Portugal - Dicionário

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D. Catarina de Bragança
D. Catarina

 

Catarina (D.).

 

n.      26 de novembro de 1638.
f.       31 de dezembro de 1705.

 

Rainha de Inglaterra pelo seu casamento com o rei Carlos II; filha de D. João IV, e de sua mulher, D. Luísa de Gusmão, irmã dos monarcas D. Afonso VI e D. Pedro II.

Nasceu em Vila Viçosa a 26 de novembro de 1638, faleceu a 31 de dezembro de 1705.

Dois anos depois da sua aclamação, D. João, IV, querendo fortificar e robustecer a soberania e a independência da pátria, procurava alianças nos países estrangeiros, sendo um dos meios de que se servia pare as obter, os casamentos do seus filhos com príncipes e princesas das famílias reinantes da Europa. D. Catarina, ainda não tinha 8 anos de idade, e já se tratava de a casar com D. João de Áustria, filho natural de Filipe IV de Espanha; depois houve ideias de a casar com o duque de Beaufort, neto de Henrique IV, por bastardia, porém todas essas negociações ficaram sem resultado. Pensou-se então no casamento com Luís XIV de França, laço habilmente preparado pelo cardeal Mazarino para conseguir do Portugal o que desejava, que era obrigar a Espanha a fazer a paz com a França; ainda em vida de D. João IV se trataram destas negociações com actividade, chegando a vir a Lisboa o embaixador francês conde de Cominges. O cardeal Mazarino, servindo-se do engodo da promessa deste casamento, trouxe Portugal iludido, abandonando-o depois traiçoeiramente, assinando a paz com a Espanha e o contrato do casamento do rei com a infanta espanhola D. Maria Teresa.

Em 1661, sendo regente a rainha D. Luísa de Gusmão na menoridade de D. Afonso VI, tratou-se novamente do casamento da infanta D. Catarina, sendo o esposo escolhido Carlos II, rei da Grã-Bretanha No dia 18 de agosto do referido ano de 1661, a rainha declarou em cortes o contrato nupcial, o qual foi aprovado pelo conselho de Estado. Seguiu-se um contrato de paz, contendo artigos muito curiosos, que vem publicado no Gabinete histórico, de Frei Cláudio da Conceição, tomo V, pág. 125. Neste contrato eram entregues à Inglaterra a cidade e a fortaleza de Tanger com tudo quanto lhe pertencesse e a ilha de Bombaim na Índia Oriental, com todas as suas pertenças e senhorios, para ficarem daquele porto mais prontas as suas armadas para socorro das praças do Portugal na Índia. O contrato foi assinado pelo rei com todas as cerimónias legais da Inglaterra, a 23 de junho do 1661, e pelo embaixador conde da Ponte e marquês de Sande, Francisco de Melo a Torres, que regressou a Portugal, onde foi recebido com muita satisfação pela rainha regente, porém com muito desgosto da parte do povo, pela entrega de Tânger e Bombaim, No dia 28 de abril de 1662 recebeu-se em Lisboa a notícia da realização do contrato, e pouco depois chegou a armada inglesa, que devia conduzir a seu bordo a nova rainha da Grã-Bretanha. O general comandante era Duarte de Montaigne, conde do Sandwich, revestido com o carácter de embaixador extraordinário. D. Catarina partiu acompanhada do marquês de Sande, do conde de Pontével, Nuno da Cunha, Francisco Correia da Silva, e mais pessoas da corte. Antes de embarcar todos se dirigiram à Sé, onde se celebrou missa solene e Te­Deum. Salvas da artilharia, repiques de sinos, pomposos ornatos nas ruas por onde passava o cortejo, o som das trombetas, charamela e outros instrumentos, tudo contribuía pare abrilhantar a festa dos desposórios reais. Finalmente, a nova rainha entrou no bergantim real, adornado com magnificência, e navegou para bordo da nau capitania Grão-Carlos. Entre as damas que acompanharam D. Catarina a Inglaterra, contavam-se D. Elvira de Vilhena, condessa de Pontével, e D. Maria de Portugal, condessa de Penalva.

