Senhor das
vilas de Cadaval, Vila Nova de Danços, Alvaiázere, Rabaçal,
Arega, Buarcos, Anobra, Carrapito, Mortágua, Penacova, Vilalva,
Vila Ruiva, Albergaria, Água de Peixes, Peral, Cercal, Póvoa,
Santa Cristina, Tentúgal, Muja, Noudar, Barrancos, etc.,
alcaide-mor das vilas e castelos de Olivença e de Alvor, comendador
das comendas de Santo Isidoro, da vila de Eixo, Santo André de
Morais, Santa Maria de Marmeleiro, S. Mateus, Sardoal, da Ordem de
Cristo; de Grândola na de S. Tiago; de Noudar na de S. Bento de
Avis; dos conselhos do estado e da guerra, dos reis D. Afonso VI, D.
Pedro II, e D. João V, e despacho das mercês, e expediente,
mestre de campo general da Corte e província da Estremadura, junto
à pessoa do rei, e capitão general da cavalaria da mesma corte e
província, governador das Armas de Setúbal e de Cascais, etc. Nasceu
em Évora a 4 de novembro de 1638, faleceu a 27 de janeiro de 1727.
Era filho do
3.º marquês de Ferreira e 4.º conde de Tentúgal, títulos
que sempre se conservaram reunidos ao de Cadaval. É esta casa das
mais nobres do reino; tem a mesma varonia que a de Bragança, porque
descende de D. Álvaro, 4.º filho de D. Fernando, 2.º duque
de Bragança e de sua mulher, a duquesa D. Joana de Castro, filha
de D. João de Castro, senhor de Cadaval. Na descendência de D. Álvaro,
contam-se os títulos de marquês de Ferreira, conde de Tentúgal
(V. estes títulos), duque de Cadaval, no país; e em
Espanha, os marqueses de Vilhescas, condes de Gelves, e duques de
Veragua (V. Bragança, D. Álvaro
de). Depois da aclamação do rei D. João IV, os marqueses de
Ferreira transferiram a sua casa para Lisboa, e D. Nuno criou-se no
paço real, passando-se-lhe logo em 20 de março de 1641 carta de
conde de Tentúgal, declarando-se que venceria o assentamento desde
o dia em que nascera, e que teria o mesmo que o conde de Alcoutim,
que eram 260$000 réis, que lhe pertenciam como parente da Casa
Real. Quando faleceu seu pai em 1645, sucedeu na sua importantíssima
casa e no título de marquês de Ferreira, por carta de 3 de agosto
do referido ano, e de conde sobrinho em 8 do mesmo mês. Em 26 de abril
de 1648 concedeu-lhe o rei D. João lV o titulo de duque de Cadaval,
dia em que nasceu o infante D. Pedro, cuja carta se lhe passou a 18
de julho. Desde então o filho primogénito ficou sendo marquês de
Ferreira e o segundo conde de Tentúgal. Em 1657, contando apenas
dezanove anos de idade, foi nomeado familiar do Santo Oficio. Neste
ano quis o duque tomar parte na guerra do Alentejo, mas a rainha
regente D. Luísa de Gusmão não consentiu, proibindo-lhe de sair
da corte, por carta de 19 de maio. Em 1658 tentou novamente partir
para o exército, mas desta vez obteve permissão, porque a rainha
tencionava nomeá-lo general de cavalaria na seguinte campanha.
Assistiu então ao cerco de Badajoz e ao ataque do forte de S.
Miguel, sempre com distinção, porém neste ataque recebeu dois
ferimentos, sendo um deles de muita gravidade, em que uma bala lhe
despedaçou o ombro esquerdo, obrigando-o a um tratamento
prolongado, e de que sempre ficou sofrendo.
Em 1659 quis
voltar ao exército, mas a rainha o não deixou, e a 10 de março o
nomeou conselheiro de Estado, ministro do despacho da junta
nocturna, onde se tratavam os mais importantes negócios e os mais
altos interesses do reino. O duque de Cadaval era um dos fidalgos
que mais censuravam o procedimento irregular do príncipe D.
