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Joaquim Mousinho de Albuquerque
Joaquim Mousinho de Albuquerque

Albuquerque (Joaquim Mousinho de).

 

n.    10 de novembro de 1855.
f.     8 de janeiro de 1902.

 

Herói português, e militar destemido, contemporâneo. 

Nasceu em 10 de novembro de 1855. Era filho de José Diogo Mascarenhas Mousinho de Albuquerque, director dos telégrafos e faróis do reino, e neto de Luís da Silva Mousinho de Albuquerque, que tanto se distinguiu nas lutas civis de 1828 a 1846, sucumbindo neste ano, a 23 de dezembro, na batalha de Torres Vedras. 

Joaquim Mousinho de Albuquerque assentou praça aos 16 anos de idade, em Cavalaria 4, no dia 23 de novembro de 1871; cursou a Escola Politécnica, depois a Escola do Exército, seguindo o Curso de Cavalaria, sendo promovido a alferes em 27 de dezembro de 1876. Serviu nos regimentos de cavalaria 2 e 4, teve o posto de tenente em 31 de outubro ele 1884 e o de capitão em 12 de setembro de 1890. Depois de concluir o curso da arma de cavalaria, matriculou-se na Universidade de Coimbra, na faculdade de matemática, que frequentou até ao 3.º ano. 

Em 1895 foi nomeado para comandar a força de cavalaria que partiu na expedição de Moçambique, para obrigar a entrar na obediência os régulos das regiões do sul de África, entre os quais figurava o feroz e temido Gungunhana. Seguiram-se as gloriosas façanhas das nossas tropas, e Mousinho de Albuquerque, sempre no seu posto, com o sangue frio dos valentes militares, acompanhou os acontecimentos, prestando o seu valioso concurso em todas as acções. Estava, porém, reservado ao valente militar um acto de grande heroísmo, que o tornaria bem conhecido e respeitado. Era o fecho da campanha, a prisão do Gungunhana. Chicomo era o ponto determinado para centro das operações da coluna do norte. Logo que as tropas ali chegaram, tratou-se de reconhecer bem o local para defesa dalgum ataque do inimigo, que não estava longe. O Gungunhana, régulo de Gaza, mandou então uns embaixadores, propondo restabelecer a paz, pagando as indemnizações de guerra e entregando os régulos Mamatibejana, Zixaxa e o Mahazul, trazendo também muitos presentes de marfim, dinheiro, etc. que não foram aceites. Estes protestos de amizade dissimulavam as más intenções do Gungunhana. O plano era ganhar tempo, para concentrar as forcas. O régulo faltou à sua palavra, mandou-se-lhe um ultimato para que no prazo de cinco dias pagasse as indemnizações de guerra e entregasse os régulos. Passados os cinco dias, nova embaixada veio a Chicomo, pedindo prorrogação do prazo. Ainda se susteram as hostilidades. Ainda houve pedido de nova prorrogação, que igualmente se não cumpriu, até que afinal se resolveu a declarar a guerra. Em meados de setembro de 1895 começaram então as sortidas pelos domínios de Gaza para abrir caminho até Manguanhana, onde o régulo habitava. com as suas cinquenta mulheres. Em todas estas sortidas houve luta com os vátuas. Enquanto no Chicomo se iniciavam estes combates, o comissário régio, o conselheiro António Enes, não perdia tempo, ora em Lourenço Marques, ora em Inhambane, dirigindo e regulando todos os movimentos da campanha, A situação agravava-se. Veio então a Chicomo o comandante militar de Inhambane oferecer-se para tomar parte na guerra, com alguns milhares de sipaios para auxílio das forças da metrópole. Este auxílio valeu de muito, porque os vátuas também recebiam reforço da parte dos macuacas. Prepararam-se as forças para atacar Manjacaze. Na segunda-feira 4 de novembro, logo muito cedo, depois da revista feita às tropas, todos marcharam através da floresta, indo na vanguarda, explorando o caminho, a cavalaria com os sipaios à frente. Mousinho, com duas ordenanças, internava-se na floresta, não lhe escapando o mais pequeno rasto do inimigo. Depois de muito cansaço, dum calor asfixiante e péssimo caminho tiveram de parar em frente dum matagal tão espesso que era impossível desbravar, pelo desânimo e falta de forças em que todos estavam. Era fácil que o inimigo armasse ali alguma emboscada. Fez-se um reconhecimento em que se viu, estarem ainda distante de Manjacaze duas horas de marcha, sendo preciso atravessar a vau o rio Manguanhana, que ficava para além da mata que se via na frente. O coronel resolveu que a coluna ficasse na langua de Coolela, junto da lagoa do mesmo nome. Apareceram então as forças inimigas, e travou-se forte combate, fugindo os vátuas, que perderam muita gente. Entre os nossos houve cinco mortos e alguns feridos. Era preciso ir buscar munições a Chicomo, donde deviam voltar no dia 9. Em 11 marchou-se sobre Manjacaze; os vátuas deviam estar ali concentrados em grande força. Chegou-se finalmente à langua de Manguanhana, onde ia decidir-se a sorte das nossas armas. As granadas derrubavam as árvores do bosque que cercava a povoação. O inimigo não avançava, e os tiros das suas espingardas não alcançavam a distancia. A valentia dos vátuas era impotente contra as nossas armas, e as grandes mangas de pretos principiavam a abandonar o campo. A pouca resistência do inimigo causou surpresa, porque tudo fazia acreditar que o ataque de Manjacaze seria luta de vida e de morte. Era preciso, portanto, entrar na povoação, e atacar ali os vátuas; entrou-se e não se viu ninguém. O Gungunhana e o seu exército haviam fugido. A povoação de Manjacaze foi incendiada. O Gungunhana refugiara-se em Chaimite, uma espécie de lugar santo, escolhido para diversas cerimónias com o fim de arranjar feitiço, que impedisse de ser descoberto. Tinha uma única entrada de quarenta  centímetros de largura. Foram ao todo cinquenta e três militares, que mais tarde, sob o comando de Mousinho de Albuquerque, conseguiram capturar o célebre Gungunhana. A 6 de janeiro de 1896 lavrou-se o auto da entrega dos prisioneiros, o régulo e sua família, no palácio do governo de Lourenço Marques. Terminada a campanha, Mousinho de Albuquerque foi nomeado comissário régio de Moçambique. Nesta ocasião foi a Pretória, sendo ali recebido com todas as honras por Kruger, que lhe pediu para ser seu hóspede durante o tempo que se demorasse. Verdadeiro patriota, Mousinho não podia sofrer que ficasse impune qualquer rebeldia contra o prestígio português, e daí resultou a guerra aos namarrais; houve quatro combates, Moguenga, Maguema, Ibraimo e Mucuto­Muno. As nossas forças, sempre comandadas por Mouzinho de Albuquerque, alcançaram uma assinalada vitória sobre as forças do Maguiguana, avaliadas em cinco mil homens, no campo de Macontene. Regressou a Lisboa em 15 de dezembro de 1897, onde teve uma recepção extraordinária, trazendo consigo os prisioneiros de Chaimite. Na sala Portugal da Sociedade de Geografia foram-lhe entregues, em sessão solene, as medalhas de ouro de valor militar e de serviços relevantes no Ultramar. Discursando nessa ocasião o rei D. Carlos e o Sr. conselheiro Dias Costa. 

