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O Portal da História Dicionário > José Luís Travassos Valdez, 1.º conde de Bonfim
Conde de Bonfim
1.º conde de Bonfim

Bonfim (José Lúcio Travassos Valdez, 1.º barão e 1.º conde de).

 

n.       23 de fevereiro de 1787.
f.       10 de julho de 1860.

 

Par do reino, por carta régia de 3 de maio de 1842, de que prestou juramento e tomou posse na respectiva câmara, na sessão de 11 de julho do referido ano; presidente do conselho de ministros, ministro da guerra e da marinha, deputado, grã-cruz da Ordem de S. Bento de Avis; comendador da de Torre e Espada e da de N. Sr.ª da Conceição; condecorado com a medalha de comando pelas batalhas de Orthes e de Toulouse; e com a medalha de ouro n.º 1, por seis campanhas da Guerra Peninsular; grã-cruz das ordens de Leopoldo da Bélgica, do Leão Neerlandês dos Países Baixos e da de Carlos III de Espanha, condecorado pelo rei de Inglaterra com a medalha de distinção pela batalha de Salamanca em 22 de julho de 1812, e pelo rei de Espanha; com igual medalha, pela batalha de Albuera, em 16 de Maio de 1811; tenente general, vogal do Supremo Conselho de Justiça Militar, governador e capitão-general da ilha da Madeira, etc. 

Nasceu em Elvas a 23 de fevereiro de 1787, faleceu em Lisboa a 10 de julho de 1860. Era filho de José Bento Travassos da Silveira Araújo, cavaleiro da Ordem de Cristo, escrivão da Mesa da Consciência e Ordens, cargo que não chegou a exercer; abastado proprietário em Elvas, casado com D. Antónia Eufrásia de Sousa Godinho Valdez, sua prima, filha de Luís Godinho Leitão, familiar do Santo Oficio; 13.º senhor do prazo da quinta de Flandes, dos morgados de N. Sr.ª das Neves e do Marco, e das capelas dos Anjos e do Mosquete, tudo situado em Pombal; desembargador da Casa da Suplicação, casado com D. Jerónima Teresa Forjaz Vahia de Sá Valdez.

O futuro conde de Bonfim matriculou-se na Universidade de Coimbra na faculdade de direito, e sendo estudante, em 1808, quando nesta cidade rebentou a revolta contra os franceses, alistou-se a 25 de junho desse ano no batalhão académico. Sendo, logo depois do desembarque das tropas inglesas, mandado por Bernardino Freire de Andrade para, o quartel general de Welesley, assistiu ás batalhas da Roliça e de Vimeiro, tomando assim parte nos primeiros combates que se feriram em Portugal com os exércitos de Napoleão. Até ao fim da Guerra Peninsular entrou em muitas batalhas, dando sempre provas de grande energia e coragem. Tinha então o posto de major. Em 24 de agosto de 1820 rebentou a revolução, ano em que se proclamaram as Cortes Constituintes, e foram mandados sair do exército os oficiais ingleses que nele haviam continuado a guerra, contra o que se tinha estipulado quando entraram para o quadro do exército de Portugal. Travassos Valdez foi chamado pelo ministro da guerra, o general Azedo, para servir ás suas ordens, sendo então promovido a tenente-coronel e comandante do Batalhão de Caçadores n.º 5.