Afonso, e por isso, tão depressa subiu ao trono, o novo monarca
mandou-o para a vila de Almeida, contudo o valente militar, apesar
de lhe ser proibido repetidas vezes sair a campanha durante o tempo
do seu exílio, ainda serviu como soldado ás ordens do governador
das Armas da província da Beira, tornando-se notável em alguns
combates. Sentindo-se doente partiu para as Caldas da Rainha, donde
passou a Tentúgal, e sendo-lhe estranhado aquele proceder, dirigiu
uma representação ao rei, em que obteve, licença para residir em
Alenquer, e mais tarde permitido regressar a Lisboa. O duque de
Cadaval tomou grande parte na disposição do monarca e na entrega
do governo do reino a seu irmão D. Pedro. Assistiu como condestável
às Cortes de 27 de janeiro de 1668, reunidas para o juramento do
infante como regente no impedimento perpétuo de D. Afonso VI, e foi
ele quem a rainha D. Maria Francisca de Sabóia encarregou de
tratar, como seu procurador, da causa do divórcio. Quando terminou
a guerra com Espanha, o duque teve a nomeação de primeiro
plenipotenciário para o tratado da paz, que se assinou cm Lisboa a
13 de fevereiro de 1668, e ainda neste ano a rainha o escolheu para
seu mordomo-mor, cargo que conservou até à sua morte, servindo
sucessivamente
as rainhas D. Maria Sofia e D. Maria Ana de Áustria. Em
Junho de 1670 foi nomeado presidente do Conselho Ultramarino, cargo
de que se exonerou em 1673, ano em que o infante regente resolveu
guarnecer a corte com cavalaria paga, dando-lhe o governo dela e o
da província da Estremadura. Também foi presidente da Junta do
Tabaco, logo na sua criação em 1678, cargo que serviu durante
vinte anos, sendo então transferido para o de presidente do
desembargo do paço, que exerceu até falecer. Quando em 1680,
depois da fundação da colónia do Sacramento, o governador de
Buenos Aires expulsou os portugueses, esteve iminente a guerra com
Espanha, e por essa ocasião o duque recebeu ordem de passar logo ao
Alentejo, porém como a Espanha cedeu, o duque foi nomeado primeiro
ministro plenipotenciário para as negociações que então houve, e
que terminaram pelo tratado de 6 de maio de 1681.
Estando
em 1682 ajustado o casamento do duque de Sabóia, Victor Amadeu, com
a infanta D. Isabel, o duque de Cadaval foi como embaixador
extraordinário à corte de Turim para conduzir a Lisboa aquele príncipe.
O casamento, porém, não se realizou. No princípio do século
XVIII, tendo falecido o rei de Espanha Carlos II sucedeu-lhe Filipe
V, que várias potências logo reconheceram como soberano, entre as
quais se contava Portugal. D. Pedro II, porém, mudou de parecer,
decidindo-se a auxiliar as pretensões do arquiduque Carlos. O duque
de Cadaval não aprovou esta mudança de política, mas ao ver que
os seus conselhos nada conseguiam, e a guerra declarada, sujeitou o
seu voto à decisão do monarca, e tratou com empenho que a sua
vontade fosse satisfeita. D. Pedro partiu para a Beira, deixando-o
em Lisboa para assistir à rainha governadora, mas ao chegar a
Santarém, logo o mandou chamar, levando-o consigo para a Beira,
onde lhe deu a patente de mestre do campo general junto à sua
pessoa. Depois da morte de D. Pedro em 1706, o novo rei D. João V
nomeou em abril de 1707 o duque de Cadaval governador do exército
que se devia formar na Beira, ficado com a mesma patente de mestre
de campo general, mas não chegou a exercer esta comissão, e
durante o novo reinado conservou-se mais retirado dos negócios públicos,
porque D. João V, apenas subiu ao trono, diligenciou afastar do
poder os validos de seu pai. Em setembro de 1725 teve um ataque
apopléctico, que lhe repetiu um ano depois, vindo então a falecer.
Durante o tempo da sua doença recebeu as maiores demonstrações de
afecto da família real, da corte e do povo.
O
duque de Cadaval casou três vezes. A primeira a 29 de dezembro de
1660 com D. Maria de Faro, viúva do 8.º conde da Feira, D. João
Forjaz Pereira, e filha do 7.º conde de Odemira, D.
Francisco de Faro, que faleceu em 1661, deixando uma filha que pouco
lhe sobreviveu. O segundo matrimónio realizou-se em 2 de fevereiro
de 1671 com D. Maria Angélica Henriqueta de Lorena, filha de
Francisco de Lorena, 2.º conde de Rieux, príncipe de Harcourt,
e de sua mulher D. Catarina Henriqueta, filha natural de Henrique IV
de França. Esta união durou pouco tempo, porque a duquesa faleceu
em junho de 1674. Casou pela terceira vez em 25 de junho de 1675 com
a princesa Margarida Armanda de Lorena, filha de Luís de Lorena,
conde de Armagnac e de Harcourt, estribeiro-mor de Luís XIV, e de
sua mulher Catarina Neuville. Esta senhora sobreviveu três anos a
seu marido, falecendo a 15 de dezembro de 1730. Deste consórcio
houve bastantes filhos, dos quais notaremos D. Luís e D. Jaime, que
foram o 2.º e o 3.º duques de Cadaval; D. Ana, que
casou com o 5.º conde de S. João, D. Eugénia, casada com o 8.º
marquês de Alegrete; D. Joana casada com o 2.º conde de Alvor; D.
Rodrigo, que casou com a filha do marquês de Fontes; e D. Filipa,
que foi condessa de Penaguião. O duque de Cadaval teve duas filhas
ilegítimas que se fizeram religiosas, e um filho, D. Nuno Álvares
Pereira de Melo, que foi bispo de Lamego, e faleceu em 1733.
As
armas de Cadaval são as antigas da Casa de Bragança, uma aspa
vermelha em campo de prata, e nela o escudo das quinas.