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Meneses
(D. Aleixo de).
n.
f. 7 de fevereiro de 1569.
Aio
do rei D. Sebastião.
Era
filho de D. Pedro de Meneses, primeiro conde de Cantanhede, e ainda
muito novo estreou-se na carreira das armas assistindo com seu tio
D. João de Meneses à tomada de Azamor em 1518. Passando em seguida
ao Oriente com o governador Lopo Soares de Albergaria, foi
encarregado do comando duma esquadra, com a qual percorreu as costas
da Arábia, entrou no combate de Djédá e na tomada de Zeila, e
pouco depois defendeu Malaca contra o rei de Bintam. Durante uma ausência
de Diogo Lopes de Sequeira governou interinamente os estados da Índia,
e voltando ao reino ainda foi de novo a África para reformar e
prover os presídios de Arzila, Azamor e Tânger.
Cumprida
a missão e regressando à pátria, foi escolhido para varias missões
de confiança, e enviado como embaixador a Carlos V, cuja estima
granjeou em tão alto grau que aquele soberano o escolheu para
padrinho do seu neto, o príncipe Carlos, D. João III, que teve
sempre a maior consideração por este fidalgo, o nomeou aio de seu
filho, o infante D. João, mordomo-mor de sua mulher, a rainha D.
Catarina, e em testamento o deixou indicado para aio do seu neto D.
Sebastião. A escolha era acertadíssima, e poderia ter produzido os
mais excelentes resultados se em Portugal não existisse o cardeal
infante D. Henrique e não tivesse entrado a Companhia de Jesus. A
D. Aleixo de Meneses foi entregue a guarda da criação e pessoa de
D. Sebastião, quando apenas contava nove anos de idade, melindroso
encargo, de que tão nobremente se desempenhou o honrado fidalgo, até
ao momento em que o seu real educando tomou as rédeas do governo,
sendo aclamado rei de Portugal. Prestes estava D. Sebastião a
chegar aos seis anos de idade, quando pareceu indispensável
tratar-se de escolher mestre que o ensinasse. Muito divididos foram
os pareceres no conselho enquanto à escolha, prevalecendo afinal o
do cardeal infante D. Henrique, que opinara e veemente instara para
que fosse preferido o padre jesuíta Luís Gonçalves da Câmara.
O
experiente e honrado D. Aleixo de Meneses votara contra a escolha
dum religioso para mestre do seu pupilo, e concluiu «que qualquer
que o mestre fosse, se tivesse advertência em não ter mão em
el-rei, mais que nas cousas tocantes a seu cargo, porque algumas
vezes ouvira dizer ao imperador Carlos V, que os príncipes instruídos
nas artes do governo e guerra tinham ciência bastante em sabendo
rezar por umas horas.» Foi desprezado, graças aos manejos e
tenacidade do cardeal infante, grande protector dos jesuítas; o
discreto e previdente voto do nobre aio de D. Sebastião. A carreira
militar deste brioso guerreiro devia concorrer para ascender, ainda
que involuntariamente, o fatal entusiasmo de D. Sebastião. D.
Aleixo de Meneses era muito sensato e tinha muito bons desejos, mas
não podia de certo renegar todas as tradições da sua vida
anterior; e o exemplo das acções do aio era mais próprio a
excitar do que a moderar os ímpetos do génio cavalheiresco e
arrojado do seu jovem pupilo.
D.
Aleixo de Meneses procurou opor-se aos excessos da índole guerreira
e das inclinações ascéticas do príncipe cuja educação lhe fora
confiada, e num documento que os cronistas lhe atribuem, o ilustrado
fidalgo diligenciou chamar a atenção do seu educando para os mais
graves perigos. Nesse documento, que dizem ser obra de D. Aleixo,
aconselhava este o jovem monarca a desconfiar dos aduladores que
procurassem desviá-lo da intimidade
de sua avó e do cardeal, precavia contra a exaltação dos
seus brios belicosos, rogando-lhe que não arriscasse as forças do
reino em impossíveis e temerárias empresas, pedia-lhe que não
desse valimento sucessivo aos fidalgos moços, arredando de si os
homens experientes e encanecidos na prática dos negócios,
continuava manifestando o desejo de que os religiosos não fossem tão
amiúde distraídos dos seus deveres próprios para se ocuparem nos
negócios profanos da governação do estado, e por fim, como quem
conhecia a índole severa e puritana de D. Sebastião, lembrava ao
rei que para extirpar abusos inveterados era necessário proceder
com grande tacto, e por isso lhe aconselhava, que não ordenasse de
leve mudanças nos trajos e nos costumes, que ponderasse muito
qualquer alteração na moeda ou nas medidas e pesos estabelecidos,
porque tais providencias haviam de levantar sempre descontentamento
dos interesses lesados no primeiro golpe e introduzir grande
perturbação nas transacções comerciais. Neste documento, que se
encontra no tomo III das Memórias para a historia de Portugal,
que compreendem o governo d'el-rei D. Sebastião, por Diogo
Barbosa Machado, há muitas alusões contra o padre Luís Gonçalves
da Câmara e os planos da Companhia de Jesus, e no meio de traços
fugitivos
com que nele são desenhados em geral os perigos principais de que o
novo monarca devia afastar-se, sobe esse a figura do confessor; é
natural portanto que este, valendo-se da influência que alcançara
do rei conseguisse fazer com que D. Aleixo de Meneses perdesse as
boas graças do monarca, mas a Companhia não precisou empregar
maior luta, porque o nobre fidalgo morreu a 7 de fevereiro de 1569.
A
morte de D. Aleixo de Meneses foi uma grande perda para Portugal,
porque os jesuítas viram-se à vontade, e D. Sebastião não tardou
a tornar-se um seu escravo, e não tendo já o seu fiel e honrado
aio para lhe aconselhar a afastar-se dos iminentes perigos que lhe
preparavam, D. Sebastião deixou-se dominar pela sua índole
guerreira, que os lisonjeiros animavam, de que resultou a fatal
batalha de Alcácer Quibir, em que Portugal perdeu a sua independência,
ficando sob o domínio de Castela.
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