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Guerra Junqueiro

Guerra Junqueiro

Guerra Junqueiro (Abílio).

n.   17 de Setembro de 1850.
f.    [7 de Julho de 1923].

 

Bacharel formado em Direito pela Universidade de Coimbra, deputado, escritor e poeta contemporâneo, etc. 

N. em Freixo de Espada à Cinta a 17 de Setembro de 1850, sendo filho do abastado negociante e lavrador José António Junqueiro Júnior, e de D. Ana Guerra, a qual faleceu quando seu filho contava apenas 3 anos de idade.

Estudou os preparatórios no Liceu, matriculando-se depois na faculdade de Direito na Universidade no ano de 1873. Foi secretário-geral do governador civil dos distritos de Angra do Heroísmo e de Viana do Castelo. Em 1878, o círculo de Macedo de Cavaleiros o elegeu por seu representante em cortes. Desde muito novo começou a manifestar notável talento poético, e já em 1868 Luciano Cordeiro, no seu Livro de critica, lhe registrava o nome entre os dos mais esperançosos da nova geração de poetas portugueses. No mesmo ano, no opúsculo intitulado O Aristarco portuguez, apreciando-se o livro, publicado em Coimbra em 1867 por Guerra Junqueiro, Vozes sem ecco, se prognostica um futuro auspicioso ao seu autor. No Porto, na mesma data, aparecia outra obra de Guerra Junqueiro, Baptismo de amor, acompanhada dum preâmbulo de Camilo Castelo Branco; em Coimbra publicara Guerra Junqueiro a Lyra dos quatorze annos, volume de poesias; e em 1867 o poemeto Mysticae nuptiae; no Porto a casa Chardron editara-lhe em 1870 a Victoria da França, que depois saiu em Coimbra em 1873. Sendo proclamada a Republica em Espanha, escreveu ainda neste ano o veemente poemeto À Hespanha livre. Em 1874 apareceu o poema A morte de D. João, edição feita pela casa Moré, do Porto, obra que alcançou o maior sucesso na nossa literatura contemporânea. Toda a imprensa se ocupou deste poema, apreciando-o devidamente; Camilo Castelo Branco também lhe consagrou um artigo nas Noites de insomnia, e Oliveira Martins, na revista Artes e Letras. Em Coimbra foi redactor da Folha, jornal fundado e dirigido pelo poeta João Penha. 

Vindo residir para Lisboa foi colaborador em prosa e em verso, de jornais políticos e artísticos, como a Lanterna magica, com a colaboração de desenhos de Rafael Bordalo Pinheiro. Em 1875 escreveu o Crime, poemeto a propósito do assassínio do alferes Palma de Brito; a poesia Aos Veteranos da Liberdade; o volume de Contos para a infancia. Nos Brindes do Diario de Noticias também publicou o poemeto Fiel, no de 1875, e o conto Na feira da Ladra, no de 1877. Em 1878 publicou em Lisboa o poemeto Tragedia infantil. Uma grande parte das composições poéticas de Guerra Junqueiro está reunida no volume que tem por titulo A mesa em férias, publicado em 1879. Neste ano também saiu o poemeto O Melro, que depois foi incluído na Velhice do Padre Eterno, edição de 1885. Publicou Idyllios e Satyras, e traduziu e coleccionou um volume de contos de Andersen e outros. Guerra Junqueiro esteve nas ilhas dos Açores, e quando voltou foi atacado duma cruel enfermidade do estômago. Resolveu ir tratar-se a Cauterets, mas não saiu de Paris, onde, segundo um dos seus biógrafos, iniciou o tratamento com canções de vaudeville, harmonias da Ópera, digressões ao Bois de Boulogne e passeios no Boulevard. Regressando, publicou em 1885 no Porto A velhice do Padre Eterno, que provocou acerbas réplicas por parte da opinião clerical, representada na imprensa, entre outros, pelo cónego Sena Freitas. Em seguida apareceram outras composições líricas, como A Lagrima, etc. Quando se deu o conflito com a Inglaterra, e os espíritos se alvoroçaram com a repressão politica que se seguiu com o ultimatum de 11 de Janeiro de 1891, Guerra Junqueiro interessou-se profundamente nesta crise nacional, e escreveu o opúsculo Finis Patriae, e a Canção do Odio, para a qual Miguel Ângelo escreveu a música. Posteriormente publicou o poema Patria, sobre o qual se encontra uma extensa apreciação critica, no Brazil mental. Alguns jornais de Lisboa e a Voz Publica, do Porto, transcreveram a análise independente dum publicista alemão acerca deste poema. Em 1892 publicou-se o livro Os Simples; em 1902 a Oração á Luz, a primeira duma série. O poeta anunciava um volume em prosa, que seria a definição da sua filosofia, e no qual vem meditando e trabalhando: Ensaios espirituaes, A Lei da Vida. De Guerra Junqueiro também existem preâmbulos a obras alheias, como o que acompanha o livro de Luís de Andrade, Caricaturas em prosa. De colaboração com Guilherme de Azevedo, em 1876, escreveu a revista Viagem à roda da Parvonia, que se representou no [Teatro] Gymnasio. Em 1901 publicou Guerra Junqueiro no jornal francês Revue, que regista semanalmente o movimento científico, o artigo O Radium e a radiação universal. Versa sobre o Radium, corpo recentemente descoberto, que se tornou assunto de numerosas questões. Ao autor de Os Simples despertou também interesse a questão, e querendo aprofundar os mistérios da natureza, estudou e pôs seu superior talento ao serviço da ciência, emitindo sua opinião sobre o estranho e discutido corpo que tanto tem preocupado os maiores sábios. Muitas das composições poéticas de Guerra Junqueiro estão traduzidas em diversas línguas: em espanhol, por Curros Henriquez; na América espanhola, por Leopoldo Diaz, de Buenos Aires; em inglês, por Prestage; em francês, por Formont; em italiano, por Cannizzaro, etc. Também se encontram em revistas e em obras especiais, francesas e alemãs, apreciações elogiosas e criticas acerca do poeta e da sua obra. Nos últimos anos tem-se entregado aos trabalhos de lavoura como seu pai na sua quinta da Barca de Alva, ocupando-se de assuntos agrícolas com notável zelo, dando os seus estudos ensejo a polémicas pelo jornalismo, e merecendo louvores de homens de ciência.

 

Transcrito por Manuel Amaral

 

 

Portugal - Dicionário Histórico, Corográfico, Heráldico, Biográfico, Bibliográfico, Numismático e Artístico, Volume III, págs. 865-866.

Edição em papel © 1904-1915 João Romano Torres - Editor
Edição electrónica © 2000-2010 Manuel Amaral