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Garcia
(José Elias).
n.
31 de dezembro de 1830
f. 21 de abril de 1891
Coronel
do estado-maior de Engenharia, lente da Escola do Exército, vogal
do Conselho de Instrução Naval, deputado, presidente da Câmara
Municipal de Lisboa, jornalista, Grão Mestre da Maçonaria
portuguesa, etc.
Nasceu
em Cacilhas a 31 de dezembro de 1830, faleceu em Lisboa a 21 de abril
de 1891.
Era
filho de José Francisco Garcia; chefe duma das oficinas do Arsenal
da Marinha, revolucionário constitucional, que foi cruelmente
perseguido pelo partido absolutista; preso e sentenciado à morte.
Estava no Limoeiro esperando a hora da execução, quando o exército
libertador do duque da Terceira entrou em Almada, e saindo
milagrosamente da prisão, dirigiu-se àquela vila a combater pela
liberdade. Em 1814 era major da Guarda Nacional, e tomou parte
importante na sublevação promovida por José Estêvão Coelho de
Magalhães no Batalhão do Arsenal.
José
Elias Garcia, tornou-se também entusiasta do partido liberal como
seu pai. Estudou o curso da antiga Escola do Comércio, que concluiu
em 1848; seguiu depois o curso das Escolas Politécnica e do Exército,
com destino à Engenharia militar, os quais terminou, recebendo prémios
em diversas cadeiras. Assentou praça, como voluntário, no
Regimento de Granadeiros da Rainha, em 31 de agosto de 1853; foi
promovido a alferes para Infantaria n.º 2, em 15 de julho de 1856;
a tenente em 29 de abril de 1858, a capitão em 19 de agosto do
mesmo ano, a major em 8 de julho de 1880, a tenente-coronel a 6 de junho
de 1883, e a coronel em 27 de setembro de 1888. Estava fora do
quadro da sua arma, por se achar em comissão, como director de
estudos, tendo entrado para o corpo docente da Escola do Exército
em 1857, onde foi lente proprietário da 6.ª cadeira, Mecânica
Aplicada. Pertenceu ao antigo conselho geral de instrução militar,
foi vogado conselho de instrução naval, e vereador da câmara
municipal de Lisboa, do pelouro de instrução pública, de que teve
a presidência em 1878. Foi também presidente da junta
departamental do sul, do Congresso das Associações Portuguesas;
presidente da direcção da Associação dos Jornalistas e
Escritores portugueses.
Entrou
na política, com tendências pronunciadamente democráticas, e em
1854 fundou o primeiro jornal republicano, intitulado O
Trabalho; em 1858 apareceu o Futuro,
jornal fundado e sustentado por um grupo a que pertencia José Elias
Garcia. Neste ano ainda se
não havia constituído em Portugal o Partido Republicano; José
Felix Henriques Nogueira e Lopes de Mendonça não tinham conseguido
formar em torno de si um grupo de acção. O
Futuro, mais tarde, em 1862, fundiu-se com a Discussão,
tomando o nome de Política
Liberal; foi este um
dos jornais que mais valentemente combateram contra a vinda a
Portugal das irmãs de caridade e dos lazaristas franceses, sendo
secundado nessa luta por José Estêvão na câmara dos deputados.
Em 1868 pertenceu ao célebre grupo do pátio do Salema, donde saiu
o Partido Reformista, que foi, por assim dizer, a guarda avançada
do Partido Republicano. Elias Garcia foi convidado para entrar no
ministério presidido pelo bispo de Viseu, D. António Alves
Martins, e doutra vez recebeu convite do visconde de Sá do
Bandeira. Recusou essa honra, que muitas mais vezes repeliu, mesmo
depois de ser eleito para o directório do Partido Republicano. Em
1865 foi também redactor principal do Jornal
de Lisboa, que redigiu até ao último número. A 12 de outubro
de 1873 publicou-se o primeiro número da Democracia,
jornal redigido por José Elias Garcia, inserindo um artigo
editorial escrito por Latino Coelho, precedendo a exposição do
programa republicano, que era o do jornal. Mais tarde, em 1876,
organizou-se um centro republicano, devido especialmente a Elias
Garcia. Não foi, porém, este o primeiro centro estabelecido no país,
pois já haviam sido fundados em Coimbra, mas até à data da
instituição do de Lisboa, ainda o Partido Republicano não estava
definitivamente constituído.
