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Conde de Goltz
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Filho do general prussiano Karl Cristoph Friedrich, barão von der
Goltz, entrou para o serviço militar do rei da Prússia no regimento de
Meyerink, tornando-se ajudante de campo do pai. Quando em 1761 o pai morreu.
passou a integrar o estado-maior de Frederico II. O rei enviou-o em missão
ao cã dos Tártaros para o tentar convencer a atacar os Russos e os
Austríacos a Leste. A missão acabou por se não realizar, mas o epíteto
de "Tártaro" ficou-lhe para sempre. Oficial irrequieto e insubordinado,
não foi promovido a major senão em 1785, com a ascensão ao trono de
Frederico Guilherme II. Membro do estado-maior do novo rei, a proximidade do
trono fez com que em 1789 já fosse coronel
Enquanto membro do estado-maior, terá contribuído para as reformas militares introduzidas no início do reinado de Frederico Guilherme. Estas reformas, no domínio da organização da infantaria, e do desenvolvimento das tropas ligeiras no exército prussiano, punham em causa de certa forma o legado de Frederico II, o que provocou mau estar no exército, e levaram-no a sair da Prússia. Aceitou servir no exército dinamarquês, como tenente-general de cavalaria, possivelmente por sugestão do general Carlos de Hessen, cunhado do futuro rei da Dinamarca, governador do Schleswig-Holstein e inspector-geral das tropas da região. Nomeado inspector dos corpos de Caçadores do Schleswig preparou os Regulamentos, mas a crise política e social no ducado impediu qualquer desenvolvimento das propostas. Com a morte do príncipe de Waldeck, em 1797, o governo português tentou encontrar um novo general estrangeiro para comandar o exército em campanha, com que se contou desde logo com o apoio do duque de Brunswick, general ao serviço da Prússia, e antigo comandante do exército britânico durante a Guerra dos Sete Anos. A escolha recaiu sobre um general prussiano, escolha essa que desde Fevereiro de 1799 se concentrou na figura do conde de Goltz. As negociações não se desenvolveram e só em Novembro de 1799, o assunto veio de novo à baila, mais uma vez por intermédio do visconde de Anadia, embaixador de Portugal em Berlim. A proposta de contratação foi realizada em finais de Abril, tendo sido aceite pelo conde em 28 de Abril de 1800. O contrato realizado por 6 anos, foi assinado em Berlim em 17 de Maio de 1801, e a carta régia de nomeação de Goltz como marechal foi expedida em 1 de Julho. Já estava em Portugal em Setembro desse ano, mas a sua chegada deve-se ter realizado algum tempo antes, já que desde meados de Julho estava preparado para sair de Copenhaga. De Setembro de 1800 a Julho de 1801, estudará o exército, fará algumas propostas de reforma, mas não assumirá nunca o mesmo tipo de funções d o príncipe de Waldeck, que realizou várias viagens de inspecção. Quando a França e a Espanha nos declararam a guerra, pensou-se em Goltz para comandar o exército do Sul, mas o duque de Lafões opôs-se, e o conde ficou em Lisboa sem funções definidas. Com a destituição do duque de Lafões de comandante do exército, o conde de Goltz foi nomeado comandante em chefe do exército português em 23 de Julho de 1801, tendo chegado a Abrantes, quartel general do exército do Sul, em princípio de Agosto, com ordens claras do príncipe regente para se preocupar fundamentalmente em defender Lisboa. A sua decisão de concentrar o exército português entre Coimbra e Tomar, desguarnecendo de tropas de linha as províncias do Norte, fizeram com que o marquês de La Rosière, comandante do exército do Norte, pedisse a demissão, defendendo que era um erro grave desguarnecer as províncias do Norte de tropas, já que elas eram o objectivo declarado das forças militares francesas concentradas em Ciudad Rodrigo. O conde de Goltz voltou atrás com a sua decisão tendo mesmo enviado para Viseu uma divisão de infantaria em reforço de La Rosière. Mas as suas decisões de Agosto nunca mais foram esquecidas, tendo D. Rodrigo de Sousa Coutinho proposto a contratação do general francês Vioménil, para substituir Goltz se necessário, o que foi aceite pelo príncipe D. João. Goltz criticado por D. João de Melo e Castro, o novo secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra, por ser incapaz de reorganizar o exército, mesmo tendo o apoio expresso do príncipe regente para realizar todas as reformas que achasse necessário, tinha perdido toda a confiança da corte portuguesa em Outubro desse ano, mês em que a ratificação do tratado de paz de Madrid entre Portugal e a França, punha um termo à guerra com a França. Terá sido por isso que nunca participou nas reuniões do Conselho Militar nomeado em 1 de Dezembro de 1801 para propor as reformas necessárias do exército, que o tornassem capaz de defender convenientemente o país em caso de guerra. Tendo realizado uma viagem de inspecção, em Março de 1802 expediu circulares aos Governadores das Armas com ordens para fazerem cumprir os regulamentos militares e as disposições do conde de Lippe. Esta última determinação não deve ter agradado, já que vinha contra todo o movimento reformador começado em Portugal em 1788 e de que possivelmente ele era considerado um dos personagens mais importantes para a sua concretização, só assim sendo compreensível a sua contratação já que o seu currículo o mostrava protagonista das reformas do exército prussiano. De facto, em 5 de Maio de 1802 pedirá licença para sair de Portugal, licença concedida em 30 de Maio. Embarcou rapidamente, em 5 de Julho, nunca mais tendo regressado a Portugal. O seu contrato foi mantido até se perfazer os 6 anos estipulados em 1800.
A ver: A contratação dos Marechais príncipe de Waldeck e conde de Goltz.
Bibliografia: Henrique de Campos Ferreira Lima, «O Marechal Conde de Goltz, Comandante em Chefe do Exército Português», Boletim do Arquivo Histórico Militar, vol. VIII, págs. Gastão de Melo Matos, «Carlos Alexandre, conde de Goltz», in Joel Serrão (dir.), Dicionário de História de Portugal, vol. VI, Porto, Iniciativas Editoriais, s.d., pág. 416. C. F. Bricka (ed.), Dansk Biografisk Lexicon, tomo VI, Copenhaga, 1892, pág. 142.
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