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O Portal da História Dicionário > Inácio António da Fonseca Benevides

Benevides (Inácio António da Fonseca).

 

n.       15 de janeiro de 1788.
f.        29 de dezembro de 1857.

 

Bacharel formado em medicina e cirurgia pela Universidade de Coimbra, presidente do conselho de saúde naval, médico efectivo da real câmara, antigo médico-director do Hospital Militar de S. Francisco, físico-mor da Armada; vogal adjunto do conselho de saúde publica do Reino em 1844; cavaleiro professo na Ordem de Cristo em 1821 e comendador da mesma ordem em 1840; cavaleiro da de N. Sr.ª da Conceição em 1844; do conselho de S. M. a rainha D. Maria II em 1853; sócio da Academia Real das Ciências de Lisboa e nela director da classe de Ciências Naturais; sócio fundador da primitiva Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa em 1822; membro da Instituição Vacínica; sócio honorário da Sociedade Farmacêutica Lusitana, e sócio da Academia médica de Madrid, etc.

Nasceu na vila de Ervedal, na Beira, a 15 de janeiro de 1788, faleceu em Lisboa, da febre-amarela, a 29 de dezembro de 1857. Era filho de Manuel Lourenço Martins e de D. Maria Fernandes Pires.

Depois de ter estudado os preparatórios, matriculou-se na Universidade de Coimbra na Faculdade de Medicina; formou-se em julho de 1813 e estabeleceu-se em Lisboa em março de 1814. No ano de 1817 escreveu umas memórias sobre as águas minerais de S. Gemil, que logo lhe abriram as portas da Academia Real das Ciências. O Dr. Benevides, nestas suas memórias, tomou por modelo os estudos dos célebres Foureroy e Delaporte acerca das águas minerais de Enghien. A primeira memória trata da descrição topográfica do sítio em que existem as caldas, estuda-o também debaixo do ponto de vista da história natural, trata das propriedades físicas das águas e das suas propriedades médicas. A segunda memória ocupa-se exclusivamente da sua composição química. O Dr. Benevides foi um dos primeiros médicos portugueses que receitaram o uso das caldas do Gerês, desconhecido até ao ano de 1818, e em 1830 publicou um Ensaio físico-medico das Caldas do Gerês, dividido em dez capítulos. O dr. Bernardino António Gomes, em 8 de abril de 1812, propôs à Academia das Ciências, que empenhasse todos os seus esforços para que em Portugal se propagasse a vacina. Estabeleceu-se então em 1817, no próprio edifício das sessões da Academia um instituto, onde gratuitamente se exercia a vacina, sem excepção de pessoas. Este instituto tomou as maiores proporções, criando-se por todo o reino filantrópicos e beneméritos correspondentes, que cooperavam nesta empresa tão louvável pela sua utilidade. Todos os anos a Academia consagrava na sessão pública um lugar destinado à leitura das contas vacínicas. Em 1818, o dr. Benevides foi encarregado de fazer o discurso histórico. sobre os trabalhos da Instituição Vacínica, discurso que foi lido por ele na sessão de 24 de junho daquele ano. Luís de Sequeira Oliva, que morreu muito moço vitima duma disenteria crónica, deixou em testamento um prémio de 400$000 réis para quem resolvesse este problema médico: Qual é o método de curar radicalmente as disenterias crónicas, de qualquer causa que procedam, fundado em princípios e confirmado por observações praticas? O dr. Benevides foi um dos concorrentes, e escreveu sobre o assunto uma memória que lhe valeu um accessit [menção honrosa], conferido na sessão pública de 24 de junho de 1819: Foi também um dos médicos portugueses que mais se ocupou da cólera-morbo, quando esta epidemia devastadora apareceu na Europa em 24 de agosto de 1829. Quando em 1832 se manifestou em Portugal, o solicito médico já, tinha pronto o seu Manual das instruções preservativas da cólera-morbo, que se imprimiu nesse referido ano. Seguiram-se outros escritos sobre o mesmo assunto. Estes trabalhos tinham o carácter mais popular do que cientifico, porque neles não se tratava de discutir aquela epidemia, mas de esclarecer o publico a respeito dos meios de a prevenir e de a combater. Em todo o caso, a Academia, tratando de nomear uma comissão para estudar a cólera e expor a sua opinião sobre o seu tratamento, nomeou o dr. Benevides para ser um dos quatro médicos encarregados desse trabalho. Foi médico da Real Câmara desde 1827, sendo confirmado neste cargo por D. Pedro IV, em 24 de setembro de 1834, próprio dia da sua morte. Em 1832, no tempo do reinado de D. Miguel, foi físico-mor da armada. No ano de 1821 começara o dr. Benevides a publicar uma colecção de Constituições e de Cartas dos estados da Europa e da América, de que saíram apenas alguns números. Em 1840 deu também principio, no Jornal das Ciências medicas de Lisboa, à publicação duma Bibliografia medica; em 1852, no referido jornal também inseriu um Ensaio sobre a flora toxico-medica portuguesa.

A relação das suas obras é a seguinte: Discurso histórico sobre os trabalhos da Instituição Vacínica, inserto no tomo VI, parte I das Memorias da Academia Real das Ciências; Memoria que obteve o «accessit» na sessão publica de 24 de junho de 1819, e concorreu ao programa relativo ás disenterias crónicas, no tomo VII das referidas Memorias; Memoria sobre as Caldas de S. Gemil, no distrito de Viseu, escrita em 1820; Regulamento em forma de projecto para o governo da Regência que de ser nomeada pelas Cortes portuguesas, logo que estejam instaladas, Lisboa, 1821; Manual de instruções preservativas e curativas da cólera-morbo epidemia pestilencial, Lisboa, 1832; Manual complementário da cólera-morbo, e da colerina, Lisboa, 1832; Manual da cólera-morbo n.º 3, o qual contém o resumo do tratado da cólera-morbo observada na epidemia de Paris de 1832 por Mr. Broussais, Lisboa, 1833; sem o nome do autor; Memoria sobre as aguas minerais do Gerês; saiu no Jornal das Ciências Medicas, tomo XI, 1840; Ensaio sobre a Flora toxico-medica portuguesa, oferecido à Sociedade das Ciências Medicas de Lisboa em 1852; saiu no mesmo jornal, tomo XIII, 2.ª série.

 

 

 

 

 

 

 

Portugal - Dicionário Histórico, Corográfico, Heráldico, Biográfico, Bibliográfico, Numismático e Artístico,
Volume II, págs. 300-301

105Edição em papel © 1904-1915 João Romano Torres - Editor
Edição electrónica © 2000-2012 Manuel Amaral