|
|
|
Joana
(Santa).
n. 6
de fevereiro de 1452.
f. 12 de maio de 1490.
Princesa
de Portugal, filha do rei D. Afonso V e da rainha, sua mulher, D.
Isabel.
Nasceu
em Lisboa a 6 de fevereiro de 1452; faleceu no convento de Aveiro a
12 de maio de 1490.
O
nascimento desta princesa causou o maior entusiasmo e alegria, por não
haver sucessor, e logo no berço foi jurada em cortes por princesa
herdeira do reino, titulo que pela primeira vez se dava em Portugal.
O nome de Joana, que recebeu no baptismo, fora em memória de S. João
Evangelista, a que sua mãe consagrava cordial afecto. Desde muito
criança mostrou tendências para a vida religiosa. Tinha quinze
anos quando faleceu a rainha sua mãe, e D. Afonso V logo lhe deu
casa com a mesma grandeza e fausto, e por mordomo, primeiramente a
Fernão Telo de Meneses, do seu conselho, e depois a D. João de
Lima, 2.º visconde de Vila Nova de Cerveira. A princesa continuou
na sua vida religiosa, tornando-se digna da admiração de todos
pelas suas elevadas virtudes, e pela forma com que ao decoro da sua
pessoa unia os rigores da maior austeridade, porque no público
ostentava pelas galas a pompa e fausto senhoril, e no interior
ocultava por baixo delas a estamenha grosseira, o cilício e outros
instrumentos de penitencia. Não faltava nas festas e nas danças
com o semblante alegre, mas não perdia um só momento de se
entregar com humildade ao jejum, à oração, e sobretudo às muitas
esmolas que repartia com largueza, e por sua própria mão aos
pobres. Chegou a ter por divisa, pela sua grande devoção, e a
mandar pintar uma coroa de espinhos em todas as salas do seu paço,
fazendo-a gravar em sua prata, e esmaltar em todas as suas jóias.
Alguns príncipes desejaram tê-la por esposa; Luís XI, rei de França,
pediu-a em casamento para o delfim seu filho; Maximiliano, rei dos
romanos, filho do imperador Frederico III; [Ricardo III], rei de
Inglaterra; porém a santa princesa todos rejeitou, porque o seu
maior desejo era consagrar-se a Deus.
Em
1471, voltando D. Afonso V da tomada de Arzila e de Tanger;
determinou Santa Joana cortar por tudo que se oferecesse contra a
sua vocação, e tomar o hábito de religiosa. Esperou o pai,
vestida ricamente e adornada com as melhores jóias, beijou-lhe
reverente a mão, declarou sua vontade, requereu como paga do mesmo
triunfo que ele ganhara, instou, e conseguiu, ainda que contra
vontade de D. Afonso, o que ela mais desejava, a entrada no
claustro. Passou primeiro ao mosteiro de Odivelas para a companhia
de D. Filipa de Lencastre, sua tia; sentindo, porém, abraçar-se em
desejos de mais austera observância, resolveu recolher-se no
convento de Jesus de Aveiro da ordens de S. Domingos, por ter fama
de grande austeridade, preferindo-o ao de
Santa Clara, de Coimbra, que seu pai lhe apontava. Fez a sua
entrada solene no referido convento de Aveiro com a mesma, D.
Filipa, sua tia, a 3 de agosto de 1472. Desejosa de professar,
passados dois anos e meio depois da sua entrada, a 25 de janeiro de
1475, vestiu o hábito com todas as cerimónias da religião. A
deliberação da piedosa princesa causou o maior desgosto a D.
Afonso V e a seu filho, o príncipe D. João, que se opuseram
energicamente, assim como os grandes do reino, levando os povos a
protestar por seus procuradores à porta do mosteiro contra aquela
resolução, de que podiam resultam graves perigos para o reino em
vista da falta de sucessores à Coroa, mas esses rogos, nem a doença,
de que esteve quase sendo vitima antes de terminar o ano de
noviciado, fizeram desistir a princesa do seu propósito. Não pôde,
contudo, professar, porque uma junta de teólogos congregada na
presença do soberano para decidir tão importante assunto, resolveu
que a princesa estava obrigada em consciência a deixar essa pretensão.
D. Joana, vendo que não podia realizar o seu desejo, contentou-se
em ficar no convento como secular, não havendo meio de a resolver a
voltar à corte. No ano de 1479, porém, sobreveio-lhe nova tribulação
com a peste que se desenvolveu em Aveiro, e a santa princesa foi
constrangida a sair do convento a 7 de setembro e a retirar-se à
vila de Avis, e depois a Abrantes. Cessando o mal, passados onze
meses, recolheu-se outra vez ao seu convento. Com a morte do rei seu
pai em 1481 e tendo sido aclamado seu irmão D. João II, fez voto
solene de castidade a 25 de novembro do referido ano, continuando
com maior fervor os seus costumados exercícios com todos os rigores
de religiosa, até que faleceu. Foi sepultada no coro, onde em 1577
D. Ana Manique de Lara, duquesa de Caminha, lhe mandou fazer um túmulo
de ébano, marchetado de bronze dourado.
Pelas
suas virtudes o povo principiou a considerá-la santa, culto que já
lhe rendia em vida, mas que aumentou em devoção depois da sua
morte. No ano de 1626 começou-se com grande empenho a diligência
da sua beatificação. Abriu-se o túmulo, e encontrou-se o corpo
como se tivesse ali sido depositado naquela hora; tiradas as inquirições
de seus milagres pelo bispo de Coimbra D. João Manuel, se lhe
mandou pendurar
diante uma lâmpada de prata. Foi canonizada a 4 de abril de 1693,
por Inocêncio XII, concedendo que no reino e seus domínios se
pudesse rezar desta virgem, e pudessem ser veneradas as suas
imagens, e invocar a protecção, como bem-aventurada, a rogos do
rei D. Pedro II e de todos os prelados e magistrados do reino. O
referido monarca D. Pedro II lhe mandou fazer um sumptuoso mausoléu
de jaspe finíssimo lavrado com variedade de embutidos, mas só
depois da sua morte, é que as santas relíquias para ali foram
trasladadas, a 25 de outubro de 1711. Sobre o mausoléu estão as
quinas portuguesas, e na face a coroa de espinhos que a santa
adoptara por divisa. O mausoléu estava cercado de lâmpadas, e o
duque de Aveiro, D. Gabriel de Lencastre, lhe ajuntou cinco
primorosos candeeiros de prata de grande valor, que doou ao
mosteiro. Santa Joana foi senhora da vila de Aveiro e seu termo,
menos a jurisdição que não quis nunca, e de todas as rendas,
direitos reais dízimos de pescado, com a sisa e imposição do sal
da mesma vila; e dos lugares de Mortágua, Eixo, Requeixo, a quinta
de Vilarinho e de Balsaime, com todos os seus reguengos de que se
lhe fez mercê a 19 de agosto de 1485, como consta do Arquivo Real.
|
Lenda
de Santa Joana Princesa Infopédia
Santa
Joana Princesa Dominicanos
|
|
|
|
|