Nasceu a 6 de abril de 1644, faleceu a 25 de dezembro
de 1721. Era filho do 1.º marquês das Minas e 3.º conde do Prado,
D. Francisco de Sousa, e de sua segunda mulher, D. Eufrásia Filipa
de Lima.
Principiando a servir no exército, quando
tinha apenas catorze anos de idade, esteve com seu pai em Elvas no
ano de 1658, acompanhou-o depois para o Minho, assistiu a várias acções,
e sendo já mestre de campo dum terço de infantaria, entrou na
tomada do forte de Gayão, e continuando a servir nessa província,
era general de batalha quando, em 1665, entrou na expugnação da
vila da Guardia. Concluída a paz com Castela ficou governando as
armas da província do Minho, enquanto seu pai foi embaixador a
Roma,, e nesse posto continuou depois, porque o marquês das Minas não
voltou a ocupá-lo, por ter sido nomeado presidente do Conselho
Ultramarino. Em 1674 sucedeu no título de marquês a seu pai, e foi
elevado a mestre de campo general, e daí a dez anos, sendo nomeado
governador e capitão general do Brasil, alcançou dentro em curto
prazo serenar as inquietações nascidas no tempo dos governadores
antecedentes, e tornou-se diversas vezes notável pelos serviços
que prestou durante uma terrível epidemia que grassou na Baía.
Regressando a Portugal em 1687, foi logo escolhido para um dos
lugares de conselheiro de guerra, e depois sucedeu ao duque de
Cadaval no cargo de presidente da junta do Salabaco.
Quando em 1701 se ajustou entre Portugal, a
França e a Espanha um tratado de aliança para reconhecimento de
Filipe V e para garantia do testamento de Carlos II, e se tratou de
guarnecer a nossa capital e de pôr em defesa a margem do Tejo, foi
o marquês das Minas encarregado do governo da praça de S. Julião
da Barra, com o mando de todos os fortes desde Paço de Arcos até
Cascais; tendo, porém, depois D. Pedro II ajustado com a Holanda, o
Império e a Inglaterra, o tratado de 16 de maio de 1703 em que o
nosso país se coligava com esses estados contra Filipe V, e
tratando-se de adoptar as prevenções para a guerra em que nos íamos
empenhar para defender o arquiduque Carlos, foi o marquês das Minas
enviado para a província da Beira, afim de dispor todas as coisas
pertencentes ao exército que devia entrar em campanha. Em lugar de
desenvolverem uma grande actividade que poderia ter dado um golpe
decisivo na soberania de Filipe V, o governo de D. Pedro II e os
arquiduques mostraram-se pouco enérgicos e decididos, e por, isso o
duque de Berwick, abrindo a campanha, tomou Salvaterra e Segura que
capitularam. Seguindo pela Beira assenhoreou-se de grande numero de
povoações, que não resistiram por estarem desguarnecidas à excepção
de Monsanto e de Idanha-a-Nova, onde os campónios portugueses
fizeram uma bela defesa, e batendo o barão de Fágel nos
desfiladeiros da Serra da Estrela prosseguiu até Vila Velha,
atravessou o Tejo, fez a sua junção com o príncipe de Tilly, que,
entrara pelo Alentejo, e tomou Portalegre, ao passo que o marquês
de Villadanas assolava o Algarve e tomava Castelo de Vide.
Não se podia imaginar mais desastroso começo
de hostilidades, mas três coisas salvaram Portugal nessas apertadas
e críticas circunstâncias: as intrigas da corte de Madrid que
estorvavam os desígnios do duque de Berwick, a inabilidade do príncipe
de TilIy, e o grande talento do marquês das Minas que, entregue aos
seus próprios recursos, quase sem víveres nem equipamentos para as
tropas, porque os depósitos estavam em Castelo Branco e para o lado
do Alentejo, saiu de Almeida a 2 de junho com uma pequena divisão e
restabeleceu os negócios militares. A sua intenção era cortar da
linha de operações ao exército do duque de Berwick, mas este
general, vendo que não recebia reforços de Madrid que o
habilitassem a prosseguir na sua marcha vitoriosa, retirara para a
fronteira, o que não impediu. um dos seus generais de ser rudemente
batido pelas tropas do marquês das Minas, que tinham sido reforçadas
pelas dos condes da Atalaia e de Alvor com os contingentes do Minho
e de Trás-os-Montes. O marquês estreara-se tomando Fuente Guinaldo,
e reconquistara depois finalmente as povoações portuguesas
ocupadas pelas tropas do duque de Berwick. Tantos serviços
prestados pelo marquês das Minas confessados pelos próprios
inimigos, pois que o duque de Berwick sempre falava dele com muita
consideração ao passo que votava um profundo desprezo aos outros
generais que tinha na sua frente, tantos serviços pois pareciam que
o indigitavam para o comando em chefe do exercito aliado, mas o
holandês barão de Fágel, quando D. Pedro II entrou em campanha,
foi o verdadeiro general como se el-rei o quisesse recompensar pela
derrota que sofrera, e que estivera quase abrindo ao inimigo as
portas de Lisboa. O barão de Fágel e lorde Galloway eram os dois
generais que tudo decidiam no exercito, e debalde quis o marquês
das Minas entrar em Espanha impelindo adiante de si o general francês,
que de bem poucas forças dispunha. Prevaleceram as opiniões de
lorde Galloway e do barão de Fágel, e a pretexto de estar próximo
o Inverno, os dois soberanos recolheram-se a Lisboa sem terem
vingado o insulto que o reino recebera das armas franco-espanholas,
nem terem aproveitado os brilhantes sucessos do marquês das Minas.
