Contratação dos Marechais do Exército

 

 

1796, Outubro, 1, Viena

de D. Lourenço de Lima para Luís Pinto de Sousa Coutinho

 

Ofício nº 43 

(...)

“ 2. Devo anunciar a V. Ex.ª, que a 20 do passado por meio de um Expresso, que de Londres aqui mandou o Ministro do Imperador, e a 26  pela Posta Ordinária, recebi carta de D. João de Almeida, datadas de 7, e de 8 do mesmo Mês de Setembro; em que me comunicava, que ele tinha recebido Ordens de V. Ex.ª para Lançar as suas vistas sobre alguns Marechais de campo Alemães de boa Reputação, que quisessem entrar ao serviço  da Nossa Corte; procurando ajustar principalmente um Oficial hábil, que sirva de General de Artilharia, outro capaz da Direcção do Corpo de Engenheiros, e algum bom Quartel Mestre General;  que Ordenando-se-lhe,  que em tudo procurasse ser de acordo com o Ministério de Londres, ele tinha procurado, e conseguido, que se expedissem Ordens e Instruções ao Cavaleiro Eden, Ministro de Inglaterra nesta Corte, para Solicitar aqui a Licença a favor dos Oficiais, com quem se pudesse convir para o Serviço Português: e igualmente tinha obtido para o mesmo fim os bons Ofícios do Conde de Harhenberg [?],  para dispor este Ministério a  condescender a esta Negociação: Dizia-me, que posto que eu não tivesse ainda recebido Ordens, nem Instruções de V. Ex.ª para solicitar este Negócio, que aqui se tratava, deixava … minha consideração o decidir,  se, tratando-se de um Negócio tão importante, e cuja brevidade se recomenda tanto,  Seria, ou não conve//niente, que eu procedesse, na conformidade das Ordens, que ele tinha recebido, e me comunicava,  a ajustar os ditos Oficiais.  Respondi ao mesmo Ministro, que ignorando eu até agora o que ele então me participava, e não tendo recebido de V. Ex.ª nem Ordens, nem Instruções algumas a tal respeito,  nem me tendo o Ministro de Inglaterra até então comunicado coisa alguma a respeito das Ordens ou Instruções,  que sobre isto recebera da sua Corte;  O meu  zelo, e o desejo de satisfazer a honrosa  Obrigação de empregar tudo o que posso no Serviço de Sua Majestade que Deus Guarde apenas me fazia lícito o informar-me dos  Oficiais  verdadeiramente  hábeis  que  pudessem convir-nos;  mas  parecia-me,  que  me não era permitido adiantar passos decisivos, antes de ser para isso autorizado.  Ontem, pela primeira vez o Ministro de Inglaterra me  comunicou,  que  tinha recebido Ordens da Sua Corte para apoiar, de acordo comigo, todas as Diligências que eu fizesse junto a este Ministério, para permitir, que alguns Vassalos do Imperador passagem ao  Serviço de Sua Majestade que Deus Guarde; que para esse fim tinha já prevenido este Ministro, Barão de Thugot [?], que lhe respondera, que Este Soberano estava, como sempre, disposto a condescender em tudo o que podesse dar gosto,  ou ser útil ao bom Serviço de Sua Majestade  Fidelíssima; e não  duvidaria  assentir ao que eu da  parte da mesma  Senhora lhe pedisse = Sans cependant faire du tort au Service de Sa Majesté Impériale = E com efeito neste momento os Oficiais Generais verdadeiramente hábeis não são aqui em  grande  número,  e são muito necessários nas actuais circunstâncias: E se alguns de muito merecimento se  acham fora de Serviço por circunstâncias particulares, a mesma cabala, que aqui os exclue consentir  dificilmente, que eles vão fazer-se honra em Serviço Estrangeiro: Lembram-me alguns Discípulos da Escola Prussiana, ainda  agora  mesmo, a melhor de todas as militares da Europa;  e desta talvez se  conseguisse  um  habilíssimo Quartel Mestre General.  Enfim creio ser inútil / ratificar na Presença de V. Ex.ª o zelo,  e viva vontade, com que eu desejaria empregar tudo o que posso no Serviço de Sua Majestade A Rainha Nossa Senhora que Deus Guarde;  principalmente na ocasião deste inesperado receio; e desde o momento,  em que recebi a primeira Instrução do nosso Ministro em Londres, não perdi tempo, em informar-me de alguns Oficiais de sólido Merecimento [sic], que não se achando no activo Serviço desta, ou de outra  Potência Beligerante, poderiam aceitar a condições razoáveis, o Serviço da Nossa Soberana, principalmente para o Interessante Posto de Quartel Mestre General, tão difícil, em um País, e em Localidades inteiramente  desconhecidas ao Oficial, que pela primeira vez vê Portugal.  Mas não tendo recebido de V.Ex.ª Despacho algum desde 20 de Abril deste ano, data do último, que V.Ex.ª me dirigiu, ou que eu aqui recebi, se algum outro posterior se não desencaminhou pelo Correio; e por isso não tendo,  nem Ordens,  nem Instruções, nem autorização alguma, eu me creio constrangido a ficar em inacção exterior;  não cessando porém de examinar, e Lançar as minhas vistas sobre alguns sujeitos, que positivamente nos possam convir;  para  que  recebendo para isso as Ordens necessárias, possam prontas, e exactamente executá-las ...”

 

Fonte:
ANTT, Ministério dos Negócios Estrangeiros, caixa 526, documento 52 

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© Manuel Amaral