Portugal - Dicionário

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Maria da Fonte

 

 

Assim se chamou a revolução que rebentou no Minho em maio de 1846 contra o governo de Costa Cabral, mais tarde conde e marquês de Tomar. A causa imediata da revolta foram umas questões de recrutamento, e a proibição dos enterramentos feitos dentro das igrejas, em que desempenhou um papel irrequieto e activo uma desembaraçada mulher das bandas da Póvoa de Lanhoso, conhecida pelo nome de Maria da Fonte. Os tumultos multiplicaram-se, tomando afinal as proporções sérias duma insurreição, que lavrou em grande parte do reino. 

Revolta da Maria da Fonte -1846

Revolta da Maria da Fonte, 1846. Gravura de M. M. Bordalo Pinheiro
in A Ilustração, v. II, 1846, p. 71

A rainha D. Maria Il, assustada com esta insurreição verdadeiramente popular, viu-se obrigada a demitir o ministério cabralista, chamando ao poder o duque de Palmela e Mousinho de Albuquerque, mas, quando ,julgou que abrandara assim a revolução, e que o duque da Terceira, que nomeara seu lugar tenente nas províncias do norte do país, poderia reprimir as indignações do povo e estabelecer ali a paz, deu o golpe de Estado de 6 de outubro de 1846, e sem nomear Costa Cabral, formou um ministério pronunciadamente cartista, presidido pelo marechal Saldanha. Esta notícia foi transmitida ao Porto pelo administrador de Vila Franca, e excitou a cólera dos portuenses. Rebentou então a revolta com espantosa energia, o duque da Terceira foi preso, e nomeou-se uma junta provisória, cuja presidência se deu ao conde das Antas e a vice-presidência a José da Silva Passos, que era a alma da revolta, e irmão do grande ministro progressista Manuel da Silva Passos. O visconde de Sá da Bandeira apareceu no Porto, aderindo à revolução. A Junta do Porto é verdade que legislava em nome da rainha, e fazia-lhe manifestações de dedicação, mas o espírito popular estava sendo nessa ocasião bem pouco simpático à soberana, que desta vez tomara a iniciativa da contra-revolução, dando o golpe de Estado de 6 de outubro. O Espectro, jornal redigido por António Rodrigues Sampaio, e que se publicava em Lisboa, sem que a polícia conseguisse descobrir a imprensa que o imprimia nem os seus redactores, atacou pessoalmente a rainha pela sua intervenção nefasta na politica partidária. 

A Junta do Porto, apesar de dispor de vastíssimos recursos, não era feliz, por causa da imperícia dos seus generais. Sá da Bandeira era batido em Vale Passos pelo barão do Casal; o conde de Bonfim era completamente batido em Torres Vedras pelo marechal Saldanha, em dezembro de 1846, batalha em que foi morto o general Mousinho de Albuquerque; Celestino era destroçado em Viana do Castelo pelo general Schwalbach, o barão de Casal tomara Braga, os marinheiros de Soares Franco tomaram Valença e Viana do Castelo. Ainda assim a insurreição era tão forte, que, para se lhe pôr termo, foi precisa a intervenção estrangeira. Uma esquadra inglesa aprisionou a esquadra da Junta com a divisão do conde das Antas que ia a bordo, e um exército espanhol, do comando de D. Manuel Concha, foi ocupar o Porto. Ao mesmo tempo as tropas da Junta, comandadas pelo visconde de Sá da Bandeira, eram batidas no Alto do Viso pelo general Vinhais. A convenção de Gramido. de 30 de junho de 1847, pôs fim a essa terrível insurreição, que tanto assustara a rainha, que nem sempre mostrou com os vencidos a clemência que se poderia esperar da sua generosidade. A revolução da Maria da Fonte é um dos episódios mais importantes da nossa história política do século passado. Foi nesse movimento que muito se salientaram homens, que se tornaram muito populares, como os dois irmãos Passos, Rodrigo da Fonseca Magalhães, José Estêvão Coelho de Magalhães, Manuel de Jesus Coelho, etc. 

O maestro Ângelo Frondoni compôs por essa ocasião um hino popular, que ficou conhecido pelo nome de Maria da Fonte ou do Minho, que respirava um certo entusiasmo belicoso; e por muito tempo foi o canto de guerra do partido progressista em Portugal. Camilo Castelo Branco escreveu um livro com o título Maria da Fonte, que trata minuciosamente deste assunto. São também interessantes os Apontamentos para a historia da Revolução do Minho em 1846 ou da Maria da Fonte, pelo padre Casimiro. Na Biblioteca do Povo e das Escolas, o n.º 167 é a história da Revolução da Maria da Fonte, pelo Sr. João Augusto Marques Gomes. Um dos primeiros trabalhos do romancista sr. Rocha Martins intitula-se Maria da Fonte.

 

 

 

 

 

 

 

 

Portugal - Dicionário Histórico, Corográfico, Heráldico, Biográfico, Bibliográfico, Numismático e Artístico,
Volume IV, pág.
835.

Edição em papel © 1904-1915 João Romano Torres - Editor
Edição electrónica © 2000-2015 Manuel Amaral