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Keil
(Alfredo).
n. 8
de julho de 1854.
f. 4 de outubro de 1907.
Compositor
de música e pintor contemporâneo muito apreciado. Nasceu em Lisboa
a 8 de julho de 1854, sendo filho de Cristiano Keil, alfaiate alemão
de muita fama já falecido, e que desde largos anos se estabelecera
em Lisboa, gozando da geral estima e consideração, casado com D.
Josefina Keil.
Fez os seus
primeiros estudos no colégio inglês, da rua de S. Filipe Nery, a
Entremuros, e em 1868, tendo apenas catorze anos de idade, foi para
a Baviera encetar os seus estudos artísticos, e em Nuremberga é [que]
começou a cultivar a arte. A Academia de pintura era então
dirigida por Kreling, um grande escultor, pintor e arquitecto.
Kreling possuía uma bela casa no boulevard exterior da antiga
cidade bávara, e ali reunia em jantares e concertos os seus discípulos
que, além de desenho e pintura, aprendiam também musica. De
Nuremberga passou a Munique, mas a sua saúde obrigou-o a deixar a
Alemanha e regressar à pátria, em 1870; uma pertinaz doença lhe
atacara a garganta, doença que se tornaria incurável naqueles países
frios. Em Lisboa continuou com o professor da Academia das Belas
Artes, Joaquim Gregório Nunes Prieto, os seus estudos de pintura.
Em 1875 expôs pela primeira vez trabalhos seus na exposição da
Sociedade Promotora de Belas Artes, e obteve o prémio de duas
medalhas de bronze. Na exposição de 1876. o júri premiou com duas
medalhas de prata os seus quadros A Sesta e a Meditação. Em 1878
concorreu à Exposição Universal de Paris com o quadro Melancolia,
que alcançou menção honrosa e o prémio pecuniário oferecido
pelo governo português. Em 1879, na Exposição do Rio de Janeiro
obteve a medalha de ouro, a única distribuída na secção de
pintura.
O governo
português agraciou-o em 1885 com o hábito de Cristo, pelo seu mérito
artístico. Em 1886, na Exposição de pintura de Madrid, apresentou
dois quadros: Pátio do prior e Boa lâmina, que lhe
mereceram ser condecorado com a ordem de Carlos III. Em 1890 abriu
no seu atelier, na Avenida da Liberdade, uma exposição onde
apresentava umas 300 telas, na sua maior parte estudos de marinha e
de paisagem, que foram quase todas adquiridas por diversos amadores,
muitos deles estrangeiros. O falecido rei D. Luís I, que era amigo
de Alfredo Keil, adquiriu para a sua galeria alguns quadros do
distinto artista, entre os quais se contam: A Saída da Igreja, figura
de mulher do século XVI; A Primavera, grupo de mulheres e
crianças num campo em flor; Marinha, pedaço das fragas da
pitoresca povoação das Azenhas do Mar; um Pôr-do-sol,.junto
à ribeira de Colares. Afastou-se depois das exposições, dedicando
se com maior fervor ao estudo da música, onde lhe estavam também
reservadas grandes glorias. No seu atelier de pintor havia um piano
e o moço artista, de quando em quando, deixava o quadro em que
trabalhava, e traduzia no teclado as melodias que a inspiração lhe
cantava, em quanto esboçava na tela uma figura ou compunha uma
paisagem. Depois o teatro, com as suas glórias ruidosas
fascinava-o, exercia uma poderosa sedução sobre o seu espírito
impressionável e entusiasta de artista. Alfredo Keil não pôde
resistir há tentação, deixou-se vencer pelos seus sonhos de
grande maestro.
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Alfredo
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Ao tempo que
estudava pintura, cultivava também a musica com o pianista húngaro
Óscar de le Cinna e com o professor Ernesto Vieira, que lhe ensinou
harmonia e instrumentação. As suas primeiras composições foram a
polca Aurora, as valsas Teus olhos negros, Roses Pompons e
Romance, editadas pela antiga casa Figueiredo, da rua do
Carmo, que já há muito não existe; seguiram-se a Morenita, polca,
Souvenir de Vienne suite de valsas, e Carnaval, polca,
editadas pela casa Neuparth, que publicou então a obra musical mais
importante de Alfredo KeiI, o primeiro volume das suas melodias
oferecidas a D.Luís I. Animado pelo bom êxito que as suas produções
obtiveram, pensou em escrever para o teatro e o primeiro trabalho
que apresentou, foi a opera cómica em 1 acto, Suzana, com
letra de Higino de Mendonça, a qual se cantou na Trindade em 1882.
