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Bragança (D. Teotónio de).

 

n.        2 de agosto de 1530.
f.         24 de julho de 1602.

 

Era filho de D. Jaime I, 4.º duque de Bragança, e de sua segunda mulher, D. Joana de Mendonça; irmão do 5.º duque, D. Teodósio I.

Nasceu em Coimbra a 2 de agosto de 1530, faleceu em Valladolid a 24 de julho de 1602.

Foi educado no palácio ducal de Vila Viçosa, passou depois a estudar os rudimentos da língua latina no convento de Santa Cruz de Coimbra. Resolveu vestir o hábito canónico, mas seus pais opuseram-se, e não pôde realizar o seu desejo. Permanecendo, porém, neste propósito, apesar de ser contrariado na sua vocação para a vicia eclesiástica, conseguiu fugir para o colégio da Companhia de Jesus, recentemente fundada, da mesma cidade de Coimbra, onde vestiu o hábito a 12 de julho de 1549, contando dezanove anos de idade. Tornou-se tão distinto, que o próprio santo Inácio de Loiola, desejando conhece-lo, o chamou a Roma. Desta cidade passou à Universidade de Paris, onde estudou as ciências severas e se doutorou em Teologia. Percorreu em seguida várias terras de França, Itália e Inglaterra, e assistiu ao casamento de Filipe II com a rainha D. Maria, herdeira da coroa da Grã-Bretanha, celebrado em Londres no ano de 1554.

Satisfazendo aos desejos do duque de Bragança, seu irmão, voltou a Portugal com bastante pesar, e foi nomeado tesoureiro-mor da colegiada de Barcelos, sendo depois provido numa igreja do padroado da sua Casa. Partiu mais tarde para Salamanca, onde se demorou até que o cardeal infante D. Henrique, em 1578, o nomeou seu coadjutor e futuro sucessor no arcebispado de Évora, com o título de bispo de Fez, quando o cardeal-infante ocupava pela segunda vez este arcebispado, cuja nomeação foi confirmada pelo papa Gregório XIII a 28 de junho do referido ano. Quando D. Henrique subiu ao trono, por morte do rei D. Sebastião, cedeu o arcebispado de Évora a D. Teotónio, cargo de que tomou posse em 7 de dezembro de 1578. Foi este digno prelado o fundador do hospital da Piedade, do seminário de S. Mansos, dos conventos de Carmelitas descalços, das religiosas da vila do Torrão, e dos Capuchos da província da Piedade. Entre estes edifícios distingue-se o mosteiro da Cartuxa, em cuja fábrica se gastaram mais de 150.000 cruzados, e lhe estabeleceu rendas perpétuas para sustentação dos monges que o haviam de habitar, do qual tomaram posse a 15 de dezembro de 1598. Tinha um. carácter bondoso, caritativo, e era muito esmoler: Quando em 1579 a província do Alentejo padeceu grande esterilidade de que resultou a fome, o arcebispo abriu os seus celeiros aos necessitados, e mandou distribuir diariamente pão aos pobres: À fome seguiu-se a peste, e o venerável prelado prestou os mais valiosos serviços, despendendo largas somas nos socorros dos atacados, a ponto de empenhar toda a prata que possuía, chegando ele próprio a dar o exemplo de caridade no tratamento dos doentes, e organizando no paço episcopal um hospital para os pobres.

D. Teotónio assistiu ás cortes de Tomar, em 16 de abril de 1581, onde foi aclamado rei de Portugal Filipe II, de Espanha; em Lisboa, a 30 de janeiro de 1583, em que foi jurado o príncipe D. Filipe, que depois foi rei de Castela e 3.º deste nome. No seu palácio episcopal hospedou em 1582 a imperatriz Maria de Áustria, que veio visitar seu irmão Filipe II, que estava em Lisboa, no ano 1583, quando este monarca regressava de Lisboa a Madrid. D. Teotónio de Bragança faleceu repentinamente e com fama de santidade, tendo setenta e dois anos de idade, vitima duma apoplexia. O seu cadáver foi transportado para Évora e sepultado no convento de Santo António, que ele havia fundado. Possuía uma livraria importantíssima, onde se encontravam muitos livros impressos de subido valor, edições raras, e muitos manuscritos portugueses valiosos, entre os quais se contavam as obras do rei D. Duarte; manuscritos gregos dos santos padres, arábicos e doutras línguas orientais. O mosteiro da Cartuxa herdou esta livraria.

Escreveu:

Epistola ad Gregorium XIII; saiu impressa no tomo V da História Genealógica da Casa Real Portuguesa, por D. António Caetano de Sousa; Regimento do Auditório Eclesiástico do Arcebispado de Évora, Évora, 1598; Pastoral passada a 30 de maio de 1601. Por sua iniciativa e à sua custa saiu a primeira vez impressa a obra de Santa Madre Teresa de Jesus, intitulada: Camino de Perfecion. Também a expensas suas se imprimiam: Cartas que os Padres, e Irmãos da Companhia de Jesus escreverão dos Reinos do Japão, e China, e os da mesma Companhia da India, e Europa, desde o ano de 1545 até o de 1580, tomo I e II, Évora, 1598.

 

 

 

 

Genealogia de D. Teotónio de Bragança
Geneall.pt

 

 

 

 

 

Portugal - Dicionário Histórico, Corográfico, Heráldico, Biográfico, Bibliográfico, Numismático e Artístico,
Volume II, pág.
463

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