José
Elias Garcia foi deputado pela primeira vez em setembro de 1870,
quando tinha ainda o seu nome ligado ao Partido Reformista, que, por
ser então o mais liberal, era o que convinha aos homens que
compunham a guarda avançada da democracia. Em 1881, depois da
valente campanha do tratado de Loureço Marques, em que ele tomou
parte muito activa, comparecendo nos comícios particulares que se
realizaram em Lisboa contra aquele tratado, e como protesto contra o
governo regenerador que iniciara o período das perseguições, foi
eleito pelo círculo 95, de Lisboa, para a legislatura que começou
em 2 de janeiro de 1882, e terminou pela dissolução de 24 de maio
de 1884. Tornou a ser deputado na legislatura de 15 de dezembro do
referido ano de 1884 até 7 de janeiro de 1887, dia em que foi
dissolvida a câmara. Também pertenceu à legislatura de 2 de abril
de 1887, dissolvendo-se a Câmara em 11 de julho de 1889. Nas eleições
que se seguiram, a lista republicana ficou derrotada, porque, não
tendo sido atendidas as reclamações dos centros republicanos, a
votação se dividiu.
Com
a questão inglesa e os primeiros actos do despotismo do governo
regenerador, o partido republicano novamente se animou, e apesar das
simpatias gerais dos candidatos do governo, escolhidos entre os
africanistas de maior popularidade, a lista republicana triunfou no
dia 29 do março de 1890, sendo Elias Garcia novamente eleito,
juntamente com Latino Coelho e Manuel Arriaga. Durante o tempo em
que foi vereador da Câmara Municipal, prestou muitos e importantes
serviços; estabeleceu as escolas centrais, o ensino da ginástica,
os batalhões escolares, o ensino do desenho de ornato, o canto
coral das escolas e as bibliotecas populares. A primeira junta
escolar que funcionou foi por ele presidida. Pertenceu à Maçonaria
trinta e oito anos começando por aprendiz de maçon
em 1853, dando entrada na Loja
5 de novembro,
sob o nome de Irmão
Péricles.
Ali subiu até rosa-cruz,
sétimo grau do rito francês. Morrendo José Estêvão Coelho
de Magalhães, grão-mestre da Confederação Maçónica Portuguesa,
Elias Garcia era orador da Grande Loja. Em agosto de 1881, sendo
feita a fusão das corporações maçónicas portuguesas sob o nome
de Grande Oriente Lusitano
Unido, filiou-se na loja Simpatia,
sendo eleito Venerável. Foi presidente do conselho da Ordem e grão-mestre
interino em 1884, em substituição do conde de Paraty. Mais tarde,
em 1885, pela morte de António Augusto de Aguiar, foi eleito
definitivamente grão-mestre. Nessa ocasião desempenhava também o
lugar de presidente do conselho da Ordem. Foi uma verdadeira vitória
para José Elias Garcia a sua eleição a grão-mestre da Maçonaria,
porque se deu uma renhida luta, havendo nomes poderosos indicados
para o referido cargo. Como grão-mestre da ordem era também
presidente da Assembleia geral do Asilo de S. João, estabelecido em
Lisboa, e fundado por José Estêvão, concorrendo Elias Garcia em
grande parte. Trabalhou com ardor pelo progresso da maçonaria e
para que ela bem em público manifestasse que não havia motivo para
prevenções que só cabem em espíritos pouco desenvolvidos, e
assim viu coroados os seus esforços ao conseguir que ela
publicamente manifestasse que não tinha outros fins que não fossem
a defesa da pátria e da Liberdade e a pratica do bem e da justiça.