Em junho de 1821 subiu ao posto de coronel para Infantaria 8, e conservava-se nesta situação em 1823, quando em Trás-os-Montes se deu a revolução absolutista, promovida pelo conde de Amarante. Nomeado comandante da divisão ligeira às ordens do tenente-general Luís do Rego, perseguiu os revoltosos, e entrou em Espanha chegando até Astorga, Leão e Gradepes. Voltando a Portugal foi dirigir uma coluna de operações na Beira, sendo escolhido para marchar à frente das forças destinadas a obstar à rebelião do infante D. Miguel nos últimos dias de maio de 1823. Tendo D. João VI aderido ao movimento iniciado por seu filho, foi dissolvida a coluna do coronel Valdez, e este intimado a residir em Mora, donde conseguiu por instâncias de alguns dos seus amigos e antigos companheiros de armas ser transferido para Setúbal. Só depois de promulgada a Carta constitucional em 1826, sendo ministro da guerra o general Saldanha, é que ao coronel Valdez se deu novamente o comando dum regimento, que foi infantaria 3. Mandado com o seu regimento, infantaria 21 e outras forças, combater o movimento absolutista que aparecera em Bragança, e tendo sido obrigado pelos revoltosos, depois de renhido combate, a recolher-se ao castelo da vila, viu-se forçado a capitular no dia 26 de novembro de 1826, e foi conduzido para Miranda e depois para Moncorvo. Sabendo que existia ali um deposito de armas, tratou com os seus companheiros de se apoderar delas e marchar para a Barca de Alva na intenção de passar o Douro e vir juntar-se às tropas fieis à Carta, sendo porém acossado pelas numerosas guerrilhas que então infestavam a província de Trás-os-Montes, teve de passara fronteira, e as autoridades espanholas o mandaram para Salamanca e depois para Valladolid. Alcançando do governo desta praça um passaporte para se dirigir ao norte da Espanha, mudou de caminho logo ao segundo dia de marcha, e dirigiu-se para o sul, vindo entrar em Portugal pelas proximidades de Campo Maior. Chegando a Lisboa pediu um conselho de guerra para se justificar da capitulação de Bragança, e sendo-lhe a sentença não só favorável mas até honrosa, Valdez foi pouco depois nomeado, em 7 de abril de 1827, governador e capitão-general da Madeira e Porto Santo. Dedicou-se então aos melhoramentos materiais e agrícolas daquelas ilhas, e nestes trabalhos o vem surpreender a noticia dos motins ocorridos em Lisboa e dos projectos do infante D. Miguel, de se apoderar da regência do reino, declarando-se rei absoluto. Valdez havia fundado um jornal, A flôr do Oceano, e no dia 22 de junho publicou um manifesto protestando contra aqueles projectos, cuidando imediatamente de se prevenir para a defesa da ilha, se acaso D. Miguel a mandasse atacar pela sua esquadra, e participou o ocorrido ao duque de Bragança, aos ministros de Portugal e Brasil, em Londres, bem como ao embaixador desta ultima potência em Viena de Áustria. Pouco depois destes acontecimentos chegou à Madeira o novo capitão general nomeado por D. Miguel, mas não tendo podido desembarcar regressou a Lisboa. Em acto contínuo saíram deste porto uma corveta e dois brigues de guerra para bloquearem a ilha, e por fim o capitão general Valdez recebeu no dia 16 de agosto de 1828 uma intimação para se render ao vice-almirante Prego, comandante duma esquadra, composta de uma nau, duas fragatas, duas corvetas, dois brigues e duas charruas. Valdez não desanimou, apesar de ver a grande força dos inimigos, tendo estes, porém, conseguido apoderar-se do porto de Machico, reconheceu a impossibilidade da resistência, e entrou em com binações com o vice-almirante por intermédio do cônsul inglês residente na ilha.

