Doutor
e lente catedrático de filosofia na Universidade de Coimbra,
ministro de estado, vogal do Conselho Superior de Instrução Pública,
deputado, sócio correspondente da Academia Real das Ciências,
escritor, deputado, par do reino, actualmente presidente do directório
republicano, etc.
Nasceu
no Rio de Janeiro a 28 de março de 1851, sendo filho do 1.º barão
de Joane, António Luís Machado Guimarães, e de sua segunda
mulher, D. Praxedes de Sousa Guimarães.
Vindo
para Lisboa, em criança, estudou os preparatórios no Porto, e
matriculou-se em outubro de 1866 na universidade em matemática, e
no 1.º ano recebeu a honra de partido, mas chegando ao 3.º não
prosseguiu. Passando a frequentar o curso de filosofia, formou-se em
1873, tendo recebido as honras de 1.º accessit no curso de
Botânica, distinto na 1.ª parte de Física, e o 2.º accessit
no 5.º ano. Continuando a carreira universitária, fez exame de
licenciatura em 14 de janeiro de 1875, defendeu conclusões magnas
em 9 de junho de 1876, e doutorou-se no dia 2 de julho seguinte.
Estando vagas duas substituições na faculdade, concorreu a elas, e
tendo feito as respectivas lições em Janeiro de 1877 e sido
aprovado em primeiro lugar, foi despachado por decreto de 28 de fevereiro
do mesmo ano, a destinado à regência das 3.ª, 4.ª, 5.ª e 8.ª
cadeiras. Por decreto de 17 de abril de 1875 foi despachado lente
catedrático de Filosofia, e tendo começado a professar na universidade
sendo ainda licenciado, era em 1883 lente de agricultura geral,
zootecnia e economia rural na 8.ª cadeira do curso filosófico.
Durante
alguns anos manteve-se entregue apenas aos seus estudos, e à regência
da sua cadeira, cultivando por dedicação a literatura, mas
afastado quase por completo dos assuntos políticos. Depois
filiou-se no partido regenerador, e em 1882 foi eleito deputado pelo
círculo de Lamego, fazendo a sua estreia parlamentar em 1883, na
discussão da resposta ao discurso da coroa, ocupando-se
especialmente da instrução pública. Na legislatura de 1886 foi
novamente deputado, sendo eleito por Coimbra. Em 1890, o corpo
catedrático da universidade o elegeu par do Reino, como
representante daquele estabelecimento científico, e em 1894 tornou
a ser eleito, pelos sufrágios dos seus colegas. O sr. dr.
Bernardino Machado dedicou-se sempre com mais especialidade aos
assuntos do ensino, tornando-se um apóstolo valioso da instrução
popular. Os principais assuntos de que tratou no parlamento foram a
reforma da instrução secundária, liberdade do ensino, e organização
do Conselho Superior de Instrução Pública, que veio a ser criado
pelo decreto de 23 de maio de 1884, a instituição dum ministério
de Instrução Pública, que se criou mais tarde em abril de 1890,
tendo curta duração. Em 1892 foi nomeado vogal do Conselho
Superior de Instrução Pública, tornando-se então deveras notável
a sua actividade como propagandista do ensino, prestando auxilio
valioso às instituições particulares de instrução, entre elas a
Academia de Estudos Livres, que tem há muitos anos os foros de
universidade popular. A maçonaria portuguesa o escolheu para seu grão-mestre,
cargo que exerceu alguns anos. Desempenhou algumas comissões
importantes, entre as quais se conta a de director do Instituto
Industrial e Comercial, e a de representante de Portugal em Madrid,
no congresso pedagógico hispano português americano, nos festejos
da celebração do centenário de Cristóvão Colombo. Foi eleito
vice-presidente nesse congresso, para o qual organizou uma valiosa
colecção de memórias e fotografias dos nossos principais
estabelecimentos de instrução. Foi ministro das Obras Publicas em
1893, no gabinete presidido pelo falecido estadista Hintze Ribeiro,
e a ele se deve o decreto que autorizou a organização da exposição
industrial portuguesa, que nesse ano se realizou nos salões do
Museu Industrial e Comercial, instalado no edifício dos Jerónimos,
cuja exposição se inaugurou no dia 28 de julho. Durante o seu
ministério prestou bons serviços entre os quais se contam: a criação
de algumas escolas industriais, o desenvolvimento da sericultura em
Mirandela, Guarda e Coimbra, etc. Publicou três decretos em protecção
ao operariado: regulando o trabalho das mulheres e dos menores nas
fabricas industriais, regulando as bolsas do trabalho, e criando o
tribunal de árbitros-avindores.
Voltou
depois à universidade continuando na regência da sua cadeira, de
antropologia, que foi criada por sua iniciativa, a única que existe
em Portugal, e sendo eleito presidente do Instituto de Coimbra,
consagrou-se com toda a dedicação ao seu desenvolvimento, dando
novo esplendor ao boletim dessa instituição,
a criando-lhe um magnifico museu. Em 1897 for o presidente do
congresso pedagógico organizado pelo professorado primário, que se
inaugurou em Lisboa no dia 12 de abril desse ano.
Os
ideais democráticos, que sempre alimentara, pareceram
arraigarem-se-lhe cada vez mais, a então declarou-se abertamente
republicano, tornando-se um dos membros mais influentes do seu novo
partido, apresentando-se em comícios a em conferências de
propaganda. Em 1902 foi elevado a presidente do directório do Partido
Democrata, lugar em que se conserva. Em 1901 tomou parte muito
activa na greve dos estudantes de Coimbra, que se generalizou por
todo o país, protegendo-os e animando-os, o que o levou a resignar
o seu lugar de lente da universidade.
O
sr. dr. Bernardino Machado casou em janeiro de 1882, no Porto, com
D. Elzira Gonçalves Pereira, filha de Miguel Dantas Gonçalves
Pereira, antigo deputado. Colaborou nos Estudos cosmológicos,
jornal que se publicou em Coimbra, 1871, e no Instituto de
Coimbra, onde além de outros trabalhos, inseriu em 1875, tomos
21, 22 e 23, a dissertação para o acto de licenciatura, com o título:
Teoria mecânica da reflexão a da refracção da luz
(segundo Fresnel).
Bibliografia:
Dedução
das leis dos pequenos movimentos periódicos da força elástica; teses
de filosofia natural que ... se propõe defender na Universidade de
Coimbra no dia 9 de junho de 1876 para obter o grau de doutor,
dissertação inaugural; Teoria matemática das interferências,
dissertação de concurso, 1876; Afirmações políticas,
1888-1893; Coimbra, 1896; O Ensino, Coimbra, 1898; A
Industria, Coimbra, 1898; O ensino primário e secundário,
Coimbra, 1899; O ensino profissional, Coimbra, 1900; Notas
de um pai, Coimbra, 1897; outro vol. em 1901; A Agricultura,
Coimbra, 1900; Introdução á pedagogia, 1892; Pela
liberdade (opúsculo), 1900; O ministério das obras publicas
em 1893; A Universidade de Coimbra, 1905; Conferencias
políticas (opúsculo), 1904; Pela Republica, 1908; Os
meios de comunicação e o comércio; Homenagens; 1903; Da
monarquia para a republica, 1905; A Academia de Coimbra
(folheto), 1903; Teorias químicas, artigos publicados na Revista
científica, publicada do Porto.
Bernardino
Machado
Presidência da República