Mouzinho tinha casado em 1879 com sua prima, a Sr.ª D. Maria José Mouzsnho de Albuquerque, filha do doutor João de Mascarenhas Gaivão. Foi promovido a major em 28 de dezembro de 1895. Ultimamente era aio de suas altezas reais, e acompanhara o príncipe D. Luís Filipe numa digressão as províncias do norte do país. Suicidou-se em 8 de janeiro de 1902, indo num trem em caminho de Benfica. A sua morte causou geral sensação e o funeral foi imponente. Além das honrarias já citadas, Mousinho de Albuquerque era comendador e oficial das ordens da Torre e Espada e de Avis, por serviços distintos, cavaleiro de S. Jorge, de Inglaterra; tinha as comendas da Águia Vermelha da Alemanha, de S. Maurício e S. Lázaro de Itália, da Legião de Honra, de Leopoldo III, da Bélgica, e Carlos III de Espanha.

 

 

Genealogia de Joaquim Mouzinho de Albuquerque
Geneall.pt

Joaquim Mouzinho de Albuquerque (1855-1902) e a política do colonialismo
Artigo de Douglas L. Wheeler publicado na Análise Social em 1980
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Portugal - Dicionário Histórico, Corográfico, Heráldico, Biográfico, Bibliográfico, Numismático e Artístico,
Volume I, págs. 137-138

Edição em papel © 1904-1915 João Romano Torres - Editor
Edição electrónica © 2000-2012 Manuel Amaral