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Maria
Sofia Isabel de Neuburgo
(D.).
Rainha de Portugal
n. 6
de agosto de 1666.
f. 4 de agosto de 1699.
Rainha
de Portugal, segunda mulher de D. Pedro II.
Nasceu
em Brevath, no ducado de Juliers, a 6 de agosto de 1666, faleceu em
Lisboa, no paço da Ribeira,
a 4 de agosto de 1699. Era filha do Eleitor Palatino do Reno, o
conde Filipe Guilherme de Neuburgo, e de sua segunda mulher Isabel
Amália.
Tinha
apenas vinte anos quando foi pedida em casamento por D. Pedro II. Este
monarca havia quatro anos antes enviuvado de sua mulher D. Maria
Francisca Isabel de Sabóia, por quem se apaixonara, ficando com uma
única filha a princesa D. Isabel, muito fraca e doente; quando a
princesa completou dezasseis anos de idade, em 1685, os conselheiros de
Estado pediram oficialmente ao rei que tratasse do seu segundo
casamento; D. Pedro hesitou ainda por algum tempo, mas afinal
resolveu-se. Combatiam em torno dele, para determinarem a escolha da
futura rainha, a influência francesa e a influência espanhola. Luís
XIV indigitava Mademoiselle de Bourbon, os ministros espanhóis
propunham uma princesa da casa de Neuburgo, irmã da rainha de
Espanha.
Foi
esta influência que venceu, principalmente por causa das informações
mandadas a D. Pedro II por António de Freitas Branco, que o
soberano encarregara de ver com os seus próprios olhos as princesas
de que se falava. O conde de Vilar Maior, Manuel
Teles da Silva,
depois 1.º marquês de Alegrete, foi o embaixador encarregado de ir
a Heidelberga fazer o pedido da mão da princesa em nome do monarca,
e de tratar das condições do contrato matrimonial. A embaixada
saiu de Lisboa em 8 de dezembro de 1686, e o contrato assinou se a
22 de maio de 1687, pelo qual a princesa era dotada com 100.000
florins do Reno. Na capela eleitoral de Heidelberga celebrou-se o
casamento por procuração em 2 de julho, e a nova rainha de
Portugal saiu daquela cidade no principio do mês de agosto, fazendo
a viagem pelo rio Reno, que se tornou mais demorada por ser a jovem
soberana recebida e cumprimentada com as maiores demonstrações de
entusiasmo e respeito pelos governadores e magistrados das cidades e
fortalezas, situadas em grande número nas duas margens daquele
grande rio; prestando-lhe as mesmas homenagens os príncipes e os
governos dominantes das terras circunvizinhas, quais foram os
arcebispos-eleitores de Mogúncia, de Treves, de Colónia, e o bispo
de Vormes, príncipe do império; o rei Carlos II de Espanha, o príncipe
Guilherme de Orange, depois rei de Inglaterra, e os Estados Gerais
das Províncias Unidas, assim como a Holanda, por seus deputados. Em
Brila embarcou D. Maria Sofia de Neuburgo num iate inglês, que
Jaime II de Inglaterra terra pusera à sua disposição, escoltada
por uma esquadra, comandada pelo duque de Crafton, filho do rei
Carlos II, com quem vinha o príncipe Fitz James, e grande numero de
lordes.
A
armada arribou a Plymouth, e dali seguiu viagem até Lisboa, onde
chegou no dia 12 do referido mês de agosto, fundeando pelo
meio-dia. Não tardou a que o Tejo se cobrisse duma inumerável
multidão de embarcações de todos os lotes e feitios, cheias de
populares, com bandas de musica, patenteando assim o seu entusiasmo
pela neva soberana. Os navios de guerra fundeados no Tejo, estavam
adornados de bandeiras e flâmulas, e os castelos e fortalezas
salvaram; os sinos de todas as igrejas repicavam constantemente, e
por toda a parte se ouviam estalar no ar girândolas de foguetes.