Partiu então para Inglaterra com sua mulher e filhos, e ali esteve lutando com inúmeras dificuldades, chegando a passar privações, até 1832, em que partiu para a ilha Terceira, e apenas desembarcou em Angra, foi-lhe dado o comando da 1.ª companhia do batalhão sagrado, batalhão só composto de oficiais, e com ele fez a guarda avançada do exército libertador quando marchou do Mindelo para o Porto; mas depois, já na véspera da batalha de Ponte Ferreira, foi mandado pelo imperador para o quartel general do duque da Terceira, para que este o informasse dos movimentos do inimigo, sendo em 21 de julho de 1832 escolhido para ajudante general. Em 6 de Agosto seguinte foi promovido a brigadeiro, continuando como ajudante do duque da Terceira, até que D. Pedro assumiu o comando em chefe, passando nessa ocasião Travassos Valdez a servir de chefe de estado-maior do major general Solignac. Quando o imperador saiu do Porto ficou ali o brigadeiro Valdez como chefe do estado-maior de Saldanha, e no combate de 18 de agosto de 1833 comandou a ala esquerda, e a 20 seguiu para a capital com o regimento de Infantaria 15 a bordo da fragata D. Maria II. Tomou parte na defesa das linhas de Lisboa, ficando gravemente ferido no ataque de 5 de Setembro, o que o obrigou a afastar-se do serviço por muito tempo; acompanhando porém já D. Pedro para Santarém nos princípios de 1834, e regressando depois com ele a Lisboa, quando em seguida a batalha da Asseiceira se formaram dois exércitos de operações sob o comando dos generais duque da Terceira e Saldanha.

Por morte de D. Pedro IV ficou dissolvido o estado-maior imperial, e o brigadeiro Valdez conservou-se desempregado até que rebentou a revolução de 9 de setembro de 1836, em que se proclamou uma nova constituição. No dia 16 do referido mês foi nomeado vogal do Supremo Conselho de Justiça Militar. Em Outubro teve o comando do exército do sul, que se formou para evitar a invasão do general carlista Gomez, e em 14 de dezembro seguinte foi nomeado comandante da 7.ª Divisão Militar, continuando naquela comissão. Eleito deputado no congresso constituinte de 1837 pelo distrito de Leiria, quando apareceu a tentativa cartista da Ponte da Barca, foi Travassos Valdez, já, então agraciado com o titulo de barão de Bonfim, encarregado do comando em chefe das forças do sul do reino, recebendo plenos poderes sobre todas as autoridades civis e militares. Conservando-se sossegado o Alentejo, o barão de Bonfim marchou a reunir-se a Sá da Bandeira, e a 28 de agosto de 1837 deu aos marechais a acção do Chão da Feira, seguindo depois para Almeida e para o Douro a conferenciar com o conde das Antas, que recolhia de Espanha e que dentro em pouco terminava a revolta cartista ganhando a acção de Ruivães. Regressando à capital, foi nomeado ministro da marinha e interino da guerra em 9 de novembro de 1837, conservando-se no ministério até 9 de março de 1838, voltando a encarregar-se da pasta da guerra desde 20 de abril até 18 de Abril de 1839. Foi deputado nas legislaturas de 1839 e de 1840, sendo eleito por vários círculos do continente do reino, e em 1839 pelo de Goa. Em 26 de novembro de 1840 entrou novamente no ministério, com o encargo da presidência do gabinete e as pastas da Guerra, e interino da Marinha e Estrangeiros. Apresentou então ás câmaras importantes e notáveis relatórios, tomou medidas enérgicas quando em fins de 1840 estiveram para se romper as boas relações de Portugal com a Espanha, dirigiu as negociações para o reconhecimento da nosso governo pelo Santa Sé e pela Holanda, fundou o presídio que depois se transformou na vila de Moçâmedes, e finalmente em 9 de julho de 1841, querendo sustentar a instituição dos batalhões nacionais e encontrando resistência, pediu a exoneração em 9 de junho de 1841, sendo substituído pelo ministério presidido por Joaquim António de Aguiar.