A este respeito dizem Paquis e Dochez na sua Historia de Espanha:
«Das Minas continuava a ser empreendedor, mas todos os seus planos
eram paralisados pela inépcia de lorde Galloway».
No ano seguinte, o marquês das Minas continuou
a ser posto de parte dando-se-lhe apenas o comando do exército da
Beira, ao passo que o conde das Galveias, general distintíssimo mas
muito idoso, recebia o comando do exército de Alentejo a que se
tinham juntado as tropas estrangeiras, e que era destinado para as
operações militares. À frente de um pequeno corpo de tropas
viu-se o marquês obrigado a empregá-lo em acções de pouca importância,
e limitou-se a reconquistar a praça de Salvaterra e a ocupar a
povoação de Sarça, mas por fim, apesar da má vontade que
pareciam ter na corte ao marquês das Minas, não houve remédio senão
confiar-lhe o comando principal do exército de operações. Tratou
logo o exímio general de fazer uma campanha de Outono, afim de
favorecer com uma diversão poderosa as operações realizadas na
Catalunha pelo conde de Peterborough. Sem se demorar com o ataque e
tomada de pequenas praças, determinou imediatamente pôr cerco a
Badajoz, que lhe devia servir de base de operações. Nos princípios
de Outubro entrou em campanha, traçou em redor de Badajoz a linha
de circunvalação, o com tanta energia bateu a praça, que estava já
a brecha a ponto de ser praticável quando o marechal de Pessé
conseguiu passar o Xévora, por descuido ou por maldade de lorde
Galloway, e formar-se em batalha debaixo dos muros de Badajoz
cobrindo-a dessa forma e tornando-a inexpugnável. Ficaram desse
modo inúteis todas as precauções que o marquês das Minas tomara
para que a praça não fosse socorrida. Não faltou quem atribuísse
à inveja e à má vontade dos generais estrangeiros a singularidade
de passar um exército inteiro quase à vista do nosso sem ser
sentido, mas o marquês das Minas, devorando em silêncio o seu
desespero, porque assim perdera uma óptima ocasião de dar um
profundíssimo golpe no poder do rei de Espanha, tratou de levantar
o cerco sem deixar nem uma peça nas mãos do inimigo, levando até
dos arredores da praça tudo quanto entendeu que era útil ao
exercito.
Daí a pouco Filipe V, obrigado pela noticia
que lhe chegara da rendição de Barcelona, chamou da fronteira
portuguesa o marechal de Pessé com grande parte das forças que aí
militavam, e o marquês das Minas, ficando por isso com um pequeno
exército na sua frente, abriu a campanha de 1706 resolvido a
marchar sobre Madrid. Concentrando num só corpo todas as suas
tropas, dirigiu se rapidamente para o norte deixando Badajoz à sua
direita, ocupou de surpresa os lugares de S. Vicente e de Membrio, e
travou um renhido combate com o inimigo em Brozas. Alcançando aí
uma importante vitória deixou o adversário retirar para Cáceres,
prosseguiu para Alcântara, que no fim de cinco dias de heróica
resistência teve de se render, enviando o marquês para Portugal em
resultado dessa capitulação 4.200 prisioneiros, entre os quais se
contavam seis generais e 128 oficiais, e assenhoreando-se por essa
ocasião de 47 peças de artilharia, 2.961 espingardas fora as
desarmadas, 3.900 arrobas de pólvora, 1.800 balas de artilharia,
360 caixas de balas de chumbo, seis morteiros, 400 moios de farinha,
100 de cevada, 200 tonéis de vinho, 1.100 fardamentos novos, 105
cavalos, etc. Sem se demorar em Alcântara mais do que o tempo
necessário para reunir abastecimentos e munições, o marquês das
Minas seguiu em direcção a Madrid pela estrada de Placencia.
