Portugal - Dicionário

A B C D E F G H I J K L M N O P Q R S T U V W X Y Z
O Portal da História  > Dicionário > D. Lourenço José Xavier de Lima, 1.º conde de Mafra
D. Lourenço de Lima, 1º conde de Mafra
D. Lourenço de Lima, 1º conde de Mafra, por Louis Gauffier

Mafra (D. Lourenço José Xavier de Lima, 1.º conde de).

 

n.      15 de maio de 1767.
f.       11 de janeiro de 1839.

 

Fidalgo da Casa Real, ministro plenipotenciário em diversas cortes, etc. 

Nasceu em 15 de maio de 1767, faleceu a 11 de janeiro de 1839. Era filho do 1.º marquês de Ponte de Lima, D. Tomás Xavier de Lima Nogueira Vasconcelos Teles da Silva, e da marquesa sua mulher, D. Eugénia Maria Josefa de Bragança. 

D. Lourenço de Lima seguiu a carreira diplomática, e devido à influencia de seu pai, ministro do Reino no tempo de D. Maria I, foi, ainda muito novo, despachado enviado extraordinário e ministro plenipotenciário para Turim, sendo transferido dessa corte, ainda nos últimos anos do século 18, para Viena de Áustria, onde se conservou até 1801. Nomeado em 6 de janeiro desse ano para a enviatura de Londres, como sucessor de D. João de Almeida, foi logo incumbido de solicitar do governo inglês os recursos das tropas e dinheiro de que Portugal carecia para fazer face à invasão que estava iminente. O governo inglês escusou-se sempre, e D. Lourenço de Lima nada pôde conseguir. Mandou então em 15 de julho da 1801 um ofício ao ministro dos Negócios Estrangeiros de Lisboa, narrando a forma pouco agradável como as suas solicitações haviam sido aceites, mostrando bem claramente o sistema interesseiro e mercantil daquela corte. Vendo que as suas reclamações nunca eram atendidas nem os seus pedidos satisfeitos, julgando que o governo inglês o tinha em pouca consideração, pediu, e obteve em 1803, a transferência para a corte de Madrid, mas passando por Lisboa, demorou-se alguns meses, e não chegou a tomar posse do seu novo cargo, porque foi chamado para Paris, como se vê do seguinte ofício, dirigido por António de Araújo e Azevedo, mais tarde conde da Barca, ao nosso ministro em Londres, com a data de 7 de julho de 1801: 

«Já constará a V. Sr.ª que o príncipe regente, nosso senhor, determinou mandar a Paris D. Lourenço de Lima, como embaixador extraordinário para cumprimentar Bonaparte. O marechal Lannes tinha escrito há muito tempo ao seu governo, solicitando que lhe desse o carácter de embaixador, e indicou para Paris D. Lourenço de Lima, julgando que ele poderia, mais do que qualquer outro, fazer-se agradável a Bonaparte. Seguindo-se depois a nomeação do imperador, não quis sua alteza real mandar logo as credenciais do seu ministro plenipotenciário em Paris, porque desejava saber primeiro se outras potências reconheceriam Bonaparte naquela nova dignidade e os termos e títulos com que seriam concedidas as suas credenciais. Portanto, para ganhar tempo, se avisou o governo francês, que sua alteza real resolvera mandar um embaixador extraordinário, o qual recebera ordem para partir com brevidade. Havendo já noticia da forma das novas credenciais do rei católico para o seu embaixador, assim como dos outros soberanos, julgou sua alteza real que não devia demorar mais a enviá-las ao seu ministro plenipotenciário em Paris, o que não dispensa contudo a embaixada extraordinária, que havia sido participada com antecipação. D. Lourenço de Lima partirá muito brevemente em uma fragata, e se for agradável ao novo imperador, que ele fique em Paris, como embaixador, segundo o que o marechal Lannes atesta, sua alteza real não fará dificuldade a este respeito, contanto que haja reciprocidade, nomeando-se também embaixador para esta corte.»

Todo o empenho do governo português, nessa época, era conservar Lannes como representante de França em Lisboa, e como ele fora promovido a marechal do Império e se julgava este posto incompatível com o cargo de ministro de segunda classe, tratava-se de conseguir que ele fosse elevado a embaixador, e com esse intento mudava-se a nossa legação em Paris para embaixada. 

