O LEVIATÃ, DE HOBBES
Dedicatória
AO
Estimado Senhor,
Aprouve a vosso mui merecedor irmão, Sr. Sidney Godolphin, quando era ainda vivo, considerar dignos de atenção os meus estudos, e além disso privilegiar-me, conforme sabeis, com testemunhos efectivos da sua boa opinião, testemunhos que em si mesmo já eram grandes, e maiores eram ainda dado o merecimento da sua pessoa. Pois de todas as virtudes que a homem é dado ter, seja a serviço de Deus, seja a serviço do seu país, da sociedade civil, ou da amizade particular, nenhuma deixava de manifestamente se revelar na sua conversação, não que fossem adquiridas por necessidade ou constituíssem uma afectação de momento, mas porque lhe eram inerentes e brilhavam na generosa constituição da sua natureza. É portanto em sinal de honra e gratidão para com ele, e de devoção para convosco, que humildemente vos dedico este meu discurso sobre o Estado. Ignoro como o mundo o irá receber, ou como se poderá reflectir naqueles que lhe parecerem ser favoráveis. Pois apertado entre aqueles que de um lado se batem pela sua excessiva liberdade, e de outro por uma excessiva autoridade, é difícil passar sem ferimentos por entre as lanças de ambos os lados. No entanto, creio que o esforço para aprimorar o poder civil não deverá ser pelo poder civil condenado, nem se pode supor que os particulares, ao repreenderem-nos, declarem julgar demasiado grande esse poder. Além do mais, não é dos homens no poder que falo, e sim (em abstracto) da sede do poder (tal corno aquelas simples e imparciais criaturas no Capitólio de Roma, que com o seu ruído defendiam os que lá dentro estavam, não porque fossem quem eram, mas apenas porque lá se encontravam), sem ofender ninguém, creio, a não ser os de fora, ou os de dentro (se de tal espécie os houver) que lhes sejam favoráveis. O que talvez possa ser tornado como ofensa são certos textos das Sagradas Escrituras, por mim usados com uma finalidade diferente da que geralmente por outros é visada. Mas fi-lo com a devida submissão, e também, dado o meti assunto, porque tal era necessário. Pois eles são as fortificações avançadas do inimigo, de onde este ameaça o poder civil. E se apesar disto verificardes que o meu trabalho é atacado por todos, talvez vos apraza desculpar-me, dizendo que sou um homem que ama as suas próprias opiniões, que acredito em tudo o que digo, que honrei vosso irmão, como vos honro a vós, e nisso me apoiei para assumir o título (sem vosso conhecimento) de ser, como sou
Senhor,
THO. HOBBES
Paris, 15/25 de Abril de 1651.
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