Pelas três horas da tarde embarcou o rei D. Pedro II no bergantim real,
acompanhado dos oficiais de sua casa, presidentes dos tribunais e
muitos fidalgos. O bergantim real era precedido por vinte e quatro bergantins,
custosamente adornados de toldos de ricas telas de diferences cores,
com muitos remadores brilhantemente vestidos; nestes bergantins iam
os fidalgos da principal nobreza. O rei chegou à capitania, e ao
sair do bergantim era esperado pelo general Crafton e por D. Luís
de Menezes, conde da Ericeira. Entrou na câmara da rainha a
cumprimentá-la, e vieram ambos para bordo do bergantim real entre
as salvas repetidas das armadas portuguesa inglesa. Desembarcaram
num sumptuoso pavilhão, que se tinha levantado na ponte da Casa da
Índia, e desde ali até à capela real do paço da Ribeira, tudo se
via adornado e guarnecido de excelentes pinturas e riquíssimas armações.
Receberam as bênção nupciais, lançadas pelo arcebispo de Lisboa
e capelão‑mor do rei, D. Luís de Sousa, dirigindo-se em
seguida para o palácio. Durante muitos dias houve festas públicas
e brilhantes iluminações.
A
rainha D. Maria Sofia de Neuburgo era muito bondosa, e D. Pedro II
consagrava-lhe o maior afecto e respeito. Sua enteada, a princesa D.
Isabel, que tinha quase a mesma idade, também muito se lhe afeiçoou.
Com quem teve algumas dissidências foi com sua cunhada, a rainha viúva
de Carlos II de Inglaterra, D. Catarina, por questões de etiqueta e
de precedências, tão graves no século XVII. Era muito devota e
caritativa, a tal ponto que do seu bolsinho sustentava muitas viúvas
e órfãs, chegando a recolher no paço alguns doentes pobres, de
quem tratava e servia à mesa. Tendo notícia de qualquer infeliz
desvalido, logo o mandava socorrer. Tinha muita afeição ao P.
Bartolomeu do Quental, de austera virtude, e que faleceu com fama de
santidade. Fundou em Beja um colégio para os religiosos
franciscanos, que dotou com muitos rendimentos. Faleceu com trinta e
três anos
de idade, vitima dum ataque de erisipela, que lhe atacou o rosto e a
cabeça. Durante a doença fizeram-se preces e muitas procissões. A
sua morte causou a maior consternação tanto na corte, como no
povo, que deveras a estimava. Foi sepultada, levando o hábito de S.
Francisco, no panteão real de S. Vicente de Fora. A rainha D. Maria
Sofia de Neuburgo foi casada doze anos, e teve sete filhos, sendo o
segundo o príncipe D. João, que sucedeu no trono, com o nome de D.
João V.
Acerca
desta rainha há as seguintes publicações: Triunfo Lusitano, aplausos
festivos, sumptuosidades regias nos augustissimos desposórios do ínclito
D. Pedro II com a sereníssima Maria Sofia Isabel de Baviera, monarcas
de Portugal, por Manuel de Leão;
Bruxelas, 1688; Heptaphonon, ou pórtico de sete vozes, consagrado
à majestade defunta da senhora D. Maria Sophia Izabel de Neuburgo,
por Pascoal Ribeiro Coutinho, Lisboa, 1699; Sermão das exéquias
da Sereníssima Rainha Nossa Senhora D. Maria Sofia Isabel, pregado na
Vila de Santo Amaro das Grotas do Rio de Sergipe,
por Frei António da Piedade, Lisboa, 1703; Sentimento lamentável,
que a dor mais sentida em lagrimas tributa na intempestiva morte da Sereníssima
Rainha de Portugal D. Maria Sofia Isabel e Neuburgo,
por Bernardino Botelho de Oliveira, Lisboa, 1699; Oração fúnebre
nas exéquias da Rainha D. Maria Sofia Isabel, celebradas na
Real Casa da Misericórdia de Lisboa, por D. Diogo da Anunciação
Justiniano, Lisboa, 1699.
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Genealogia
da rainha Maria Sofia Isabel de Neuburgo
Geneall.pt
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