Preparava-se o duque de Berwick para passar o Tejo, a fim de
socorrer Alcântara, quando teve notícia de que a praça se
rendera. Retirando então para Placencia com o intento de cobrir a
capital do reino sem se aventurar a uma batalha, começou entre os
dois hábeis generais, que se achavam frente a frente, uma série de
marchas e contramarchas estratégicas em que o duque de Berwick e o
marquês das Minas se mostraram igualmente dignos um do outro. O
marquês não querendo empreender uma marcha tão audaciosa sem ter
bem segura a comunicação com Portugal, e sem sujeitar ao mesmo
tempo ao poder de Carlos Ill uma larga extensão de território,
enquanto marchava sabre Placencia, ocupando no caminho Coria e
Galisteo, mandou ao mesmo tempo destacamentos do seu exército para
ocuparem na sua direita Cáceres e Truxillo. No dia 28 apareceu
diante de Placencia onde, depois do duque retirar para a margem
esquerda do rio entrou logo fazendo aí aclamar Carlos III rei de
Espanha. Desse ponto continuou o exercito português para Madrid
pela estrada que, sendo cortada pelo Tretor atravessa Naval-Moral,
Talavera de Ia Reyna e Toledo e pela qual se retirava o duque de
Berwick fazendo apenas um simulacro de resistência, na ideia de
atrair o marquês das Minas às estéreis planícies da Castela
Nova. Chegando a Almaraz o nosso general, compreendendo o fim do
adversário, deixou de o perseguir, retirou subitamente para Coria e
fazendo um grande rodeio, seguiu para o norte a estrada de Ciudad
Rodrigo e de Salamanca, colhendo assim a vantagem de marchar ao
longo da fronteira da nossa província da Beira e de ser reforçado
por tropas frescas, ao passo que o duque de Berwick se pretendesse
ir-lhe no alcance se via obrigado a enfraquecer ainda o seu pequeno
exército.
A 22 de maio de 1706, quando o duque de Berwick
mal podia suspeitar as intenções do marquês das Minas, dirigia-se
o nosso exército a marchas forçadas para Ciudad Rodrigo, e
abdicando as condições da capitulação para não demorar a
marcha, tomou posse dessa praça e encaminhou-se para Salamanca,
onde ditou a lei prosseguindo logo depois para Madrid sem encontrar
resistência., porque o duque ou não teve forças ou não teve
tempo para lhe disputar a passagem dos desfiladeiros do Guadarrama.
A 24 de junho chegou o marquês das Minas perto de Madrid, ao sítio
de Nossa Senhora do Retamal, e esperando aí notícias da capital de
Espanha para saber a atitude que ela tomaria contra o exército
vencedor, não tardou a receber informações seguras. A orgulhosa
cidade mandava humildemente os seus deputados ao general português
para lhe pedir que nomeasse o corregedor que devia governar a
cidade, e muitas cidades das províncias próximas tais como Segóvia,
Toledo, Talavera, Ávila e outras, enviaram também os seus emissários
implorarem a protecção do nosso general. No dia 28 finalmente fez
o exercito português a sua entrada triunfal na cidade que fora a
corte de Filipe II, e ao cabo de 126 anos o marquês das Minas
vingava a afronta que Portugal sofrera com a entrada do duque de
Alba na formosa Lisboa. Entradas em Madrid as forças do comando do
marquês das Minas, ordenou este que se efectuasse com toda a
solenidade a aclamação de Carlos III, o que se realizou a 2 de julho,
e ao mesmo tempo enviou recados sobre recados ao arquiduque, para
que apressasse a sua vinda para a capital, mas esse príncipe fez
muito devagar a viagem de Barcelona a Madrid, demorou-se em Saragoça,
e de mais a mais paralisou todos os movimentos do marquês com os
avisos que lhe mandava de que não tardaria a unir-se-lhe.
Com todas essas delongas a junção só veio a
efectuar-se quando já toda a Espanha estava em fogo, quando o duque
de Berwick cortava as comunicações do exército com o Aragão,
como já estavam cortadas com Portugal, e em ocasião por fim em que
o marquês das Minas, para não ser envolvido pelas tropas regulares
e pelos insurgentes, se viu obrigado a retirar para a fronteira do
reino de Valência, onde entrou intacto mantendo sempre a distância
o inimigo que lhe era superior em número. Refazendo então como pôde
o seu exército, tomou a ofensiva, expugnou o castelo de Vilena, e
procurou atacar o inimigo em Montalegre e em Esla, até que os dois
exércitos opostos se encontraram nos campos de Almanza a 25 de abril
de 1707, onde as nossas tropas sofreram um terrível revés. Essa
derrota em nada macula a reputação militar do marquês das Minas,
porque este general a previu e recuou, e se se aventurou a dar a
batalha, foi obrigado pelo voto contrário de lorde Galloway, voto
que tinha grande peso como representante da nação que entre os
aliados tinha mais importância, mas como sempre sucede o marquês
das Minas, que tão vistoriado fora quando entrara triunfantemente
em Madrid, viu agora todo o seu prestígio perdido, e recolhendo a
Lisboa e pretendendo voltar ao governo das armas da província do
Alentejo, nem isso lhe concederam. Quis então o ilustre general
demitir-se de tocos os cargos e honras, mas a pedido do rei desistiu
desse intento, e passou o resto da vida exercendo o lugar de
estribeiro-mor da rainha.
O marquês das Minas havia casado com sua prima
D. Maria Madalena de Noronha, filha de D. Álvaro Manuel, senhor da
Atalaia, e de sua mulher, D. Inês de Lima.