Reputação, que
quisessem entrar ao serviço
da Nossa Corte; procurando ajustar principalmente um Oficial hábil,
que sirva de General de Artilharia, outro capaz da Direcção do Corpo
de Engenheiros, e algum bom Quartel Mestre General;
que Ordenando-se-lhe,
que em tudo procurasse ser de acordo com o Ministério de
Londres, ele tinha procurado, e conseguido, que se expedissem Ordens e
Instruções ao Cavaleiro Eden, Ministro de Inglaterra nesta Corte, para
Solicitar aqui a Licença a favor dos Oficiais, com quem se pudesse
convir para o Serviço Português: e igualmente tinha obtido para o
mesmo fim os bons Ofícios do Conde de Harhenberg [?],
para dispor este Ministério a
condescender a esta Negociação: Dizia-me, que posto que eu não
tivesse ainda recebido Ordens, nem Instruções de V. Ex.ª para
solicitar este Negócio, que aqui se tratava, deixava … minha
consideração o decidir,
se, tratando-se de um Negócio tão importante, e cuja brevidade
se recomenda tanto,
Seria, ou não conve//niente, que eu procedesse, na conformidade
das Ordens, que ele tinha recebido, e me comunicava,
a ajustar os ditos Oficiais.
Respondi ao mesmo Ministro, que ignorando eu até agora o que ele
então me participava, e não tendo recebido de V. Ex.ª nem Ordens, nem
Instruções algumas a tal respeito,
nem me tendo o Ministro de Inglaterra até então comunicado
coisa alguma a respeito das Ordens ou Instruções,
que sobre isto recebera da sua Corte;
O meu
zelo, e o desejo de satisfazer a honrosa
Obrigação de empregar tudo o que posso no Serviço de Sua
Majestade que Deus Guarde apenas me fazia lícito o informar-me dos
Oficiais
verdadeiramente
hábeis
que
pudessem convir-nos;
mas
parecia-me,
que
me não era permitido adiantar passos decisivos, antes de ser
para isso autorizado.
Ontem, pela primeira vez o Ministro de Inglaterra me
comunicou,
que
tinha recebido Ordens da Sua Corte para apoiar, de acordo comigo,
todas as Diligências que eu fizesse junto a este Ministério, para
permitir, que alguns Vassalos do Imperador passagem ao
Serviço de Sua Majestade que Deus Guarde; que para esse fim
tinha já prevenido este Ministro, Barão de Thugot [?], que lhe
respondera, que Este Soberano estava, como sempre, disposto a
condescender em tudo o que podesse dar gosto,
ou ser útil ao bom Serviço de Sua Majestade
Fidelíssima; e não
duvidaria
assentir ao que eu da
parte da mesma
Senhora lhe pedisse = Sans cependant faire du tort au Service de
Sa Majesté Impériale = E com efeito neste momento os Oficiais Generais
verdadeiramente hábeis não são aqui em
grande
número,
e são muito necessários nas actuais circunstâncias: E se
alguns de muito merecimento se
acham fora de Serviço por circunstâncias particulares, a mesma
cabala, que aqui os exclue consentir
dificilmente, que eles vão fazer-se honra em Serviço
Estrangeiro: Lembram-me alguns Discípulos da Escola Prussiana, ainda
agora
mesmo, a melhor de todas as militares da Europa;
e desta talvez se
conseguisse
um
habilíssimo Quartel Mestre General.
Enfim creio ser inútil / ratificar na Presença de V. Ex.ª o
zelo,
e viva vontade, com que eu desejaria empregar tudo o que posso no
Serviço de Sua Majestade A Rainha Nossa Senhora que Deus Guarde;
principalmente na ocasião deste inesperado receio; e desde o
momento,
em que recebi a primeira Instrução do nosso Ministro em
Londres, não perdi tempo, em informar-me de alguns Oficiais de sólido
Merecimento [sic], que não se achando no activo Serviço desta,
ou de outra
Potência Beligerante, poderiam aceitar a condições razoáveis,
o Serviço da Nossa Soberana, principalmente para o Interessante Posto
de Quartel Mestre General, tão difícil, em um País, e em Localidades
inteiramente
desconhecidas ao Oficial, que pela primeira vez vê Portugal.
Mas não tendo recebido de V.Ex.ª Despacho algum desde 20 de
Abril deste ano, data do último, que V.Ex.ª me dirigiu, ou que eu aqui
recebi, se algum outro posterior se não desencaminhou pelo Correio; e
por isso não tendo,
nem Ordens,
nem Instruções, nem autorização alguma, eu me creio
constrangido a ficar em inacção exterior;
não cessando porém de examinar, e Lançar as minhas vistas
sobre alguns sujeitos, que positivamente nos possam convir;
para
que
recebendo para isso as Ordens necessárias, possam prontas, e
exactamente executá-las ...”
Fonte:
ANTT, Ministério dos Negócios Estrangeiros, caixa 526, documento
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