D. Lourenço de Lima teve a nomeação de embaixador em 16 de julho de 1804, e partiu logo no dia 21 na fragata Carlota, e depois de chegar a Ostende, seguiu para Paris, onde entrou a 17 de agosto, chegando poucos dias depois o marechal Lannes, que, sendo chamado a Paris para assistir à coroação do imperador, fizera a viagem por terra. D. Lourenço de Lima foi recebido em Aix-Ia-Chapelle, por Napoleão, na qualidade de embaixador extraordinário do rei de Portugal, depois de resolvidas algumas duvidas que a isso se opuseram, mas que foram desfeitas por Talleyrand e por Lannes. Posteriormente foi o mesmo diplomata apresentado e recebido pelo imperador como embaixador ordinário, e desde então passou a ser tratado por Talleyrand e pelas mais pessoas da corte de França, com o título de conde, que somente muito mais tarde veio a receber definitivamente. Uma das primeiras questões, que D. Lourenço de Lima ia incumbido, era a da nomeação de Lannes para embaixador em Lisboa; mas esse negócio não se resolveu de pronto, e rebentando a guerra em 1805, o marechal voltou aos campos de batalha, e não pensou mais em diplomacia. D. Lourenço de Lima conservou-se em Paris, tomando parte nas difíceis e hesitantes negociações diplomáticas, em que o nosso governo se viu envolvido por aquele tempo, até que, em meados de outubro de 1807, foi mandado sair em quarenta e oito horas daquela capital, com todo o pessoal da legação, e dentro em quinze dias dias, de França, por ter esta nação declarado guerra a Portugal. O embaixador partiu na madrugada de 26 de outubro, e depois de haver encontrado durante a viagem as tropas francesas em marcha para a nossa fronteira, chegou a Lisboa no dia 31 de outubro ou no primeiro de novembro, trazendo a promessa de Napoleão de que o seu exército não entraria no nosso território, se o príncipe regente mudasse de política e mandasse prender os súbditos ingleses, e confiscar-lhes as propriedades. O governo português hesitou, sem saber o que deveria resolver, e não tendo a energia precisa para tomar uma decisão definitiva em vista da promessa trazida por D. Lourenço de Lima, fez publicar o decreto de 8 de novembro, pelo qual eram satisfeitos os desejos, ou para melhor dizer, eram cumpridas as ordens de Napoleão; mas só aparentemente, porque ao mesmo tempo dizia-se ao embaixador inglês, que os súbditos dessa nação seriam indemnizados do valor das suas propriedades. Este procedimento fez atrair sobre Portugal o desprezo da Europa, e nada se aproveitou, porque ainda nesse mês de Novembro as tropas francesas comandadas pelo general Junot, chegaram a Lisboa, e a família real portuguesa embarcava para o Brasil, abandonando a pátria na ocasião do maior perigo. 

Poucos meses depois Junot dissolvia o exército, e dos homens mais válidos, e com muitos dos mais distintos oficiais formou a legião portuguesa, que encaminhou para França, com a ideia de afastar de Portugal os que eram mais para temer no dia em que o povo se resolvesse a expulsar os invasores. Guiado pelo mesmo pensamento de afastar os homens importantes, que se haviam conservado, depois da partida da família real, imaginou formar uma deputação que fosse cumprimentar o imperador, e pedir-lhe que reduzisse a enorme contribuição de cem milhões que fora lançada sobre o país. Recaiu a escolha, por parte do antigo senado da câmara, como representante do povo de Lisboa, nos desembargadores Joaquim Alberto Jorge e António Tomás da Silva Leitão; por parte do clero, no bispo de Coimbra D. Francisco de Lemos, no bispo do Algarve e inquisidor geral D. José Maria de Melo, e no prior-mor da ordem de Avis; e por parte da nobreza, nos marqueses de Marialva, Penalva e de Valença, assim como nos dois marqueses de Abrantes, em D. Nuno Álvares Pereira de Melo, irmão do duque de Cadaval, no conde de Sabugal, no visconde de Barbacena, e em D. Lourenço de Lima A deputação partiu para Baiona, onde Napoleão devia estar entre 5 e 10 de abril, e efectivamente foi ali recebida pelo imperador, dirigindo depois para Portugal uma carta ou exposição aos seus compatriotas, datada de 27 de abril, e na qual dava conta do que se havia passado. Pouco tempo depois rebentava em diferentes terras do reino a insurreição contra o domínio estrangeiro, e os membros da comissão foram levados como prisioneiros, de Baiona para Bordéus, e dali para Paris, donde só puderam regressar à pátria em 1814, depois da queda de Napoleão. 

Como nos primeiros anos do século XIX, quando a corte de Lisboa vacilava entre a aliança inglesa e a francesa, D. Lourenço de Lima se mostrou sempre inclinado a esta última, ainda mesmo depois de prisioneiro em França, era pelo governo do Rio de Janeiro considerado um perigoso jacobino, e como tal merecia que do Brasil viessem ordens apertadas, para que se impedissem todas as comunicações entre ele e sua família. Ou porque essas impressões se não desvanecessem, ou porque o antigo diplomata estivesse cansado e aborrecido da vida pública, o certo é que depois do seu regresso à pátria, não exerceu influência alguma nos negócios do estado, servindo apenas o lugar de conselheiro da fazenda, vivendo quase sempre afastado, e residindo largos períodos no palácio que seus pais possuíam em Mafra. 

Depois de restabelecido o governo constitucional em 1833, é que D. Lourenço de Lima foi nomeado gentil-homem da câmara da rainha D. Maria II, elevado ao pariato em 1 de outubro de 1835, e agraciado com o titulo de conde de Mafra em 1 de janeiro de 1836.

 

 

 

 

Lourenço José Xavier de Lima, 1º conde de Mafra
Genealogy (Geni.com)

 

 

 

 

Portugal - Dicionário Histórico, Corográfico, Heráldico, Biográfico, Bibliográfico, Numismático e Artístico,
Volume IV, págs. 703-704.

Edição em papel © 1904-1915 João Romano Torres - Editor
Edição electrónica © 2000-2015 Manuel Amaral