A armada inglesa chegou a Portsmouth a 24 de maio onde a esperava o duque de York, irmão de Carlos II. A rainha, sentindo-se um pouco indisposta, conservou-se alguns. dias naquela cidade, e ali veio cumprimentá-la o rei de Inglaterra com toda a corte, no dia 30, realizando-se a cerimónia nupcial a 31 do referido mês. No Gabinete histórico, já citado, a pág. 160, vem a descrição do real consórcio, mas parece ter havido engano nas datas, a que a cerimónia se realizou a 22, segundo o que se lê num artigo publicado no Daily News e que o Diário de Notícias transcreveu. Nesse artigo se diz, que na última viagem feita a Inglaterra, o rei senhor D. Carlos mostrou desejos de ver os registos da igreja de S. Tomás, de Portsmouth, onde está o assentamento do enlace de D. Catarina de Bragança com o rei Carlos II, que se efectuou na igreja de Domus Dei, no local onde actualmente está a Garrison Church. Houve alteração no programa da viagem, e o rei teve de partir para Londres antes do dia destinado à sua visita na paróquia de S. Tomás. O vigário e os outros funcionários da igreja resolveram então mandar fotografar o assentamento e enviar-lho Devido, porém, à antiguidade do pergaminho a ao desmaiado da escrita, não foi possível obter-se urna fotografia nítida do documento original, mas duma excelente copia da certidão feita em 1880, e pertencente ao museu de Portsmouth, foi tirada uma fiel reprodução As duas fotografias, do assentamento original e da cópia, foram encerradas numa pasta de couro vermelho e enviadas para Londres a sua majestade o rei senhor D. Carlos. A certidão reza assim : "O nosso augusto soberano lorde Carlos II, pela graça de Deus, rei da Grã-Bretanha, França e Irlanda, defensor da Fé e a ilustríssima princesa D. Catarina, infanta do Portugal, filha do falecido D. João IV, e irmã de D. Afonso, presente rei de Portugal, foram casados em Portsmouth na quinta feira, vigésimo segundo dia de Maio, do ano do nosso senhor de 1662, décimo quarto do reinado de sua majestade, pelo R. R. F. in G. Gilbert, Bispo Lorde de Londres, deão da real capela de sua majestade na presença de grande parte da nobreza dos domínios de sua majestade e da de Portugal". A 30 de setembro do citado ano de 1662 entraram os régios esposos em Londres, e desembarcaram numa ponte que se organizara junto do paço, onde os esperavam a rainha-mãe, e toda a corte e nobreza da Grã-Bretanha. Houve esplêndidas festas e vistosas iluminações.

Em Londres, porém, estavam reservados grandes desgostos à nova rainha de Inglaterra, porque D. Catarina reconheceu em seu marido um carácter muito diferente do que lhe haviam afirmado. Julgava-o um homem sério e virtuoso, e encontrou, pelo contrário, um homem altamente libidinoso. D. Carlos, que em solteiro se entregara sempre a uma vida de libertinagem, e dissoluta, continuou da mesma forma, depois de casado, sem em nada se coibir, dando pouca ou nenhuma importância à mulher, chegando ao ponto de nomear para dama da rainha a sua amante, miss Palmer, que depois elevou a duquesa de Cleveland. Este procedimento deu origem a graves discórdias entre os dois régios esposos, de que resultou o rei nunca mais procurar sua mulher nem sequer a cumprimentar quando por acaso se encontravam. D. Catarina, fazendo um grande esforço, pretendeu ainda chamar a si o marido, tratando benevolamente a favorita, mas nem assim lhe mereceu a menor consideração. Na Biblioteca da Ajuda existem nas colecções dos manuscritos, a da correspondência da rainha D. Catarina com seu irmão D. Afonso VI, e sua mãe, a rainha viúva de D. João IV.

Carlos ll faleceu a 16 de fevereiro de 1685, e a rainha ainda se conservou em Londres alguns anos. A 29 de março de 1692 embarcou com destino a Lisboa, a nesta viagem percorreu França a Espanha, entrando em Portugal pela província da Beira, chegou a Lisboa somente a 20 de janeiro do 1693, sendo recebida entre vivas e aclamações do povo, indo seu irmão, D. Pedro II, esperá-la ao Lumiar, e conduzi-la ao palácio de Alcântara. Como, porém, a rainha se não desse bem naquele sítio, mudou a residência para o palácio dos condes de Redondo, a Santa Marta; mais tarde ainda foi morar para o palácio dos condes de Soure à Penha de França, e depois fixou definitiva residência em Belém, no palácio dos condes de Aveiras, hoje, paço real de Belém, pela compra que dele fez D. João V aos referidos fidalgos. D. Catarina, contudo, desejava ter uma casa propriamente sua, e resolveu-se a construí-la. O campo da Bemposta, sítio que ainda hoje conserva o nome, era pouco povoado, tinha terrenos espaçosos, ar saudável e grandes pontos de vista. Foi aquele local que a rainha escolheu para a projectada edificação. Os terrenos para o palácio e para a quinta foram comprados a diversos proprietários. Naquele, paço recebeu a rainha viúva a visita de D. Carlos, duque de Áustria, em 1701. Ali tratava todos os negócios do Estado, nas duas vezes em que foi regente do reino; a primeira, quando em maio de 1701, D. Pedro II partiu para a Beira, à frente do exército português, em companhia do arquiduque de Áustria e das tropas aliadas, para dar começo à Guerra da Sucessão de Espanha; a segunda vez, em 1705, por motivo do rei ter adoecido gravemente. 

Pelo seu falecimento, legou todos os bens que possuía ao monarca seu irmão. Na Historia Genológica, torno IV, encontram-se quatro medalhas dedicadas a D. Catarina. Estão reproduzidas na Memoria de Lopes Fernandes.

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Genealogia da infanta D. Catarina
Geneall.pt

 

 

 

 

 

Portugal - Dicionário Histórico, Corográfico, Heráldico, Biográfico, Bibliográfico, Numismático e Artístico,
Volume II, págs. 948-949

Edição em papel © 1904-1915 João Romano Torres - Editor
Edição electrónica © 2000-2012 Manuel Amaral