Gomes Freire de Andrade

Gomes Freire de Andrade Freire de Andrade, Gomes

n: 27 de Janeiro de 1757 em Viena (Áustria)
m: 18 de Outubro de 1817 na Torre de São Julião (Portugal)



Filho de Ambrósio Freire de Andrade, embaixador de Portugal em Viena de 1752 a 1770, primo direito do primeiro e segundo condes de Bobadela, e de uma aristocrata alemã da Boémia-Morávia, Gomes Freire de Andrade, nascido em 27 de Janeiro de 1757, regressou a Portugal, pela mão do embaixador de Portugal em Viena, o conde de Oyenhausen e de sua mulher, D. Leonor de Almeida Portugal, a célebre poetisa, que ficará conhecida como marquesa de Alorna. Este regresso foi apoiado em Portugal pelo duque de Lafões, entretanto regressado a Portugal, que tinha conhecido bem o pai, quando da sua prolongada estadia na capital austríaca.

Feito comendador da Ordem de Cristo, ainda em Viena, chegou a Portugal em 1781 ingressando no regimento de infantaria de Peniche, corpo militar em que conviveu diariamente com vários membros da sua família alargada.

Subindo os postos tão rapidamente quanto possível a um oficial aristocrata, mas não o suficiente para seu gosto, tentou todos os meios para subir rapidamente na hierarquia transferindo-se para a Marinha de Guerra, tendo aproveitado a guerra da Rússia contra o Império Otomano, e a assinatura do tratado de Amizade e Aliança entre Portugal e a Rússia, para se propor voluntário para o exército russo, na guerra empreendida pela imperatriz Catarina e dirigida pelo célebre general Potemkine, conflito que terminará com a conquista da Crimeia pela Rússia.

Começando como major subiu rapidamente os postos do exército russo, e sendo estas promoções sempre confirmadas em Portugal, quando chegou a Portugal em 1793 já era coronel, desde 1790, do Regimento da guarnição de Lisboa, anteriormente comandado pelo marquês das Minas e que passará a ser conhecido a partir daquele momento como «de Freire».

Nomeado comandante da brigada de granadeiros a criar no exército auxiliar português que combatia na Catalunha para lá se dirigiu, portando-se com competência, utilizando com proveito a sua experiência militar contra os otomanos, mas também contra os franceses, que combateu na sua passagem pela frente de guerra entre a Prússia e a França, na fronteira setentrional da França.

No exército auxiliar Gomes Freire de Andrade, continuará a política do seu tio, o 2.º conde de Bobadela, General Governador das Armas do Porto em 1777, que ao atacar o conde de Hoyenhausen, oficial alemão parente do conde de Lippe, logo no princípio do reinado de D. Maria I, acusando-o de modificar os regulamentos militares sem autorização, o que provocou a sua demissão, começou a política da Viradeira no exército.

O jovem aristocrata atacará veementemente a direcção do exército auxiliar, comandados por oficiais nascidos no estrangeiro, mas sobretudo formados na escola do conde de Lippe e marquês de Pombal, representados entre outros pelo escocês Forbes, o suíço Mestral, estes dois oficiais vindos para Portugal em 1762 e portugueses pelo casamento, e o francês Clavière. Ao mesmo tempo, e com o mesmo propósito de criticar todos os que não eram aristocratas como ele, atacará também os comandantes da artilharia, Rosa e Teixeira Rebelo, estes, antigos sargentos, vindos do pequeno campesinato do interior do país, que tinham conseguido ascender ao oficialato devido aos seus estudos e à sua competência técnica, defendendo a sua falta de qualidade social, numa época, em que em toda a Europa monárquica a aristocracia tentava manter o exclusivo no acesso ao oficialato.

Regressado a Portugal, viu a sua proposta de criação de uma Legião de Tropas Ligeiras ser posta em prática, mas com o comando entregue ao marquês de Alorna. Foi promovido a marechal de campo graduado na promoção de 1795, passando a ser conhecido no exército português, de uma forma pouco lisonjeira, pelo epíteto de general russo. Manteve-se no comando do seu regimento da guarnição de Lisboa até à guerra de 1801, já tendo sido promovido a marechal de campo efectivo. Depois da guerra, de regresso a Lisboa, participou activamente na luta contra o partido realista, tentando dirigir o partido aristocrático e retirando-o da direcção do marquês de Alorna, que o tinha assumido após a demissão do duque de Lafões.