Em 1842, sendo par do reino, combateu sempre na câmara alta o governo de Costa Cabral, depois marquês de Tomar, até que decidida a revolta pela oposição, partiu para o Alentejo. O conde de Bonfim, titulo com que fora agraciado em 1838, pôs-se à frente do movimento iniciado pelo Regimento de Cavalaria n.º 4 em Torres Novas no dia 4 de fevereiro de 1844, e com esse corpo, Infantaria 12 e Caçadores 1 marchou sobre a Guarda. Malogradas ainda outras combinações, seguiu para Almeida e ali sustentou o cerco, emigrando depois para Espanha, França e Inglaterra. Voltou a Lisboa em 9 de junho de 1846, vindo de Inglaterra a bordo do vapor Mindelo, sendo em 29 de junho nomeado comandante da Guarda Nacional, e em 22 de agosto comandante da 1.ª Divisão Militar, lugar de que foi exonerado em consequência do golpe de estado de 6 de outubro. Partindo para Évora foi pela junta, formada nessa cidade, nomeado comandante em chefe das forças do sul e logo depois presidente da mesma junta. Na batalha de Torres Vedras em 22 de dezembro do referido ano de 1846 ficou prisioneiro, sendo conduzido a Lisboa, donde passou para bordo de diferentes navios do estado, e por ultimo para o brigue Audaz, que saiu a barra em 2 de fevereiro de 1847 em destino de Angola. Chegando a Luanda a 25 de março, os presos políticos foram encerrados em diversas prisões, mas o conde de Bonfim e dois filhos que o acompanhavam, Luís e José, ficaram a bordo da corveta Relâmpago. Receando-se alguma revolta, a corveta levantou ferro e seguiu para Moçâmedes, onde chegou a 6 de maio. A 20 deste mês rebentou em Moçâmedes uma revolução a favor da Junta do Porto, o conde saiu no dia seguinte, com os dois filhos, para Santa Helena, a bordo duma velha escuna, que foi apresada por um brigue de guerra inglês que nessa ocasião o entrava no porto de Moçâmedes, levando-a para Luanda, apresentando ao governador o conde de Bonfim e seus filhos. Sem que valessem protestos, o conde foi novamente encerrado na corveta, Relâmpago, seu filho Luís em outro navio, e José mandado para Benguela, conservando-se nesta situação até 23 de agosto em que chegou a Luanda a fragata Terrible, que em consequência da convenção que pusera termo à guerra civil, trouxe os deportados para Portugal, onde chegaram a 9 de outubro. Depois de ter estado em comissão até dezembro de 1852, foi nomeado membro do conselho de justiça militar, cargo que desempenhou até falecer.

O conde de Bonfim casara em 21 de fevereiro de 1813 com D. Jeró nima Emília Godinho Valdez, sua prima, filha de José Ricardo Godinho Valdez, 14.° senhor do prazo da quinta de Flandes, no concelho de Pombal, e administrador dos morgados de N. Sr.ª das Neves e do Marco, e das capelas dos Anjos e do Mosquete, no mesmo concelho, desembargador aposentado da Casa da Suplicação; e de sua mulher D. Maria Joana Travassos da Silveira.

O título de barão do Bonfim foi concedido por decreto de 17 de setembro de 1835, e o de conde por decreto de 4 de abril de 1838. O brasão de armas consta de: um escudo esquartelado: no primeiro quartel as armas dos Araújos, em campo de prata uma aspa azul, carregada de cinco besantes de ouro; no segundo as armas dos Travassos, em campo vermelho cinco flores de trevo de ouro, em aspa; no terceiro quartel as armas dos Godinhos, escudo partido em pala: a primeira xadrezada de ouro e vermelho, de duas peças em faixa, e cinco em pala; a segunda também axadrezada do mesmo numero de peças em faixa e em pala, de ouro e azul; no quarto as de Valdez, oriundos, e do senhorio de Valdez, em Sevilha, e que depois passaram a Portugal, e serviram com distinção na Índia, e ali ganharam escudo de armas, em campo vermelho, um elefante de sua cor, armado de prata; sobre este um castelo de madeira de sua cor, ligado com cintas de prata.

Em 1860, por ocasião da morte do valente militar, publicou-se um opúsculo com a sua biografia, por G. N., o qual tem por titulo: O conde de Bomfim, noticia dos seus principais feitos.

 

 

 

 

Genealogia do 1.º conde de Bonfim
Geneall.pt

 

 

 

 

 

Portugal - Dicionário Histórico, Corográfico, Heráldico, Biográfico, Bibliográfico, Numismático e Artístico,
Volume II, págs.
377-380

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