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Ocidente
(O).
Revista
ilustrada fundada em 1877, propriedade do conhecido gravador Caetano
Alberto da Silva (V. no vol. 1, pag. 127), cujo primeiro número
saiu em 1 de janeiro de 1878, contando portanto mais de trinta anos
de publicação.
Para
se avaliar da importância e do merecimento deste periódico convém
conhecer um pouco a historia das publicações similares entre nós.
Vêem de 1837 as tentativas de publicações periódicas ilustradas,
pelo Ramalhete, primeira de que temos conhecimento. Depois
veio o Panorama, de boa memória, o qual teve três editores
em épocas diferentes, sendo a última por 1866 a 1868, chegando a
sua colecção a 18 vol. A Revista Popular, de Fradesso da
Silveira, não teve longa vida. Contudo o público recebeu bem essas
publicações e muito especialmente o Panorama que ainda hoje
é, com justiça, citado, principalmente por seus belos artigos, dos
patriarcas das letras, como Alexandre Herculano, Rebelo da Silva,
etc. Citaremos ainda: Jornal de Belas Artes, 1848, 1857; Ilustração,
1845, 1852; Ilustração Luso-Brasileira, 1856; Arquivo
Familiar, 1857. Mas se estas publicações primavam por seus
escritos, deixavam muito a desejar por suas estampas, a maioria
delas clichés estrangeiros ou gravuras rudimentares e pior
impressas. Por 1856 apareceu o Arquivo Pitoresco, editado por
Castro, Irmão & C.ª, benemérita empresa que se esforçou
para levantar a arte de gravura em madeira e que conseguiu, através
de mil dificuldades, publicar onze volumes daquele semanário que
terminou em 1868. Em 1871 aparece no Porto o Arquivo Popular
que não adianta nada em suas ilustrações. Em 1872, publicava-se
em Lisboa Artes e Letras e aí vêem-se algumas gravuras
originais, e clichés estrangeiros. O Universo Ilustrado,
publicado em 1877, também estampa algumas gravuras portuguesas, mas
em diminuto numero que não chamam a atenção pública. É neste
ano que aparece os Dois Mundos, ilustração publicada em
Paris, em língua portuguesa com gravuras estrangeiras. Esta publicação
seria uma glória para Portugal se fosse produto da arte portuguesa,
mas feita em Paris, não tinha a mesma
significação nem interesse para o país a que se destinava. Quando
isto acontecia já em Portugal havia elementos para se produzir uma
revista ilustrada que afirmasse os progressos da arte portuguesa e
por isso tivesse expressão nacional. Para a impressão, parte
importante de uma folha ilustrada, havia Adolpho Lallemant., que
tinha a grande escola da tipografia francesa.
A
maior dificuldade para fazer uma revista ilustrada com suficientes
gravuras que correspondesse aos acontecimentos e à reprodução de
obras de arte, era a quantidade de gravadores aptos para produzir
essas gravuras. Não os havendo no país seria mister contratá-los
fora, mas nesse caso importava tanto como mandar vir as gravuras do
estrangeiro, e a revista assim feita continuava a ser as penas de
pavão a enfeitar a ilustração portuguesa. Era preciso criar
artistas gravadores, pois desenhadores não faltavam. Foi o que
fizeram Caetano Alberto e Manuel de Macedo; o primeiro como gravador
e o segundo como desenhador ilustrativo. A publicação dos Dois
Mundos determinou o momento para se pôr em prática o que já
vinha de algum tempo planeado e no 1.º de Janeiro de 1878 aparece o
Ocidente, Revista ilustrada de Portugal e do Estrangeiro, tendo
por fundadores Guilherme de Azevedo, Manuel de Macedo, Brito Rebelo
e Caetano Alberto, que fornece também o capital. A administração
foi confiada a Francisco António das Mercês, pessoa da inteira
confiança de Caetano Alberto, e que honradamente se desempenhou
desse cargo por mais de doze anos, e que só o deixou por
impossibilidade de o acumular com as suas funções oficiais. Os
artistas gravadores fundadores que faziam parte do atelier de
gravura, ensinados e dirigidos por Caetano Alberto, eram Rosalino Cândido
Feijó, Manuel Diogo Neto, Domingos Caselas Branco, Jorge dos Reis,
José Augusto de Oliveira, José António Kjolner e A. Francisco
Vilaça, alguns destes já falecidos.
Poucas publicações terão sido acolhidas pelo público com
o entusiasmo e interesse que o Occidente despertou. Para o Bureau
de la presse da Exposição Universal de Paris de 1878, foi
enviado o Occidente e naquele certame lhe foi conferida uma
menção honrosa.
Grande
número de publicações ilustradas periódicas apareceram nestes últimos
quarenta anos anos, feitas no país e no estrangeiro em língua
portuguesa, sem contudo lograrem existência duradoira. Citaremos as
que nos ocorrem no momento: Museu Ilustrado, Semana Ilustrada, Ateneu
Artístico Literário, Crónica Ilustrada, Portugal Pitoresco,
Renascença, Jornal do Domingo, A Arte, A Arte Portuguesa, Ilustração
Universal, Ilustração Portuguesa, A Ilustração, feita em
Paris, Ilustração de Portugal e Brasil, feita em
Barcelona, Revista Ilustrada, Revista Moderna,
Correio da Europa, Brasil-Portugal e Mala da Europa, ainda
em publicação as duas últimas, mas quantas mais que seria
fastidioso enumerar e que todas passavam à história. Recordar as
dificuldades que foi mister vencer para levar por diante esta
empresa será difícil. Quanta vida se gastou em trabalho, talvez
superior a forças humanas! Caetano Alberto, sobre quem pesava a
responsabilidade do cometimento, tinha que trabalhar por si e
dirigir o trabalho de seus discípulos, emendando, retocando e
acabando a maior parte das gravuras. O capital estava mais nos braços
do que na carteira, e contudo era preciso satisfazer pontualmente
todos os compromissos.
O
Ocidente viveria, mas o seu proprietário trabalhava dezoito
e mais horas por dia, durante bastantes anos. Era o grande capital
do trabalho. O resultado deste esforço foi uma grave doença, que,
em 1884, acometeu Caetano Alberto e o prostrou por mais de dois
anos. Manuel de Macedo também sofreu as consequências de um
trabalho aturado, pois era ele quem mais desenhava e em todos os géneros
para o Ocidente. Ao fim de cinco anos sobreveio-lhe uma doença
de olhos que o ia deixando cego. Como prémio de tanto trabalho,
devemos ainda mencionar as recompensas conferidas ao Ocidente, nas
exposições onde tem sido apresentado. Além da Exposição
Universal de Paris de 1878, a que já nos referimos, foi dada ao Ocidente
medalha de cobre na Exposição Industrial Portuguesa de 1888;
igual recompensa teve na Exposição Internacional de Anvers de
1894; Grande Diploma de Honra na Exposição de Imprensa de 1893,
onde era esta a maior distinção; na Exposição Universal de Paris
de 1900, medalha de cobre; e grand-prix
.
O Ocidente Hemeroteca Municipal de Lisboa
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