Dirigiu, por isso, os distúrbios de Campo de Ourique, acontecimento que tendo-se dado em Julho de 1803 tiveram o condão de impossibilitar a aplicação das reformas militares propostas pelo general Forbes, e os seus apoiantes no governo, sobretudo D. Rodrigo de Sousa Coutinho, D. João de Almeida e Castro e Luís Pinto de Sousa, e que estavam para ser postas em prática no fim do Verão desse ano, o que era um ataque, como o próprio escreverá «contra a aristocracia».

Em finais 1805, esteve envolvido na tentativa de colocar a princesa Carlota Joaquina no poder, e que sendo também uma conspiração aristocrática pouco conhecida, parece ter a ver, não tanto com uma hipotética doença do príncipe regente, mas com as preparações para uma guerra contra a Espanha no Verão desse mesmo ano, possível razão para o futuro D. João VI ter ido residir para Vila Viçosa, onde também se encontrava o governador das armas do Alentejo, o marquês de Alorna.

Em 1807, já tenente-general, durante a primeira invasão francesa, foi encarregue do comando da divisão que defendia a margem Sul do Tejo e Setúbal, contra um ataque britânico. Recebeu o general Solana em Setúbal, aceitando o encargo de desmobilizar a parte do exército português aquartelado no Sul do país e desarmar os regimentos de milícias. A colaboração com os ocupantes espanhóis e franceses, fê-lo ser nomeado para 2.º comandante do exército português, reformado de acordo com os regulamentos franceses, que se dirigiu em Abril de 1808 para França, onde foi integrado no exército francês com o título de Légion Portugaise.

Em Espanha, teve tempo de combater a insurreição espanhola contra os invasores franceses, sendo enviado com algumas tropas portuguesas para o cerco de Saragoça. Regressou a França com as tropas portugueses do seu comando, dirigindo-se para Grenoble, guarnição da Legião em França.

Pouco trabalho teve em França. O seu único comando em campanha teve-o em 1813, durante as campanhas de libertação da Alemanha, ao ser nomeado governador de Dresde por Napoleão Bonaparte. Com o fim da Legião Portuguesa, decretada em meados de 1813, regressou a Paris onde presenciou as duas restaurações da monarquia francesa. Tendo cumprido as formalidades necessárias ao seu regresso, e com o apoio do marquês de Marialva, antigo cunhado do duque de Lafões, chegou a Lisboa em Maio de 1815.

Parece ter tido a intenção de retomar a sua política de ataque ao comando estrangeiro do exército, agora dominado por oficiais britânicos. O seu sonho, ou premonição, contada numa carta de 1815, em que vislumbra a tentativa de saída do general «Tártaro» (Beresford) de Portugal, por meio de um general «China» (Gomes Freire) que militava na Pérsia (França), mas que acaba por morrer, parece provar isso mesmo.

Acabou enforcado em frente da fortaleza de São Julião da Barra, em 18 de Outubro de 1817, após a descoberta de uma conspiração contra a regência, em que pontificava o seu primo Miguel Pereira Forjaz, a quem se tinha sempre oposto, do Rossilhão a 1808, e com quem tinha convivido desde os quartéis do regimento de Peniche. Durante a República o dia da sua morte foi feriado nacional.

Fonte:
Raul Brandão, Vida e Morte de Gomes Freire de Andrade, 4.ª ed., Lisboa, Alfa («Testemunhos Contemporâneos, 14»)  1990, 

 
Posto / função Corpo Data do decreto
Tenente-general 24 de Maio de 1807
Marechal de campo 20 de Novembro de 1796
Chefe Reg. de Inf. de Freire
Marechal de campo graduado 17 de Dezembro de 1795
Coronel Reg. de Inf. de Minas 8 de Outubro de 1790
Major agregado Reg. de Inf. de Peniche 27 de Abril de 1788
Tenente de Mar Armada Real 8 de Março de 1787
Alferes, 5.ª companhia Reg. de Inf. de Peniche 9 de Outubro de 1782
Cadete Reg. de Inf. de Peniche 19 de Setembro de 1782

 

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