Quando se deu o caso de 11 de janeiro de 1891, dirigiu-se como grão-mestre
da Maçonaria, a todas as potências maçónicas do estrangeiro,
relatando a verdade dos factos e o direito que nos assistia, e assim
apareceram em muitos jornais estrangeiros artigos defendendo
direitos da nação portuguesa. A biografia deste prestimoso cidadão
encheria volumes, se minuciosamente se narrassem todos os actos da
sua vida pública, pondo bem em relevo a grandeza, a abnegação e a
lealdade daquele irrepreensível carácter. Elias Garcia morreu
pobre, porque sacrificou tudo quanto auferia pelos seus trabalhos,
em proveito do seu partido, e para a sustentação da Democracia,
jornal que ele fundara, e que lhe merecia a maior dedicação. A
sua morte foi muito sentida; a imprensa unânime, de todas as cores
políticas do país, consagram nas colunas dos seus jornais, indeléveis
testemunhos de quanto apreciava e respeitava o carácter e
merecimento de tão útil e benemérito cidadão, e lastimava a sua
perda.
O
funeral foi imponentíssimo. Ali se viam incorporadas diversas
associações as crianças do asilo de S. João, as escolas
municipais com os respectivos professores, os alunos e o corpo
docente da Escola do Exército representantes de todos os partidos
políticos, da câmara municipal, da maçonaria portuguesa,
bombeiros municipais, etc. Quatro anos depois em 21 de abril de
1895, o Grande Oriente Lusitano mandou
levantar um jazigo no cemitério Oriental, para onde foram
trasladados os seus restos mortais. Também foi uma manifestação
imponente. O monumento é simples, tem a forma de obelisco, foi
delineado por Silvestre da Silva Matos. Está levantado em terreno
concedido gratuitamente pela câmara municipal, que tomou o encargo
da sua conservação e reparação. Começou a construir-se nos fins
do ano de 1893, ficando concluído nos princípios de abril de 1894.
A base do monumento assenta em três degraus, em cujas faces se
encontram: na anterior, em medalhão, o busto de Elias Garcia; em
uma das laterais o emblema da ciência composto da esfera armilar e
doutros instrumentos igualmente simbólicos; na outra a figura da
Liberdade pairando sobre o globo, sustentando numa das mãos o facho
do progresso, e na outra mostrando despedaçadas as cadeias da
servidão; e na face posterior diversos emblemas maçónicos. Acima
da base do obelisco eleva-se uma pirâmide medindo 4,20m de altura,
tendo como remate uma bela estrela de cristal de cinco raios. Foi
feita na Áustria por impossibilidade absoluta e comprovada de se
fabricar em Portugal. A decoração dos quatro lados da coluna é
composta de outros quadros em baixo relevo, desenhados e cinzelados
por Silvestre Matos e seus operários. A lápide foi oferecida pelo
industrial Moreira Rato, proprietário da fabrica de cimento de
Alhandra. É um livro sobre o qual se vê um poema, e onde estão
gravadas as letras ABC. Folhas de hera acompanham o livro, tendo a
eles presa uma fita em forma de laço com a legenda: Instrução
do povo.
Quando
era vereador publicou: Câmara
municipal de Lisboa. Informação da proposta do vereador Joaquim
José Alves, relativa ao remate da fachada principal do edifício
dos novos paços do concelho, apresentada à
câmara
pela comissão
de obras e melhoramentos em sessão de 5 de Outubro,
e aprovada
em sessão de 12 de outubro
de 1874, Lisboa, 1874. Os seus discursos proferidos nas sessões
da Câmara Municipal e da Câmara dos Deputados encontram-se nos
respectivos Arquivo
municipal e Diário
das sessões, etc. As suas lições na Escola do Exército
correm litografadas. No Nível,
de 15 de novembro de 1834, vem o seu retrato acompanhado dalguma
notas biográficas, e seguidamente, de pág. 90 a 92, ocupando
quatro colunas: Discurso
proferido... na grande loja da confederação maçónica
portuguesa,
em 20 de dezembro
de 1862 e para comemorar
o falecimento
do respeitável
grão-mestre
e irmão José Estêvão
Coelho de Magalhães.
José Elias Garcia Almanaque Republicano
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