Mas a sua fantasia levava-o mais longe, e começou a dedicar-se a
trabalhos mais transcendentes; apareceu então o Recueil de
melodias para piano; Pátria!, palavras de Gomes Leal, para
piano e canto. A Academia Real dos Amadores de música realizou dois
concertos: no salão da Trindade, em que se executou a sinfónica As
Orientais, letra de César Ferreal, a grande orquestra, coros e
solos; e no Coliseu dos Recreios a cantata Pátria! letra de
Schiappe Cadet, executada a grande orquestra, coros e solos. Estas
composições ainda se repetiram em outros concertos, e vieram
distingui-lo como apreciado maestro, distinção que depois veio
ainda corroborar o seu trabalho de grande vulto, a opera em 4 actos
e 1 prólogo, D. Branca, sendo o libreto extraído do poema
do mesmo titulo, de Almeida Garrett, por César Ferreal. A ópera
foi posta em cena no teatro de S. Carlos, à custa do seu autor, com
extraordinário luxo e grandeza, depois de vencidas as inúmeras
dificuldades que sobrevieram da parte da empresa. A première da
D. Branca, realizada em 1888 obteve um sucesso como há
muitos anos se não observava no nosso teatro lírico. A sala estava
completamente cheia; as pessoas reais, família e amigos de Alfredo
Keil, os jornalistas distintos, os dilettanti, os habitués, todos
se viam ali reunidos, ansiosos de ouvir a nova ópera, além de
muitas outras pessoas que exclusivamente foram a S. Carlos nessa
noite, movidas pela curiosidade e pela fama que a opera já alcançara
durante os ensaios. O êxito foi colossal, e durante noites
sucessivas, e ainda na época seguinte, repetiu-se a opera recebendo
as maiores manifestações de simpatia, havendo chamadas aos
cantores e ao maestro, que foram alvo das mais brilhantes ovações.
Outra opera sua, Irene, em 4 actos, letra de César Ferreal,
foi cantada em Turim no ano de 1893 e depois no teatro de S. Carlos,
em 1896, também agradou muito, sendo Alfredo Keil aplaudido
freneticamente. Em 1902 cantou-se no teatro de S. João, do Porto,
uma nova opera em 3 actos, A Serrana, que depois se cantou em
Lisboa, onde também foi muito bem recebida. Escreveu outra opera,
intitulada Índia, a propósito da comemoração do centenário
da descoberta do caminho marítimo da Índia, e que dizem não ter
entrado no programa das festas por obrigar a grandes despesas. Por
ocasião das festas do centenário henriquino no Porto, em 1894,
escreveu o Hino do infante D. Henrique que se executou no
Campo da Regeneração por 4 bandas militares, caçadores 7,
infantaria 18 e 20, e a Guarda Municipal, sendo ensaiado pelo
professor António Canedo. Na execução tomaram parte um grande
numero de crianças de ambos os sexos e coristas adultos. Para o
centenário de Gualdim Pais em Tomar, no ano de 1895, escreveu uma
marcha intitulada Marcha de Gualdim Pais. A Portuguesa, hino
patriótico, adquiriu grande popularidade; foi inspirado pelo ultimato
do governo inglês de 11 de Janeiro de 1890, e cantou-se com o
maior entusiasmo no teatro da Alegria no aproposito, intitulado, Torpeza,
que se representou ali, devido à pena de António Campos Júnior.
A Portuguesa tornou-se um verdadeiro hino nacional e patriótico,
escrevendo os versos Lopes de Mendonça.
Alfredo Keil foi
agraciado com a comenda da ordem de S. Tiago, e o governo italiano
concedeu-lhe a comenda da coroa de Itália. É membro da Associação
dos Compositores de França, de que era presidente o maestro
Ambroise Thomas. A ópera Serrana foi dedicada ao maestro
Massenet. Publicou o opúsculo Colecções e museus de arte em
Lisboa; Lisboa, 1905.
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