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Malagrida
(padre Gabriel).
n.
18 de setembro de 1689.
f. 21 de setembro de 1761.
Jesuíta
italiano, nascido na vila de Managgio, a 18 de setembro de 1689.
Desde
criança deu provas de engenho e ao mesmo tempo duma tendência
exagerada para o misticismo. Depois de completar em Milão os seus
estudos entrou na Companhia de Jesus, em Génova, a 27 de setembro
de 1711.
Resolvendo
dedicar-se às missões, saiu de Génova em 1721, seguindo para o
Maranhão, onde os seus superiores o designaram para pregar, sendo
depois nomeado em 11 de outubro de 1723 pregador do colégio do Pará,
e ali o encarregaram dos alunos. Não cessava, contudo, de missionar
na cidade e nas aldeias circunvizinhas, até que lhe ordenaram que
voltasse ao Maranhão, sendo desde logo escolhido para reitor da
missão dos Tobajáras. De 1724 a 1727 demorou-se entre os
selvagens, missionando sempre, correndo perigos, que afrontava
intrepidamente, mas dando sempre provas do misticismo extravagante
que tão fatal lhe havia de ser. Na narrativa das suas missões não
se falava senão em vozes misteriosas que o avisavam; tudo são
milagres e prodígios. Malagrida julgava-se favorito do céu. Em
1727, por ordem dos superiores, voltou ao Maranhão para reger no
colégio dos jesuítas a cadeira de belas letras, mas logo em 1728
voltou a catequizar os índios, conseguindo quase amansar uma das
tribos mais ferozes do interior, a dos Barbados, entre os quais
fundou uma missão, que teve logo grande desenvolvimento. Em 1730
regressou ao Maranhão, e foi encarregado de reger ao mesmo tempo teologia
e belas letras. Em 1735 começou a missionar entre os colonos,
seguindo do Maranhão para a Baía, e dali a Pernambuco, voltando
enfim ao Maranhão. Durante catorze anos, até 1749, se conservou
nestas missões granjeando neste tempo a fama de taumaturgo, e a
denominação de apóstolo do Brasil.
Em
1749 veio para a Europa, com a fama de santo, vindo tratar de
arranjar dotações para os vários conventos e seminários que
fundara. Depois de trabalhosa viagem chegou a Lisboa, sendo acolhido
como santo, e a imagem, que trazia consigo, foi conduzida em procissão
para a igreja do colégio de Santo Antão. D. João V, nessa época,
estava muito doente, e acolheu de braços abertos o santo jesuíta,
fez-lhe todas as concessões que ele desejava, e chamou-o para junto
de si na hora extrema. Foi Gabriel Malagrida quem assistiu aos últimos
momentos do monarca. Em 1751 voltou ao Brasil, mas não foi bem
recebido no Pará, onde governava então o irmão do marquês de
Pombal. Até 1754 demorou-se Malagrida no Maranhão, não pensando
na catequese dos índios, mas missionando entre os cristãos, e
fundando mais um convento e mais um seminário O bispo não lhe
consentiu este último intento alegando que o concílio de Trento só
ao prelado atribuía esse direito de fundação. Em 1751 voltou
a Lisboa, por ser chamado pela rainha, viúva de D. João V, D.
Maria Ana de Áustria e encontrou no poder o marquês de Pombal.
Este notável estadista que se propusera a regenerar Portugal,
livrando-o da tutela dos jesuítas, não podia simpatizar com o
taumaturgo. Não o deixando entrar na intimidade da rainha viúva,
Malagrida partiu para Setúbal, onde depois teve a notícia da morte
da soberana. O marquês de Pombal não se importou com aquele jesuíta
santo, enquanto as suas santidades não contrariavam os seus
projectos, mas o conflito era inevitável.
Sobreveio
o terramoto de 1755, estando Malagrida em Lisboa. Aquela catástrofe
ocasionou um terror imenso na população da capital, e um dos
grandes empenhos do marquês de Pombal era levantar os espíritos
abatidos. Para isso mandou compor e publicar um folheto escrito por
um padre, em que se explicavam as causas naturais dos terramotos, e
se desviava a crença desanimadora de que fora castigo de Deus, e de
que eram indispensáveis a penitência e a compunção. Saiu a campo
indignado o padre Malagrida escrevendo um folheto intitulado: Juízo
da verdadeira causa do terremoto que padeceu a corte de Lisboa no 1.º
de Novembro de 1755. Nesse folheto combatia com indignação as
doutrinas do outro que Pombal fizera espalhar, atribuía a castigo
de Deus o terramoto, citava profecias de freiras, condenava
severamente os que levantaram abrigos nos campos, os que trabalhavam
em levantar das ruínas da cidade, e recomendava procissões,
penitencias, e sobretudo recolhimento e meditação de seis dias nos
exercícios de santo Inácio de Loyola. O marquês de Pombal não
era homem que permitisse semelhantes contrariedades. Mandou queimar
o folheto pela mão do algoz, e desterrou Malagrida para Setúbal.
Passava-se isto em 1756. O jesuíta imaginava que, com o seu prestígio
de taumaturgo, podia lutar contra a vontade do marquês, e parece,
que de Setúbal escreveu mais uma carta ameaçadora, carta, que
depois do atentado dos Távoras em 3 de setembro de 1758, podia ter
uma terrível significação, e por isso Malagrida foi logo preso a
11 de dezembro desse ano, transferido para o colégio da sua ordem
em Lisboa, e no dia 11 de janeiro de 1759, considerado réu de
lesa-majestade, sendo transferido para as prisões do Estado. Sendo
depois entregue à Inquisição, Malagrida foi condenado à pena de
garrote e de fogueira, realizando-se o suplício no auto da fé de
21 de setembro de 1761.
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